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sábado, 14 de dezembro de 2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Missão & Madureira: a gênese dos conflitos em SP

Na matéria comemorativa publicada no Mensageiro da Paz (março de 1980), do 50º aniversário da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no bairro do Belém na cidade de São Paulo, o pastor José Wellington B. da Costa, repetindo a escrita do saudoso escritor Emílio Conde em seu livro histórico sobre as ADs no Brasil, assim descreveu a pluralidade de ministérios da AD na capital paulista: "A partir de 1938 as circunstâncias impuseram a existência de Assembleias de Deus independentes, com orientação e responsabilidades próprias, surgindo então os Ministérios do Brás e do Ipiranga".


SP na década de 30-40: cidade palco de conflitos ministeriais entre Missão e Madureira
Na verdade, José Wellington - futuro presidente da CGADB - foi muito diplomático em sua palavras, para descrever as cisões ministeriais ocorridas na década de 1930 no seio da denominação em SP. Ocorre que as tais "circunstâncias" que se "impuseram" (eufemismo utilizado por Conde), foram na realidade, uma divisão ministerial que gerou muitas polêmicas na época, as quais foram reverberadas durante muitos anos.

Até 1937, a AD no Belém, fundada pelos suecos, era o único ministério da denominação em SP. A igreja do Ipiranga, surge como uma congregação da AD liderada pelos missionários. Fundado em 1927, somente dois anos depois (1929), é que o trabalho do Belém organiza-se juridicamente, e continua seu processo de crescimento. Foram pastores da igreja em seus primeiros anos Daniel Berg, Samuel Nyström, Samuel Hedlund, Bruno Skolimowsky, Jahn Sörheim e Simon Lundgren.

Ainda em 1937, para comemorar os 10 anos do início do trabalho assembleiano na capital, é realizada a 8ª CGADB. Nessa convenção nacional, considerada histórica para as ADs no Brasil, foi eleito presidente da mesa diretora o pastor Paulo Leivas Macalão, sendo sei vice Cícero Canuto de Lima, e como primeiro 1º secretário o jovem obreiro Sylvio Brito, cunhado de Macalão. Refletindo o clima político da época, de acentuado nacionalismo incentivado pelo governo Vargas, a CGADB de 1937 em sua mesa diretora, teve estrategicamente somente obreiros brasileiros.

Meses depois de presidir a convenção nacional, Macalão abriu uma igreja em SP ligada ao seu ministério na cidade do RJ. Segundo as versões oficiais, Macalão teve uma "visão", a qual foi confirmada em uma visita a capital paulista. Para assessorá-lo nessa empreitada, o líder de Madureira, obteve uma ajuda muito importante: Sylvio Brito. Acontece que Brito, na época um jovem de 26 anos, era pastor na AD da Missão. E mais: segundo registros, Brito havia assumido a liderança da igreja paulista. O último líder sueco Simon Ludgren retornou à Suécia, e Sylvio se tornou o primeiro pastor brasileiro da AD em SP. Ou seja, Sylvio Brito, conseguiu a proeza de se tornar o primeiro pastor de nacionalidade brasileira da AD da Missão, e o primeiro pastor da AD de Madureira na pauliceia.

Pode-se imaginar a celeuma provocada por tal atitude, principalmente por envolver um obreiro ligado tão intimamente a Macalão. Não há registros de que Sylvio tenha levado outros membros com ele além da esposa. Mas provavelmente alguns devem tê-lo acompanhado nessa aventura. Tais acontecimentos, explicam o tom nada harmonioso de convivência entre os dois ministérios durante muitos anos, refletidos no textos do Mensageiro da Paz (ver postagem As Assembleias de Deus em São Paulo: Missão & Madureira). Explica também o fato, de José Wellington completamente ignorar Brito no histórico publicado no MP em 1980.

Na época desses acontecimentos, São Paulo contava com pouco mais de 1 milhão de habitantes. Milhares de pessoas, entre elas imigrantes europeus e nordestinos, chegavam para trabalhar no comércio e indústria da cidade. Localizados próximos um do outro, tanto o Belém, quanto o Brás, faziam parte dos chamados "bairros operários", os quais cresciam vertiginosamente com a expansão econômica da cidade. As congregações abertas nessa região prometiam uma crescente expansão, como de fato se verificou com o passar dos anos. A cisão ocorrida em SP, provocou sem dúvida um enorme mal estar.

A poeira da história oficial se encarregou amenizar esses acontecimentos. Hoje, totalmente separadas na forma de convenções nacionais próprias, as ADs do Belém e do Brás, são sedes de inúmeras congregações espalhadas pelo estado de SP e região. Com tamanho poder político-eclesiástico e econômico, seus líderes governam de forma despótica, usam o peso numérico das igrejas para capitalizar status e prestígio em cada eleição, e se projetam nas suas respectivas convenções nacionais. Alguns membros, talvez sintam saudades do tempo, em que as polêmicas eram somente a dicotomia Missão & Madureira.


ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

MENSAGEIRO DA PAZ. 1ª quinzena de abril de 1962. Rio de Janeiro: CPAD.

MENSAGEIRO DA PAZ. 2ª quinzena de agosto de 1962. Rio de Janeiro: CPAD.
 
MENSAGEIRO DA PAZ. março de 1980. Rio de Janeiro: CPAD.
 

MORAES, José Geraldo Vinci de. Cidade e cultura urbana na primeira república. São Paulo: Atual, 1994.

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