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domingo, 2 de janeiro de 2011

     

JERUSALÉM, O OUTRO MURO

Chego a Jerusalém antes do nascer do sol. Sozinho, de carro, passo pela porta de Jaffa e entro na Cidade Velha. Vou bem devagar, as ruelas estão vazias, descubro o lugar. A cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos apenas começa a despertar.
Não quero ver nem mapas e nem guias. Prefiro que a intuição seja minha bússola. Sigo a rua que circunda a cidade, ao lado das muralhas. O azul do céu torna-se um pouco mais claro – preciso encontrar logo um lugar alto para ver o sol surgir. Saio do contorno amuralhado, viro à direita, encontro uma subida, estaciono e descubro que estou em um lugar muito especial: o monte Sião. De lá, vejo o astro rei aparecer e reflexiono sobre o lugar onde estou. Um dos umbigos do mundo, uma cidade cobiçada e conquistada por dezenas de povos ao longo de tantos milênios!
Continuo a pé, teimando em não ler nenhuma informação turística. Que minhas pernas me levem onde devo ir. Caminho até chegar a uma praça ampla. À minha direita, um alto muro de quase 20 metros. Não, não é o muro moderno de concreto, que marca a divisão entre pessoas, como aquele de Belém. Segundo a tradição judaica, a presença divina nunca se afasta desse muro. É o Muro das Lamentações.
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O Muro das Lamentações, também chamado de Muro Ocidental, possui hoje apenas 57 metros de comprimento ao ar livre. A maior parte dele está sob outras edificações.
Aproximo-me das grandes pedras, consideradas pelo Judaísmo como o lugar mais sagrado. Orar frente ao muro é objetivo de todo fiel judeu, peregrinação obrigatória para quem vem a Jerusalém. Coloco um quipá de papel sobre a cabeça, como forma de respeito (o pequeno chapéu cônico é também símbolo do constante temor que os humanos devem ter por Deus) e acompanho as preces. Como é cedo, quase todos os que rezam são residentes em Jerusalém. Os visitantes europeus e norte-americanos chegam bem mais tarde.
Alguns devotos, além de rezar, também colocam, entre as frestas das pedras, uma oração escrita em um pedacinho de papel. A quantidade de preces é imensa e, no final do dia, já não há espaço para inserir mais uma. Os papéis acabam caindo ao chão, mas são recolhidos. “Eles são sagrados, uma vez que o nome de Deus geralmente está escrito neles”, afirma um religioso. “Devem ser enterrados.”
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Um devoto judeu reza frente ao Muro das Lamentações. Pedidos e orações são introduzidos nas frestas entre as pedras.
As preces podem ser colocadas por devotos de qualquer religião. O presidente eleito dos Estados Unidos Barack Obama passou pelo Muro das Lamentações em julho de 2008, quando de visita por Israel e pela Palestina. A prece depositada por ele foi, entretanto, retirada por um estudante israelense poucos minutos depois. E acabou sendo publicada em um jornal local. O rabino responsável pelo Muro não gostou, lembrando que é proibido ler orações individuais.
E porque o nome “lamentações”? Afinal, chegou a hora de abrir o guia Lonely Planet. Há 3.000 anos, o rei Salomão teria construído no topo do monte vizinho o Primeiro Templo de Jerusalém. Destruído por Babilônia em 586 AC, um segundo templo foi levantado no mesmo lugar sete décadas mais tarde. As pedras à minha frente teriam feito parte da muralha ocidental do Segundo Templo, ampliado por Herodes, rei da Judéia na época do nascimento de Jesus. No ano 70 DC, o templo foi totalmente arrasado pelo exército romano. Restou apenas um pequeno trecho da muralha. A tradição do “lamento” viria da dor da perda do Templo.
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Parte do Muro das Lamentações não está ao ar livre.  Aqui, fiéis ortodoxos leem e reverenciam textos sagrados.
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Um judeu ortodoxo hassídico, vestido de preto, balança o corpo e pressiona a cabeça contra o Muro.
E se você quiser que seu pedido de Ano Novo seja colocado em uma das frestas do Muro das Lamentações, entre no site Aish.com, escreva sua súplica e esta será impressa e inserida no Muro por um estudante da Tora em Jerusalém.
O meu pedido é simplesmente pela PAZ e por um pouco de bom senso! A violência dos conflitos na região – não apenas em Gaza, mas até mesmo em Jerusalém – está em plena escalada.

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