Sejamos simples e diretos: Isaías é servo do Deus Altíssimo e, como tal, obedeceu ao que o Senhor lhe ordenou e, sim, andou nu e descalço por três anos. Outros profetas tiveram também de atender estranhas ordens do Senhor, como é o caso de Jeremias. Deus pediu a este profeta para fazer brochas e canzis e colocar no seu pescoço, ou seja, construir dois paus da canga, do tipo que se coloca no pescoço do boi, cingido por correias de couro e andar com este apetrecho (Jr 27:2). Ezequiel também teve de atender a uma ordem esquisita, que era a de dormir 390 dias deitado do lado esquerdo e depois 40 dias do lado direito (Ez 4:4).
Eu creio que hoje, se Deus pedisse a um profeta algo similar ao que foi exigido de Isaías, Jeremias e Ezequiel, Ele não pediria algo deste tipo, mas diria: faça um filme com o enredo que eu vou propor e transmita em cadeia nacional.
O que quero dizer com isso é que os profetas usaram do mesmo princípio das imagens cinematográficas. Estas imagens nascem de um roteiro previamente definido, em que o artista reproduz uma determinada idéia, imprimindo o fator subjetivo àquilo que quer transmitir. Para que esta imagem possa ser produzida, primeiro é preciso que o diretor indique o roteiro, então são escolhidos os objetos, figurinos e os materiais cenográficos que hão de compor esta imagem. (http://www.abcine.org.br)
Segundo Eisenstein “no cinema, o objetivo da manipulação das justaposições é suscitar no espectador a percepção e os sentimentos em mesma intensidade e valor que qualidades formuladas pelo autor do tema” (http://www.oestrangeiro.net). Assim também Deus tinha a intenção de impregnar a mente do Egito e da Etiópia com um profundo sentimento de vergonha por conta do cativeiro Assírio.
Quanto a Isaías, este vivenciou a experiência de andar nu e descalço por três anos, desempenhando o mesmo papel que faz um ator num filme. Hoje o “ator não apenas deve reproduzir as representações da persona qual está encarregado, mas deve, de certa forma, sentir e viver tal persona, para que a imagem seja diferente e mais próxima do produto almejado pela peça do que simplesmente uma seqüência de atos.” (http://www.oestrangeiro.net). Do mesmo modo, Isaías precisava sentir dentro de si todo o impacto que a vergonha do seu ato causava a si mesmo para transmitir a mensagem divina com o máximo de fidelidade que sua alma conseguisse.
Uma pergunta que não quer calar é: Isaías andou nu, completamente sem roupas por três anos? A esta pergunta se segue outra: seria possível hoje alguém andar nu por tão longo período? Caso conseguisse, que impacto causaria?
Em Curitiba tem um sujeito que pedala de bicicleta no centro da cidade com bastante freqüência, trajando apenas uma cueca. Este indivíduo é folclórico, sendo inclusive matéria de jornal e participante de entrevistas na TV. Em algumas regiões do país e do mundo existem praias de nudismo, sendo estas também objeto de material jornalístico. Tanto aquele homem andando de cueca nas ruas de Curitiba, quanto os adeptos do nudismo podem causar uma série de sentimentos nos que os observam, menos um, o de vergonha.
O estar nu hoje não causa o impacto da vergonha, pois a sociedade se habituou de tal modo com os trajes sumários que estes merecem apenas um comentário numa página qualquer do jornal. Esta insensibilidade é decorrente dos homens estarem de contínuo perdendo todo senso de consciência para com os padrões divinos, amando a iniqüidade e se entregando a devassidão. Uma cena bem característica deste estado de coisas é um aparelho de TV ligado em um bar qualquer, cheio de pessoas bebericando, comendo e conversando, enquanto assistem a uma transa caliente, ofegante e despudorada. Esta mesma cena se repete nas vitrinas das lojas, bem como no aconchego familiar.
Se Isaías realmente andasse nu nos dias de hoje poderia ser perseguido por um bando de mulheres, desejosas da publicidade. O mais certo, contudo, é que fosse preso por atentado ao pudor.
Agora, Isaías realmente andou nu? O próprio texto responde a esta pergunta, pela comparação entre duas passagens:
Quanto a Isaías: “E ele assim o fez, andando nu e descalço”.
Quanto aos Egípcios e Etíopes: “nus e descalços, e com as nádegas descobertas”
Observe que aos Egípcios e Etíopes foi acrescentado que teriam suas nádegas descobertas, nada falando dos órgãos genitais. Neste caso eles não estariam nestas condições por sua própria vontade, mas por estarem desfilando como prisioneiros de guerra. Este é o sentido do acréscimo das nádegas descobertas, a extrema humilhação.
Quanto a Isaías, ele andou nu, mas não com nádegas descobertas. A distinção se explica porque nu, culturalmente falando, para o judeu, era estar sem a túnica externa, coberto apenas com uma túnica curta, que seria hoje o equivalente a cueca. O acréscimo a nádegas descobertas é necessário para transmitir a idéia que esta túnica curta foi propositadamente cortada no traseiro para que as nádegas pudessem ficar as vistas de todos, caracterizando a extrema humilhação.
Hoje, uma brincadeira comum entre os jovens é ficar na janela dos carros com as calças arriadas, deixando suas nádegas expostas para o deleite das adolescentes que ficam na beira da rua, a tudo assistindo. Uma cena dessa não traz a sensação de vergonha, mas de um conflito entre as autoridades e os arruaceiros.
O fato é que o propósito divino foi de dar aos povos daquela época a percepção do que seria viver em cativeiro para que estes pudessem arrepender-se de seus atos, clamando pela misericórdia da parte de Deus. Hoje, para conseguir o mesmo intento somente pela atuação do Espírito Santo, que veio para convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. Uma imagem como a de Isaías iria gerar uma contra mensagem, produzindo, quem sabe, excitação, jamais vergonha, visto que nos últimos dias teremos homens “amantes de si mesmo”, “inimigos do bem”, “atrevidos”, “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus”, como expressamente disse o Espírito Santo a igreja (II Tm 3:1-4).
Um abraço fraternal, na paz do Senhor.
Cezar
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