Papa afirma que Igreja Católica está dividida e desfigurada
O
Papa Bento XVI afirmou nesta quarta-feira (13), durante a homilia da Missa de
Quarta de Cinzas, que a Igreja “está desfigurada” pela “divisões em seu corpo
eclesiástico”.
O
pontífice realizou a Missa de Cinzas sob grande expectativa, dois dias após o anúncio de que renunciará ao pontificadono
próximo dia 28 de fevereiro.
O
Papa entrou na catedral com uma casula violeta, sobre um carrinho com rodas e
com semblante cansado.
Uma
multidão deu uma estrondosa ovação de pé ao Papa antes da missa. “Obrigado a
vocês. Agora, vamos voltar às orações”, disse o Papa, acabando com vários
minutos de aplauso.
Num
gesto raro, os bispos tiraram as mitras em sinal de respeito e alguns deles
choraram. “A qualidade e a verdade da relação com Deus é o que certifica a
autenticidade de todos os sinais religiosos”, disse o pontífice no sermão.
Depois,
ele denunciou a “hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar,
as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação”.
‘Pelo
bem da Igreja’
Mais
cedo, em sua primeira fala em público desde que anunciou sua renúncia, ele disse
que tomou a decisão de abandonar o pontificado “em plena liberdade, pelo bem da
Igreja”.
Bento
XVI disse que “orou arduamente e examinou sua consciência” antes de tomar a
decisão.
O
pontífice alemão, de 85 anos, reiterou que está consciente da gravidade da
decisão, mas também que está consciente da diminuição de suas forças espirituais
e físicas. Ele disse ter certeza que a Igreja iria sustentá-lo com orações e que
Cristo continuará sendo seu guia.
Na
audiência, o Pontífice recebeu no Vaticano mais de 3.500 fiéis e peregrinos para
a sua catequese e fez a saudação em várias línguas, entre as quais o português,
falando sobre o período da Quaresma. Ele agradeceu à presença de fiéis, citando
literalmente as cidades de Curitiba e Porto Alegre.
Na
véspera, o -voz do Vaticano, Federico
Lombardi, disse que o Papa Bento XVI está usando um marcapasso cardíaco “há
algum ”, mas que seu
estado de saúde é bom e que ele estava “lúcido e sereno” quando tomou a
histórica decisão de encerrar precocemente seu pontificado.
Saúde
do papa
O
padre Lombardi disse que as baterias do marcapasso foram trocadas há três meses,
em uma intervenção pequena, mas que isso não influiu na decisão da renúncia
papal.
“Isso
não influiu na decisão, as razões estavam na sua percepção de que sua força
tinha diminuído com a idade avançada”, disse.
A
informação sobre o marcapasso papal, que não era de conhecimento público, havia
sido adiantada pelo jornal italiano Il
Sole 24 Ore, que afirmou que o papa usava o artefato havia dez anos.
Lombardi
também confirmou informação dada na véspera, de que Bento XVI vai manter a
agenda de trabalho até dia 28, quando renunciará. Isso inclui uma audiência com
o presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, no próximo sábado (16).
A
última audiência pública do papa, no dia 27, será na Praça de São Pedro, no
Vaticano, para permitir que os fiéis possam assisti-la e se despedir do
Papa.
O
porta-voz também reafirmou que Bento XVI não vai interferir na escolha de seu
sucessor, deixando os cardeais livres para decidirem. Federico disse que, após a
renúncia, Bento XVI não terá nenhum papel na chefia da Igreja Católica.
‘Vatileaks’
Um
dos responsáveis pelas denúncias que deflagraram o escândalo conhecido como ‘Vatileaks’– o vazamento de
documentos secretos da Santa Sé, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, de 43
anos, disse que a renúncia de Bento XVI foi causada pela perda de poder do papa
para reformar a cúpula da igreja.
Em
entrevista à , ele afirmou que a
elite administrativa do Vaticano está rachada por intrigas e suspeitas de
corrupção.
Nuzzi
é autor de Sua
Santità (“Sua Santidade”, em português), que aponta um
crescente antagonismo entre o papa e o número dois do Vaticano, o secretário de
Estado Tarcisio Bertone.
Os
documentos que abasteceram o livro de Nuzzi e a imprensa italiana provocaram a
prisão e a condenação de Paolo Gabriele, o mordomo do papa que foi acusado de
ser o autor do vazamento. Gabriele recebeu indulto do pontífice.
O
escândalo jogou sobre o cardeal Bertone a suspeita de ter promovido uma campanha
para afastar o arcebispo Carlo Maria Viganò, responsável pelas licitações do
Vaticano, que havia denunciado casos de corrupção.
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