Rm
9.6 “Não que a palavra de Deus haja faltado, porque
nem todos os que são de Israel são israelitas”.
INTRODUÇÃO.
Em Rm 9–11, Paulo trata da eleição de Israel no passado, da sua rejeição do
evangelho no presente, e da sua salvação futura. Esses três capítulos foram
escritos para responder à pergunta que os crentes judaicos faziam: como as
promessas de Deus a Abraão e à nação de Israel poderiam permanecer válidas,
quando a nação de Israel, como um todo, não parece ter parte no evangelho? O
presente estudo resume o argumento de Paulo.
SÍNTESE.
Há três elementos distintos no exame que Paulo faz de Israel no plano divino da
salvação.
(1)
O primeiro (9.6-29) é um exame da eleição de Israel no passado. (a) Em 9.6-13,
Paulo afirma que a promessa de Deus a Israel não falhou, pois a promessa era só
para os fiéis da nação. Visava somente o verdadeiro Israel, aqueles que eram
fiéis à promessa (ver Gn 12.1-3; 17.19). Sempre há um Israel dentro de Israel,
que tem recebido a promessa. (b) Em 9.14-29, Paulo chama a nossa atenção para o
fato de que Deus tem o direito de fazer o que Ele quer com os indivíduos e as
nações. Tem o direito de rejeitar a Israel, se desobedecerem a Ele e o direito
de usar de misericórdia para com os gentios, oferecendo-lhes a salvação, se Ele
assim decidir.
(2)
O segundo elemento (9.30—10.21) analisa a rejeição presente do evangelho por
Israel. Seu erro de não voltar-se para Cristo, não se deve a um decreto
incondicional de Deus, mas à sua própria incredulidade e desobediência (ver
10.3 nota).
(3)
Finalmente, Paulo explica (11.1-36) que a rejeição de Israel é apenas parcial e
temporária. Israel por fim aceitará a salvação divina em Cristo. O argumento
dele contém vários passos. (a) Deus não rejeitou o Israel verdadeiro, pois Ele
permaneceu fiel ao “remanescente” que permanece fiel a Ele, aceitando a Cristo
(11.1-6). (b) No presente, Deus endureceu a maior parte de Israel, porque os
israelitas não quiseram aceitar a Cristo (11.7-10; cf. 9.31—10.21). (c) Deus
transformou a transgressão de Israel (i.e., a crucificação de Cristo) numa
oportunidade de proclamar a salvação a todo o mundo (11.11,12,
15). (d) Durante esse tempo presente da incredulidade nacional de Israel,
a salvação de indivíduos, tanto os judeus como os gentios (cf. 10.12,13) depende da fé em Jesus Cristo (11.13-24). (e) A fé em Jesus
Cristo, por uma parte do Israel nacional, acontecerá no futuro (11.25-29). (f) O
propósito sincero de Deus é ter misericórdia de todos, tanto dos judeus como dos
gentios, e incluir no seu reino todas as pessoas que creem em Cristo (11.30-36;
cf. 10.12,13; 11.20-24).
PERSPECTIVA.
Várias coisas se destacam nestes três capítulos.
(1)
Esse exame da condição de Israel não se refere à vida ou morte eterna de
indivíduos após a morte. Pelo contrário, Paulo está tratando do modo como Deus
lida com nações e povos do ponto de vista histórico, i.e., do seu direito de
usar povos e nações conforme Ele quer. Por exemplo, sua escolha de Jacó em lugar
de seu irmão Esaú (9.11) teve como propósito fundar e usar as nações de Israel e
de Edom, oriundas dos dois. Nada tinha que ver com seu
destino eterno, i.e., quanto a sua salvação ou condenação como indivíduos. Uma
coisa é certa: Deus tem o direito de chamar as pessoas e nações que Ele quiser,
e determinar-lhes responsabilidades a cumprir.
(2)
Paulo expressa sua constante solicitude e intensa tristeza pela nação judaica
(9.1-3). O próprio fato que Paulo ora para que seus compatriotas sejam salvos,
revela que ele não admitia o ensino teológico da predestinação, afirmando que
todas as pessoas já nascem predestinadas, ou para o céu, ou para o inferno. Pelo
contrário, o sincero desejo e oração de Paulo reflete a vontade de Deus para o
povo judaico (cf. 10.21; ver Lc 19.41, nota sobre Jesus chorando por causa de
Israel ter rejeitado o caminho divino da salvação). No NT não se encontra o
ensino de que determinadas pessoas foram predestinadas ao inferno antes de
nascer.
(3)
O mais relevante neste assunto é o tema da fé. O estado espiritual de perdido,
da maioria dos israelitas, não fora determinado por um decreto arbitrário de
Deus, mas, resultado da sua própria recusa de se submeterem ao plano divino da
salvação mediante a fé em Cristo (9.33; 10.3; 11.20). Inúmeros gentios, porém,
aceitaram o caminho de Deus, que é o da fé, e alcançaram a justiça mediante a
fé. Obedeceram a Deus pela fé e se tornaram “filhos do Deus vivo” (9.25,26).
Esse fato ressalta a importância da obediência mediante a fé (1.5; 16.26) no
tocante à chamada e eleição da parte de Deus.
(4)
A oportunidade de salvação está perante a nação de Israel, se ela largar sua
incredulidade (11.23). Semelhantemente, os crentes gentios que agora são parte
da igreja de Deus são advertidos de que também correm o mesmo risco de serem
cortados da salvação (11.13-22). Eles devem sempre perseverar na fé com temor. A
advertência aos crentes gentios em 11.20-23, pelo fato da falha de Israel, é tão
válida hoje quanto o foi no dia em que Paulo a escreveu.
(5)
As Escrituras estão repletas de promessas de uma futura restauração de Israel ao
aceitarem o Messias. Tal restauração terá lugar ao findar-se a Grande
Tribulação, na iminência da volta pessoal de Cristo (ver Is 11.10-12 nota;
24.17-23 nota; 49.22,23 nota; Jr 31.31-34; Ez 37.12-14
nota; Rm 11.26 nota; Ap 12.6 nota).
Bibliografia
Bíblia de Estudo Pentecostal
A
TRISTEZA DE PAULO
(Rm
9.1-3)
Nestes
versículos o apóstolo Paulo declara seu amor por sua gente, os judeus. Ele
começa declarando: “Em Cristo digo a verdade, não minto”. Visto que era
conhecido como judeu zeloso, sua conversão a Cristo o tornou antipático para os
judeus, que o viam como “um traidor de sua gente”. Entretanto, Paulo garante que
seus sentimentos são sinceros e que sua consciência tinha o testemunho do
Espírito Santo, conforme o texto diz: “dando-me testemunho a minha consciência
no Espírito Santo” (v 1). Esse texto mostra que sua consciência agia sob a
orientação iluminada do Espírito Santo.
No
versículo 2, Paulo ainda declara dizendo: “Que tenho grande tristeza e contínua
dor no meu coração”. É uma expressão de profundo sentimento de amor e respeito
pela sua gente, e não de traição. A despeito da hostilidade dos judeus contra a
pregação do Evangelho e contra a sua pessoa, Paulo diz que, se fosse possível
ele mesmo ser separado de Cristo, para salvar “seus parentes segundo a carne”,
ele o faria por amor a eles. Essa linguagem é bem típica de quem ama
profundamente e é capaz de dar sua vida para salvar outras. No AT podemos
lembrar Moisés (Êx 24.16,17).
-
Por que essa tristeza de Paulo para com seus irmãos de sangue? A resposta é
simples e objetiva: o repúdio do povo judeu para com Jesus Cristo. Sua tristeza
tem duas razões específicas: Primeira,
Paulo declara que os judeus são seus “parentes” segundo a carne, mas não querem
ser seus irmãos segundo o espírito. Segunda,
pelo fato de que os judeus, possuindo privilégios especiais como nação,
rejeitaram o “privilégio maior”, que é a salvação em Cristo.
OS
ESPECIAIS PRIVILÉGIOS DE ISRAEL
(9.4,5)
Há
pelo menos 8 privilégios
distintos apresentados por Paulo nesta Carta. - Quais são esses
privilégios?
1. (9.4)
“...dos quais é...” - (De quem? Dos “israelitas”.) Pertence a eles a
adoção, como promessa divina, visto que foram feitos filhos ou
povo peculiar de Deus, tirado do meio das nações. (Êx 4.22; Os
11.1).
2. Pertence
a eles a glória que se refere a “Shekinâ” que
significa a presença de Deus visível no tabernáculo e no templo (Êx
40.34,35).
3. Pertencem a eles as alianças feitas
com Israel. Entre todas as alianças destaca-se a aliança feita no monte Sinai
(Êx 24.8). Porém, podemos lembrar uma ordem nas “alianças”: feita com Abraão (Gn
15.18; 17.4); nos dias de Moisés (Êx 24.8; 34.10; Dt 29.1); nos dias de Josué, o
sucessor de Moisés (Dt 27.2; Js 8.30; 24.25); nos dias de Davi: (2 Sm 23.5; Sl 89.28). Subentende-se que Paulo destaca o
privilégio de sua gente como nação peculiar de Deus, de receber toda a atenção
de Jeová.
4. Pertence a eles a Lei (9.4), mui
especialmente a lei outorgada através de Moisés, que se tornou base de
jurisprudência mundial (Êx 20). A concretização da aliança feita com o
aparecimento da Lei concretiza a preocupação divina com a vida cotidiana do povo
judeu. A Lei trouxe os requisitos de obediência para o povo, na sua vida
cotidiana, no seu culto a Deus e no relacionamento com o
próximo.
5. Pertence a eles o culto (Rm 9.4) a
Deus, com todos os rituais e cerimoniais. Paulo diz literalmente: “deles é o
culto”, no sentido de que foi privilégio particular da nação israelita cultuar
ao Deus verdadeiro, visto que as demais nações não conheciam esse Deus
verdadeiro. Hoje, pela graça do Senhor Jesus, todos quantos o aceitam têm
direito de cultuar a esse Deus.
6. Pertencem a eles as promessas (9.4)
(-Quais promessas? - Todas!) Desde Abraão Deus tem feito promessas à sua
descendência e todas as promessas messiânicas feitas a Davi e através dele
acerca do vindouro reino messiânico (Is 55.1; At
13.23,32-34).
Todas
as promessas a Israel, desde Abraão, representam o horizonte
escatológico para o qual Israel está sendo conduzido. A
revelação de Deus através do cumprimento histórico e futuro dessas promessas
chegará ao seu clímax no reino messiânico.
7. Pertencem a eles os pais (9.5), que
são os patriarcas de Israel. A estes Deus fez promessas, que representam toda a
esperança de Israel. É impossível deixar de reconhecer os “pais da antiguidade”:
Abraão, Isaque e Jacó, que revestiram de glória todas as gerações dos judeus
até o presente (Êx 3.6,13; Lc 20.37). Nestas referências a identificação
patriarcal é com Abraão, Isaque e Jacó.
8. Pertence a eles a descendência de
Cristo (9.5). “E dos quais é Cristo segundo a carne”. Note-se que Paulo
deixou por último “a Cristo” por ser o mais eminente dos privilégios dos judeus.
Os que negam a divindade de Cristo, utilizam a
expressão “segundo a carne” para rejeitar o testemunho que a Escritura dá a
respeito da divindade de Cristo. Na sequência do texto está escrito: “...o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (9.5). É
indiscutível o fato de que o Cristo, o Ungido, é o “Verbo divino que se fez
carne” (Jo 1.1,14) e “habitou entre nós”. Como Deus bendito, Cristo nasceu como
homem, “segundo a carne”, descendendo dos judeus. Sua humanização não afetou em
nada a sua divindade. Paulo faz um tributo à divindade
de Cristo, quando diz que Ele é “sobre todos”, isto é, exalta-o e o coloca em
sua real posição de supremacia. Ainda mais, Paulo o trata como “Deus bendito
eternamente” (9.5). Esse tratamento é identificado no AT, quando o salmista
precede o nome de Deus com a palavra “bendito” (Sl
68.35; 72.18). Pode-se encontrar esse mesmo tratamento paulino em 2 Co 11.31;
Rm 1.25, etc. Finalmente, entende-se que Cristo descendeu dos judeus “segundo a
carne” para revelar-se ao mundo todo como o Redentor de todos os homens (Mt 1.1; Jo 1.14; Hb 2.16).
A
ELEIÇÃO DE ISRAEL SEGUNDO A SOBERANIA DE DEUS
(9.6-13)
Inicialmente,
precisamos considerar as razões que levaram Paulo a escrever esta Carta aos
crentes romanos. Havia na igreja, na comunidade de crentes existentes em Roma,
dois grupos distintos, um formado por judeus, e outro por gentios. Essa
diferença racial e religiosa promoveu um litígio doutrinário quanto aos
privilégios espirituais. O problema foi levantado pelo grupo de judeus que não
aceitava o ensino de Paulo quanto à salvação, pelo fato de Paulo apresentar o
novo pacto (a graça), como capaz e superior ao velho pacto (a Lei) para salvar o
homem.
Daí,
então, a preocupação de Paulo em explicar de modo claro e especial nos capítulos 9, 10 e 11, a
posição dos judeus no plano divino da salvação.
Aquele
grupo de judeus entendia que, pelo fato de seu povo ser chamado “povo escolhido
de Deus” não se considerava necessitado de salvação. O judeu cria que Deus
havia eleito seu povo e por isso a sua salvação estava
pré-ordenada e determinada. Entendia o judeu que tinha direito à salvação. Pelo
fato de Jesus ter nascido judeu, e por direito de sangue, a salvação lhes
pertencia. E chegavam ao absurdo de achar que os gentios não tinham direito à
salvação e à eleição. Foi aí que Paulo resolveu mostrar e esclarecer a
verdade. O apóstolo
focalizou com destaque que a eleição para a salvação, na Nova Aliança, é feita
segundo, a graça de Deus para todos os homens. Mostrou ainda que a
eleição pela graça é feita mediante a fé, e não pelas obras, para que ninguém se
glorie.
1. Deus é fiel (v 6)
“Não
que a Palavra de Deus haja falhado”. Paulo declara que Deus não é infiel às suas
promessas, conforme os versículos 4 e 5 do mesmo capítulo nos mostram. O estado
atual dos judeus não significa que as promessas divinas tenham se desviado ou
deixado de se cumprir. Paulo levanta uma questão muito forte para os judeus
quando diz: “...porque nem todos os que são de Israel
são israelitas” (v 6). A eleição divina é soberana e Deus tem o direito de
fazer e estabelecer o seu modo de escolha, mas Deus jamais escolhe com
parcialidade. Subentende-se, então, que há o
Israel segundo a carne e o Israel segundo o Espírito. Este versículo faz
a distinção entre a filiação carnal e a espiritual. Só pelo fato de ter nascido
da semente de Abraão não dá direito à promessa de Deus. Por exemplo: os filhos
de Abraão nascidos de Hagar e Quetura são filhos
segundo a carne (Gn 16.1-16; 25.14), mas Isaque, filho de Sara, foi nascido
segundo a promessa.
O
que Paulo destaca aqui é que não basta ser judeu para ser chamado filho de Deus,
pois essa escolha não é segundo a carne, mas segundo o
Espírito.
2. A verdadeira reivindicação (v
7)
“Nem
por serem descendência de Abraão são todos filhos”. Abraão teve 7 filhos, mas
só Isaque foi contado segundo a promessa de Deus. Os judeus não podiam, segundo
Paulo, basear sua reivindicação à “eleição” no parentesco carnal com Abraão. Os
filhos de Deus não são filhos da carne, mas filhos da promessa. Note que Paulo
ilustra Abraão, Isaque e Jacó para ensinar que as promessas foram feitas
segundo a fé desses homens. Isaque foi escolhido em lugar dos outros filhos,
porque nasceu da promessa divina.
3. Os filhos da promessa
(vv
8-10)
“Mas
os filhos da promessa são contados como descendência”. Que entendemos neste
versículo? Paulo menciona a palavra promessa referindo-se historicamente
à promessa de um filho a Abraão na sua velhice. Sara, humanamente falando, não
tinha mais condições de ter filhos, porque além de estar velha, era estéril. Mas
o Senhor daria essa alegria a Sara intervindo milagrosamente pelo seu poder
divino para fazer cumprir a promessa. Por isso, esse filho, Isaque, é o eleito
segundo a promessa. Portanto, quando Paulo diz que são os
filhos da promessa que são contados como descendência, queria dizer que, os que
nascem segundo o Espírito é que podem ser chamados filhos de Deus com
direito às promessas.
9.9,10.
Estes versículos estão implícitos no comentário do versículo
8.
4. Porque Jacó e não Esaú
(vv
10-13)
Deus
escolheu Jacó em lugar de Esaú.
Os judeus poderiam replicar a argumentação de Paulo dizendo serem filhos de
Isaque, por isso Deus não os rejeitaria. Paulo mostra que Deus faz sua escolha
dentro de um propósito espiritual. A história que mostra que Esaú era
displicente quanto ao direito de primogenitura. Esse direito implicava em ter a
liderança espiritual da família, quando o pai morresse. Era um direito seu por
ser o mais velho. - Por que, então, Deus preferiu Jacó? Exatamente porque Jacó
sabia avaliar melhor aquela responsabilidade, com a qual seu irmão Esaú não se
importava (Rm 9.11,12).
No
versículo 11 podemos conhecer o propósito divino na eleição. Em Romanos 8.29
Paulo apresenta esse propósito, nestas palavras: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho afim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos”. A ênfase está em “...os que dantes
conheceu...” - Portanto, qual é o propósito divino? É constituir uma família de
filhos espirituais segundo a fé. Paulo mostra que a eleição segundo a Lei tem
alguns privilégios, mas a eleição segundo a promessa é a que dá direito
de ser filho de Deus.
A
eleição divina elegeu “os que creem” em Cristo. A fé é o requisito essencial
para todos os homens, sem acepção de raça, cor, cultura ou língua, na eleição
divina. A soberania de Deus está implícita no fato de que Ele elegeu os que
creem como Abraão, e endureceu os que rejeitam crer, como fez com Faraó (vv 15-17).
Bibliografia
E. Cabral
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