Visitantes

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Postado em 17/05/2012


Recentemente, temos visto despertar um grande número de pessoas que demonstra a preocupação com a celebração das festas bíblicas, não apenas como mandamentos dados por YHWH a Seu povo, mas também como forma de anúncio da obra de Yeshua. As festas bíblicas, todas elas, apontam para a obra redentora que Yahushua realizou, ou para aquilo que profeticamente sabemos que ainda está por vir. O primeiro passo dado por essas pessoas é alegremente consultar o calendário judaico, para verificar quando serão as festas de YHWH, afinal, enquanto o Cristianismo alterou as datas das festas de YHWH e resolveu criar novas celebrações (como o domingo, o Natal, a páscoa cristã, etc.), o Judaísmo preservou fielmente as datas tais quais reveladas a Moshe (Moisés) aos pés do Sinai, certo? Errado!
Pode parecer um choque para o leitor que a resposta acima tenha sido dada, mas não se trata aqui de sectarismo ou de qualquer tentativa de distanciamento do Judaísmo. Muito pelo contrário, foi o Judaísmo atual que se distanciou do Judaísmo histórico. Poucos sabem, mas o calendário seguido pelos grupos judaicos hoje não é o calendário bíblico original, e sim um calendário muito posterior.

A Forma de Determinação do Calendário

Inicialmente, o calendário judaico era calculado com base na observação dos astros. Embora a matemática jamais tivesse ficado plenamente de fora dessa equação, a ideia era a de que o calendário se baseava na observação dos astros.

A prática de observação dos astros aparece bem cedo na Torá:

“Vayomer Elohim yehi meorot birkia hashamayim lehavdil bein hayom uvein halaila vehayu leotot ulemoadim uleyamim veshanim”.

“E disse Elohim: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.” [Bereishit/Gênesis 1:14]
Aqui se vê pela primeira vez que o intuito de YHWH na criação dos astros foi justamente dar ao homem a capacidade de observar os tempos por Ele determinados, os chamados “moadim”. O calendário é determinado na base de “otot” (plural) – O termo hebraico “ot” significa “sinal”. Assim sendo, as meorot hashamayim (luminárias celestiais) seriam os sinais necessários para determinar Seus tempos apontados.

O Local de Determinação do Calendário

Uma das questões que imediatamente podemos levantar é: De onde devemos realizar tais observações? Afinal de contas, a observação pode variar de local para local. A terra gira em torno do sol. Assim sendo, sabemos que o dia é uma unidade móvel, que se desloca, digamos assim, ao redor da terra. Quando é dia em nosso país, no Japão é noite. Sabemos que o pôr-do-sol é fator que determina o início do dia. Isso afeta a observação dos astros. Elementos como a posição do sol ou da lua face às estrelas do céu, as fases lunares, etc. podem variar de um lugar para o outro. O que é observável num dado dia em um lugar, pode se tornar visível em outro lugar apenas no dia seguinte. Desta maneira, é imperativo determinarmos o lugar adequado para observação dos astros, a fim de sabermos como determinar dias, meses e anos conforme a Palavra nos determina.

“Naquele tempo chamarão a Yerushalayim o trono de YHWH, e todas as nações se ajuntarão a ela, em nome de YHWH, em Yerushalayim; e nunca mais andarão segundo o propósito do seu coração maligno”. [Yirmiyahu/Jeremias 3:17]

Yerushalayim (Jerusalém) é mais do que a cidade do grande rei. Yerushalayim (Jerusalém) é o trono de onde YHWH por intermédio de Yahushua reinará sobre a terra, conforme anunciado pelos profetas. Assim sendo, podemos dizer que Yerushalayim (Jerusalém) é o centro da terra. Em sendo Yerushalayim (Jerusalém) o centro da terra, a Torá enfatiza que determinadas celebrações seriam festas de peregrinação: “Três vezes no ano todo o homem entre ti aparecerá perante YHWH teu Elohim, no lugar que escolher, na festa dos pães ázimos, e na festa das semanas, e na festa das cabanas; porém não aparecerá vazio perante YHWH”. [Devarim/ Deuteronômio 16:16]

Se alguém tem alguma dúvida de que essa prática permaneceria, basta olharmos para a profecia de Zechariyah (Zacarias) 14:16 sobre o fim dos tempos: “E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Yerushalayim, subirão de ano em ano para adorar o Rei, YHWH Tseva'ot, e para celebrarem a festa das cabanas”. Aqui vemos que não somente a prática permanece, como também podemos observar que no fim dos tempos a Torá será praticada por todas as nações da terra.

Da observação das passagens supracitadas, podemos concluir que se o calendário é calculado através da observação das meorot hashamayim (luminárias celestiais), e se três das festas bíblicas determinadas são festas de peregrinação, isto significa que elas ocorrem em função de Yerushalayim (Jerusalém). Ou seja, como Yerushalayim (Jerusalém) é o trono de YHWH sobre a terra, isto é, o centro da adoração a Ele, geograficamente falando, então é a partir de Yerushalayim (Jerusalém) que se deve observar os astros, de modo a determinar o calendário.

A Origem do Calendário Judaico Atual

Todo esse contexto é importante para entendermos como surgiu o calendário judaico atual. A primeira surpresa que se pode observar é que esse calendário não se baseia em qualquer observação astronômica, mas sim em um complexo conjunto de cálculos previamente realizados. Mas então, como e por que surgiu? A resposta é mais surpreendente do que pode parecer: foi graças inicialmente à astronomia babilônia, e posteriormente a Roma (mais especificamente Constantino!) que o calendário judaico atual foi criado.

O calendário judaico atual é um modelo matemático que se inspira, embora altere o calendário farisaico – calendário esse que estudaremos mais adiante. A história do calendário judaico atual se divide em três partes. As duas primeiras no chamado “período talmúdico” e a terceira com o sábio Hillel 2. A base do conhecimento aqui relatado vem do artigo “A História do Calendário”, da Enciclopédia Judaica.


Mudanças durante o Período Mishnáico

Mais adiante, estudaremos o modelo do calendário farisaico, tal qual exposto pela Mishná. Contudo, para fins de concluirmos nosso estudo sobre o calendário judaico, é importante adiantarmos um detalhe sobre ele: A determinação do mês segundo o calendário farisaico era feita com base no crescente visível. Assim sendo, só se conhecia de fato o início de um determinado mês no dia em que a lua crescente fosse primeiro avistada. Dessa maneira, ninguém sabia quando ocorreriam as festas bíblicas, até que o novo mês fosse proclamado pelo Sanhedrin (Sinédrio).

Para avisar às comunidades farisaicas acerca do início do novo mês, eram acesas fogueiras nos montes, para espalhar rapidamente a notícia do novo mês, visto que, como vimos somente no momento do avistar a lua é que se saberia ao certo o início do mês. Vale ressaltar que o período em que a lua se torna invisível, desde o fim do período decrescente até o chamado crescente visível, pode variar de 2,5 a 3,5 dias, em média.

Ocorre, contudo, que havia ainda comunidades farisaicas fortes fora de Israel, como em Alexandria e na Babilônia. O farisaísmo era o movimento mais proselitista fora de Israel, além de ter sido o principal sobrevivente dentre os grupos judaicos por firmar acordos com Roma. Como se pode deduzir, era praticamente impossível avisar tais comunidades por meio desse sinal, ou mesmo através do envio de mensageiros (prática que foi adotada posteriormente). Assim sendo, algumas dessas comunidades da diáspora, passaram a celebrar as festas bíblicas por dois dias, ao invés de um, visto que não tinham condições de precisar que dia exato o crescente visível havia ocorrido.

Mudanças durante o Período Talmúdico

Durante a diáspora ocorrida após a destruição de Yerushalayim (Jerusalém) por parte de Roma, cresceu o interesse dos sábios por calcular matematicamente o calendário judaico, visto que o acesso a Yerushalayim (Jerusalém) já não era tão livre quanto anteriormente. Nessa época, um rabino denominado Sh'muel, e apelidado de “Yarhinai”, por causa de sua familiaridade com a lua (Yareach) se tornou o astrônomo judeu mais famoso na Babilônia. O Talmud, em Berachot 58b, diz que ele conhecia tão bem os trajetos celestiais quanto as ruas de sua cidade. Sh'muel Yarhinai dirigia uma escola na Neardéia, na Babilônia, onde criou o primeiro calendário judaico fixo, baseado puramente em cálculos matemáticos. Isto foi feito para que a comunidade judaica não dependesse das informações da região da Judéia, cujo acesso havia sido muito dificultado. Yarhinai foi o primeiro a calcular o calendário, diferentemente da determinação bíblica de observação. Compreende-se que isto surgiu de uma necessidade. Yarhinai calculou cerca de 60 anos de calendário com seu método. Alguns outros rabinos, como Adda, também fizeram tentativas de calcular o calendário sem se basear na observação.

A Divergência

Pouco depois da morte de Yarhinai, em 250 DC, sob o comando do rabino Yehudá III, cerca de 300 a 330 DC, a observância dos astros se tornou uma mera formalidade. Yehudá III instituiu o calendário puramente baseado no modelo matemático derivado principalmente dos ensinamentos de Yarhinai. Essa mudança não foi bem recebida por todos os membros do Sanhedrin (Sinédrio). Um dos mais ferrenhos adversários dessa mudança foi o rabino Yossef, que escreveu às comunidades judaicas da Babilônia e de Alexandria que continuassem a preservar o costume antigo, celebrando inclusive algumas festas bíblicas por dois dias (?!?). Durante essa época, as comunidades judaicas se fragmentaram em sua observância do calendário. Havia ainda pequenas comunidades derivadas de grupos não farisaicos, que observavam seus próprios calendários (veremos isso mais adiante), e mesmo dentre as comunidades farisaicas, maioria à época, não havia mais um consenso.

As Regras de Adiamento

O Targum Yerushalmi, em Meguilá 70b, também narra um detalhe curioso. Nessa passagem, vemos que o rabino Yossef, em meio a esse período de reforma no calendário, também determina que a festa de Purim (que começa ao décimo quarto dia do décimo segundo mês), não poderia cair num Shabat nem em no segundo dia, para que o Yom Kipur (no décimo dia do sétimo mês) não caísse no sexto dia nem no primeiro. Isto é, para que o Yom Kipur não caísse nem antes nem depois do Shabat. Veremos mais adiante que o motivo de tal coisa estava no fato de que o calendário farisaico acabou com uma das características mais distintas e interessantes do calendário bíblico: o fato das festas bíblicas ocorrerem sempre no mesmo dia da semana. Assim sendo, gerou-se uma grande polêmica em termos de halachá sobre como fazer quando certas festas bíblicas caíssem em determinadas datas. A polêmica acirrava os ânimos das escolas judaicas, e deveria ser tratada para evitar um racha ainda maior. Além disso, havia uma enorme preocupação de se evitar que as datas coincidissem com as datas do calendário bíblico, ainda defendido por opositores ao farisaísmo, como os saduceus e os essênios.

Veremos isso mais adiante quando falarmos do calendário rabínico.

Dessa forma, foram introduzidas no cômputo do calendário algumas leis de adiamento para evitar tais situações. Veremos algumas dessas leis ainda nesta seção, e como elas afetam as datas das festas bíblicas.

O Ciclo Metônico de 19 Anos

A Babilônia, cuja astronomia era bastante avançada para a época, possuía uma forma de intercalar seus meses (cujo início ocorria com o crescente visível – veremos adiante que essa é a origem do calendário farisaico) essencialmente lunares com os anos solares baseado no chamado “ciclo metônico”. Esse ciclo é assim chamado por ser atribuído ao astrônomo grego Meton, de Atenas. Meton foi o primeiro a descobrir, em 432 AC, que a cada 19 anos solares, havia quase que com exatidão 235 meses lunares, ou, 7 meses lunares a mais do que o número de meses solares. Especula-se que o conhecimento babilônio sobre esse ciclo seja atribuído a um contato com a civilização grega. No calendário babilônio, os anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 do ciclo metônico de 19 anos recebem um mês extra.

Os fariseus tinham um problema: Como o mês adotado era lunar, o ano era sempre mais curto do que o ano solar, o qual a Torá determina como base para a celebração das festas bíblicas (veremos isso mais adiante). Assim como no calendário babilônio por eles importado, era necessário que após um dado período, um novo mês fosse acrescido para ajustar o ano lunar ao ano solar. Quando analisarmos o calendário fariseu, estudaremos as formas adotadas para determinar quando realizar tal inserção. Porém, aqui enfatizamos o calendário judaico atual. O problema era que as técnicas anteriormente defendidas pelos fariseus também dependiam de observação em Yerushalayim (Jerusalém). Com a dificuldade de acesso àquela região, tornou-se necessário adotar uma nova maneira de realizar tal compensação. Novamente, os sábios recorreram à astronomia babilônia, e passaram a adotar o ciclo metônico de 19 anos.

Uma curiosa diferença para com o calendário farisaico/mishnáico está também na posição do mês adicional. Neste último, o mês adicional era invariavelmente acrescido ao final do ano, como décimo terceiro mês. Contudo, quando o ano passou a ser fixado matematicamente, isso mudou. Inicialmente, o mês extra chegou a ser adotado após o quinto mês. Posteriormente, fixou-se como prática acrescentá-lo após o décimo primeiro mês.

A Perseguição de Constantino e Hillel 2

O reinado de Constantino (337 a 361 DC), primeiro papa/imperador cristão, marcou um período de horror para o mundo judaico. Constantino perseguia brutal e violentamente as comunidades judaicas. Nessa época, Constantino proibiu severamente qualquer exercício religioso judaico, inclusive o ajuntamento do Sanhedrin (Sinédrio) para observação e/ou cômputo do calendário. Isso levou Hillel 2 a criar um compêndio das fórmulas farisaicas para cálculo do calendário, juntamente com aquilo que havia sido desenvolvido por Yarhinai e alguns de seus contemporâneos (especialmente os da escola da Neardéia). Esse compêndio passou, em 359 DC, a ser adotado como o calendário judaico oficial.

Erros de Cálculo

Outro problema associado ao calendário de Hillel 2 está no fato de que a astronomia naquela época era certamente muito mais primitiva, e o cálculo das órbitas dos corpos celestes não foi realizado com a precisão que se tem hoje em dia, por exemplo. A Enciclopédia Judaica comenta que Isidore Loeb, em sua obra “Tables du Calendrier Juif”, aponta para o fato de que o calendário de Hillel 2, em seu ciclo de 19 anos, excede o calendário gregoriano em 2 horas, 8 minutos e 15.3 segundos. Isto porque o ano solar astronômico teria, na realidade, 6 minutos, 39 25/57 segundos a menos do que os cálculos dos astrônomos judeus supunham. Para se ter uma idéia, isto significa que hoje, o calendário judaico atual de Hillel 2 está quase 8 dias na frente do que deveria ser, se o cálculo tivesse sido feito corretamente.

Sobre isso, Tracey R. Rich, na obra "Jewish Frequently Asked Questions", afirma: “Rabi Hillel 2 desenvolveu o calendário judaico no ano judaico de 4119. Usando os seus métodos conforme descritos acima, e artificialmente presumindo que o calendário gregoriano que usamos hoje era efetivo naquela época, a data de Rosh Hashanah [N. do T: Rich, como todo ortodoxo, considera Rosh Hashanah como sendo no sétimo mês] variava de 29 de Agosto a 28 de Setembro entre os anos 4100 e 4200 (o 42º século). No presente século judaico (o 58º), as datas de Rosh Hashanah variam de 5 de Setembro a 5 de Outubro, um ganho de 6 a 7 dias”.

O calendário de Hillel 2 também destoa das próprias fases da lua, em que é baseado o calendário farisaico/mishnáico. Porém, é uma diferença muito menor. Segundo Stephen P. Morse em sua obra “Jewish Calendar Rules”, a diferença é de cerca de 1 dia para cada 15 mil anos. Ele estima que por volta do ano 237 mil, a lua nova do calendário de Hillel 2 já seja praticamente equivalente à lua cheia. (visite http://stevemorse.org/hebrewcalendar/hebrewcalendar.htm

O motivo principal desse problema com o calendário de Hillel 2, contudo, não se resume à matemática, pois mesmo com toda a precisão que temos hoje, é certo que ainda há algum fator de imprecisão. É por esta razão que o calendário bíblico emprega a observação dos astros, e não a matemática pura. Como o calendário de Hillel 2 jamais se corrige pela observação, ele se distancia a cada ano do seu modelo original. Porém, o Judaísmo Ortodoxo, herdeiro do Judaísmo Farisaico, considera que não é possível fazer as devidas correções ao calendário sem haver outro Sanhedrin (Sinédrio) estabelecido. Eles consideram que como o calendário de Hillel 2 foi homologado por um Sanhedrin (Sinédrio), somente um Sanhedrin (Sinédrio) poderia efetuar uma nova mudança. O Judaísmo Ortodoxo considera que os sábios detêm autoridade sobre a Torá, e consequentemente sobre o mundo judaico como um todo.

Como se Calcula o Calendário de Hillel 2

O calendário de Hillel 2 é calculado através de uma unidade de tempo denominada de “parte” (cheilek). Cada “parte” consiste de 3 1/3 segundos, de modo que existem 18 partes em um minuto, e 1080 partes em uma hora. Esses números não são coincidência, e sim propositadamente cabalísticos, digamos assim. Como vimos anteriormente, este calendário se baseia no calendário farisaico/mishnáico, cujo mês é determinado pelo crescente visível e, portanto, lunar. A unidade adotada é o chamado “molad” ou “nascimento”, que implicaria no início do ciclo lunar. Por uma série de questões de halachá que se originam na interpretação do Sl. 81:3, esse calendário toma por unidade de início do sétimo mês o dia anterior ao crescente visível, a chamada lua oculta, e para os demais meses o crescente visível. Essas são, portanto as “moladot”. Quando analisarmos a questão desse salmo, mais adiante, o motivo da diferença no sétimo mês, para eles, se tornará mais claro. Por hora, fiquemos apenas com este fato.

Após tomar as moladot, foi fixado um valor médio de diferença de distância entre cada molad, a saber, 29 dias, 12 horas, e 793 partes. Em seguida, determina-se a posição do ano no ciclo metônico/babilônio de 19 anos. Como já vimos, adiciona-se um mês para os anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 do ciclo. Dessa forma, determina-se se o ano terá 12 ou 13 meses. Assim sendo, o comprimento do ano é determinado encontrando-se a chamada “Molad Tishrei”, isto é, a molad do sétimo mês. Pegamos o valor médio pré-fixado de diferença entre as moladot, e multiplicado por 12 ou 13 meses. Em seguida, calcula-se o “molad” mais próximo após esses dias, que será o “Molad Tishrei” do ano seguinte. O valor dessa conta é o comprimento do ano em questão. Por fim, aplicam-se as chamadas dechiyot, ou leis de adiamento. Elas serão detalhadas mais adiante nesta seção.

No fim das contas, o ano do calendário de Hillel 2 poderá ter 353, 354, ou 355, caso tenha 12 meses, ou ainda 383, 384 ou 385 dias, caso tenha 13 meses.

Tamanhos Fixos para os Meses

Para encontrar os meses, Hillel 2 fixou também o comprimento de alguns meses.

Tishrei, o sétimo mês, que é considerado para este fim como o primeiro, tem sempre 30 dias.
Cheshvan
, o oitavo mês, pode ter 29 ou 30 dias. Se o ano tiver 355 ou 385 dias, então Cheshvan terá 30 dias. Nos demais anos, Cheshvan terá 29 dias.

Os demais meses alternam entre 29 e 30 dias. A exceção a isso está para os anos de 13 meses, quando um mês de 30 dias é acrescido entre o décimo primeiro e décimo segundo meses (e não ao final, como pode parecer à primeira vista), de modo que nesses anos, Adar se transformará em Adar I e Adar II, e a festa de Purim será celebrada em Adar II.
As Quatro Leis de Adiamento

Como vimos anteriormente, para evitar embaraços de halachá, e para diferenciar de seitas concorrentes, os rabinos passaram a adotar as quatro leis de adiamento, uma vez que o calendário foi pré-fixado. A seguir, detalhamos as quatro dechiyot:

I) Molad Zakein


Significa literamente o “molad antigo” (porque é considerado como um molad prematuro.) Para fins de cálculo, Hillel 2 atribuiu o horário das 6 da tarde como marco zero. Se o “Molad Tishrei” (que coincide com a Festa das Trombetas/Yom Teruá) ocorre após o meio-dia, isto é, 18 horas após o marco zero, então a lua é contada como sendo parte do dia seguinte. Assim sendo, o calendário todo é adiado por um dia. Em tese, de todos os adiamentos esse é dos mais inócuos, visto que é bem provável mesmo que uma lua que se tornasse visível após o meio-dia só fosse ser avistada após o pôr-do-sol, ie. no “dia seguinte” segundo o dia bíblico. O problema é que tal coisa não faz muito sentido com uma lua oculta, tal como é adotada para o “Molad Tishrei”, visto que a mesma jamais seria avistada de qualquer maneira.

II) Lo AlefDaletVav (1,4,6) Rosh


Literalmente significa que “o primeiro, quarto e sexto não são cabeça”. Ou seja, o “Molad Tishrei” (Yom Teruá) não pode cair no primeiro, quarto nem sexto dias. Se isso ocorrer, então Yom Teruá é adiado por um dia. O motivo para isso acontecer é evitar problemas de halachá. Se o primeiro dia do sétimo mês (Yom Teruá) ocorresse no quarto dia, o Yom Kipur ocorreria no sexto dia (dia em que era celebrado pelos saduceus e pelos essênios). Se ocorresse no sexto dia, então o Yom Kipur ocorreria no primeiro dia, isto é, imediatamente após o Shabat, o que seria considerado indesejado pela halachá ortodoxa. Caso o primeiro dia caísse no primeiro dia da semana, o sétimo dia de Sukot (Tabernáculos) cairia no Shabat. Considerando os rituais associados a esse dia, os fariseus consideravam tal coisa indesejada, pois poderia haver conflitos de halachá, visto que certos aspectos do ritual desse dia seriam tidos como ilícitos para o Shabat. O mais interessante dessas regras de adiamento é que durante a época em que Yerushalayim (Jerusalém) estava de pé, tais coisas não eram consideradas problemáticas, ao ponto da Mishná Betsá 2:1 afirmar: "Quando o moed cai no sexto dia, não é lícito preparar nele, propositadamente, qualquer alimento para o Shabat...". Vale novamente ressaltar que essas dificuldades observadas pelos fariseus não existiam no calendário bíblico original, que tinha como característica o fato das datas serem sempre celebradas no mesmo dia da semana.

III) Gatarad


Se o ano tem 12 meses, e Yom Teruá cai entre 9h e 204 partes, e 17h e 1079 partes (ie. 1 parte antes das 18 horas), no terceiro dia da semana, então é adiado por um dia. Como aí se daria no quarto dia, aplica-se a dechiyá anterior, e é adiado por mais um dia. O motivo é matematicamente complexo, mas é suficiente dizer que isto evita que o ano venha a ter 356 dias. Como vimos, o calendário é computado para ter 353, 354 ou 355 dias, em um ano com 12 meses. Com esse adiamento de dois dias, o ano passaria a ter 354 dias. O que se pode observar é que esse adiamento explicita uma falha no modelo matemático de Hillel 2, e visa corrigi-la para tornar o seu modelo de ciclo viável.

IV) Betutkafot


Se Yom Teruá cair pouco depois das 15hs e 589 partes do segundo dia (ie. próximo das 11:30 da manhã), em um ano de 12 anos após um ano embolísmico [ano que foi acrescido de dias para coincidir com o calendário solar - ie. ano de 13 meses], então é adiado por um dia. Novamente, o motivo matemático é relativamente complexo, mas semelhante à dechiyá anterior. Ela existe para evitar que um ano de 13 meses tenha 382 dias. Como sabemos, o ano de 13 meses no calendário de Hillel 2 precisa ter 383, 384 ou 385 dias, para que o ciclo funcione corretamente. Trata-se de mais um adiamento que revela uma falha no modelo matemático de Hillel 2.
Resumo do Calendário de Hillel 2
No compêndio de Hillel, foram incluídos todos os desenvolvimentos realizados durante os períodos mishnáico e talmúdico. Fundamentalmente, o calendário judaico atual consiste do:

Calendário Farisaico/Mishnáico;
Acréscimo de dois dias para algumas festas bíblicas;
Cálculos fixos ao invés de observação dos astros;
Regras de Adiamento de festas, para corrigir problemas matemáticos, evitar concorrência de outras seitas judaicas, e problemas de halachá;
Ciclo metônico/babilônio de 19 anos;
Erro de cálculo da órbita solar, hoje acumulando diferença de quase 8 dias.

Como podemos ver, mesmo que o calendário farisaico/mishnáico fosse o calendário bíblico original – e ele será o nosso próximo tema de estudo para justamente analisarmos sua origem – ainda assim o calendário judaico atual estaria muito longe de ser um calendário bíblico. É compreensível que algumas das alterações fossem necessidades momentâneas devido à perseguição sofrida.

Contudo, não há razões hoje para não resgatarmos uma prática mais bíblica, especialmente se levarmos em consideração o que o calendário bíblico nos revela acerca do retorno de Yahushua. O objetivo deste estudo tão aprofundado da operação do calendário de Hillel 2 não é, obviamente, a adoção do mesmo, mas mostrar suas arbitrariedades, problemas, e demonstrar de forma clara que o modelo do mesmo não é o modelo do calendário bíblico.

O próximo passo lógico seria, portanto, estudarmos o calendário no qual ele se baseia, o calendário rabínico mishnático. Numa outra ocasião o estudaremos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário