Postado em 17/05/2012
Recentemente, temos visto despertar um grande número de pessoas que demonstra a
preocupação com a celebração das festas bíblicas, não apenas como mandamentos
dados por YHWH a Seu povo, mas também como forma de anúncio da obra de Yeshua.
As festas bíblicas, todas elas, apontam para a obra redentora que Yahushua
realizou, ou para aquilo que profeticamente sabemos que ainda está por vir. O
primeiro passo dado por essas pessoas é alegremente consultar o calendário
judaico, para verificar quando serão as festas de YHWH, afinal, enquanto o
Cristianismo alterou as datas das festas de YHWH e resolveu criar novas
celebrações (como o domingo, o Natal, a páscoa cristã, etc.), o Judaísmo
preservou fielmente as datas tais quais reveladas a Moshe (Moisés) aos pés do
Sinai, certo? Errado!
Pode parecer um choque para o leitor que a resposta acima tenha sido dada, mas não se trata aqui de sectarismo ou de qualquer tentativa de distanciamento do Judaísmo. Muito pelo contrário, foi o Judaísmo atual que se distanciou do Judaísmo histórico. Poucos sabem, mas o calendário seguido pelos grupos judaicos hoje não é o calendário bíblico original, e sim um calendário muito posterior.
Pode parecer um choque para o leitor que a resposta acima tenha sido dada, mas não se trata aqui de sectarismo ou de qualquer tentativa de distanciamento do Judaísmo. Muito pelo contrário, foi o Judaísmo atual que se distanciou do Judaísmo histórico. Poucos sabem, mas o calendário seguido pelos grupos judaicos hoje não é o calendário bíblico original, e sim um calendário muito posterior.
A Forma de Determinação do Calendário
Inicialmente, o calendário judaico era calculado com base na
observação dos astros. Embora a matemática jamais tivesse ficado plenamente de
fora dessa equação, a ideia era a de que o calendário se baseava na observação
dos astros.
A prática de observação dos astros aparece bem cedo na Torá:
“Vayomer Elohim yehi meorot birkia hashamayim lehavdil bein hayom uvein
halaila vehayu leotot ulemoadim uleyamim veshanim”.
“E disse Elohim: Haja luminares na expansão dos céus, para
haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos
determinados e para dias e anos.” [Bereishit/Gênesis 1:14]
Aqui se vê pela primeira vez que o intuito
de YHWH na criação dos astros foi justamente dar ao homem a capacidade de
observar os tempos por Ele determinados, os chamados “moadim”. O calendário é
determinado na base de “otot” (plural) – O termo hebraico “ot” significa
“sinal”. Assim sendo, as meorot hashamayim (luminárias celestiais) seriam os
sinais necessários para determinar Seus tempos apontados.
O Local de Determinação do
Calendário
Uma das questões que imediatamente podemos
levantar é: De onde devemos realizar tais observações? Afinal de contas, a
observação pode variar de local para local. A terra gira em torno do sol. Assim
sendo, sabemos que o dia é uma unidade móvel, que se desloca, digamos assim, ao
redor da terra. Quando é dia em nosso país, no Japão é noite. Sabemos que o
pôr-do-sol é fator que determina o início do dia. Isso afeta a observação dos
astros. Elementos como a posição do sol ou da lua face às estrelas do céu, as
fases lunares, etc. podem variar de um lugar para o outro. O que é observável
num dado dia em um lugar, pode se tornar visível em outro lugar apenas no dia
seguinte. Desta maneira, é imperativo determinarmos o lugar adequado para
observação dos astros, a fim de sabermos como determinar dias, meses e anos
conforme a Palavra nos determina.
“Naquele tempo
chamarão a Yerushalayim o trono de YHWH, e todas as nações se ajuntarão a ela,
em nome de YHWH, em Yerushalayim; e nunca mais andarão segundo o propósito do
seu coração maligno”. [Yirmiyahu/Jeremias 3:17]
Yerushalayim
(Jerusalém) é mais do que a cidade do grande rei. Yerushalayim (Jerusalém) é o
trono de onde YHWH por intermédio de Yahushua reinará sobre a terra, conforme
anunciado pelos profetas. Assim sendo, podemos dizer que Yerushalayim
(Jerusalém) é o centro da terra. Em sendo Yerushalayim (Jerusalém) o centro da
terra, a Torá enfatiza que determinadas celebrações seriam festas de
peregrinação: “Três vezes no ano todo o homem entre ti aparecerá perante
YHWH teu Elohim, no lugar que escolher, na festa dos pães ázimos, e na festa das
semanas, e na festa das cabanas; porém não aparecerá vazio perante
YHWH”. [Devarim/ Deuteronômio 16:16]
Se alguém tem alguma dúvida de que essa
prática permaneceria, basta olharmos para a profecia de Zechariyah (Zacarias)
14:16 sobre o fim dos tempos: “E acontecerá que, todos os que restarem de
todas as nações que vieram contra Yerushalayim, subirão de ano em ano para
adorar o Rei, YHWH Tseva'ot, e para celebrarem a festa das cabanas”.
Aqui vemos que não somente a prática permanece, como também podemos observar que
no fim dos tempos a Torá será praticada por todas as nações da
terra.
Da observação das
passagens supracitadas, podemos concluir que se o calendário é calculado através
da observação das meorot hashamayim (luminárias celestiais), e se três das
festas bíblicas determinadas são festas de peregrinação, isto significa que elas
ocorrem em função de Yerushalayim (Jerusalém). Ou seja, como Yerushalayim
(Jerusalém) é o trono de YHWH sobre a terra, isto é, o centro da adoração a Ele,
geograficamente falando, então é a partir de Yerushalayim (Jerusalém) que se
deve observar os astros, de modo a determinar o calendário.
A Origem do Calendário Judaico Atual
Todo esse contexto é importante para
entendermos como surgiu o calendário judaico atual. A primeira surpresa que se
pode observar é que esse calendário não se baseia em qualquer observação
astronômica, mas sim em um complexo conjunto de cálculos previamente realizados.
Mas então, como e por que surgiu? A resposta é mais surpreendente do que pode
parecer: foi graças inicialmente à astronomia babilônia, e posteriormente a Roma
(mais especificamente Constantino!) que o calendário judaico atual foi
criado.
O calendário judaico atual é um modelo
matemático que se inspira, embora altere o calendário farisaico – calendário
esse que estudaremos mais adiante. A história do calendário judaico atual se
divide em três partes. As duas primeiras no chamado “período talmúdico” e a
terceira com o sábio Hillel 2. A base do conhecimento aqui relatado vem do
artigo “A História do Calendário”, da Enciclopédia Judaica.
Mudanças durante o Período
Mishnáico
Mais adiante, estudaremos o modelo do calendário
farisaico, tal qual exposto pela Mishná. Contudo, para fins de concluirmos nosso
estudo sobre o calendário judaico, é importante adiantarmos um detalhe sobre
ele: A determinação do mês segundo o calendário farisaico era feita com base no
crescente visível. Assim sendo, só se conhecia de fato o início de um
determinado mês no dia em que a lua crescente fosse primeiro avistada. Dessa
maneira, ninguém sabia quando ocorreriam as festas bíblicas, até que o novo mês
fosse proclamado pelo Sanhedrin (Sinédrio).
Para avisar às comunidades farisaicas
acerca do início do novo mês, eram acesas fogueiras nos montes, para espalhar
rapidamente a notícia do novo mês, visto que, como vimos somente no momento do
avistar a lua é que se saberia ao certo o início do mês. Vale ressaltar que o
período em que a lua se torna invisível, desde o fim do período decrescente até
o chamado crescente visível, pode variar de 2,5 a 3,5 dias, em
média.
Ocorre, contudo, que havia ainda comunidades farisaicas fortes fora de Israel,
como em Alexandria e na Babilônia. O farisaísmo era o movimento mais
proselitista fora de Israel, além de ter sido o principal sobrevivente dentre os
grupos judaicos por firmar acordos com Roma. Como se pode deduzir, era
praticamente impossível avisar tais comunidades por meio desse sinal, ou mesmo
através do envio de mensageiros (prática que foi adotada posteriormente). Assim
sendo, algumas dessas comunidades da diáspora, passaram a celebrar as festas
bíblicas por dois dias, ao invés de um, visto que não tinham condições de
precisar que dia exato o crescente visível havia ocorrido.
Mudanças durante o Período Talmúdico
Durante a diáspora ocorrida após a destruição de Yerushalayim (Jerusalém) por
parte de Roma, cresceu o
interesse dos sábios por calcular matematicamente o calendário judaico, visto
que o acesso a Yerushalayim (Jerusalém) já não era tão livre quanto
anteriormente. Nessa época, um rabino denominado Sh'muel, e apelidado de
“Yarhinai”, por causa de sua familiaridade com a lua (Yareach) se tornou o
astrônomo judeu mais famoso na Babilônia. O Talmud, em Berachot 58b, diz que ele
conhecia tão bem os trajetos celestiais quanto as ruas de sua cidade. Sh'muel
Yarhinai dirigia uma escola na Neardéia, na Babilônia, onde criou o primeiro
calendário judaico fixo, baseado puramente em cálculos matemáticos. Isto foi
feito para que a comunidade judaica não dependesse das informações da região da
Judéia, cujo acesso havia sido muito dificultado. Yarhinai foi o primeiro a
calcular o calendário, diferentemente da determinação bíblica de observação.
Compreende-se que isto surgiu de uma necessidade. Yarhinai calculou cerca de 60
anos de calendário com seu método. Alguns outros rabinos, como Adda, também
fizeram tentativas de calcular o calendário sem se basear na
observação.
A
Divergência
Pouco depois da morte de Yarhinai, em 250 DC, sob o comando do rabino Yehudá
III, cerca de 300 a 330 DC, a observância dos astros se tornou uma mera
formalidade. Yehudá III instituiu o calendário puramente baseado no modelo
matemático derivado principalmente dos ensinamentos de Yarhinai. Essa mudança
não foi bem recebida por todos os membros do Sanhedrin (Sinédrio). Um dos mais
ferrenhos adversários dessa mudança foi o rabino Yossef, que escreveu às
comunidades judaicas da Babilônia e de Alexandria que continuassem a preservar o
costume antigo, celebrando inclusive algumas festas bíblicas por dois
dias (?!?). Durante essa época, as comunidades judaicas se fragmentaram em
sua observância do calendário. Havia ainda pequenas comunidades derivadas de
grupos não farisaicos, que observavam seus próprios calendários (veremos isso
mais adiante), e mesmo dentre as comunidades farisaicas, maioria à época, não
havia mais um consenso.
As
Regras de Adiamento
O Targum Yerushalmi, em Meguilá 70b, também narra um
detalhe curioso. Nessa passagem, vemos que o rabino Yossef, em meio a esse
período de reforma no calendário, também determina que a festa de Purim (que
começa ao décimo quarto dia do décimo segundo mês), não poderia cair num Shabat
nem em no segundo dia, para que o Yom Kipur (no décimo dia do sétimo mês) não
caísse no sexto dia nem no primeiro. Isto é, para que o Yom Kipur não caísse nem
antes nem depois do Shabat. Veremos mais adiante que o motivo de tal coisa
estava no fato de que o calendário farisaico acabou com uma das características
mais distintas e interessantes do calendário bíblico: o fato das festas bíblicas
ocorrerem sempre no mesmo dia da semana. Assim sendo, gerou-se uma grande
polêmica em termos de halachá sobre como fazer quando certas festas bíblicas
caíssem em determinadas datas. A polêmica acirrava os ânimos das escolas
judaicas, e deveria ser tratada para evitar um racha ainda maior. Além disso,
havia uma enorme preocupação de se evitar que as datas coincidissem com as datas
do calendário bíblico, ainda defendido por opositores ao farisaísmo, como os
saduceus e os essênios.
Veremos isso mais adiante quando falarmos do calendário
rabínico.
Dessa forma, foram introduzidas no cômputo
do calendário algumas leis de adiamento para evitar tais situações. Veremos
algumas dessas leis ainda nesta seção, e como elas afetam as datas das festas
bíblicas.
O
Ciclo Metônico de 19 Anos
A Babilônia, cuja astronomia era bastante avançada
para a época, possuía uma forma de intercalar seus meses (cujo início ocorria
com o crescente visível – veremos adiante que essa é a origem do calendário
farisaico) essencialmente lunares com os anos solares baseado no chamado “ciclo
metônico”. Esse ciclo é assim chamado por ser atribuído ao astrônomo grego
Meton, de Atenas. Meton foi o primeiro a descobrir, em 432 AC, que a cada 19
anos solares, havia quase que com exatidão 235 meses lunares, ou, 7 meses
lunares a mais do que o número de meses solares. Especula-se que o conhecimento
babilônio sobre esse ciclo seja atribuído a um contato com a civilização grega.
No calendário babilônio, os anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 do ciclo metônico de
19 anos recebem um mês extra.
Os fariseus tinham um problema: Como o mês adotado era lunar, o ano era sempre
mais curto do que o ano solar,
o qual a Torá determina como base para a celebração das festas bíblicas (veremos
isso mais adiante). Assim como no calendário babilônio por eles importado, era
necessário que após um dado período, um novo mês fosse acrescido para ajustar o
ano lunar ao ano solar. Quando analisarmos o calendário fariseu, estudaremos as
formas adotadas para determinar quando realizar tal inserção. Porém, aqui
enfatizamos o calendário judaico atual. O problema era que as técnicas
anteriormente defendidas pelos fariseus também dependiam de observação em
Yerushalayim (Jerusalém). Com a dificuldade de acesso àquela região, tornou-se
necessário adotar uma nova maneira de realizar tal compensação. Novamente, os
sábios recorreram à astronomia babilônia, e passaram a adotar o ciclo metônico
de 19 anos.
Uma curiosa diferença para com o calendário farisaico/mishnáico está também na
posição do mês adicional. Neste último, o mês adicional era invariavelmente
acrescido ao final do ano, como décimo terceiro mês. Contudo, quando o ano
passou a ser fixado matematicamente, isso mudou. Inicialmente, o mês extra
chegou a ser adotado após o quinto mês. Posteriormente, fixou-se como prática
acrescentá-lo após o décimo primeiro mês.
A Perseguição de Constantino e Hillel
2
O reinado de
Constantino (337 a 361 DC), primeiro papa/imperador cristão, marcou um período
de horror para o mundo judaico. Constantino perseguia brutal e violentamente as
comunidades judaicas. Nessa época, Constantino proibiu severamente qualquer
exercício religioso judaico, inclusive o ajuntamento do Sanhedrin (Sinédrio)
para observação e/ou cômputo do calendário. Isso levou Hillel 2 a criar um
compêndio das fórmulas farisaicas para cálculo do calendário, juntamente com
aquilo que havia sido desenvolvido por Yarhinai e alguns de seus contemporâneos
(especialmente os da escola da Neardéia). Esse compêndio passou, em 359 DC, a
ser adotado como o calendário judaico oficial.
Erros
de Cálculo
Outro problema associado ao calendário
de Hillel 2 está no fato de que a astronomia naquela época era certamente muito
mais primitiva, e o cálculo das órbitas dos corpos celestes não foi realizado
com a precisão que se tem hoje em dia, por exemplo. A Enciclopédia Judaica
comenta que Isidore Loeb, em sua obra “Tables du Calendrier Juif”, aponta para o
fato de que o calendário de Hillel 2, em seu ciclo de 19 anos, excede o
calendário gregoriano em 2 horas, 8 minutos e 15.3 segundos. Isto porque o ano
solar astronômico teria, na realidade, 6 minutos, 39 25/57 segundos a menos do
que os cálculos dos astrônomos judeus supunham. Para se ter uma idéia, isto
significa que hoje, o calendário judaico atual de Hillel 2 está quase 8 dias na
frente do que deveria ser, se o cálculo tivesse sido feito corretamente.
Sobre isso, Tracey R. Rich, na obra "Jewish Frequently Asked Questions", afirma:
“Rabi Hillel 2 desenvolveu o calendário judaico no ano judaico de 4119.
Usando os seus métodos conforme descritos
acima, e artificialmente presumindo que o calendário gregoriano que usamos hoje
era efetivo naquela época, a data de Rosh Hashanah [N. do T: Rich, como todo
ortodoxo, considera Rosh Hashanah como sendo no sétimo mês] variava de 29 de
Agosto a 28 de Setembro entre os anos 4100 e 4200 (o 42º século). No presente
século judaico (o 58º), as datas de Rosh Hashanah variam de 5 de Setembro a 5 de
Outubro, um ganho de 6 a 7 dias”.
O calendário de Hillel 2 também destoa das próprias
fases da lua, em que é baseado o calendário farisaico/mishnáico. Porém, é uma
diferença muito menor. Segundo Stephen P. Morse em sua obra “Jewish Calendar
Rules”, a diferença é de cerca de 1 dia para cada 15 mil anos. Ele estima que
por volta do ano 237 mil, a lua nova do calendário de Hillel 2 já seja
praticamente equivalente à lua cheia. (visite http://stevemorse.org/hebrewcalendar/hebrewcalendar.htm
O
motivo principal desse problema com o calendário de Hillel 2, contudo, não se
resume à matemática, pois mesmo com toda a precisão que temos hoje, é certo que
ainda há algum fator de imprecisão. É por esta razão que o calendário bíblico
emprega a observação dos astros, e não a matemática pura. Como o calendário de
Hillel 2 jamais se corrige pela observação, ele se distancia a cada ano do seu
modelo original. Porém, o Judaísmo Ortodoxo, herdeiro do Judaísmo Farisaico,
considera que não é possível fazer as devidas correções ao calendário sem haver
outro Sanhedrin (Sinédrio) estabelecido. Eles consideram que como o calendário
de Hillel 2 foi homologado por um Sanhedrin (Sinédrio), somente um Sanhedrin
(Sinédrio) poderia efetuar uma nova mudança. O Judaísmo Ortodoxo considera que
os sábios detêm autoridade sobre a Torá, e consequentemente sobre o mundo
judaico como um todo.
Como
se Calcula o Calendário de Hillel 2
O
calendário de Hillel 2 é calculado através de uma unidade de tempo denominada de
“parte” (cheilek). Cada “parte” consiste de 3 1/3 segundos, de modo que existem
18 partes em um minuto, e 1080 partes em uma hora. Esses números não são
coincidência, e sim propositadamente cabalísticos, digamos assim. Como vimos
anteriormente, este calendário se baseia no calendário farisaico/mishnáico, cujo
mês é determinado pelo crescente visível e, portanto, lunar. A unidade adotada é
o chamado “molad” ou “nascimento”, que implicaria no início do ciclo lunar. Por
uma série de questões de halachá que se originam na interpretação do Sl. 81:3,
esse calendário toma por unidade de início do sétimo mês o dia anterior ao
crescente visível, a chamada lua oculta, e para os demais meses o crescente
visível. Essas são, portanto as “moladot”. Quando analisarmos a questão desse
salmo, mais adiante, o motivo da diferença no sétimo mês, para eles, se tornará
mais claro. Por hora, fiquemos apenas com este fato.
Após tomar as moladot, foi fixado um valor médio de diferença de distância entre
cada molad, a saber, 29 dias, 12 horas, e 793 partes. Em seguida, determina-se a
posição do ano no ciclo metônico/babilônio de 19 anos. Como já vimos,
adiciona-se um mês para os anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 do ciclo. Dessa forma,
determina-se se o ano terá 12 ou 13 meses. Assim sendo, o comprimento do ano é
determinado encontrando-se a chamada “Molad Tishrei”, isto é, a molad do sétimo
mês. Pegamos o valor médio pré-fixado de diferença entre as moladot, e
multiplicado por 12 ou 13 meses. Em seguida, calcula-se o “molad” mais próximo
após esses dias, que será o “Molad Tishrei” do ano seguinte. O valor dessa conta
é o comprimento do ano em questão. Por fim, aplicam-se as chamadas dechiyot, ou
leis de adiamento. Elas serão detalhadas mais adiante nesta seção.
No
fim das contas, o ano do calendário de Hillel 2 poderá ter 353, 354, ou 355,
caso tenha 12 meses, ou ainda 383, 384 ou 385 dias, caso tenha 13
meses.
Tamanhos Fixos para os Meses
Para encontrar os meses, Hillel 2 fixou também o comprimento de
alguns meses.
Tishrei, o sétimo mês, que é
considerado para este fim como o primeiro, tem sempre 30
dias.
Cheshvan, o oitavo mês, pode ter 29 ou 30 dias. Se o ano tiver 355 ou 385 dias, então Cheshvan terá 30 dias. Nos demais anos, Cheshvan terá 29 dias.
Cheshvan, o oitavo mês, pode ter 29 ou 30 dias. Se o ano tiver 355 ou 385 dias, então Cheshvan terá 30 dias. Nos demais anos, Cheshvan terá 29 dias.
Os demais meses alternam entre 29 e 30
dias. A exceção a isso está para os anos de 13 meses, quando um mês de 30 dias é
acrescido entre o décimo primeiro e décimo segundo meses (e não ao final, como
pode parecer à primeira vista), de modo que nesses anos, Adar se transformará em
Adar I e Adar II, e a festa de Purim será celebrada em Adar II.
I) Molad
Zakein
II) Lo AlefDaletVav (1,4,6) Rosh
As Quatro Leis de
Adiamento
Como vimos anteriormente, para evitar
embaraços de halachá, e para diferenciar de seitas concorrentes, os rabinos
passaram a adotar as quatro leis de adiamento, uma vez que o calendário foi
pré-fixado. A seguir, detalhamos as quatro dechiyot:
I) Molad
Zakein
Significa literamente o “molad antigo” (porque é considerado como um molad
prematuro.) Para fins de cálculo, Hillel 2 atribuiu o horário das 6 da tarde
como marco zero. Se o “Molad Tishrei” (que coincide com a Festa das
Trombetas/Yom Teruá) ocorre após o meio-dia, isto é, 18 horas após o marco zero,
então a lua é contada como sendo parte do dia seguinte. Assim sendo, o
calendário todo é adiado por um dia. Em tese, de todos os adiamentos esse é dos
mais inócuos, visto que é bem provável mesmo que uma lua que se tornasse visível
após o meio-dia só fosse ser avistada após o pôr-do-sol, ie. no “dia seguinte”
segundo o dia bíblico. O problema é que tal coisa não faz muito sentido com uma
lua oculta, tal como é adotada para o “Molad Tishrei”, visto que a mesma jamais
seria avistada de qualquer maneira.
II) Lo AlefDaletVav (1,4,6) Rosh
Literalmente significa que “o primeiro,
quarto e sexto não são cabeça”. Ou seja, o “Molad Tishrei” (Yom Teruá) não pode
cair no primeiro, quarto nem sexto dias. Se isso ocorrer, então Yom Teruá é
adiado por um dia. O motivo para isso acontecer é evitar problemas de halachá.
Se o primeiro dia do sétimo mês (Yom Teruá) ocorresse no quarto dia, o Yom Kipur
ocorreria no sexto dia (dia em que era celebrado pelos saduceus e pelos
essênios). Se ocorresse no sexto dia, então o Yom Kipur ocorreria no primeiro
dia, isto é, imediatamente após o Shabat, o que seria considerado indesejado
pela halachá ortodoxa. Caso o primeiro dia caísse no primeiro dia da semana, o
sétimo dia de Sukot (Tabernáculos) cairia no Shabat. Considerando os rituais
associados a esse dia, os fariseus consideravam tal coisa indesejada, pois
poderia haver conflitos de halachá, visto que certos aspectos do ritual desse
dia seriam tidos como ilícitos para o Shabat. O mais interessante dessas regras
de adiamento é que durante a época em que Yerushalayim (Jerusalém) estava de pé,
tais coisas não eram consideradas problemáticas, ao ponto da Mishná Betsá 2:1
afirmar: "Quando o moed cai no sexto dia, não é lícito preparar nele,
propositadamente, qualquer alimento para o Shabat...". Vale novamente ressaltar
que essas dificuldades observadas pelos fariseus não existiam no calendário
bíblico original, que tinha como característica o fato das datas serem sempre
celebradas no mesmo dia da semana.
III) Gatarad
IV)
Betutkafot
III) Gatarad
Se
o ano tem 12 meses, e Yom Teruá cai entre 9h e 204 partes, e 17h e 1079 partes
(ie. 1 parte antes das 18 horas), no terceiro dia da semana, então é adiado por
um dia. Como aí se daria no quarto dia, aplica-se a dechiyá anterior, e é adiado
por mais um dia. O motivo é matematicamente complexo, mas é suficiente dizer que
isto evita que o ano venha a ter 356 dias. Como vimos, o calendário é computado
para ter 353, 354 ou 355 dias, em um ano com 12 meses. Com esse adiamento de
dois dias, o ano passaria a ter 354 dias. O que se pode observar é que esse
adiamento explicita uma falha no modelo matemático de Hillel 2, e visa
corrigi-la para tornar o seu modelo de ciclo viável.
IV)
Betutkafot
Se Yom Teruá cair pouco depois das 15hs e
589 partes do segundo dia (ie. próximo das 11:30 da manhã), em um ano de 12 anos
após um ano embolísmico [ano que foi acrescido de dias para coincidir com o
calendário solar - ie. ano de 13 meses], então é adiado por um dia. Novamente, o
motivo matemático é relativamente complexo, mas semelhante à dechiyá anterior.
Ela existe para evitar que um ano de 13 meses tenha 382 dias. Como sabemos, o
ano de 13 meses no calendário de Hillel 2 precisa ter 383, 384 ou 385 dias, para
que o ciclo funcione corretamente. Trata-se de mais um adiamento que revela uma
falha no modelo matemático de Hillel 2.
Resumo do Calendário
de Hillel 2
No
compêndio de Hillel, foram incluídos todos os desenvolvimentos realizados
durante os períodos mishnáico e talmúdico. Fundamentalmente, o calendário
judaico atual consiste do:
Calendário Farisaico/Mishnáico;
Acréscimo de dois dias para algumas festas bíblicas;
Cálculos fixos ao invés de observação dos astros;
Regras de Adiamento de festas, para corrigir problemas matemáticos, evitar concorrência de outras seitas judaicas, e problemas de halachá;
Ciclo metônico/babilônio de 19 anos;
Erro de cálculo da órbita solar, hoje acumulando diferença de quase 8 dias.
Acréscimo de dois dias para algumas festas bíblicas;
Cálculos fixos ao invés de observação dos astros;
Regras de Adiamento de festas, para corrigir problemas matemáticos, evitar concorrência de outras seitas judaicas, e problemas de halachá;
Ciclo metônico/babilônio de 19 anos;
Erro de cálculo da órbita solar, hoje acumulando diferença de quase 8 dias.
Como podemos ver, mesmo que o
calendário farisaico/mishnáico fosse o calendário bíblico original – e ele será
o nosso próximo tema de estudo para justamente analisarmos sua origem – ainda
assim o calendário judaico atual estaria muito longe de ser um calendário
bíblico. É compreensível que algumas das alterações fossem necessidades
momentâneas devido à perseguição
sofrida.
Contudo, não há razões hoje para não resgatarmos uma prática mais bíblica,
especialmente se levarmos em consideração o que o calendário bíblico nos revela
acerca do retorno de Yahushua. O objetivo deste estudo tão aprofundado da
operação do calendário de Hillel 2 não é, obviamente, a adoção do mesmo, mas
mostrar suas arbitrariedades, problemas, e demonstrar de forma clara que o
modelo do mesmo não é o modelo do calendário bíblico.
O
próximo passo lógico seria, portanto, estudarmos o calendário no qual ele se
baseia, o calendário rabínico mishnático. Numa outra ocasião o
estudaremos...
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