Tendo visto como as mulheres foram cruelmente tratadas por
diferentes religiões, Civilizações e Culturas, ser-nos-á, agora, possível
entender corretamente e apreciar os alcances gloriosos do Islam nesta questão, e
de como ele, de fato, elevou a posição da mulher na sociedade.
Por isso, ao
longo deste trabalho, tentaremos refutar as alegações das pessoas
desencaminhadas contra o Islam em relação à mulher, e elaborar a sua real
posição no Islam. No meio das trevas que mergulharam o mundo, a Revelação Divina
ecoou, no deserto hostil da Arábia, com uma Mensagem Lúcida, nobre e Universal
para a humanidade:
''Ó humanos, temei a vosso Senhor, que vos criou de um só
ser, do qual criou a sua companheira e, de ambos, fez descender inumeráveis
homens e mulheres. Temei a Deus, em nome do Qual exigis os vossos direitos
mútuos e reverenciai os laços de parentesco, porque Deus é vosso Observador.''
(Alcorão Sagrado 4:1)
O famoso sábio muçulmano, Al-Khuli Al Babi, ponderou
sobre este versículo e declarou:
''É crença geral que não existe texto, quer
antigo, quer moderno, que diga respeito à humanização da mulher sobre os
aspectos da vida, numa tal espantosa brevidade, eloqüência, profundidade e
originalidade, como no Decreto Divino."
Assim, com um simples traço
magistral, o Islam removeu o estigma da ''fraqueza" e da "impureza", com as
quais as religiões mundiais caracterizaram a mulher. O Islam proclama que homens
e mulheres provêm da mesma essência e, por conseguinte, se a mulher podia ser
tida como fraca, o homem, também, poderia ser visto como tal, ou se o homem
tinha uma centelha de nobreza, então a mulher, também, a deveria possuir. A
propósito, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele),
disse:
''As mulheres são almas gêmeas dos homens.''
A elevação da posição
da mulher e os seus respectivos direitos, patenteados nesta obra, estão
garantidos pelo Próprio Deus, e podem ser facilmente encontrados nas duas mais
importantes e autênticas fontes do Islam, ou seja, o Sagrado Alcorão e os
Ahadith do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele).
Os direitos garantidos por Reis, ou por Assembléias Legislativas, podem
ser tão facilmente removidos, quão o são conferidos; mas nenhum indivíduo, ou
instituição tem autoridade para eliminar, ou emendar os direitos conferidos por
Deus. Todos aqueles que pretendem ser Muçulmanos, têm que aceitar, reconhecer e
reforçar os direitos sancionados por Deus. Se falharem em reforçá-los, ou os
violarem, o veredicto do Alcorão é inequívoco:
''Aqueles que não julgam pelos
preceitos que Deus revelou são descrentes.'' (Alcorão Sagrado 5:44).
E o
seguinte versículo também proclama:
''Eles são os Iníquos.'' (Alcorão Sagrado
5:45).
Um terceiro versículo do mesmo capítulo diz:
''Eles são os
prevaricadores." (Alcorão Sagrado 5:47)
Por outras palavras; se as
autoridades temporais consideram as suas próprias palavras e decisões como
certas, e as de Deus como erradas, eles não são crentes. Se, por outro lado,
eles consideram os mandamentos de Deus como certos, mas rejeitam-nos
deliberadamente em favor das suas decisões, então são Iníquos. Os prevaricadores
ou infratores da lei são aqueles que desrespeitam a limitação da
fidelidade.
1º- Aspecto Espiritual- A mulher tem, efetivamente, alma:
Em algumas religiões durante muito tempo se acrediatava que a
mulher não possuía alma, mas com a chegada do Islam este conceito foi totalmente
abolido pelo Profeta Muhammad.
Nas tradições do Profeta Muhammad (que a Paz e
a Bênção de Deus estejam sobre ele), encontramos uma prova clara de que a mulher
tem, realmente, alma. Abdullah bin Mass'ud, reporta que o Profeta Muhammad (que
a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), disse:
"De fato, a criação de
cada um de vós (macho ou fêmea) foi levada a cabo conjuntamente no ventre da
mãe, durante quarenta dias, sob a forma de uma semente, depois um coágulo de
sangue (algo que se agarra) por igual período e, então, é-lhe enviado o anjo que
assopra a respiração da vida, ou seja dá-lhe alma (o feto: macho ou fêmea). "
(Bukhari e Muslim)
Fica claro, a partir desta tradição, que o feto de todo o
ser humano adquire vida quando a alma, por ordem de Deus, é assoprada para ele.
Uma vez mais, é do conhecimento geral que nenhum ser humano (macho ou fêmea)
pode viver sem alma. Agora, será que as mulheres nem vivem, nem morrem? É então
evidente que elas têm alma, tal e qual como os homens.
2º- Iman (fé):
O Islam é bastante explícito em relação ao fato da mulher ser
completamente equiparada ao homem, perante Deus, em termos da fé; pois Deus
diz:
''Ó fiéis, quando se vos apresentarem as fugitivas fiéis, examinai-as,
muito embora Deus conheça a sua fé melhor do que ninguém; porém, se as julgardes
fiéis, não as restituais aos incrédulos.'' (Alcorão Sagrado 60:10).
E também
diz:
''Sabe, portanto, que não há mais divindade, além de Deus e implora o
perdão das tuas faltas, assim como das dos fiéis e das fiéis, porque Deus
conhece as vossas atividades e os vossos destinos. '' (Alcorão Sagrado
47:19).
Nos dois versículos anteriores, Deus, denomina-as de mulheres
crentes, sendo assim, quem tem, autorização para refutar o que Deus
proclama?
3º -Ibadah (Adoração):
Em termos de obrigações religiosas e de adoração, tais como
as cinco orações diárias, a zakat, o jejum e a peregrinação a Makkah, a mulher
não é diferente do homem. A este respeito Deus, diz:
''Os fiéis (homens e
mulheres) que praticarem o bem, observarem a oração e pagarem o zakat, terão a
sua recompensa no Senhor e não serão presas do temor, nem se atribularão.''
(Alcorão Sagrado 2:277).
"Ó vós que credes (homens e mulheres)! É-vos
prescrito o jejum como foi prescrito aos vossos antepassados, para que possais
temer a Deus." (Alcorão Sagrado 2:183).
4º - Jazaa (recompensa):
Deus
promete recompensa, indiscriminadamente, para o homem e a mulher que sejam
crentes e trabalhem honestamente. Ele diz:
''A quem praticar o bem, seja
homem ou mulher, e for fiel, concederemos uma vida agradável e premiaremos com
uma recompensa, de acordo com a melhor das ações. '' (Alcorão Sagrado
16:97).
''Aqueles que praticarem o bem, sejam homens ou mulheres, e forem
fiéis, entrarão no Paraíso e não serão defraudados, no mínimo que seja.''
(Alcorão Sagrado 4:124).
"Entrai no jardim (Paraíso), vós e vossas esposas e
alegrai-vos.'' (Alcorão Sagrado 43:70)
5º - Eva não é a Causa da Queda de Adão
(que Deus esteja satisfeito com ambos):
De acordo com o Alcorão Sagrado, a mulher não é culpada do
primeiro erro de Adão. Ambos erraram na sua desobediência a Deus, ambos se
arrependeram, e ambos foram perdoados. Podemos ler o seguinte no
Alcorão:
''Determinamos: Ó Adão, habita o Paraíso com a tua esposa e
desfrutai dele com a prodigalidade que vos aprouver; porém, não vos aproximeis
desta árvore, porque vos contareis entre os iníquos. Todavia, Satã os seduziu,
fazendo com que saíssem do estado (de felicidade) em que se encontravam.''
(Alcorão Sagrado 2:35-36).
''Então, seu Senhor os admoestou: Não vos havia
vedado esta árvore e não vos havia dito que Satanás era vosso inimigo declarado?
Disseram: Ó Senhor nosso, nós mesmos nos condenamos e, se não nos perdoares a Te
apiedares de nós, seremos desventurados! '' (Alcorão Sagrado 7:22-23).
De
acordo com o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele):
"Toda a criança nasce com igual natureza...''
Tal significa que todo
o recém-nascido carrega consigo (seja ele ou ela) uma igual e inocente natureza,
e nunca nasce pecador, isto encontra-se em total contradição com o Credo Cristão
do pecado inato.
A Condição da Mulher no
Islam
Tudo que é do outro, que não faz parte da nossa realidade
mais imediata, tende a nos assustar e a ser objeto de nossa rejeição. Raríssimas
vezes nos detemos nas questões que nos escapam e, por isso mesmo, fazemos
julgamentos apressados, superficiais, e incorporamos conceitos sempre carregados
de preconceitos, porque fundamentados na ignorância dos fatos. Nos dias atuais,
onde tantas questões polêmicas nos são colocadas diariamente, onde mal temos
tempo de digerir o noticiário, tal a rapidez com que as coisas acontecem no
mundo, vamos estabelecendo nossos julgamentos e entendimentos em bases que
carecem de uma análise mais profunda. Assim é com relação ao Islam, tão
incompreendido, tão desconhecido. Assim é a questão da mulher no Islam, onde
preconceitos e falsas informações estão disseminados de tal forma que ocupam o
imaginário dos não muçulmanos, estereotipando essas mulheres, transformando-as
em personagens que nunca correspondem à realidade. Tomamos para nós alguns
conceitos, que passam a ser verdade, a nossa verdade, que sequer é nossa, e
engrossamos o rol desta vasta legião de meros repetidores de falsas verdades,
aliás, uma característica do nosso tempo. Mas, o que é o Islam? Como o Islam
trata realmente a questão dos sexos? Qual é o papel da mulher muçulmana numa
sociedade islâmica? Para se falar sobre a mulher no Islam, como ela é vista,
qual a sua função, qual o seu papel, quais os seus direitos e deveres, torna-se
necessário comparar este mesmo papel com outras culturas, outras religiões,
quais os seus direitos e deveres, quais as suas conquistas, enfim, devemos
considerar todos os aspectos, sejam sociais, politícos, econômicos, éticos ou
morais e não, simplesmente, nos determos em aspectos culturais isolados. Por
isso, nada melhor do que enfocar a condição da mulher no Islam, levando em conta
essa mesma condição no Ocidente, e, mais especificamente no Brasil, de
tradições, cultura e religião tão diferentes do Oriente. No que a muçulmana é
diferente da mulher ocidental? Que valores éticos, morais, sociais e religiosos
regem essas duas mulheres? Que padrões comportamentais fazem essas duas mulheres
tão diferentes? Há 1400 anos, o Islam afirmou que a mulher é um ser humano, que
tem uma alma da mesma natureza que a do homem, e que ambos, homens e mulheres,
gozam dos mesmos direitos. No Islam, a mulher é um ser responsável e não pode
ser desrespeitada ou discriminada em razão de seu sexo. No ocidente, apesar dos
avanços conseguidos pelos movimentos feministas, as conquistas alcançadas não
representam sequer a terça parte do que o Islam já havia garantido. Sabemos que
a mulher ainda é discriminada, o maior contingente de analfabetos está na
população feminina, ela é vítima da violência, que começa em casa, recebe um
salário menor para o exercício de funções que ela executa em igualdade de
condições com o homem, etc. Em 1995, há alguns anos atrás, na Quarta Conferência
Mundial da Mulher, ocorrida em Pequim, os governos participantes reconheceram a
péssima condição feminina e firmaram uma Declaração, onde entre outros tópicos,
afirmavam o seguinte:
“Nós, os governos que participamos da Quarta
Conferência Mundial da Mulher (…) estamos convencidos de que: (…) Os direitos da
mulher são direitos humanos; (…) A igualdade de direitos, de oportunidades e de
acesso aos recursos, à distribuição equitativa entre homens e mulheres das
responsabilidades relativas à família … são indispensáveis ao seu bem-estar e ao
de sua família, assim como para a consolidação da democracia. (…) A paz global,
nacional e regional só pode ser alcançada com o progresso das mulheres, que são
uma força fundamental de liderança, resolução de conflitos e promoção de uma paz
duradoura em todos os níveis.”
A diferença básica entre esses dois mundos, o
oriental e o ocidental, é que o Islam, conforme revelado ao Profeta Mohammad,
está pronto, bastando ser seguido por todos. O Islam dignifica o ser humano,
garante direitos. Sua mensagem, ainda que dirigida inicialmente aos árabes, é
universal e se aplica a todos os homens e mulheres, em qualquer lugar e em
qualquer tempo. As origens do Islam são as mesmas que as das religiões
anteriores e Mohammad foi o último profeta de Deus. Deus esclarece no Alcorão
que, ao longo de toda a história da humanidade, cada povo teve o seu mensageiro,
em sua própria língua, em linguagem compatível com a compreensão do ser humano,
anunciando a unicidade de Deus, confirmando o Dia do Juízo Final e determinando
a subordinação ao que foi legislado por Ele.
Prescreveu-vos a mesma religião
que tinha instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual recomendamos a
Abraão, a Moisés e Jesus (dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis
acerca disso.(cap. 14:5)
A crença nos profetas e nos livros são artigos de
fé para o muçulmano. Depois de Mohammad não haverá mais nenhum profeta e nem
revelação alguma será feita.
Hoje, aperfeiçoei a religião para vós;
agraciei-vos generosamente e aponto o Islam por religião. (Cap. 5:3)
A Importância da Mulher no
Islam
Desde tempos imemoriais que o Islam tem sido vítima de uma
distorção deliberada por parte dos Não-Muçulmanos. O lado mais negativo de tal
fato é o de que não foram apenas não-Muçulmanos que elaboraram falsas concepções
relativas ao Islam; infelizmente um certo número de seguidores do Islam é
incapaz de compreender a essência deste Delicado mas Abrangente Código de Vida,
desde que ficaram sob o impacto da Civilização Ocidental.
Muito tem sido dito
contra a posição da mulher no Islam por parte dos não-Muçulmanos preconceituosos
e fanáticos. Como conseqüência, o Islam tem sido, impiedosa e perpetuamente,
objeto de ataques violentos, baseados em falsas suposições e fatos distorcidos
acerca da real posição da mulher nesta Religião.
Esta é a questão fundamental
de todo o mundo não-Muçulmano, em geral, e do mundo ocidental em
particular.
O Ocidente conhece o Islam há mais de 13 séculos. No entanto,
esse conhecimento foi adquirido de uma forma negativa como um inimigo e uma
ameaça. Por isso, não é de forma alguma surpreendente que no Ocidente o Islam
tenha sido descrito como uma religião hostil, tirânica e violenta. Da mesma
forma a própria Cultura Islâmica tem sido narrada com cores sombrias e
tristes.
Este estado de coisas não pode continuar e torna-se um dever
imperativo defender o Islam e clarificar esta questão.
Conseqüentemente,
tentaremos, neste pequeno trabalho, elucidar a forma como o Islam emancipou a
mulher e elevou a sua posição. Mas antes de passar um veredicto sobre um
costume, é necessário que seja levada em conta não só a História daquele tempo
mas, também, todas as circunstâncias então prevalecentes.
É, por isso,
necessário que consultemos a História e verifiquemos, por nós próprios, quão
aviltadas, desprezadas e humilhadas as mulheres foram em diferentes civilizações
e religiões do mundo, antes do advento do Profeta Muhammad (que Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele).
Embora não seja possível descrever, neste
apontamento, todos os acontecimentos da História relacionados com esta questão,
aqui ficam descritos alguns que julgamos serem oportunos e suficientemente
elucidativos.
A Civilização Grega
A Civilização Grega é tida como a mais gloriosa de todas as
civilizações antigas. Durante o decorrer desta Civilização, a mulher era
menosprezada moral e socialmente, e não tinha quaisquer direitos legais. Os
Gregos olhavam para a mulher como uma criatura sub-humana, cuja posição na
sociedade era, em todos os sentidos, inferior à do homem, para o qual estava
reservada a honra, bem como um lugar de superioridade.
A prostituição estava
fortemente implantada na sociedade Grega, e as relações com mulheres adúlteras
não eram consideradas pecaminosas, Mais tarde, os Gregos foram arrastados pelo
egoísmo, bem como pela perversão sexual.
Como conseqüência, modificou-se o
modo de olhar a mulher, e as adúlteras obtiveram uma tal proeminência, de que
não existe paralelo na História.
As casas de prostitutas tornaram-se o centro
das atenções de todas as classes da sociedade, atraindo os seus filósofos,
poetas, historiadores e pensadores. Esse tipo de mulher não somente promovia
funções literárias mas, também, questões políticas de grande relevo, que eram
decididas sob a sua influência.
É realmente estranho que o conselho de uma
mulher que não ficava ligada a um homem por mais de três noites consecutivas,
fosse largamente tido em conta, sobretudo em questões de cuja solução dependia a
vida, ou a morte da nação.
O homem comum considerava o matrimônio como algo
desnecessário, sendo a liberdade sexual tida como perfeitamente lícita e
correta. De tal forma assim era, que, estes males tomaram-se numa parte da sua
religião: foi deste modo que o culto à Afrodite, a deusa do amor e da beleza, se
propagou por toda a Grécia.
De acordo com a sua mitologia, esta deusa, que
era esposa de um deus, desenvolveu relações ilícitas com três outros deuses, bem
como com um mortal. Como resultado desta última relação ilícita nasceu um deus
bastardo, Cupido, o deus do amor!
Com o louvor dos deuses (satânicos) do amor
na Grécia, as casas de prostituição tornaram-se em locais de veneração.
As
prostitutas eram consideradas como jovens pias dedicadas a templos, e o
adultério foi elevado ao estatuto de piedade e revestido de toda a santidade
religiosa. Nenhuma nação no mundo foi capaz de se elevar novamente após tal
declínio moral. E tal é o que afirma Deus no Alcorão Sagrado:
''E quando
temos que destruir uma cidade Nós mandamos ordens aos seus habitantes que vivem
na opulência e que, a seguir, cometem abominações; então, a Palavra (do castigo)
é pronunciada e, Nós, punimo-la com completa destruição.'' (Alcorão Sagrado
17:16)
A História é testemunha de que após o término do, seu período de
glória, a nação Grega nunca mais obteve uma segunda oportunidade de recolher os
seus passos em grandeza e orgulho. A posição da mulher na Civilização Grega pode
ser resumida nas palavras de Sócrates, o grande pensador e filósofo
grego:
''A Mulher é a grande fonte do caos e da ruptura no mundo. Ela é como
a árvore de "dafali", cujo aspecto externo é extremamente belo mas, se os
pássaros a comerem, morrerão com toda a certeza. "
Anderoosky descreve o
conceito grego da mulher, nas seguintes palavras:
''É possível curar-se de
uma queimadura e da mordida de cobra, mas é impossível prender a subtilidade
feminina."
A Civilização Chinesa
Nas escrituras Chinesas as mulheres são apelidadas de ''águas
da desgraça", que desperdiçam toda a sua boa sorte, a mulher foi sempre vista
como inferior ao homem, não lhe sendo concedido qualquer tipo de direitos.
A
mulher era eternamente tida como menor, não sendo as crianças olhadas como
verdadeiramente suas. Sempre que quisesse, o homem podia repudiar a sua mulher,
podendo mesmo chegar a vendê-la como concubina.
Após a viuvez, ela permanecia
como propriedade da família do marido, sendo-lhe, praticamente, impossível
voltar a casar. A par com isto estavam a escravatura e o infanticídio.
A Civilização Romana
Nesta Civilização o homem possuía todo o poder e autoridade
sobre a sua família, incluindo o direito de tirar a vida à sua própria mulher.
Um esposo romano podia facilmente afastar a sua mulher por mero
capricho.
Entre os romanos a mulher não possuía personalidade legal. Ela
nunca podia aparecer no tribunal como queixosa. Era vista como uma menor,
demente, como uma pessoa incapaz de fazer ou de agir de acordo com a sua
preferência.
A sua propriedade passava para as mãos do seu marido pelo
casamento. Ela não podia obter ou deter qualquer tipo de propriedade.
Não
podia ser testemunha, não podia comprar ou vender, nem fazer parte de qualquer
contrato. Com o avanço da civilização, o conceito humano com respeito à posição
da mulher sofreu uma profunda alteração. As regras que determinavam o casamento
sofreram, gradualmente, uma completa "metamorfose" que as condições mudaram para
pior.
O divórcio foi facilitado, e o matrimônio era efetuado com bases que
eram pouco sólidas. Séneca (4 a.C. - 65 d.C.), o famoso filósofo e estadista
romano, criticou os seus compatriotas pela elevada incidência do divórcio entre
eles. Séneca afirmou:
"Agora, o divórcio não é mais visto como algo de
vergonhoso em Roma, as mulheres calculam a sua idade pela quantidade de homens
que tiveram como mandos."
Naqueles dias, as mulheres tinham por hábito
casarem-se diversas vezes; S. Jerônimo (340 - 420 d.C.) menciona uma mulher
maravilhosa, cujo último marido tinha sido o seu 23º, tendo sido, ela própria, a
21º mulher do seu marido.
A Flora tornou-se um desporto romano muito popular,
no qual mulheres nuas competiam em concursos de raça. Homens e mulheres tomavam
banho juntos nos banhos públicos.
Quando os Romanos ficaram de tal maneira
absorvidos por paixões animalescas, a sua glória desapareceu por completo, sem
sequer deixar rasto atrás de si.
Hinduísmo
A Asura, como forma de
casamento entre os antigos hindus, nada mais era do que uma espécie de venda da
filha pelo pai. A legalização só muito dificilmente salvou mulheres de mãos
cruéis, uma vez que nunca herdavam qualquer tipo de propriedade.
Na Índia,
nos seus primórdios (e mesmo agora, em algumas partes), as moças eram (e são)
delicadas aos deuses, freqüentemente, sendo-lhes oferecidas em matrimônio para
que, desta maneira, pudessem usufruir dos seus serviços da mesma forma que os
maridos se serviam das suas mulheres.
Por conseqüência, elas ficavam sob a
dependência dos sacerdotes ''dharmakarthas'', ou dos mandatários ligados aos
templos.
Nos tempos dos Vedas, as mulheres eram tratadas como recompensas de
guerra, após a vitória, as mulheres eram levadas à força e distribuídas como
artigos de saque. Por isso, o tratamento dado as mulheres era o pior
possível.
De acordo com Manu, mentir é uma particularidade feminina, ainda
segundo a ordem de Manu, no Hinduísmo,
"Uma mulher nunca deve procurar a
independência e nunca deve fazer seja o que for de acordo com a sua satisfação.
"
A lei do Hinduísmo diz:
"Por uma moça por uma jovem mulher, ou até mesmo
por uma idosa, nada deve ser feito independentemente, mesmo na sua própria casa.
Na infância uma fêmea deve ser submetida ao seu pai, na juventude ao seu marido,
e quando da morte do seu senhor, aos seus filhos; uma mulher nunca deve ser
independente."
A professora Indka, no seu livro "Posição das Mulheres em
Mahabharate", escreve:
"Não existe criatura mais pecadora do que a mulher. A
mulher é o fogo ardente. Ela é o gume afiado da navalha. É o conjunto de tudo
isto. Os homens não devem amá-las ... destruição."
Sir R. G. Bhandarkar
comenta:
''A Bhagavad Geeta dá expressão à crença geral de que é somente uma
alma pecadora que nasceu como mulher"
Naqueles tempos, como agora, um
casamento hindu era indissolúvel, nem o adultério, nem a prostituição, nem mesmo
a degeneração podiam dissolver um casamento hindu.
O que dizer da vida, se
até mesmo após a morte do marido as viúvas não podiam exigir a separação. O mais
cruel era a prática do sati, no qual a viúva era queimada viva juntamente com o
seu esposo morto. Esta prática foi proibida somente pelos preceitos
Islâmicos.
A viúva era, e ainda o é, olhada como algo repugnante,
inauspicioso e que se devia evitar. A posição das viúvas que não praticassem o
''Sati'' era tão triste, que as pobres almas consideravam preferível serem
queimadas vivas do que suportarem uma longa e cruel tortura nas mãos de uma
sociedade fria e injusta.
Até à altura da conquista da índia pelos
Muçulmanos, as mulheres hindus caminhavam quase nuas e expunham os seus
atrativos sem a menor vergonha.
Budismo
O ensinamento da Nirvana (salvação) não pode ser levado a
cabo na companhia de mulheres, tal fato é, suficientemente, eloqüente para nos
fornecer uma visão para a atitude do Budismo em relação às mulheres.
A idéia
do matrimônio, e a vida que lhe está inerente, é contrária ao objetivo do
Budismo - a aniquilação do desejo - fato que promove o celibato. Por isso, para
um Budista, de acordo com o célebre historiador Westermark:
''As mulheres
são, das ciladas que o demônio inventou para os homens, a mais perigosa; nas
mulheres estão inerentes todas as paixões que cegam a mente do mundo."
A
concepção sobre a mulher no Budismo encontra-se resumida nas palavras de um
sábio Budista de renome, lembradas por Bettany no seu livro "Religiões
Mundiais", nos seguintes termos:
"Infelizmente profundo, como o percurso de
um peixe na água é o caráter da mulher, revestido de mil artifícios, com os
quais se torna difícil descortinar a verdade, para a qual uma mentira é como a
verdade, e a verdade como uma mentira"
Judaísmo
De acordo com as escrituras Hebraicas, no Judaísmo a mulher
encontra-se sob uma maldição eterna e Divina.
"Da mulher provém o início do
pecado, e através dela todos nós morremos"
É uma crença que detém a mulher
como responsável por todas as fraquezas do homem. Por isso a sua degradação na
sociedade Judaica, onde ela era considerada não como uma criatura merecedora de
honra, mas como alguém que podia ser sujeita, justamente, a qualquer tipo de
insultos, e ser reduzida à posição de um móvel na casa.
Cristianismo
Toda a estrutura do credo Cristão baseia-se na doutrina do
Pecado Original, pelo qual o Cristianismo, como o Judaísmo, responsabiliza a
mulher:
''A mulher que me deste por companheiras ela me deu da árvore, e
comi" (Gênesis 3:12)
Eva, segundo o Cristianismo:
''... foi a primeira a
cometer o pecado e causadora da desgraça de Adão: por isso, ela era realmente
responsável pelos pecados da humanidade e Deus teve que enviar o Seu único
Filho, Jesus Cristo, para ser crucificado e lavar todos os pecados do mundo com
o seu próprio sangue."
Esta é a suma da fé Cristã.
Mais adiante,
reproduziremos algumas passagens do Novo Testamento, as quais deverão, sem a
necessidade de comentário, demonstrar a posição da mulher no Cristianismo, e de
como ela deverá ser evitada pelos candidatos ao Reino dos Céus:
"Porque eis
que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que
não geraram, e os peitos que não amamentaram." (S. Lucas 23:20)
"Bom seria
que o homem não tocasse em mulher.'' (I aos Corintios 7:1)
"Porque quereria
que todos os homens fossem como eu mesmo (ou seja solteiros) ... Digo, por isso,
aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom ficarem como eu (ou seja, solteiros).
Mas se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se."
(Corintios 7:9)
"O solteiro cuida nas coisas do Senhor, em como há-de agradar
ao Senhor. Mas o que é casado cuida nas coisas do mundo, em como há-de agradar à
mulher." (Corintios 7:32-33)
"Mas, (ele), o que a não dá em casamento, faz
melhor.'' (Corintios 7:38)
As comunicações Bíblicas sobre a fraqueza da
mulher só poderiam levar os primeiros Sacerdotes Cristãos a fazerem tão
"piedosíssimas" difamações, sobre as quais nenhuma mulher, que tenha respeito
por si própria, poderá manter-se calada.
Paulo, o primeiro santo da
Cristandade, proclama:
''A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.
Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido,
mas que esteja em silêncio. Pois primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão
não foi enganado mas a mulher, sendo enganada caiu em transgressão.'' (I à
Timóteo 2:11-14)
Diz S. Tertúlio às mulheres:
"Sabeis vós, que cada uma de
vós é uma Eva; a sentença de Deus sobre este sexo das vossas vidas nesta era; a
culpa tem de necessariamente viver, igualmente; vós sois o primeiro desertor da
Lei Divina, vós sois aquela que o persuadiu, quando o demônio ainda não era
suficientemente forte para atacar. Vós destruísses muito facilmente a imagem de
Deus no homem. Por conta da vossa deserção, ou seja, morte, até o Filho de Deus
teve que morrer." (De Cottu Feminarum)
Afirma S. Gregório
Taumaturgo:
"Entre todos os homens, procurei a castidade apropriada a eles, e
não a encontrei em nenhum. Provavelmente pode-se encontrar um homem casto entre
mil, mas nunca entre as mulheres."
Segundo S. Gregório de Nazianzum:
''A
ferocidade é característica do dragão e a astúcia da áspide, mas a mulher tem a
malícia de ambos."
S. João Crisóstomo olhava a mulher como:
"Um demônio
necessário, uma calamidade desejada, um fascinador mortífero, e uma doença
camuflada."
Aos olhos de S. Clemente de Alexandria:
"Nada de calamitoso é
próprio do homem, que é dotado de razão, o mesmo não se pode dizer da mulher,
para a qual se è uma vergonhoso refletir sobre a sua própria natureza." (Paeds,
II:, 2.83, pag. 186)
Com efeito, os construtores da Igreja Cristã, bem como
os primitivos Sacerdotes, podem ser denominados de rivais concorrentes nas suas
denúncias relativas à mulher. Ela foi descrita como:
"O instrumento do
Demônio";
"O fundamento das armas do Diabo, cuja voz é o assobiar das
serpentes";
"Um escorpião sempre pronto a picar, e a lança do
demônio";
"Um instrumento que o demônio utiliza para se apoderar das nossas
almas";
"A porta do Inferno, o caminho da iniqüidade, o espigo do
escorpião";
"Algo impuro, uma filha da falsidade, uma sentinela do Inferno, o
inimigo da paz, e, de todos os animais selvagens, o mais perigoso".
Ditos de;
S. Bernardo, S. Antônio, S. Boaventura, S. Cipriano, S. Jerônimo e S. João
Damasceno, respectivamente.
A mulher era tida como "algo impuro", a
"impureza" da mulher levou a Igreja Cristã a denunciar até o sagrado matrimônio
- essa grande instituição social da humanidade. Diz S. Gregório:
''Abençoado,
é aquele que leva uma vida celibatária, e não encerra em si a imagem Divina com
a obscenidade da concupiscência."
A irreparável injúria que foi infligia
sobre as mulheres na Cristandade, e sobretudo durante a Idade Média, dispensa
qualquer tipo de descrição.
A condição das mulheres antes do advento do
Profeta Muhammad (que Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), era miserável
por todo o mundo, nenhuma religião lhes permitia a igualdade, nenhuma religião
lhes deu uma parte na propriedade dos seus familiares e esposos.
A mulher era
vista como um demônio e como um fardo indesejado, uma fonte de desgraça e
humilhação para a família.
As mulheres eram universalmente tratadas como bens
e brinquedos nas mãos dos homens. Elas nunca eram vistas como parte integrante
do casamento. Podiam ser obtidas num momento de prazer, e rejeitadas de uma
forma puramente caprichosa; somente o coração e a bolsa podiam colocar
limitações.
As mulheres não tinham uma posição independente, não possuíam
qualquer propriedade, não tinham qualquer direito a herança.
Na Arábia (em
particular), mesmo antes do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus
estejam sobre ele), a condição da mulher era simplesmente miserável de tal forma
que as crianças recém-nascidas de sexo feminino eram enterradas vivas. Elas não
eram olhadas como pessoas humanas, com efeito, na Arábia, a mulher permanecia
algures no limbo entre o mundo animal e a humanidade.
O Islam Realmente Honrou a
Mulher
O Islam exaltou generosamente a mulher, honrou-a e tratou-a
com civilidade, quer como criança e adolescente, quer como esposa e mãe.
a) - Como Criança e
Adolescente:
Antes do advento do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele), o mundo degradou a mulher e, praticamente, baniu-a. Ela
tinha sido atirada para tão profundo abismo, que parecia não haver esperança na
sua redenção. O Islam lutou acirradamente contra esta injustiça, sublinhando que
a vida precisava tanto do homem como da mulher. A mulher não foi criada para ser
ridicularizada e banida, como o homem, a mulher tem o seu propósito e direito à
existência, e a Natureza está a alcançar o seu objetivo com a ajuda de ambos,
homem e mulher, conforme reza o Alcorão:
"A Deus pertence a Soberania dos
céus e da terra. Ele cria o que deseja. Dá filhas a quem deseja e dá filhos a
quem deseja; ou dá-lhes aos pares machos e fêmeas, e torna estéril a quem
deseja, pois Ele é Sábio e Poderoso.'' (Alcorão Sagrado 42:49-50)
Onde todas
as outras religiões privam a mulher de todos os direitos, até ao de viver, o
Islam garante-lhe os mesmos direitos que ao homem. O Islam também avisa aqueles
que pretendem retirar-lhes os seus direitos, serão, seguramente, responsáveis
perante Deus no Dia do Julgamento.
''Quando as almas forem reunidas, quando a
filha, sepultada vida, for interrogada: Por que delito foste assassinada?''
(Alcorão Sagrado 81:7-9).
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus
estejam sobre ele), instituiu numerosas instruções a favor da mulher. Favores
que ela não podia obter mesmo dos auto-denominados apoiantes modernos dos
direitos da mulher. O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam
sobre ele), disse:
''Deus proibiu-vos a desobediência às vossas mães, a
recusa a sancionar direitos, a acumulação de riqueza de qualquer maneira (halal
e haram = lícito e ilícito) e o enterro de filhas vivas." (Al Bukhari).
Ele
disse, igualmente:
"Um homem que tem uma filha e não a despreza, não a
enterra viva, nem prefere o seu filho em detrimento da sua filha, Deus
admiti-lo-á no Céu." (Abu Daud).
Sobre Fatimah o Profeta disse:
''A minha
filha é a minha carne, qualquer problema com ela causará a minha dor." (Bukhari
e Muslim).
Os ensinamentos Islâmicos revolucionaram o pensamento daqueles
homens que enterravam as suas filhas vivas, e que não sentiam qualquer vergonha
ao fazê-lo. Começaram a amar e a alimentar as suas filhas. Aqueles que no
passado tinham recusado a abrigar as suas próprias filhas, tornaram-se os
guardiães das filhas de terceiros.
Por ocasião da Batalha de Uhud, o pai de
Jabir, disse-lhe:
"Meu filho, eu posso ser martirizado na batalha que se
avizinha; se isso acontecer, aconselho-te a tomares conta das minhas
filhas."
Assim aconteceu, Jabir, que ainda era novo, desposou uma viúva que
tinha à sua responsabilidade as sua irmãs. O Profeta Muhammad (que a Paz e a
Bênção de Deus estejam sobre ele), perguntou-lhe:
"Porque é que não casaste
com uma mulher jovem?''
Ele respondeu:
"Ó Rassulullah (Mensageiro de
Deus)! O meu pai foi morto na Batalha de Uhud, deixando atrás de si nove filhas,
que são minhas irmãs. Por isso, escolhi tal mulher para o meu casamento que
pudesse tomar bem conta delas."
O Profeta disse: "Agiste bem." (Al
Bukhari).
Estes são exemplos que a história de outras religiões não podem
apresentar, o Islam é a única religião que honrou a mulher, desde a sua infância
até à sua morte.
b)- Como Esposa:
O casamento é a união legal entre um homem e uma mulher para
toda a vida e, por conseqüência, não tem como objetivo ser uma ligação
temporária. É por isso que, no Islam, o "mutah", ou seja casamento temporário, é
proibido.
Assim, o casamento no Islam é compartilhado pelas duas metades da
sociedade, e os seus objetivos, para além de perpetuar a vida humana, são o
bem-estar emocional e a harmonia espiritual. A sua base é o amor e a
misericórdia. Entre os versículos mais impressionantes do Alcorão, sobre o
casamento, está o seguinte:
''Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado
companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor
e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.'' (Alcorão
Sagrado 30:21).
Esta é uma importante definição da relação existente entre
esposo e esposa, através do casamento, espera-se que encontrem tranqüilidade na
companhia um do outro, limitados, não somente pela relação sexual, mas, também,
pelo amor e misericórdia. Tal descrição inclui carinho mútuo, consideração,
respeito e afeto.
Existem numerosas tradições, particularmente as narradas
por Aicha esposa do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele), que fornecem uma clara visão interna do modo como o Profeta Muhammad (que
a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), tratava as suas esposas, e da forma
como estas o tratavam.
O aspecto mais relevante, sobre este assunto, é o da
evidência do cuidado e respeito mútuos das relações matrimoniais. Não existe
qualquer servilismo por parte das esposas, existem quase tantas referências ao
Profeta em levar a cabo determinadas ações de modo a agradar às suas esposas,
como as há destas a retribuírem-lhe a atenção. O Alcorão refere-se às esposas de
uma forma geral, num outro capítulo, dizendo:
''Elas são vossas vestimentas e
vós o sois delas.'' (Alcorão Sagrado 2:187).
Por outras palavras, assim como
o vestuário fornece calor, proteção, decência e elegância, também o marido e a
esposa oferecem a cada um intimidade, conforto e proteção para não cometer
adultério, ou outro tipo de ofensa.
Tudo isto vai de encontro ao que foi
retirado do Alcorão, de que um dos mais importantes objetivos dos regulamentos
que orientam o comportamento e relações humanas, é o de preservar a unidade
familiar, de tal modo que a atmosfera de tranqüilidade, amor, misericórdia e
consciência de Deus, se possa desenvolver e florescer para o benefício do marido
e da esposa, bem como das crianças nascidas do matrimônio.
É evidente que,
onde as outras religiões condenaram a mulher, o Islam honrou-a. O Profeta
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) elevou a posição da
mulher e forneceu-lhe um lugar respeitável no seio da sociedade humana.
C)- Como Mãe:
O Islam considera deveras importante a bondade para os pais a
seguir à adoração de Deus. O Alcorão refere:
''O decreto de teu Senhor é que
não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a
velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os
rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas. '' (Alcorão
Sagrado17:23).
Mais do que isto, o Alcorão Sagrado contém recomendações
especiais relativas ao correto tratamento a ter em relação às mães.
''E
recomendamos ao homem benevolência para com os seus pais. Sua mãe o suporta,
entre dores e dores, e sua desmama é aos dois anos. (E lhe dizemos): Agradece a
Mim e aos teus pais, porque retorno será a Mim.'' (Alcorão Sagrado
31:14).
Numa família muçulmana, no que diz respeito à honra, o Islam ordenou
que se honrasse a mãe mais do que o pai, a irmã mais do que o irmão, e a filha
mais do que o filho.
Certo homem dirigiu-se ao Profeta perguntando: "Ó
Mensageiro de Deus! Quem, de entre as pessoas, é a mais merecedora da minha
companhia?" O Profeta respondeu: ''A tua mãe". O homem retorquiu: "Depois, quem
mais?" Só então o Profeta Muhammad disse: "O teu pai". (Bukhari e
Muslim).
Ainda existe o famoso dito do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele):
"O Paraíso encontra-se aos pés das mães" (Nassal
Ibn Majah, Ibn Hanbal).
Ele também disse:
"É o generoso (em caráter)
aquele que é bom para as mulheres, e é fraco aquele que as insulta".
"Deus
ordena-nos que tratemos as mulheres de uma forma nobre, pois que elas são nossas
mães, filhas e tias."
Aspecto Social - Direitos
Assegurados Pelo Islam à Mulher
1-. Direito à Vida:
O primeiro e fundamental direito é, o direito à vida. A Lei
Islâmica diz:
''Aquele que matar um ser humano (homem ou mulher) sem que ele
tenha cometido homicídio ou semeado corrupção na terra, será considerado como se
tivesse assassinado toda a humanidade.'' (Alcorão Sagrado 5:32).
"E não
destruas a vida que Deus tornou sagrada a não ser em casos de justiça." (Alcorão
Sagrado 6:151).
Apesar da aceitação social do infanticídio feminino entre as
tribos árabes, o Islam proibiu este conhecido costume, e considerou-o um crime
como qualquer outro assassinato:
''Quando as almas forem reunidas, quando a
filha, sepultada vida, for interrogada: Por que delito foste assassinada?''
(Alcorão Sagrado 81:7-9).
Criticando a atitude de tais pais que rejeitam
crianças do sexo feminino, Deus diz:
"Quando a algum deles é anunciado o
nascimento de uma filha, o seu semblante se entristece e fica angustiado.
Oculta-se do seu povo, pela má notícia que lhe foi anunciada: deixá-la-á viver,
envergonhado, ou a enterrará viva? Quem péssimo é o que julgam! '' (Alcorão
Sagrado 16:58-59).
Além disso, o Islam requer, para ela, um tratamento amável
e justo. Entre os dizeres do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus
estejam sobre ele), citamos o seguinte:
"Qualquer um que tenha uma filha e
que não a enterra viva, que não a insulta, nem favorece o seu filho em
detrimento da sua filha, Deus fá-lo-á entrar no Paraíso." (Ibn Hanbal).
2 – Individualidade
No Islam, a mulher não é produto do diabo ou a semente do
mal. No Islam, o homem não ocupa o lugar de senhor absoluto da mulher, que, sem
outra alternativa, tem que se render ao seu domínio. No Islam só nos submetemos
a Deus e só a Ele nos rendemos e prestamos contas. No Islam, ao contrário de
outras crenças e sistemas religiosos, a mulher tem alma e é dotada de qualidades
espirituais. O Islam não considera Eva a única responsável pelo pecado original
de toda a humanidade e, por consequência, pelo sacrifício na cruz de Jesus(swas)
para redimir a humanidade do pecado original. O Alcorão esclarece que tanto Adão
como Eva erraram, ambos foram tentados, ambos pecaram e ambos foram perdoados
por Deus após ter manifestado arrependimento.
Allah salienta no Alcorão que
Adão foi o único responsável por seu erro.
"Havíamos firmado o pacto com
Adão, porém, ele esqueceu-se dele; e não vimos nele firme resolução" (Alcorão
20:115)
"E ambos comeram (os frutos) da árvore, ... Adão desobedeceu a seu
Senhor e foi seduzido. Mas logo o seu Senhor o elegeu, absolvendo-o e
encaminhando-o." (Alcorão 20:121-122)
Portanto, não há nada na doutrina
islâmica ou no Alcorão que considere a mulher como responsável pela expulsão de
Adão do Paraíso ou pela miséria da humanidade.
A mulher na lei islâmica é
igual ao homem. Ela é tão responsável por seus atos como o homem o é. Seu
testemunho é solicitado e valido na corte. Suas opiniões são buscadas e
seguidas, o Profeta (sas) consultou sua esposa, (Um Salama) sobre uma das mais
importantes questões para a comunidade muçulmana.
O Alcorão menciona,
especificamente, que aqueles que buscavam informação das esposas do Profeta
podiam fazê-lo, desde que atendidas determinadas condições.
"... E se
desejardes perguntar algo a elas (suas esposas), fazei-o detrás de cortinas."
(Alcorão 33:53)
Na medida em que perguntas exigem respostas, as Mães dos
crentes ofereciam fatwas àqueles que perguntavam e narravam ahadiss a todo
aquele que desejasse transmiti-los. Além do mais, as mulheres estavam
acostumadas a questionar o Profeta (sas) mesmo na presença dos homens. Nem elas
ficavam constrangidas por se fazerem ouvir nem o Profeta as impedia de indagar.
Mesmo no caso de Omar, quando ele foi desafiado por uma mulher durante o seu
sermão no minbar, ele não retrucou, pelo contrário, admitiu que ela estava certa
e ele errado e disse: "Todo mundo é mais instruído do que Omar."
Um outro
exemplo alcorânico de uma mulher falando em público é o mencionado no versículo
28:23. Além desse, o Alcorão relata a conversa entre Salomão e a Rainha de Sabá,
assim como entre ela e seus subordinados. Todos esses exemplos demonstram que as
mulheres podem expressar suas opiniões publicamente porque o que quer que tenha
sido prescrito a elas antes de nós está prescrito para nós, a não ser que seja
unanimente rejeitado pela doutrina Islâmica.
Portanto, a única proibição é a
mulher se comportar de modo a se insinuar ou tentar o homem. Isto está expresso
no Alcorão, onde Allah diz:
"Ó esposas do Profeta, vós não sois como as
outras mulheres; se sois tementes, não sejais insinuantes na conversação, para
evitardes a cobiça daquele que possui morbidez no coração, e falai o que é
justo." (Alcorão 33:32)
Assim, o que é proibido é o falar insinuante que
induz aqueles que têm os corações doentes a se comportarem de forma inadequada.
Mas, isto não quer dizer que toda conversa com as mulheres seja proibida, porque
Allah completa o versículo
"... mas falai o que é justo." (Alcorão
33:32)
O homem é testado mais por suas bênçãos do que por suas
tragédias.
E Allah diz:
"... e vos provaremos com o mal e com o bem."
(Alcorão 21:35)
Em apoio a este argumento Allah diz no Alcorão que as duas
maiores bênçãos da vida, riqueza e filhos, são provas.
"E sabei que tanto
vossos bens como vossos filhos são para vos pôr à prova" (Alcorão 8:28)
Uma
mulher, não obstante as bênçãos que ela espalha em seu ambiente, também pode ser
uma prova, posto que ela pode desviar um homem de sua obrigação para com Allah.
Assim, Allah cria a consciência de como as bênçãos podem ser extraviadas a ponto
de se tornarem maldições. Os homens podem usar suas esposas como uma desculpa
para não cumprir a jihad ou para fugir do sacrifício de produzir riqueza. No
Alcorão Allah avisa:
"Ó fiéis, em verdade, tendes adversários entre as vossas
mulheres e os vossos filhos" (Alcorão 64:14)
A advertência é a mesma para
aqueles abençoados com riqueza e descendência abundantes (63:9). Além disso, o
hadiss diz: "Por Deus não receio a pobreza para vós, mas sim que o mundo vos
seja abundante como o foi para aqueles antes de vós e assim que luteis pela
abundância da mesma forma que aqueles antes de vós lutaram e assim que sejais
destruídos assim como eles foram destruídos." Este hadiss não quer dizer que o
Profeta encorajasse a pobreza.
A pobreza é uma maldição contra a qual o
Profeta buscava refúgio em Allah. Ele não pretendia que sua Ummah se privasse da
riqueza e da abundância- "O melhor da boa riqueza é para o justo." As mulheres
também são um presente para o justo, porque o Alcorão diz que o muçulmano e a
muçulmana, o crente e a crente, são ajuda e conforto um para o outro, aqui e no
além. O Profeta não condenou as bênçãos que Allah propiciou para a sua Ummah.
Antes pelo contrário, ele desejava afastar os muçulmanos e a sua Ummah dos
caminhos escorregadios, cujo fosso insondável é uma lama de crueldade e desejo.
A mulher é reconhecida no Islam como a parceira completa do homem e igual a ele
na procriação da humanidade. Ele é o pai e ela é a mãe e ambos são essenciais
para vida. O papel da mulher não é menos vital do que o do homem. Nesta parceria
as partes são iguais em cada aspecto, têm direitos e responsabilidades iguais e
são dotadas das mesmas qualidades, seja homem ou mulher. No Islam, a mulher se
iguala ao homem ao ser responsável por seus atos. Ela possui uma personalidade
independente, dotada de qualidades humanas e digna de aspirações espirituais.
Sua natureza humana não é nem inferior nem superior à do homem. Homens e
mulheres têm as mesmas obrigações e responsabilidades sociais, morais e
religiosas e devem enfrentar a consequência de seus atos.
Aqueles que
praticarem o bem, sejam homens ou mulheres, e forem fiéis, entrarão no Paraíso e
não serão defraudados, no mínimo que seja. (Cap. 4:124)
No Islam, a mulher é
independente economicamente, uma vez que ela pode ser proprietária, com direito
a administrar seus bens e ninguém, pai, marido ou irmão, tem ingerência no trato
de questões financeiras.
3. Educação e instrução.
Ela se iguala ao homem na busca pelo conhecimento e educação.
Quando o Islam conclama os muçulmanos para a busca do conhecimento, ele não faz
distinção entre os sexos. A educação não é somente um direito, mas uma
responsabilidade de todos os homens e mulheres porque essa é a melhor forma de
se aproximar de Allah (swt). Ela passa a ter os seus horizontes abertos, e a sua
fé passa a ser uma fé consciente, enraizada na mente e no coração. A mulher é a
base da sociedade, pois ela é a mãe "é a melhor das escolas"; é com ela que
aprendemos tudo o que se refere aos princípios morais e boas maneiras. Logo, se
a mãe é sábia e virtuosa, seus filhos assim crescerão, e a sociedade será
consolidada na verdade e na virtude, Mohammad, há 14 séculos atrás, foi muito
claro ao afirmar que a busca do conhecimento é uma obrigação para todo o
muçulmano, seja homem ou mulher. Durante muito tempo foi negado à mulher o
direito de expor suas opiniões. Em Coríntios I 14:34/35, São Paulo diz: “Como em
todas as congregações de santos, as mulheres devem permanecer caladas nas
igrejas. Não é permitido a elas falar e devem ser submissas, como a lei diz. Se
elas quiserem perguntar sobre alguma coisa que perguntem a seus maridos em casa,
porque é vergonhoso para uma mulher falar nas igrejas.” Em Timóteo I 2:11-14,
ele escreveu: “Eu não permito a uma mulher ensinar ou ter autoridade sobre um
homem; ela deve ser calada, porque Adão foi feito primeiro, e depois Eva. E Adão
não foi o que perdeu, foi a mulher que perdeu e se tornou pecadora”.
O Islam
entende que uma mulher não pode se instruir se não lhe é permitido falar. O
Islam entende que uma mulher não pode crescer intelectualmente se ela é obrigada
a um estado de completa submissão. O Islam entende que uma mulher não tem vida
própria se sua única fonte de informação é o marido em casa.
4. Liberdade de Expressão: Por
isso, no Islam ela tem direito à liberdade de expressão, tanto quanto o homem.
Suas opiniões são levadas em consideração e não podem ser desrespeitadas sob a
alegação de serem provenientes de uma mulher. Há diversos relatos a respeito da
participação efetiva das mulheres, não só expressando sua opinião como também
questionando e participando de discussões sérias com o Profeta. A propósito, o
Alcorão tem a seguinte passagem: Em verdade, Deus escutou a declaração daquela
que discutia contigo, acerca do marido, e se queixava em oração a Deus. Deus
ouviu vossa palestra, porque Ele é Oniouvinte.
Aqueles, dentre vós, que
repudiam as suas mulheres através do zihar, saibam que elas não são suas mães.
Estas são as que os geraram; certamente, com tal juramento, eles proferiram algo
iníquo e falso; porém, Deus é Absolvedor, Indulgentíssimo. (Cap. 58:1-2)
Este relato se refere Khawlah, esposa de Auss Ibn Assámet, que havia se
divorciado dela, seguindo um costume idólatra, apesar de ele ser muçulmano. O
expediente era conhecido como zihar e consistia em dizer para a esposa que a
partir daquele momento ela era considerada sua mãe. Isto liberava o marido de
qualquer responsabilidade conjugal sem dar, no entanto, liberdade para ela
abandonar o lar ou contrair novo matrimônio. Tendo ouvido estas palavras de seu
marido, a mulher foi ter com o Profeta, na esperança de que ele resolvesse o seu
caso. O Profeta era de opinião que ela deveria ser paciente, desde que parecesse
que não havia outro caminho. No entanto, ela continuou questionando Mohammad
quando veio a revelação que constitui os versículos acima. Portanto, como vemos,
a mulher no Islam tem o direito de argumentar, mesmo que seja com o Profeta do
Islam. Ninguém tem o direito de instruí-la a se calar.
Vida na participação
de Direito Em primeiro lugar, deve ser esclarecido que o Islam entende que o
papel da mulher na sociedade como mãe e esposa, é o mais sagrado de todos.
Nenhuma babá ou empregada pode substituir a mãe no seu papel de educadora de uma
criança. A regra geral na vida política e social é a participação e a
colaboração de homens e mulheres nas questões públicas. O Islam não exige, como
algumas pessoas pensam, que a mulher fique confinada em sua casa até a morte. Em
toda a história do Islam há relatos suficientes que comprovam a participação da
muçulmana nas questões públicas, nas funções administrativas, na erudição e
ensinamentos e mesmo nos campos de batalha, ao lado do Profeta.. Não há no
Alcorão, ou nas sunas do Profeta, qualquer texto que impeça a mulher de exercer
qualquer posição de liderança, exceto na condução da prece, por motivos óbvios
que serão vistos mais adiante, e na liderança do estado. Um chefe de estado não
é apenas decorativo. Ele exerce funções inerentes ao cargo, viaja, negocia com
outras autoridades, participa de encontros confidenciais com tais autoridades.
São atividades, muitas das vezes, não são condizentes com as diretrizes traçadas
pelo Islam para a interação entre os sexos. Registros históricos comprovam que
as mulheres participavam da vida pública em igualdade de condições com os
muçulmanos, principalmente em tempos de emergência. Elas combatiam nas guerras,
cuidavam dos feridos, preparavam suprimentos, ajudavam os guerreiros,
consultavam diretamente o Profeta a respeito de assuntos pessoais e até íntimos,
etc. Jamais houve qualquer barreira que impedisse a integração da mulher na
sociedade islâmica. Jamais foram consideradas criaturas desprovidas de alma ou
de qualquer mérito. O aconselhamento, o ensinamento religioso, a educação
espiritual são atividades exercidas pelas mulheres desde os primórdios do Islam.
5) Direito ao Emprego:
Quanto ao direito da mulher de procurar emprego, deveria
tornar-se claro que o Islam vê o seu papel na sociedade como mulher e mãe, um
papel sagrado e essencial. Nem as empregadas, nem as amas podem substituir a mãe
no seu papel de educadora de uma criança. Tal papel, tão nobre e vital, que
afeta largamente o futuro das nações, não pode ser levado de uma forma tão
"leviana".
Não obstante, não existe qualquer regra no Islam que proíba a
mulher de procurar o emprego sempre que para tal haja necessidade, tendo em
conta as normas islâmicas de castidade, e assegurando-se que estas estão a ser
respeitadas e, especialmente, em cargos que se coadunem com a sua própria
natureza, onde a sociedade dela mais necessita.
Mesmo então, o Islam ensina o
princípio da divisão do trabalho, destina trabalho algo enérgico e duro, fora da
casa, ao homem, tornando-o responsável pela manutenção da família. Olha para o
lar como a principal preocupação da mulher, delegando-lhe o cuidado da casa, a
responsabilidade da educação e a vigilância das crianças um encargo que forma o
mais importante item na tarefa da construção de uma nação. E ambos devem
trabalhar em espírito de harmonia simpatia e amor. Ao fim e ao cabo, ambos têm a
sua parte a desenvolver na vida, sendo a da mulher mais relevante tanto em
importância como em nobreza. Pois que, se o homem se gaba de ganhar dinheiro,
fabricar computadores, aviões, foguetes e mísseis, a mulher deverá, logicamente,
silenciá-lo ao lembrar-lhe que ela é a parceira indispensável no criação do
próprio Homem. Assim sendo, torna-se evidente que o aspecto econômico da mulher
é mais seguro no Islam do que em qualquer outra religião.
O Seu Dever
Sagrado
A mulher, na verdadeira acepção Islâmica, é um relicário de santidade
em contraste com o Cristianismo, onde ela é olhada como fonte do mal. Com uma só
palavra o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele)
elevou-a ao mais alto pedestal, quando disse: ''A mulher é a rainha da casa" e
decerto "O Céu encontra-se sob os pés da tua mãe".
Sob os ensinamentos do
Cristianismo, se a primeira mulher (Eva) trouxe o Inferno eterno, no Islam ela
abriu a porta do Paraíso! Durante os últimos anos, tem havido luta permanente
entre os dois sexos, relativamente aos seus respectivos direitos e obrigações;
mas, poderão os advogados do Movimento Modernista reivindicar melhor posição
para a mulher, do que já lhe foi concedida pelo Islam?
O Mundo deve saber e
aceitar a verdade de que nenhuma outra fé, ou cultura, deu à mulher tantos
direitos e preservou a sua honra e castidade, como o Islam o fez. Pierre
Crabbites, no seu artigo sobre "Coisas que Muhammad fez pela mulher''
observa:
''A mulher muçulmana é uma força canalizadora, modelada por Muhammad
há 13 séculos atrás, que assegurou às mães, mulheres e filhas do Islam, uma
ordem e dignidade que ainda não está geneticamente assegurada às mulheres, pelas
leis do Ocidente.''.
6- Direito de Posse
Independente:
De acordo com a Lei islâmica ,o Islam decretou o direito da
Mulher ao seu dinheiro, aos seus bens de raiz, ou às suas outras propriedades. O
Islam garante à mulher direitos iguais para contratar, para assumir
empreendimentos, para ter ganhos e posses independentemente Este direito não é
dependente de ela ser solteira, ou casada. Ela retém todos os direitos para
comprar, vender, amortizar, ou alugar qualquer das suas propriedades. A este
respeito, o Alcorão observa:
''Não ambicioneis aquilo com que Deus agraciou
uns, mais do que aquilo com que (agraciou) outros, porque aos homens lhes
corresponderá aquilo que ganharem; assim, também as mulheres terão aquilo que
ganharem. Rogai a Deus que vos conceda a Sua graça, porque Deus é Onisciente.''
(Alcorão Sagrado 4:32).
É por causa deste direito de posse independente, que
ambos os mandamentos de Zakat e de Hajj se tornaram obrigatórios para as
mulheres que possam ter recursos para esses efeitos.
. Somente no século
passado a Europa reconheceu o direito da mulher de contrair obrigações. No
Islam, vida, propriedade, honra são tão sagrados para ela quanto para o homem.
Se ela cometer qualquer falta sua pena não é maior ou menor do que para o homem,
em casos semelhantes, estabelecida pela shariah islâmica. Conta a tradição que
certa vez alguém veio ter com o Profeta solicitando a sua intercessão para a
filha de uma autoridade que havia sido apanhada praticando roubo. O Profeta
então respondeu que ainda que fosse Fátima, sua filha muito amada, que estivesse
naquela situação, ele não poderia impedir que a lei fosse aplicada. No Islam, a
lei é igual para todos e não exime ninguém em razão de sua posição social. Estes
direitos não estão estabelecidos de uma forma apenas retórica. O Islam tomou
medidas para salvaguardá-los e colocá-los em prática como artigos de fé. O Islam
não tolera o preconceito contra a mulher ou a discriminação entre os sexos. O
Islam reprova todo aquele que considera a mulher inferior ao homem.
7- Direito à Herança
Além do reconhecimento da mulher como um ser independente,
considerada como essencial para a sobrevivência da humanidade, o Islam deu à
mulher o direito à herança herança e de dispor dos seus bens como quiser. Diz
Allah (swt), o Altíssimo: *Não ambicioneis aquilo com que Allah (swt) agraciou
uns, mais do que aquilo com que (agraciou) outros, porque aos homens lhes
corresponderá aquilo que ganharem assim, também as mulheres terão aquilo que
ganharem. Rogai a Allah (swt) que vos conceda a Sua graça, porque Allah (swt) é
Onisciente.* (4: 32). Este direito dado a mulher no estatuto muçulmano a 1400
anos atrás, só foi conquistado pela mulher no Brasil em 1962, quando teve os
direitos de assinar contratos e receber herança se a autorização do marido. Na
Inglaterra, só em 1882 lhe foi assegurado o direito de dispor do seu dinheiro. .
Antes do Islam, ela não só era privada desta participação como era considerada
propriedade do homem. Seja ela esposa ou mãe, irmã ou filha, a mulher tem
participação na herança, e esta participação depende do seu grau de relação com
o morto e o número de herdeiros. Esta quota é dela e ninguém tem poder para
negar-lhe esta participação, ainda que o morto quisesse deserdá-la. Qualquer um
pode, legalmente, dispor de 1/3 dos seus bens, não afetando, assim, o direito de
herdeiros, sejam homens ou mulheres. Em alguns casos, o homem recebe 2 quotas na
herança ao passo que a mulher fica com uma. Isto não é sinal de preferência ou
supremacia do homem sobre a mulher. Eis algumas razões que justificam a medida:
No Islam o homem assume as responsabilidades financeiras da completa manutenção
de sua esposa e família. É sua obrigação perante a lei assumir todos os encargos
financeiros e manter seus dependentes adequadamente. Isto significa que ele
herda mais, mas ele é responsável financeiramente por outras mulheres: filhas,
esposas, mãe e irmãs.,em alguns casos ele é responsável por seus parentes com
certas necessidades, especialmente os do sexo feminino. Esta responsabilidade
não é nem, renunciada, nem reduzida, por causa da saúde da sua mulher, ou devido
ao seu acesso a alguma remuneração proveniente do trabalho, renda, lucro, ou de
outros meios legais.
. A mulher no Islam está protegida e segura do ponto de
vista material. Se ela é esposa, o marido é o provedor. Se ela é mãe, cabe ao
filho o encargo. Se ela é filha, o pai se reponsabiliza por sua manutenção, se
ela é irmã, o irmão, e assim por diante. Quando ela é sozinha, não tem ninguém,
é evidente que não tem herança a ser recebida e ela passa a ser responsabilidade
da sociedade como um todo, cabendo, portanto, ao Estado, prover sua mantença
através de ajuda, arrumando trabalho para que ela ganhe seu próprio sustento.
O Islam garantiu, o direito à herança de seus pais, parentes, marido e
descendentes. O Alcorão diz:
''Aos filhos varões corresponde uma parte do que
tenham deixado os seus pais e parentes. Às mulheres também corresponde uma parte
do que tenham deixado os pais e parentes, quer seja exígua ou vasta, uma quantia
obrigatória. '' (Alcorão Sagrado 4:7).
Aqui, a partilha é absolutamente dela
e ninguém pode reclamar alguma coisa da mesma, inclusive o seu pai e os seus
parentes; nem mesmo o seu marido. A sua parte é, na maioria dos casos, metade da
parte do esposo, sem qualquer implicação de que ela seja inferior ao homem. Esta
variação nos direitos hereditários é apenas consistente com as variações nas
responsabilidades financeiras do homem e da mulher, de acordo com a Lei
Islâmica.
A mulher, por outro lado, está muito mais segura economicamente, e
encontra-se muito menos sobrecarregada em relação a reclamações sobre as suas
riquezas. Os seus bens, pré e pós matrimoniais, não são transferidos para o seu
marido, e ela até mantém o seu nome de solteira. Após o casamento, ela não tem
qualquer obrigação de gastar dos seus bens, ou dos seus rendimentos, seja com
ela, seja com sua família. A metade da partilha dos bens que a mulher herda
pode, deste modo, ser considerada generosa, visto que se destina só para
ela.
Para elucidar este ponto, tomemos um exemplo: um pai de dois filhos - um
rapaz e uma moça - faleceu e deixou 300 reais. De acordo com a Lei Islâmica da
Herança, na ausência de outros herdeiros legais, a filha será titular de 100
reais, e o filho de 200 reais. Quando atingirem a maioridade e pensarem em
casar, o jovem rapaz será obrigado a pagar um dote à sua mulher. Neste caso, ele
terá que gastar parte do dinheiro da sua herança, e fica, ainda, obrigado a
manter a sua família e a incorrer em todas as despesas neste sentido.
Em
relação à jovem, (irmã do jovem rapaz referido) quando se casar, será intitulada
a receber um dote de seu marido; previamente ela já tinha herdado 100 reais (da
herança do pai falecido) e, agora, receberá mais algo proveniente do dote do seu
marido, perfazendo um total bastante razoável. E, nunca será obrigada a gastar
nada do seu dinheiro, por muito rica que ela seja, uma vez que o seu marido é
responsável por a manter e aos seus filhos, enquanto ela for sua esposa. Será
contraditório afirmar que o seu dinheiro aumentou, enquanto o do seu irmão
diminuiu, ou desapareceu Completamente? Então, quem realmente beneficiou mais da
herança? O filho, ou a filha?
Dificilmente se, poderá negar que, um exame
minucioso à Lei Islâmica da herança, dentro do estudo geral dos princípios da
Chari'ah, não só revela justiça mas, também, uma certa abundância de compaixão
pela mulher.
Conclusão: Quando o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele) tomou posse do Ofício Profético em 610 (Era Cristã), a
maioria das nações Européias debatiam arduamente a natureza da mulher:
"Será
que ela era realmente humana? Terá alma? Poderá Ter fé? Poderá ela adorar?
Poderá ela ser recompensada por Deus da mesma forma que o homem? Poderá ela ser
admitida no Paraíso? Poderá ela possuir bens? Poderá ela ter direito à herança?
Em resumo, deverá ela ser tratada como um ser humano, ou apenas como um boneco
nas mãos do homem?"
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele)
o Guia da humanidade, que numa época em que nenhum país, nenhum sistema, e
nenhuma religião dava qualquer direito, ou respeito à Mulher, solteira ou
casada, esposa ou mãe; que num país onde o nascimento de uma filha era
considerado uma calamidade, assegurou à mulher direitos que, à mulher Ocidental,
no século XX, são concedidos de uma forma relutante e sob pressão, pelo Ocidente
"civilizado"; e isso merece a gratidão da humanidade.
Se Muhammad (que a Paz
e a Bênção de Deus estejam sobre ele) nada mais tivesse feito do que emancipar a
mulher, a sua reivindicação para ser o maior benfeitor da humanidade teria sido
incontestável. Não será, então, malícia por parte de alguns críticos Ocidentais
para com o salvador da espécie feminina (que devolveu à mulher a sua posição
devida na sociedade), tornando-o como seu inimigo?
Dizemos isto porque, mesmo
hoje, no século XX, como no ano 610 quando Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele) tomou a seu cargo o Ofício Profético, as pessoas
desviadas do Ocidente continuam a proferir pensamentos maléficos sobre o
Islam.
8-Direito ao "Mahr" (Dote):
Para além de todas as precauções para a sua proteção na
altura do casamento, o Islam decretou, especificamente, que a mulher tem o pleno
direito ao seu "mahr" (dote), um presente matrimonial que lhe é oferecido pelo
seu marido, sendo incluído no contrato nupcial, e que tal posse não se transmite
ao seu pai, irmão, ou esposo.
O conceito de "mahr'' no Islam não é nem um
preço atual, nem um preço simbólico da mulher (como, foi o caso em certas
culturas), mas será, antes de mais, um presente simbolizando de amor e
afeto.
O "mahr" no Islam não é como o velho dote Europeu, que era ofertado
por um pai à filha na altura do casamento, tornando-se propriedade do futuro
marido.
Nem o "mahr" Muçulmano é semelhante ao "preço" da nora Africana, que
era pago pelo noivo ao pai da noiva, como forma de pagamento ou
compensação.
Pelo contrário, o "mahr" Muçulmano é um presente matrimonial do
noivo à noiva, ficando este presente como exclusiva propriedade dela.
O
Alcorão diz:
''Concedei os dotes que pertencem às mulheres.'' (Alcorão
Sagrado 4:4).
9– Privilégios
A mulher no Islam usufrui de certos privilégios. Durante o
período menstrual ela está isenta das preces e do jejum. Ela está isenta,
também, de todas as responsabilidades financeiras. Ela não precisa trabalhar ou
dividir com o marido as despesas domésticas. Todos os bens de família que ela
leva para o casamento são seus e o marido não tem qualquer direito sobre aqueles
pertences. Cabe notar que somente no século passado a Europa reconheceu o
direito de propriedade à mulher casada, em igualdades de condições com as
solteiras, viúvas e divorciadas, com a Lei da Propriedade da Mulher Casada, de
1879. Nenhuma mulher casada é obrigada a gastar um tostão de seus bens para
manter a casa. Em geral, a muçulmana tem garantido o sustento em todas as fases
de sua vida, seja como filha, esposa, mãe ou irmã. Como filha e irmã ela tem
garantido o sustento pelo pai ou irmão respectivamente. Ela também é livre para
trabalhar, se assim o quiser, e participar com o seu trabalho das
responsabilidades familiares. Não ohá no Alcorão ou na Suna qualquer texto
explícito que categoricamente proíba a muçulmana de procurar um emprego lícito.
Inclusive, algumas podem ser forçadas a buscar emprego a fim de sobreviverem,
principalmente em países onde inexistam medidas que assegurem a estabilidade
financeira das viúvas ou divorciadas. A mulher muçulmana foi privilegiada por
Allah (swt) em relação aos pais, pois a posição da mãe é três vezes superior a
do pai. O profeta disse: " O paraíso jaz aos pés das mães ". Portanto, a
obediência aos pais é uma obrigação do muçulmano, principalmente a mãe, pois ela
é a base da família e ela sofreu as dores do nosso parto, de nos educar e sofrer
para o nosso bem. Assim também, o Islam respeita a mulher como filha e ordena
que pai e mãe zelem pela educação das meninas e prometeu o paraíso para o
muçulmano que educar uma filha e a ensinar os bons modos islâmicos após terem
difundido na Arábia pré-islâmica que ter uma filha era motivo de vergonha e
desonra. Diz o Alcorão Sagrado: *E atribuem filhas a Allah (swt)! Glorificado
seja! E anseiam , para si, somente o que desejam. Quando a algum deles é
anunciado o nascimento de uma filha, o seu semblante se entristece e fica
angustiado. Oculta-se do seu povo, pela má notícia que lhe foi anunciada:
deixa-la-á viver, envergonhado, ou a enterrará viva? Quem péssimo é o que
julgam!* (16:57-59)
10 . Direito Quanto ao
casamento.
A mulher tem o direito de escolher com quem irá casar e
também manter o seu nome de solteira após o casamento, pois o nome é parte da
identidade e da personalidade da pessoa e, uma das formas de aprisionar a mulher
e colocá-la sob o domínio do homem, foi fazê-la adotar o nome do marido após o
casamento, como um objeto que é passado de uma pessoa para a outra. A primeira
mulher a ir contra essa agressão foi Lucy Stones, em 1885.
De acordo com a
Lei Islâmica, a mulher não pode ser forçada a casar sem o seu consentimento, não
é legal que um tutor force uma moça adulta a casar-se. Ninguém, nem mesmo o pai,
ou o soberano, pode, legalmente, casar uma mulher adulta sem a permissão desta,
seja ela virgem, ou divorciada.
Ibn 'Abbas narrou que uma jovem dirigiu-se ao
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) e relatou que
o seu pai a tinha forçado a casar-se sem o seu consentimento. O Profeta deu-lhe
a escolher entre aceitar o casamento, ou invalidá-lo. (Ibn Hanbal).
Para além
de todas as prevenções relativas à sua proteção durante o tempo do matrimônio, o
Islam decreta, especificadamente, que a mulher tem todo o direito ao seu "Mahr"
(dote). As regras para a vida de casado no Islam são claras e encontram-se em
harmonia com a verdadeira natureza humana. No tocante aos aspectos psicológico e
fisiológico do homem e da mulher, cada um possui iguais direitos e exigências
sobre o outro, à exceção de um tipo de responsabilidade o do chefe. Este é um
assunto natural de qualquer vida em comum, e que é consistente na natureza do
homem. Por isso, o Alcorão declara:
"E elas (as mulheres) têm direitos sobre
eles, como eles os têm sobre elas, condignamente; mas os maridos conservam um
grau (de primazia) sobre elas.'' (Alcorão Sagrado 2:228).
Tal grau é
"Qiwamah" (a manutenção e a proteção), isto refere-se à diferença natural entre
os sexos, que sujeita o sexo fraco à proteção. Tal não implica qualquer tipo de
superioridade, ou de vantagem, perante a lei. Todavia, o papel masculino de
chefe em relação à sua família, não significa a prepotência do marido sobre a
sua esposa.
Para além dos seus deveres básicos como esposa, existe o direito
que é, vivamente, recomendado pelo Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele) e vem sublinhado no Alcorão, o tratamento amistoso e
companheirismo.
''Harmonizai-vos entre elas, pois se as menosprezardes,
podereis estar depreciando seres que Deus dotou de muitas virtudes.'' (Alcorão
Sagrado 4:19).
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele) disse:
"O Melhor entre vós é aquele que for melhor para a sua família; e
eu sou o melhor entre vós para a minha família."
"Os Crentes mais perfeitos
são os melhores em conduta, e os melhores de entre vós são aqueles que são
melhores para as suas esposas." (Ibn Hanbal).
"Quanto mais cívico e amistoso
for um Muçulmano para com a sua esposa mais perfeita é a sua fé. "
(Tirmidhi).
''A mulher" - disse ele - ''É a rainha da sua casa."
Para o
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) a mulher não é
"um instrumento do Demônio", mas, sim, uma "Muhsanah" (uma fortaleza contra
Satanás).
Antes do advento do Islam, a união matrimonial do homem e da mulher
tinha sido vista com desaprovação, tendo sido considerada como depreciativa para
o homem em algumas religiões. Mas o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele) deitou abaixo todas estas considerações, de uma vez por
todas:
"O casamento está no meu destino, e quem declinar este meu caminho,
não é meu apoiante (ou seja não é meu seguidor).'' (Bukhari e Muslim).
Assim
como é reconhecido o direito à mulher de decidir sobre o seu casamento, também é
reconhecido o seu direito a procurar finalizar um matrimônio mal sucedido.
11-.Direito ao Divórcio.
Apesar de, no Islam, o casamento não ser uma relação
temporária, sendo considerado para durar toda a vida, a sua dissolução será
inevitável se ele falhar ao servir os seus propósitos. É nessa altura que surge
o divórcio.
Devemos esclarecer que, no Islam, o divórcio é o último recurso
quando todos os esforços conciliatórios falharem. A propósito do divórcio, o
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) avisou com
veemência:
"De todas as coisas legais, o divórcio é a mais detestável aos
olhos de Deus. "
O Islam não confina o direito ao divórcio só ao homem ou à
mulher, se a mulher não se sente segura, ou feliz com o seu marido, ou se este é
cruel para ela, ou se tornou impossível viver a o seu lado, ela tem o direito de
procurar o divórcio através de um Tribunal Muçulmano, sendo tal tipo de divórcio
denominado de "Khul'ah". Em qualquer dos casos, mesmo que o divórcio seja
concedido, ela deve ser tratada amistosamente. O Alcorão diz:
''O divórcio
revogável só poderá ser efetuado duas vezes. Depois, tereis de conservá-las
convosco dignamente ou separar-vos com benevolência. Está-vos vedado tirar-lhes
algo de tudo quanto lhes haveis dotado'' (Alcorão Sagrado2:229).
Islam
garantiu aos casais o direito ao divórcio. Aqui cabem algumas explicações a
respeito do assunto, uma vez que também o divórcio é objeto de falsas
interpretações. Não é verdade que a qualquer tempo basta um marido dizer à sua
esposa “Eu quero o divórcio” e pronto, ele está divorciado, largando a mulher (e
provavelmente os filhos) à própria sorte, em menos de 1 minuto. O sistema de
divórcio no Islam é o mais justo que existe. Se o casal decide se separar, o
marido pede o divórcio dizendo “Eu quero o divórcio”. A partir de então, começa
um tempo de espera que dura 3 períodos menstruais para que seja certificado que
a mulher não está grávida. Este períodoo permite ao casal ter um tempo para
pensar sobre o que estão fazendo e se é isso mesmo que eles querem. Durante este
período, o marido é obrigado a alimentar, vestir e abrigar a esposa. Não há
ninguém, nem mesmo advogado, envolvido nesta questão. Findo os três meses, e
comprovado que a mulher não está grávida, o divórcio se consuma. Se, por um
acaso, a mulher estiver grávida, o marido é obrigado a prover a ex-esposa do
necessário até o período do desmame, normalmente 2 anos. Como podemos observar,
não há como comparar as diferentes abordagens, uma vez que o comum no ocidente,
pelo menos no Brasil, é a mulher sair sempre lesada de uma separação, sem
garantia de direitos mínimos para a sua sobrevivência. Pior, até bem pouco tempo
atrás, ela entrava nessa sociedade conjugal com seus próprios bens, que acabava
perdendo pelo instituito da comunhão universal de bens, no caso de separação.
Somente em 1977, com a lei do divórcio é que a dissolução do casamento favoreceu
um pouco mais a mulher, com a introdução do regime da comunhão parcial de bens.
Mas, ainda assim, prevalece o conceito de que a obrigação alimentar devida pelo
ex-marido fica diretamente relacionada à “conduta moral” da esposa, o que no
Brasil, como bem sabemos, quer dizer, essa mulher não pode se casar de novo.
Por outro lado, só a partir de 1962, com a Lei 4.121, conhecida como o
Estatuto da Mulher Casada, é que a mulher brasileira alcançou sua capacidade
jurídica plena. Até então, ela era considerada relativamente incapaz, do ponto
de vista jurídico.
O casamento no Islam é uma bênção santificada, que não
deve ser quebrado, exceto por razões relevantes. Os casais são instruídos a
procurar salvar a instituição do casamento, por todos os meios possíveis. O
divórcio não é comum, a não ser que não haja outra solução. Em outras palavras,
o Islam reconhece o divórcio mas não o encoraja. O Islam dá à mulher muçulmana o
direito de pedir o divórcio pois reconhece que ela não pode ser refém de um mau
marido. Finalmente, é bom lembrar que o divórcio só muito mais tarde foi
introduzido na Europa e, no Brasil, há apenas muito pouco tempo, através da Lei
nº 65l5, de 26.12.77, do Sen. Nelson Carneiro.
12-Vida sexual
O Islam garantiu a mulher o direito ao prazer sexual, direito
que a ocidental só conquistou após a revolução sexual, pois antes a mulher que
demonstrava sentir prazer era considerada prostituta. No Islam é diferente, é
estabelecido o casamento como único entre homem e mulher e, dentro das regras do
casamento o profeta Muhammad (sallallaahu `alayhi wa sallam) disse: "Não tenhais
relações com vossas esposas como os animais. Que haja entre vós uma ligação!
Perguntaram-lhe: Que ligação é essa? Então disse: O beijo e a conversa.
O
Islam não nega, em hipótese alguma, a sexualidade do ser humano. O Islam não
advoga a supressão do anseio sexual através do celibato ou do monasticismo. O
homem é dotado por seu Criador de impulsos que o impelem às várias atividades
que garantem a sua sobrevivência. O principal objetivo do sexo é a própria
espécie. O Islam reconhece que o ser humano é tomado por emoções inexplicáveis
que o atraem irresistivelmente para o sexo oposto e, por isso mesmo, normatiza
as relações entre homens e mulheres. O Islam reconhece a importância do instinto
sexual, mas só admite a sua realização através do casamento lícito, proibindo
rigorosamente o sexo fora do casamento e tudo aquilo que possa conduzir à sua
prática de modo ilícito. Há uma tradição do Profeta onde ele menciona que a
relação sexual entre um casal é recompensada por Deus. Os companheiros ficaram
espantados: como era possível ter os desejos e prazeres completamente
satisfeitos e, ainda assim, obter recompensa divina? O Profeta, então, respondeu
que da mesma forma que uma relação extraconjugal era punida. O Islam se baseia
na crença na revelação divina. A sua lei e a sua moral estão baseadas nos
mandamentos divinos. Dentro desse contexto, homens e mulheres devem obedecer a
certas regras de comportamento e disciplina, a fim de evitar que o ilícito seja
praticado. O Islam tem imposto, recomendado e encorajado certos hábitos com o
fim de reduzir as oportunidades para a prática do ilícito. Além disso, toma as
precauções necessárias e possíveis, no tocante a sanções materiais, tais como,
proibição da promiscuidade, dos encontros reservados entre pessoas do sexo
oposto sem a presença de terceiros, etc. O fato de a mulher ficar atrás do homem
durante as orações não indica que ela seja inferior ao homem. Faz parte da
disciplina da oração o muçulmano se colocar em fila, ombro a ombro com o seu
irmão. As preces islâmicas envolvem atos, movimentos, posturas de prostração,
genuflexões que ocasionam contatos corporais e toque involuntário na pessoa que
está ao lado, diminuindo a concentração daquele que está em prece. Além do mais,
seria inapropriado e desconfortável para uma mulher ficar em tal posição,
prostra-se, inclinar-se e colocar a testa no chão, tendo atrás de si uma fileira
de homens. Assim, para evitar qualquer embaraço de ambas as partes, o Islam
ordenou a organização de filas, homens na frente, e mulheres atrás. O que deve
ser ressaltado é que as proibições são dirigidas a ambos os sexos. O que o Islam
proíbe para a mulher, também o faz para o homem. A modéstia é recomendada tanto
para homens como para mulheres. A castidade até a realização do casamento é
imperativo para homens e mulheres, igualmente. O adultério é proibido tanto para
homens como para as mulheres. Em suma, a forma como Islam encara o sexo é uma
linha muito estreita entre dois extremos. O primeiro é desqualificá-lo ao ponto
de sua total abstenção, através do celibato ou monasticismo, negando a própria
natureza humana, e o segundo é achar que é muito natural fazer sexo com quem
quer que seja, em qualquer lugar, sempre que se quiser. Enquanto no ocidente a
sensualidade, o amor entre um homem e uma mulher, atributos humanos concedidos
por Deus, são reduzidos à sua condição mais baixa e se transformam em
libertinagem, pornografia, o Islam não aceita, em hipótese nenhuma, a
superexposição do sexo, o sexo pelo sexo, com qualquer um, em qualquer lugar.
13-Direito ao Voto
A mulher muçulmana também pode votar. Enquanto ela teve este
direito há 1400 anos, nos Estados Unidos, a mulher só conseguiu esse direito em
1916, e no Brasil, em 1932.
14- Dignidade Humana:
Como ser humano, a mulher é perfeitamente igual ao homem, o
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele),
declarou:
"Na verdade, as mulheres são as irmãs dos homens."
Tal implica
que ambos, homem e mulher, provêem dos mesmos pais, ou seja, de Adão e Eva,
sendo assim, como pode a mulher ser inferior ao homem, se ela surge dos mesmos
pais? Realçando o mesmo, o Alcorão Sagrado observa:
''Ó humanos, em verdade,
Nós vos criamos de macho e fêmea ... Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante
Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado. ''
(Alcorão Sagrado 49:13).
Por outras palavras, a honra perante o Criador nunca
será dependente do sexo, mas sim da piedade.
15- Direito à Justiça:
Uma igualdade absoluta entre homem e mulher foi estabelecida
no Islam, no que diz respeito às leis civis e penais, a Lei Islâmica não
reconhece qualquer distinção entre elas no tocante à proteção da vida e da
propriedade, da honra e da reputação, Deus diz:
"E elas (as mulheres) têm
mesmos direitos sobre eles, como eles os têm sobre elas.'' (Alcorão Sagrado
2:228).
''Ó fiéis (homens e mulheres), sede firmes em observardes a justiça,
atuando de testemunhas, por amor a Deus, ainda que o testemunho seja contra vós
mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja contra vós
mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja o acusado rico
ou pobre, porque a Deus incumbe protegê-los. Portanto, não sigais os vossos
caprichos, para não serdes injustos; e se falseardes o vosso testemunho ou vos
recusardes a prestá-lo, sabei que Deus está bem inteirado de tudo quanto
fazeis.'' (Alcorão Sagrado 4:135).
A Lei Islâmica dita a pena de morte ao
assassino, tenha ele morto um homem ou uma mulher, uma vez que a vida desta é
tão sagrada quanto a daquele. Se uma mulher perdoar o assassino de um parente,
os outros familiares não têm autoridade para anular o seu consentimento no
perdão.
16- Igualdade Perante a Lei:
No que diz respeito à prescrição das penas, o Islam condena
da mesma forma, seja homem ou mulher, tomemos três exemplos: assassinato, roubo
e adultério. Vejamos quais as penas que o Islam aplica ao homem e à mulher. No
Alcorão Sagrado podemos ler:
''Ó fiéis, está-vos preceituado o talião para o
homicídio: livre por livre, escravo por escravo, mulher por mulher. Mas, se o
irmão do morto perdoar o assassino, devereis indenizá-lo espontânea e
voluntariamente. Isso é uma mitigação e misericórdia de vosso Senhor. Mas quem
vingar-se, depois disso, sofrerá um doloroso castigo. '' (Alcorão Sagrado
2:178).
''Quanto ao ladrão e à ladra, decepai-lhes a mão, como castigo de
tudo quanto tenham cometido.'' (Alcorão Sagrado 5:38).
''Quanto à adúltera e
ao adúltero, vergastai-os com cem vergastadas, cada um; que a vossa compaixão
não vos demova de cumprir a lei de Deus, se realmente credes em Deus e no Dia do
Juízo Final. Que uma parte dos fiéis testemunhe o castigo.'' (Alcorão Sagrado
24:2).
Assim, a partir dos versículos acima citados, fica perfeitamente
patente que a Lei Islâmica aplica, indiscriminadamente, os mesmos castigos a
ambos os transgressores, homem e mulher.
CONCLUSÃO
A mulher pode exercer qualquer função que não vá contra os
princípios do Islam, que não agrida a sua natureza feminina e que não a ocupe
totalmente, fazendo com que descuide da família, pois isso causa sérios
prejuízos a sociedade, pois acarreta na não educação materna, no abandono dos
filhos que serão entregues as "mães artificiais". No Islam, a mulher tem o
direito de ser sustentada pelo pai, irmão ou marido, visto ser uma injustiça
querer que ela trabalhe dentro e fora de casa.
A mulher tem grande
importância dentro do Islam, pois Allah (swt) é justo e distribui os direitos e
deveres de acordo com sua plena justiça.
E por incrível que pareça, o Islam
cresce mais entre as mulheres, e as novas muçulmanas alegam ter encontrado no
Islam o respeito que procuravam e os seus direitos garantidos sem segundas
intenções.
Os direitos conquistados pela mulher têm custado para a mulher
ocidental o que não custou para a mulher muçulmana. A mulher no ocidente está a
cair numa verdadeira armadilha. Dizem a ela: "Nós vamos te libertar, você vai
ser livre e ter os seus direitos". Porém, estes direitos não garantem o
principal direito: o respeito a mulher como ser humano, como mãe, como esposa ,
como irmã, como filha, como educadora.
Em nome da liberdade, a mulher é usada
e manipulada na sociedade. Seu corpo é vendido; é usado como uma estátua para
enfeitar os programas de auditório; a mulher é comparada a objetos em
comerciais, por acaso não lembram dos comerciais de cerveja na TV, em um deles
perguntam: O que o brasileiro mais gosta, mulher, cerveja, praia ou futebol? Em
outra propaganda aparece um senhor ao lado de duas moças com o seguinte slogan:
"troquei" uma de 51 por duas de 21. Comparar a mulher a futebol e cerveja e
trocá-la faz parte dos seus direitos?! Se a mulher tem um corpo formoso e belo é
valorizada e considerada, se não é mais uma! A moda que difundem na sociedade
tende a expor cada vez mais o corpo da mulher, e a convenceram de que isto é
liberdade, está sendo usada e assediada e acredita que isto lhe trará respeito e
dignidade, não percebe que assim ela está sendo submissa ao homem e está a
atender aos seus desejos e impulsos ilimitados.
Ao garantir os direitos da
mulher devemos nos preocupar em não prejudicá-la em nome deste direito, a
sobrecarregando e impondo a ela junto com estes direitos deveres que não fazem
parte de sua natureza. A condição da mulher no Islam é algo ímpar, novo, sem
qualquer semelhança com qualquer outro sistema. Se olharmos para as nações
democráticas do ocidente, vamos perceber que a mulher não desfruta dessa
posição. Ela é mais subjugada a padrões e regras de comportamento do que se
supõe que a mulher muçulmana o seja. Ela é o reflexo do poder masculino,
onipresente na sociedade ocidental cristã, que tem por objetivo delimitar o
papel das mulheres, normatizar seus corpos e almas, esvaziá-las de qualquer
saber ou poder ameaçador. A mídia exerce hoje o monopólio, antes exercido pela
Igreja, na construção (desconstrução) dessa mulher, impondo valores,
regulamentando o cotidiano das pessoas, determinando o uso do corpo de uma
perspectiva escatológica. No ocidente, a mulher é compelida a perseguir noções
abstratas de beleza , e, muitas das vezes, não percebe que está sendo manipulada
pelas companhias de cosméticos, indústrias de roupas e remédios. É um produto
tão descartável quanto qualquer mercadoria de supermercado. O rótulo (a
aparência) da mulher ocidental tem que obedecer a regras impostas de cima e
ingenuamente ela supõe que é livre para escolher a sua roupa, o seu sapato, a
cor do seu cabelo. A mulher ocidental, desde criança, é ensinada que o seu valor
é proporcional à sua beleza, aos seus atrativos. Só consegue um lugar ao sol
aquela que se veste assim, que fala assado, que vai ao lugar tal. No Brasil, por
exemplo, só consegue emprego quem tem “boa aparência”. A mulher, desde cedo é
empurrada para um mercado de trabalho selvagem, deslealmente competitivo, tendo
de se submeter a toda sorte de humilhações para conseguir o seu sustento. Foi
através de muita luta que a mulher ocidental alcançou esse esboço de liberdade.
Foram séculos de uma árdua luta para a mulher conquistar o direito de aprender,
de trabalhar, de ganhar o seu próprio sustento, de ter a sua própria identidade,
de ter personalidade e capacidade jurídica. Esta mulher pagou um alto preço para
provar sua condição de ser humano, provido de alma. A posição que a mulher
ocidental de nossos dias desfruta foi conquistada pela força e não por um
processo de mútuo entendimento. Ela abriu o seu caminho à força, a custa de
muitos sacrifícios, abrindo mão de sonhos e ideais. Muitas vezes as
circunstâncias a empurraram para um campo de batalha até então desconhecido. E
apesar disso tudo, de toda essa guerra, de tão pesados sacrifícios e lutas
dolorosas, ela ainda não conquistou o que o Islam estabeleceu para a mulher
muçulmana por decreto divino. De tudo o que foi dito, podemos inferir que a
condição das mulheres nas sociedades islâmicas atuais é a ideal? É compatível
com o que estabelece o Islam? Não, é claro que não. Mas, rotular a condição da
mulher no mundo muçulmano de hoje como “islâmica” está tão longe da verdade
quanto imaginar que a condição da mulher ocidental é de total liberdade para
usufruir direitos. Sabemos que em muitas partes do mundo muçulmano ainda
proliferam as condições opressivas e injustas. Os erros de alguns muçulmanos na
condução dos destinos de suas respectivas sociedades apenas provam que o ser
humano tem suas limitações. É absurdo tomar como regra geral islâmica o que não
passa de interpretações pessoais, contaminadas por todo um contexto
sócio-cultural. Os muçulmanos não podem ser julgados com base nas ações de uns
poucos e nem esses poucos são amostras significativas do verdadeiro significado
do Islam. O que precisa ficar claro é que não é o Alcorão que necessita ser
reexaminado, ou a Suna, e sim a prática humana, que muitas vezes reflete
aspectos culturais tão enraizados que distorcem o que foi decretado por Deus. É
preciso confrontar o passado e rejeitar práticas e costumes que se contraponham
aos preceitos do Islam. Assim, por exemplo, a condição da mulher no Afganistão,
que está condenada a ficar reclusa dentro de casa, não reflete os ensinamentos
do Alcorão nem tão pouco o exemplo de milhares de muçulmanas, que através da
História, tiveram participação efetiva em suas respectivas comunidades. A mulher
na Arábia Saudita está proibida de dirigir? Sim, está, mas esta é uma lei
saudita, humana, que não vigora no Irã, por exemplo. O que devemos compreender é
que existe uma imensa diferença entre a crença propriamente dita, conforme
revelada no Alcorão, e a prática de algumas sociedades supostamente islâmicas.
Tais práticas atendem muito mais a aspectos culturais específicos, a interesses
particulares, e não representam necessariamente o Islam e nem podem servir de
base para se denegrir o verdadeiro sentido do Islam. O Islam ainda tem muito a
oferecer à mulher de hoje, em termos de respeito, dignidade, reconhecimento.
Basta que ela tenha consciência disso e lute para implantar os ensinamentos
islâmicos. Para isso, ela tem todos os os instrumentos à sua disposição.
A MULHER NO ISLAM: MITO E
REALIDADE
Dr.Sherif AbdelAzeem Mohammed
Há 5 anos atrás, li no
Toronto Star, edição de 3.7.90, um artigo intitulado "O Islam não está sozinho
nas doutrinas patriarcais", de Gwyne Dyer. O artigo descrevia as reações
furiosas das participantes de uma conferência sobre mulheres e poder, realizada
em Montreal, aos comentários da famosa feminista egípcia, Dra. Nawal
Saadawi.
Suas declarações "politicamente incorretas", incluíam: "os elementos
mais restritivos em relação às mulheres, podem ser encontrados, primeiro no
Judaísmo, Velho Testamento, depois no Cristianismo e, finalmente, no Alcorão";
"todas as religiões são patriarcais porque elas provêm de sociedades
patriarcais"; e "o véu das mulheres não é uma prática especificamente islâmica
mas, sim, um herança cultural antiga, com analogia nas religiões irmãs". As
participantes não puderam ficar sentadas, enquanto suas crenças estavam sendo
igualadas ao Islam. Assim, a Dra. Saadawi recebeu uma avalanche de críticas. "Os
comentários da Dra. Saadawi eram inaceitáveis. Suas respostas revelavam uma
falta de compreensão acerca da fé das outras pessoas" , declarou Bernice Dubois,
do Movimento Mundial de Mães. "Eu tenho que protestar", disse a participante
Alice Shalvi, da televisão feminina de Israel, "não existe o conceito do véu no
Judaísmo". O artigo atribuía esses furiosos protestos a uma forte tendência no
Ocidente de culpar o Islam por práticas que são muito mais uma parte da própria
herança cultural do Ocidente.
"As feministas cristãs e judias não irão se
sentar para discutir, em igualdade de condições, com as más muçulmanas",
escreveu Gwyne Dyer.
Não me surpreendeu que as participantes da conferência
tivessem uma tal visão negativa do Islam, especialmente por envolver questões
femininas. Acredita-se, no Ocidente, que o Islam é o símbolo da subordinação das
mulheres por excelência. A fim de compreendermos como está enraizada tal crença,
basta mencionar que o Ministro da Educação da França, a terra de Voltaire,
recentemente ordenou a expulsão das escolas francesas, de todas as jovens
muçulmanas que vestissem o Hijab! Na França é negado a uma jovem muçulmana, que
usa um lenço, o direito à educação, enquanto que estudantes católicos podem usar
uma cruz ou um estudante judeu pode usar o solidéu. A cena de policiais
franceses, impedindo jovens muçulmanas com as cabeças cobertas de entrarem no
colégio, é inesquecível. Este fato nos traz à memória outra cena igualmente
triste, a do Governador George Wallace, do Alabama, em l962, em pé, defronte ao
portão da escola, tentando bloquear a entrada de estudantes negros, a fim de
impedir a desagregação das escolas do Alabama. A diferença entre as duas cenas é
que os estudantes negros tiveram a simpatia de muitas pessoas nos EUA e no mundo
inteiro. O presidente Kennedy enviou a Guarda Nacional Americana para forçar a
entrada dos estudantes negros. As moças muçulmanas, por outro lado, não
receberam a ajuda de ninguém. Sua causa parece ter muito pouca simpatia, tanto
dentro da França como fora. A razão é a incompreensão e o medo de tudo que seja
islâmico no mundo atual
O que mais me intrigou sobre a conferência de
Montreal foi uma questão: As declarações feitas por Saadawi, ou qualquer de suas
críticas, são verdadeiras? Em outras palavras, o Judaísmo, o Cristianismo e o
Islam têm o mesmo conceito sobre as mulheres? São tais conceitos diferentes? O
Judaísmo e o Cristianismo, na verdade, oferecem às mulheres um tratamento melhor
do que o Islam? Qual é a verdade?
Não é tarefa fácil pesquisar e encontrar
respostas para estas questões difíceis. A primeira dificuldade é que a pessoa
tem que ser honesta e objetiva ou, pelo menos, fazer o máximo para o ser. Isto é
o que o Islam ensina. O Alcorão instruiu os muçulmanos a dizerem a verdade,
mesmo que aqueles que estejam próximos a eles não gostem disso:
"... e se
falardes, sede justo, mesmo que se refira a um parente próximo" (6:152);
"Ó
aqueles que creram, erijam a justiça na partilha, como testemunhas de Alá, ainda
que contra vós mesmos, ou seus pais ou seus parentes, ..."
A outra grande
dificuldade é o fôlego irresistível do assunto. Por essa razão, durante os
últimos anos, passei muitas horas lendo a Bíblia, a Enciclopédia da Religião e a
Enciclopédia Judaica, na busca de respostas. Também li muitos livros que
discutem a posição das mulheres nas diferentes religiões, escritos por exegetas,
apologistas e críticos. O material apresentado nos capítulos seguintes
representa as descobertas importantes dessa humilde pesquisa. Eu não sou
objetivo, absolutamente. Isto está além da minha limitada capacidade. Tudo que
posso dizer é que tentei, através dessa pesquisa, me aproximar do ideal
alcorâmico de "falar imparcialmente".
Gostaria de enfatizar nesta introdução,
que minha proposta para este estudo não é denegrir o Judaísmo ou o Cristianismo.
Como muçulmanos, acreditamos nas origens divinas de ambos. Ninguém pode ser
muçulmano sem acreditar em Moisés e Jesus como grandes profetas de Deus. Meu
intento é somente afirmar o Islam e pagar um tributo para a última mensagem
verdadeira de Deus para a raça humana. Também gostaria de enfatizar que me
preocupei somente com a Doutrina, isto é, minha preocupação é, principalmente, a
posição das mulheres nas três religiões, como aparece em suas fontes originais,
e não como é praticada por seus milhões de seguidores no mundo hoje. Por causa
disso, a maior parte das evidências citadas vêm do Alcorão, dos ditos do Profeta
Mohammad, da Bíblia, do Talmud e dos ditos de alguns dos mais influentes padres
da Igreja, cujos pontos de vista contribuíram imensamente para definir e
desenhar o Cristianismo. Muitas pessoas confundem cultura com religião, e outras
não sabem o que seus livros religiosos dizem, e outras ainda, sequer se
preocupam com disso.
1. O ERRO DE EVA?
As três religiões concordam com um fato básico: Tanto as
mulheres como os homens foram criados por Deus, o Criador de todo o Universo.
Contudo, a divergência começa logo após a criação do primeiro homem, Adão, e da
primeira mulher, Eva. A concepção judaico-cristã da criação de Adão e Eva está
narrada detalhadamente em (Gênesis, 2:4-3:24). Lá está dito que Deus proibiu o
homem de comer do fruto da árvore proibida. O Senhor Deus deu ao homem uma
ordem, dizendo: "Podes comer de todas as árvores do jardim. 17 Mas, da árvore do
conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque no dia em que o fizeres
serás condenado a morrer". Também deu a mesma ordem à mulher. A serpente seduziu
Eva para que o comesse. E a mulher respondeu à serpente: "Do fruto das árvores
do jardim, Deus nos disse 'não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário
morrereis." A serpente replicou à mulher: "De modo algum morrereis 5 É que Deus
sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e sereis como
deuses, conhecedores do bem e do mal". E Eva, por sua vez, seduziu Adão para
comer com ela. (Gênesis 6) A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois
era atraente aos olhos e desejável para se alcançar inteligência. Colheu o
fruto, comeu-o e deu também ao marido, que estava junto. E ele comeu. E quando
Deus repreendeu Adão pelo que ele havia feito, ele colocou a culpa em Eva.
(Gênesis 11) Disse-lhe Deus: "E quem te disse que estavas nu? Então, comeste da
árvore, de cujo fruto te proibi?"12 E o homem disse: "A mulher que me destes por
companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore e eu o comi".
Consequentemente, Deus disse a Eva Gênesis 16: "Multiplicarei os sofrimentos de
tua gravidez. Em meio a dores darás à luz os filhos, a paixão arrastar-te-á para
o marido e ele te dominará". Para Adão Ele disse (Gênesis 17) "Porque ouviste a
voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será
a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida.
18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19
Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, de onde foste tirado.
Pois tu és pó e ao pó hás de voltar".
O conceito islâmico da primeira criação
é encontrado em muitas passagens do Alcorão, como por exemplo:
"E dissemos ó!
Adão, mora tu e tua zauj (mistura companheira) no Paraíso e comam dele
prosperamente onde lhes aprouver, e não vos aproximeis desta árvore e então
sereis dos injustos." (Alcorão 2:35).
Então, Satanás sussurrou para eles, a
fim de revelar a ambos o que lhes havia sido ocultado de SAUÉTIHIMÉ (suas ambas
e outras igualmente presentes, invisíveis, não bons atributos) e, então, disse:
"Não vos proibiu a ambos, Vosso Senhor, desta árvore senão de seres ambos
convertidos em anjos ou de serem ambos dentre os imortais". E jurou-lhes que era
um conselheiro sincero. Assim, a ambos, DALLÉHUMÉ (indicou a ambos em confiança,
porém, com enganos, arrancando-os e enviando-os para baixo, no que intencionou).
Quando ambos provaram da árvore, divisaram ambos suas SAUÉTIHIMÉ e começaram a
cobrir-se com folhas do paraíso. E seu Senhor chamou a ambos: "Eu não vos havia
proibido daquela árvore e dito a ambos que Satanás é vosso inimigo declarado?"
Eles disseram: "Senhor Nosso. Nós injustiçamos a nós mesmos e se Tu não nos
perdoares, Te apiedares de nós, certamente estaremos dentre os perdedores."
(7:20:23).
Um exame mais cuidadoso dos dois relatos sobre a Criação, revela
algumas diferenças essenciais. O Alcorão, ao contrário da Bíblia, coloca a culpa
igualmente em Adão e Eva pelo erro de ambos. Não há no Alcorão a mais leve
sugestão de que Eva tentou Adão, ou mesmo que ela tenha comido do fruto antes
dele. Eva, no Alcorão, não é insinuante, sedutora ou vencida. Além do mais, Eva
não pode ser culpada pelas dores do parto. Deus, de acordo com o Alcorão, não
pune ninguém pelas faltas do outro. Ambos, Adão e Eva, cometeram um pecado e
então pediram a Deus o perdão, e Ele os perdoou.
2. O LEGADO DE EVA
A imagem de Eva na Bíblia, como uma mulher sedutora, teve um
impacto extremamente negativo para as mulheres através da tradição
judaico-cristã. Acreditava-se que todas as mulheres haviam herdado de sua mãe, a
bíblica Eva, tanto a sua culpa como a sua astúcia. Consequentemente, as mulheres
não eram dignas de confiança, eram moralmente inferiores e más. Menstruação,
gravidez e parto eram considerados punições justas para uma culpa eterna do
amaldiçoado sexo feminino.
A fim de examinarmos como foi negativo o impacto
da Eva bíblica sobre sua descendência feminina, temos que olhar para os escritos
de alguns do mais importantes judeus e cristãos de todos os tempos. Comecemos
pelo Velho Testamento, e olhemos para alguns excertos da chamada Literatura da
Sabedoria, onde encontramos: "Eu acho a mulher um pouco pior do que a morte,
porque ela é uma armadilha, cujo coração é um alçapão e cujas mãos são cadeias.
O homem que agrada a Deus foge dela, mas ao pecador ela o aprisionará ...
enquanto eu estava procurando, e não estava encontrando, achei um homem correto
entre mil, mas não encontrei uma só mulher correta entre todas elas"
(Eclesiastes 7:26-28).
Em outra parte da literatura hebraica, que é
encontrada na bíblia católica, nós lemos: "Nenhuma maldade está mais próxima do
que a maldade de uma mulher" ... "O pecado começa com a mulher e, graças a ela,
todos nós devemos morrer". (Eclesiastes 25:19,24).
Os rabinos judeus listaram
nove maldições infligidas às mulheres, como resultado da Queda:
"Para a
mulher Ele deu nove maldições e a morte: o peso do sangue da menstruação e o
sangue da virgindade; o peso da gravidez; o peso do parto; o peso de educar
crianças; sua cabeça é coberta como no luto; ela fura a orelha como uma escrava
permanente, ou escrava que serve ao seu senhor; ela não deve ser tomada por
testemunha; e depois de tudo -- a morte". (2)
Nos dias atuais, judeus
ortodoxos, em suas preces matinais diárias, recitam "Abençoado seja Deus, Rei do
universo que não nos fez mulher". As mulheres, por outro lado, agradecem a Deus
cada manhã por "me fazer de acordo com Tua vontade". (3) Outra oração encontrada
em muitos livros de preces judeus: "Louvado seja Deus que não me criou gentio.
Louvado seja Deus que não me criou mulher. Louvado seja Deus que não me criou
ignorante". (4)
A Eva bíblica desempenhou um papel mais importante no
Cristianismo do que no Judaísmo. Seu pecado foi a base de toda a fé cristã,
porque a concepção cristã da razão da missão de Jesus Cristo na terra provém da
desobediência de Eva. Ela pecou e, então, seduziu Adão para segui-la em seu
propósito. Consequentemente, Deus expulsou a ambos do céu para a terra, que foi
amaldiçoada por causa deles. Eles herdaram seus pecados, os quais não foram
perdoados por Deus e, por isso, todos os humanos nascem em pecado. A fim de
purificar os seres humanos do "pecado original", Deus teve que sacrificar, na
cruz, Jesus, que é considerado o filho de Deus. Em razão disso, Eva é culpada de
seu próprio pecado, do pecado de seu marido, do pecado original de toda a
humanidade e da morte do Filho de Deus. Em outras palavras, uma só mulher,
agindo por conta própria, causou toda a queda da humanidade (5). O que dizer
sobre suas filhas? Elas são pecadoras como Eva e devem ser tratadas como tal.
Ouçam o tom severo de São Paulo no Novo Testamento: Uma mulher deve aprender em
calma e total submissão. Eu não permito a uma mulher ensinar ou ter autoridade
sobre um homem; ela deve ser calada. Porque Adão foi feito primeiro, e depois
Eva. E Adão não foi o que perdeu, foi a mulher que perdeu e se tornou pecadora
(I Timóteo 2:11-14).
São Tertuliano foi mais brando que São Paulo, quando
falava "às queridas irmãs" na fé. Ele dizia (6): "Vocês sabem que cada uma de
vocês é uma Eva? A sentença de Deus sobre o sexo de vocês subsiste até agora: a
culpa necessariamente subsiste também. Vocês são a porta de entrada para o
Diabo: Vocês são a marca da árvore proibida: Vocês são as primeiras desertoras
da divina lei: Vocês são aquelas que persuadiram o homem de que o diabo não
precisava ser atacado. Vocês destruíram tão facilmente a imagem de Deus, o
homem. Por causa de sua deserção, o Filho de Deus teve que morrer".
Santo
Agostinho foi fiel ao legado de seus antecessores. Ele escreveu a um amigo:
"Qual é a diferença, seja uma esposa ou uma mãe, ainda assim é da Eva tentadora
que devemos nos precaver em qualquer mulher. Eu não consigo ver qual o uso que
uma mulher pode ter para um homem, exceto a função de dar à luz crianças".
Séculos mais tarde, São Tomás de Aquino ainda considerava a mulher como um
defeito: "Com relação à natureza individual, a mulher é defeituosa e mal feita,
porque a força ativa na semente masculina tende para a produção de uma perfeita
semelhança no sexo masculino; enquanto que a produção da mulher provém de um
defeito na força ativa ou de alguma indisposição material, ou mesmo de algumas
influências externas".
Finalmente, o famoso reformador Martinho Lutero não
conseguia ver qualquer benefício em uma mulher, a não ser trazer ao mundo tantas
crianças quanto possível, apesar das conseqüências: "Se elas se cansarem ou
mesmo morrerem, isto não é problema. Deixe-as morrer no parto, é para isso que
estão aqui".
Muitas vezes as mulheres foram denegridas por causa da imagem de
Eva como a tentadora, graças ao relato em Gênesis. Para resumir, a concepção
judaico-cristã sobre as mulheres foi envenenada pela crença na natureza
pecaminosa de Eva e de sua descendência feminina.
Se agora voltarmos nossa
atenção para o que o Alcorão diz sobre as mulheres, logo perceberemos que a
concepção islâmica sobre elas é radicalmente diferente daquela encontrada no
conceito judaico-cristão. Deixemos que o Alcorão fale por si mesmo:
"Quanto
aos muçulmanos e muçulmanas, aos fiéis e às fiéis, aos devotados e às devotadas,
aos verdadeiros e às verdadeiras, aos homens e mulheres que são perseverantes,
aos homens e mulheres que são humildes, para os homens e mulheres que fazem a
caridade, para os homens e mulheres que jejuam, aos homens e mulheres que
guardam a castidade, e aos homens e mulheres que se comprometem em louvar Alá,
para todos eles Alá preparou o perdão e uma grande recompensa" (33:35).
"Os
crentes, homens e mulheres, são protetores uns dos outros: usufruem do que é
justo e proíbem o mal, observam as preces regulares, praticam a caridade
regularmente e obedecem a Alá e Seu Mensageiro. Sobre eles Alá despejará Sua
Misericórdia: porque Alá é Exaltado em poder e sabedoria" (9:71)
"E seu
Senhor respondeu a eles: Verdadeiramente, jamais perderei a obra de qualquer um
de vós, seja homem ou mulher, porque procedeis uns do outros" (3:195)
"Quem
cometer uma iniquidade será pago na mesma moeda e aquele que praticar o bem,
seja homem ou mulher, e é um crente, entrará no Jardim de felicidade"
(40:40).
"Quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for fiel, concederemos
uma vida agradável e premiaremos com uma recompensa, de acordo com o melhor de
suas ações" (16:97).
Está claro que a visão do Alcorão a respeito da mulher
não difere da do homem. Ambos são criaturas de Deus e têm como sublime meta
adorar seu Senhor, fazer boas ações e evitar o mal e por isso serão avaliados
harmoniosamente. O Alcorão jamais menciona que a mulher é a porta de entrada
para o mal ou que ela é uma enganadora por excelência. O Alcorão também jamais
menciona que o homem é a imagem de Deus. Homens e mulheres são suas criaturas e
só.
De acordo com o Alcorão, o papel da mulher na terra não está limitado
somente ao parto. Dela se exige fazer boas ações, tanto quanto é exigido dos
homens. O Alcorão nunca diz que jamais existiu uma mulher correta. Pelo
contrário, o Alcorão instruiu a todos os crentes, homens e mulheres, a seguir o
exemplo daquelas mulheres , tais como a Virgem Maria e a esposa do Faraó:
"E
Deus dá, como exemplo aos fiéis, o da esposa do Faraó, que disse: Ó Senhor meu,
construí, junto a ti, uma morada no Paraíso e livra-me do Faraó e de suas ações,
e salva-me dos iníquos! E com Maria, filha de Imram, que conservou seu pudor e a
qual alentamos com o Nosso Espírito; e ela testemunhou a verdade das palavras de
seu Senhor e de Suas revelações e era uma das devotas" (66:11/13).
3. FILHAS VERGONHOSAS?
Realmente, a diferença entre a atitude bíblica e a
alcorâmica, em relação ao sexo feminino, começa logo que a mulher nasce. Por
exemplo, a Bíblia estabelece que o período do ritual materno da impureza é duas
vezes mais longo no caso do nascimento de uma menina do que no de um menino
(Levítico 12:2-5) . A Bíblia Católica estabelece explicitamente que: "O
nascimento de uma filha é uma prejuízo" (Eclesiastes 22:3). Em contraste com
essa absurda declaração, os meninos recebem especial louvor: "Um homem que educa
seu filho será invejado por seu inimigo" (Eclesiastes 30:3).
Os rabinos
judeus tornaram uma obrigação para os homens produzirem uma descendência, a fim
de propagar a raça. Ao mesmo tempo, eles não escondiam sua preferência por
meninos: "É bom para aqueles cujas crianças são meninos, mas é mau para aqueles
cujas crianças são meninas", " no nascimento de um menino tudo é alegria ... no
nascimento de uma menina tudo é tristeza", e "Quando um menino chega ao mundo, a
paz chega ao mundo ... Quando uma menina chega ao mundo, nada chega". (7)
Uma
filha é considerada um peso doloroso, uma fonte potencial de vergonha para seu
pai: "Sua filha é teimosa? Mantenha um olhar firme para que ela não faça de você
um motivo de gargalhada para seus inimigos, de falatório na cidade, objeto de
fofocas e coloque você em situação de vergonha pública" (Eclesiastes 42:11).
Mantenha uma filha teimosa sob firme controle ou ela abusará de qualquer
indulgência que receba. Mantenha vigilância sobre seu olho sem-vergonha, não se
surpreenda se ela o desgraçar" (Eclesiastes 26:10-11). Foi esta mesma idéia de
tratar as filhas como fonte de vergonha, que levou os árabes pagãos , antes do
advento do Islam, a praticar o infanticídio feminino. O Alcorão condena
vigorosamente esta prática hedionda:
"Quando a algum deles é anunciado o
nascimento de uma filha o seu semblante se entristece e fica angustiado.
Oculta-se do seu povo, pela má notícia que lhe foi anunciada: deixá-la-á viver,
envergonhado, ou a enterrará viva? Que péssimo é o que julgam."
(16:58/59).
Deve ser dito que, este crime sinistro, jamais teria parado na
Arábia, não fora a força dos termos que o Alcorão usou para condenar tal prática
(l6:59, 43:17, 8l:8/9).
Além disso, o Alcorão não faz distinção entre meninos
e meninas. Em contraste com a Bíblia, o Alcorão considera o nascimento de uma
mulher como um presente e uma bênção de Deus, da mesma forma que o nascimento de
um menino.O Alcorão sempre menciona o presente do nascimento feminino primeiro:
"A Alá pertence o domínio dos céus e da terra. Ele cria o que lhe apraz.
Concede filhas a quem quer e filhos a quem lhe apraz" (42:49).
A fim de
apagar qualquer traço do infanticídio feminino na nascente sociedade muçulmana,
o Profeta Mohammad prometeu àqueles que fossem abençoados com filhas uma grande
recompensa, se eles as tratassem gentilmente: "Aquele que se ocupa da educação
das filhas e as trata benevolentemente, estará protegido contra o Inferno"
(Bukhari e Muslim). "Aquele que mantém duas meninas, até que elas atinjam a
maturidade, ele e eu chegaremos no dia da ressurreição desse modo: e ele juntou
seus dedos" (Muslim).
4. A EDUCAÇÃO FEMININA?
A diferença entre os conceitos bíblicos e os alcorânicos
sobre a mulher não está limitada apenas ao seu nascimento, ela vai muito mais
longe. Comparemos suas atitudes em relação à mulher, tentando aprender sua
religião. O coração do judaísmo é a Tora, a lei. Contudo, de acordo com o
Talmud, "as mulheres estão isentas de estudarem a Tora". Alguns rabinos declaram
firmemente "é preferível que as palavras da Tora sejam destruídas pelo fogo a
serem partilhadas com uma mulher", e "aquele que ensina a sua filha a Tora é
como se ele lhe ensinasse obscenidade" (8).
A atitude de São Paulo no Novo
Testamento não é mais inteligente: "Como em todas as congregações de santos, as
mulheres devem permanecer caladas nas igrejas. Não é permitido a elas falar, e
devem ser submissas, como a lei diz. Se elas quiserem perguntar sobre alguma
coisa, devem perguntar aos seus maridos em casa; porque é vergonhoso para uma
mulher falar nas igrejas". (I Coríntios 14:34/35)
Como pode a mulher se
instruir se não lhe é permito falar? Como pode uma mulher crescer
intelectualmente se ela é obrigada a um estado de completa submissão? Como pode
ela delinear seus horizontes, se sua única fonte de informação é seu marido em
casa?
Agora, para ser gentil, devemos perguntar: A posição alcorânica é
diferente? Uma pequena estória narrada no Alcorão resume sua posição
concisamente. Khawlah era uma muçulmana, cujo marido Aws declarou, em um momento
de raiva: "Para mim você é como as costas de minha mãe". Isto era tomado como
uma declaração de divórcio pelos árabes pagãos e liberava o marido de qualquer
responsabilidade conjugal, mas não deixava a esposa livre para deixar a casa do
marido ou para se casar de novo. Tendo ouvido estas palavras de seu marido,
Khawlah estava numa triste situação. Ela foi direto ao Profeta do Islam para
apelar para o seu caso. O Profeta era de opinião que ela deveria ser paciente,
desde que parecesse que não havia outro caminho. Khawlah continuou questionando
o Profeta, na esperança de salvar o seu casamento. Rapidamente, o Alcorão
interveio e o apelo de Khawlah foi aceito. O veredicto divino aboliu este
costume iníquo. Um capítulo inteiro (Capítulo 58) do Alcorão, intitulado A
Discussão, ou "A mulher que questionou", foi nomeado após este incidente:
"Alá ouviu e aceitou a declaração da mulher que apela a você (o Profeta)
acerca de seu marido e leva sua queixa à Alá e Alá ouve os argumentos entre
vocès, porque Alá ouve e vê todas as coisas ..." (58:1)
A mulher na concepção
alcorânica, tem o direito de argumentar, mesmo com o Profeta do Islam. Ninguém
tem o direito de instruí-la a ficar calada. Ela não é obrigada a considerar seu
marido como a única referência em matéria de lei e religião.
5. A MULHER SUJA E IMPURA
As leis e regulamentos judaicos, referentes à mulher
menstruada, são extremamente restritivos. O Velho Testamento considera qualquer
mulher menstruada impura e suja. Além disso, sua impureza "infecta" outras
pessoas também. Qualquer um ou qualquer coisa tocada por ela torna-se sujo por
um dia: "Quando uma mulher tem seu fluxo regular de sangue, a impureza de seu
período mensal durará por sete dias e qualquer um que a toque estará sujo até a
noite. Qualquer lugar onde ela se deite, durante o seu período, ficará sujo e
qualquer lugar onde ela se sente ficará sujo. Qualquer um que toque sua cama
precisa lavar suas roupas e banhar-se com água e ele ficará sujo até a noite.
Qualquer um que toque qualquer lugar onde ela se senta deve lavar suas roupas e
banhar-se com água e ele estará sujo até a noite. Se for a cama ou qualquer
coisa que ela estava sentada, que alguém tocou, ele ficará sujo até a noite"
(Levítico 15:19/23).
Devido à sua natureza "contaminadora", uma mulher
menstruada era "banida" algumas vezes, a fim de evitar qualquer possibilidade de
contato com ela. Ela era mandada para um lugar especial, chamado "a casa das
impuras", por todo o período de sua impureza (9). O Talmud considera a mulher
menstruada como "fatal", mesmo que não haja qualquer contato físico: "Nossos
rabinos ensinaram: ... se uma mulher menstruada passar entre 2 (homens), se ela
estiver no início de suas regras, ela matará um deles e se estiver no final de
suas regras ela causará briga entre eles" (bPes. 111a.)
Além disso, o marido
de uma mulher menstruada era proibido de entrar na sinagoga, se ela o tivesse
feito ficar impuro, mesmo que pela poeira de seus pés. Um pastor, cuja esposa,
filha ou mãe estivessem menstruadas, não podia recitar as bênçãos na sinagoga
(10) . Não espanta que muitas mulheres judias se refiram à menstruação como "a
maldição".
O Islam não considera a mulher menstruada como possuída por
qualquer espécie de "sujeira contagiosa". Ela não é nem "intocável" nem
"amaldiçoada". Ela pratica sua vida normal, apenas com algumas restrições. Um
casal não pode ter relações sexuais durante o período menstrual. Qualquer outro
contato físico entre eles é permitido. Uma mulher menstruada está isenta de
alguns rituais, tais como as preces diárias e o jejum durante o seu
período.
6. DAR O TESTEMUNHO
Outra questão, na qual o Alcorão e a Bíblia discordam, é a
que se refere ao testemunho da mulher. Na verdade, o Alcorão instruiu os crentes
a fazerem transações financeiras com o testemunho de 2 homens ou 1 homem e 2
mulheres (2:282). Contudo, é também verdade que o Alcorão, em outras situações,
aceita o testemunho da mulher tão igual quanto ao do homem. Realmente, o
testemunho da mulher pode mesmo invalidar o do homem. Se um homem acusa sua
esposa de falta de castidade, exige-se dele um juramento solene pelo Alcorão,
por 5 vezes, como evidência da culpa de sua esposa. Se a esposa nega e jura
igualmente 5 vezes, ela não é considerada culpada e em qualquer dos casos o
casamento é dissolvido (24:6/11).
Por outro lado, as primeiras sociedades
judaicas (12) não permitiam o testemunho feminino . Os rabinos contavam entre as
9 maldições infligidas às mulheres por causa da queda, a de não ser capaz de
prestar testemunho (ver a seção "Legado de Eva"). Hoje, em Israel, as mulheres
não podem apresentar provas em cortes rabínicas (13). Os rabinos justificam o
fato de as mulheres não poderem prestar testemunho, citando o Gênesis 18:9/16,
onde está estabelecido que Sara, esposa de Abraão, havia mentido. Por causa
desse incidente, os rabinos desqualificaram o testemunho feminino. Deve-se notar
que esta estória narrada em Gênesis 18:9/16 foi mencionada mais de uma vez no
Alcorão, sem qualquer sugestão de que Sara houvesse mentido (11:69/74,
5l:24/30). No ocidente cristão, as leis civis e eclesiásticas proibiam as
mulheres de dar testemunho até o final do século passado (14).
Se um homem
acusa sua mulher de infidelidade, seu testemunho, segundo a Bíblia, não será
considerado de maneira nenhuma. A esposa acusada tinha que ser submetida a um
julgamento penoso. Neste julgamento, a esposa enfrentava um ritual complexo e
humilhante, no qual se supunha provar sua culpa ou inocência (Números 5:11/31).
Se ela fosse culpada ela seria sentenciada à morte. Se ela fosse inocente, seu
marido seria inocentado de qualquer injustiça. Além disso, se um homem toma uma
mulher como esposa e, então, ele a acusa de não ser virgem, o testemunho dela
não será levado em conta. Seus pais tinham que trazer provas de sua virgindade
ante os mais velhos da cidade. Se os pais não pudessem provar a inocência de sua
filha, ela seria apedrejada até a morte na soleira da casa de seus pais. Se os
pais não fossem capazes de provar sua inocência, o marido seria obrigado a pagar
uma multa e não poderia se divorciar da esposa enquanto ele vivesse: "Se um
homem toma uma esposa e, após deitar com ela, se desagrada dela e a difama
chamando-a por nomes feios, dizendo, "Eu me casei com esta mulher, mas quando eu
me aproximei dela eu não encontrei provas de sua virgindade", então os pais da
moça deverão trazer para os mais velhos da cidade a prova de que ela era virgem.
O pai da moça dirá aos mais velhos, "Eu dei minha filha em casamento a este
homem, mas ele se antipatizou com ela. Agora, ele está difamando-a e diz "eu não
encontrei a sua filha virgem". Mas, aqui está a prova da virgindade da minha
filha". Então, seus pais exibirão a roupa perante os anciãos da cidade e eles
punirão o homem. Eles o multarão em 100 moedas de prata e as darão ao pai da
moça, porque esse homem deu um nome mau para uma virgem israelita. Ela
continuará a ser sua esposa e ele não poderá se divorciar dela enquanto viver.
Se, contudo, a acusação for verdadeira e nenhuma prova da virgindade da moça
puder ser encontrada, ela será trazida à porta da casa de seu pai e lá, os
homens da cidade a apedrejarão até a morte. Ela fez uma coisa vergonhosa para
Israel, sendo promíscua enquanto estava na casa de seu pai. O mal deve ser
expurgado de entre vocês." (Deuteronômio 22:13/21)
7. O ADULTÉRIO
O adultério e a fornicação são considerados pecados em todas
as religiões. A Bíblia decreta a sentença de morte para ambos os adúlteros
(Levítico 20:10). O Islam, igualmente, pune tanto o adúltero como a adúltera
(24:2). Contudo, a definição alcorânica é muito diferente da definição bíblica.
O adultério, de acordo com o Alcorão, é o envolvimento de um homem casado ou uma
mulher casada em um caso extraconjugal. A Bíblia somente considera adultério o
caso extraconjugal de uma mulher casada. (Levítico 20:10, Deuteronômio 22:22.
Provérbios 6:20/7:27).
"Se um homem é encontrado dormindo com a esposa de
outro homem, ambos devem morrer. Deve-se expurgar o mal de Israel" (Deuteronômio
22:22).
"Se um homem comete adultério com a esposa de outro homem, ambos,
adúltero e adúltera devem ser colocados para morrer" (Levítico 20:10).
De
acordo com a definição bíblica, se um homem casado dorme com uma mulher
solteira, isto não é considerado crime de forma nenhuma.
O homem casado, que
tem relações extraconjugais com mulheres solteiras, não é um adúltero e as
mulheres solteiras envolvidas com ele não são consideradas adúlteras. O crime de
adultério é cometido somente quando um homem, seja casado ou solteiro, dorme com
uma mulher casada. Neste caso, o homem é considerado adúltero, mesmo que ele não
seja casado, e a mulher é considerada adúltera. Em resumo, o adultério é
qualquer ato sexual ilícito envolvendo mulher casada. O caso extraconjugal de um
homem casado não é, de per si, um crime na Bíblia. Por que este padrão moral
duplo? De acordo com a Enciclopédia Judia, a esposa era considerada como posse
de seu marido e o adultério constituía a violação do exclusivo direito do marido
sobre ela; a esposa, como posse do marido, não tinha direito sobre ele (15).
Quer dizer, se um homem tinha uma relação sexual com uma mulher casada, ele
estaria violando a propriedade de outro homem e, assim, deveria ser
punido.
Nos dias atuais em Israel, se um homem casado se entrega a um caso
extraconjugal com um mulher solteira, seus filhos com esta mulher são
considerados legítimos. Mas, se uma mulher casada tem um caso com outro homem,
seja casado ou solteiro, seus filhos com este homem são considerados ilegítimos
e bastardos e são proibidos de casar com qualquer outro judeu, exceto com os
convertidos e com outros bastardos. Este impedimento cessa após a 10a. geração,
quando se presume que a mancha do adultério enfraqueceu-se (16).
O Alcorão,
por outro lado, nunca considera uma mulher como posse de qualquer homem. O
Alcorão eloqüentemente descreve a relação entre os esposos dizendo:
"E entre
os Seus sinais está que Ele criou para vós companheiros de entre vós mesmos, os
quais vós podeis habitar em tranqüilidade com eles e Ele colocou amor e
misericórdia em vossos corações: verdadeiramente, nisto há sinais para aqueles
que refletem" (30:21).
Este é o conceito alcorâmico de casamento: amor,
misericórdia e tranqüilidade, não posse e padrões duplos.
8. JURAMENTOS
De acordo com a Bíblia, um homem deve cumprir quaisquer
juramentos que ele faça a Deus. Ele não pode quebrar a sua palavra. Por outro
lado, o juramento de uma mulher não cria necessariamente uma obrigação para ela.
Deve ser aprovado pelo seu pai, se ela está morando em sua casa, ou por seu
marido, se ela for casada. Se um pai/marido não endossa os juramentos de sua
filha/esposa, todas as garantias feitas por ela tornam-se nulas e inócuas: "Mas,
se seu pai a proíbe quando ele a ouve fazer o juramento, nenhum de seus
juramentos ou garantias pelas quais ela se obrigava, permanecerão ... Seu marido
pode confirmar ou anular qualquer juramento que ela faça ou qualquer garantia
prometida para negar-lhe" (Números 30:2/15).
Por que a palavra de uma mulher
não a sujeita de per si? A resposta é simples: porque ela é propriedade de seu
pai, antes do casamento, ou de seu marido após o casamento. O controle paterno
sobre sua filha era absoluto até o ponto em que, se ele o desejasse, poderia
vendê-la! Está indicado nos escritos dos rabinos que: "O homem pode vender sua
filha, mas a mulher não pode vender sua filha; o homem pode contratar casamento
para a sua filha, mas a mulher não pode fazê-lo para sua filha". (17). A
literatura rabínica também indica que o casamento representa a transferência de
controle do pai para o marido: "o noivado, fazendo da mulher a posse sacrossanta
- a propriedade inviolável -- do marido ..."; Obviamente, se a mulher é
considerada propriedade de alguém, ela não pode dar qualquer garantia que seu
dono não aprove.
É de interesse notar que esta instrução bíblica, relativa
aos juramentos das mulheres, teve repercussões negativas sobre as mulheres
judias e cristãs até o início deste século. Uma mulher casada, no mundo
ocidental, não tinha status legal. Nenhum ato seu tinha qualquer valor legal.
Seu marido podia repudiar qualquer contrato, comércio ou negócio feito por ela.
As mulheres no ocidente (as maiores herdeiras do legado judaico-cristão) eram
tidas como incapazes de cumprir contratos porque elas eram praticamente a posse
de alguém. As mulheres ocidentais sofreram por quase 2 mil anos por causa da
postura bíblica em relação à posição da mulher, vis-a-vis seus pais e maridos
(18).
No Islam, o juramento de cada muçulmano, homem ou mulher, o/a sujeita.
Ninguém tem o poder de repudiar as garantias de quem quer que seja. Falhar na
manutenção de um juramento solene, feito por um homem ou uma mulher, tem que ser
expiado conforme indicado no Alcorão: "Ele (Deus) vos chamará pelos vossos
juramentos deliberados: como expiação, alimentai dez pessoas indigentes, da
maneira como alimentais vossa família,. ou vesti-os, ou libertai um escravo. Se
isso estiver além de vossas posses, jejuai por 3 dias. Esta é a expiação para os
vossos perjúrios. Mantenham, pois, vossos juramentos" (5:89).
Os companheiros
do Profeta Mohammad, homens e mulheres, costumavam apresentar seus juramentos de
submissão a ele pessoalmente. As mulheres, tanto quanto os homens,vinham
livremente até ele e prestavam seus juramentos: "Ó Profeta, quando as mulheres
crentes vierem a ti para fazer um acordo contigo de que elas não atribuirão
parceiros a Deus, nem roubarão, ou fornicarão, ou matarão seus próprios filhos,
não matarão ninguém, nem desobedecerão a ti em qualquer assunto, então tome este
compromisso com elas e peça a Deus o perdão para os pecados delas. Na verdade,
Deus é Perdoador e o mais Misericordioso (60:12).
Um homem não pode fazer um
juramento por conta de sua filha ou esposa. Nem pode um homem repudiar o
juramento feito por quaisquer de suas parentes femininas.
9. PROPRIEDADE DA ESPOSA?
As três religiões dividem uma fé inabalável na importância do
casamento e da vida familiar. Elas também concordam na liderança do marido sobre
a família. No entanto, diferenças gritantes existem entre as três religiões, com
relação aos limites dessa liderança. A tradição judaico-cristã, diferente do
Islam, virtualmente estende a liderança do marido até o direito de posse de sua
esposa.
A tradição judaica, com referência ao papel do marido em relação a
sua esposa, origina-se do conceito de que ele a possui como sua escrava (19).
Este conceito foi a razão que norteou o padrão duplo nas leis do adultério e na
capacidade de o marido anular os juramentos de sua esposa. Este conceito foi
também o responsável para se negar à esposa qualquer controle sobre sua
propriedade ou ganhos. Assim que a mulher judia se casava, ela perdia
completamente qualquer controle sobre sua propriedade e ganhos para o seu
marido. Os rabinos judeus afirmavam que o direito do marido sobre a propriedade
de sua esposa era um corolário de sua posse sobre ela: "Desde que alguém entre
na posse da mulher não deveria entrar na posse de sua propriedade também?" , e
"Desde que ele tenha adquirido a mulher, não deve ele adquirir sua propriedade
também?" (20). Assim, o casamento determinava que a mulher mais rica ficasse
praticamente sem um tostão. O Talmud descreve a situação financeira da esposa
como se segue:
"Como pode uma mulher ter alguma coisa; o que quer que seja
dela, pertence ao seu marido? O que é dele é dele e o que é dela é também dele
... Seus ganhos, e o que ela possa encontrar nas ruas, também são dele. Os
artigos domésticos, mesmo as migalhas de pão sobre a mesa, são dele. Ter um
convidado em sua casa e alimentá-lo é roubar de seu marido ..." (San. 71a, Git.
62a.).
A questão é que a propriedade da mulher judia significava atrair
pretendentes. A família judia fixava para sua filha uma quota representativa do
estado de seu pai, a ser usada como dote em caso de casamento. Era este dote que
tornava as filhas judias um peso inoportuno para seus pais. O pai tinha que
educar sua filha por anos e então prepará-la para o casamento, providenciando um
grande dote. Assim, a moça na família judia era uma obrigação e não um direito
(21). Esta responsabilidade explica por que o nascimento de uma filha não era
celebrado com alegria nas antigas sociedades judias (ver a seção "Filhas
Vergonhosas?". O dote era o presente de casamento apresentado ao noivo sob os
termos de contrato. O marido agia como o proprietário do dote mas não podia
vendê-lo. A noiva perdia qualquer controle sobre o dote no momento do casamento.
Além disso, esperava-se dela trabalhar após o casamento e todos os seus ganhos
tinham que ir par seu marido, como paga por sua manutenção, a qual era obrigação
dele. Ela poderia ter de volta sua propriedade somente em duas situações:
divórcio ou a morte do marido. Se ela morresse primeiro, ele herdaria sua
propriedade. No caso da morte do marido, a esposa poderia retomar sua
propriedade de antes do casamento, mas não se habilitava a herdar qualquer cota
de propriedade do marido falecido. Deve-se acrescentar que o noivo também tinha
que apresentar seu presente de casamento à noiva, contudo, de novo, ele era
praticamente o proprietário deste presente enquanto eles permanecessem casados.
(22).
O cristianismo, até recentemente, seguiu a mesma tradição judaica. No
império cristão romano (após Constantino), tanto as autoridades civis como as
religiosas, exigiam um acordo sobre a propriedade, como condição para o
reconhecimento do casamento. As famílias ofereciam às suas filhas aumento dos
dotes e, como resultado, os homens tendiam a se casar mais cedo, enquanto que as
famílias retardavam o casamento delas até o máximo. (23). Pela lei canônica, uma
esposa se habilitava à restituição de seu dote se o casamento fosse anulado, a
menos que ela fosse culpada de adultério. Neste caso, ela perdia seu direito ao
dote, o qual permanecia nas mãos do marido (24). Pelas leis canônica e civil,
uma mulher casada, na Europa cristã e na América, até o final do séc. XIX e
início do séc. XX, perdia os direitos a sua propriedade. Os direitos da mulher
inglesa, por exemplo, foram compilados e publicados em l632. Estes "direitos"
incluíam: "Aquilo que o marido possui é seu. Aquilo que a esposa tem é do
marido" (25)
A esposa não somente perdia sua propriedade após o casamento,
como perdia sua personalidade também. Nenhum ato jurídico dela tinha valor
legal. Seu marido podia repudiar qualquer compra ou presente feito por ela como
sendo nulo de qualquer valor legal. A pessoa com quem ela tivesse contratado era
tomado como um criminoso por ter participado de uma fraude. Além disso, ela não
podia processar, sequer seu marido, nem ser processada (26). Uma mulher casada
era praticamente tratada como uma criança aos olhos da lei. A esposa
simplesmente pertencia a seu marido e, por isso, ela perdia sua propriedade, sua
personalidade jurídica e seu nome de família (27)
O Islam, desde o séc. VII
d.C, garantiu às mulheres casadas personalidade independente, conquista essa que
as mulheres ocidentais se viram privadas até muito recentemente. No Islam, a
noiva e sua família não têm obrigação de presentear o noivo. A moça, numa
família muçulmana, não é responsável. Uma mulher é tão dignificada no Islam que
ela não precisa presentear ninguém, a fim de atrair maridos em potencial. É o
noivo que precisa presentear a noiva com um presente de casamento. Este presente
é considerado sua propriedade e, nem o noivo nem a família da noiva têm qualquer
direito ou controle sobre tal presente. Em algumas sociedades muçulmanas de
hoje, um presente de casamento no valor de US$100.000,00 não é incomum. A noiva
fica com o seu presente de casamento, mesmo que mais tarde ela se divorcie. Não
é permitida a participação do marido na propriedade de sua esposa, a não ser que
ela a ofereça a ele por sua livre e espontânea vontade (29). O Alcorão
estabelece sua posição a esse respeito muito claramente:
"E concedei os dotes
que pertencem às mulheres; mas se elas, de boa vontade, conceder-vos uma parte,
aceitai-o e desfrutai-o com bom proveito" (4:4).
A propriedade e os ganhos
da esposa estão sob seu completo controle e para seu uso somente, uma vez que a
sua manutenção e a das crianças é responsabilidade do marido (30). Não importa
quão rica seja a esposa, ela não é obrigada a agir como co-provedora para a
família, a menos que, voluntariamente, escolha fazê-lo. O casal herda entre si.
Além disso, uma mulher casada no Islam conserva sua personalidade legal
independente e o nome se sua família (3l). Um juiz americano, certa vez,
comentando sobre os direitos das mulheres muçulmanas, disse: "Uma muçulmana pode
se casar 10 vezes, mas sua individualidade não é absorvida pela de seus vários
maridos. Ela é um planeta solar, com um nome e uma personalidade jurídica
própria" (32).
10. DIVÓRCIO
As três religiões têm diferenças importantes em suas posições
em relação ao divórcio. O cristianismo abomina o divórcio complemente. O Novo
Testamento, inequivocamente, advoga a indissolubilidade do casamento. Atribui-se
a Jesus o ter dito, "mas eu digo a vocês que qualquer que se divorcie de sua
esposa, exceto pôr infidelidade, transforma a mulher em adúltera, e qualquer um
que se case com uma mulher divorciada comete adultério" (Mateus, 5:32). Este
ideal intransigente é, sem dúvida, irreal. Ele pressupõe um estado de perfeição
moral que as sociedades humanas jamais alcançaram. Quando um casal percebe que
sua vida conjugal não tem mais jeito, negar o divórcio em nada irá ajudá-lo.
Forçar casais, que não se dão bem, a viverem juntos contra suas vontades não
produz qualquer efeito, além de não ser razoável. Não espanta que o mundo
cristão tenha sido obrigado a sancionar o divórcio.
O judaísmo, por outro
lado, permite o divórcio, mesmo sem qualquer razão ou causa. O Velho Testamento
dá ao marido o direito de se divorciar de sua esposa, mesmo que ele apenas se
antipatize por ela: "Se um homem se casa com uma mulher que venha a se tornar
desagradável a ele, porque ele descobre alguma coisa indecente sobre ela, ele
assina o certificado de divórcio e o dá para a esposa e a manda embora de sua
casa. E se, depois que ela deixar a sua casa, e se tornar a esposa de um outro
homem, e esse segundo marido não a quiser mais, se ele emitir o certificado de
divórcio, e a mandar embora de sua casa, ou se ele morrer, aquele primeiro
marido, que havia se divorciado dela, não pode mais se casar com ela"
(Deuteronômio 24:1/4).
Os versos acima, causaram alguns debates consideráveis
entre os exegetas judeus, por causa da discordância com o significado das
palavras "desagradar", "indecência" e "antipatizar", mencionadas neles. O Talmud
registra suas diferentes opiniões: "A escola de Shamai entendeu que um homem não
deve se divorciar de sua esposa, a menos que ela seja culpada de alguma má
conduta sexual, enquanto que a escola de Hillel diz que ele pode se divorciar,
mesmo que ela simplesmente tenha quebrado um prato. O Rabino Akiba diz que o
homem pode se divorciar dela simplesmente porque ele encontrou uma mulher mais
bonita do que sua esposa" (Gittin 90 a-b).
O Novo Testamento segue a opinião
dos Shamaitas, enquanto que a lei judaica tem seguido a opinião dos Hillelitas e
a do Rabino Akiba (33).
Desde que o ponto de vista dos Hillelitas tem
prevalecido, a tradição da lei judaica, de permitir o divórcio sem uma causa
forte, foi quebrada. O Velho Testamento não só dá ao marido o direito ao
divórcio de uma esposa "desagradável", como considera o divórcio de uma "esposa
má" uma obrigação: "Uma esposa má traz humilhação, olhar abatido e coração
ofendido. Mãos frouxas e joelhos fracos tem o homem cuja mulher falhou em
fazê-lo feliz. A mulher é a origem do pecado e é por causa dela que nós todos
vamos morrer".
"Não deixe que o vazamento da cisterna goteje, nem permita que
uma esposa má diga do que ela gosta. Se ela não aceitar o seu controle,
divorcie-se dela e mande-a embora" (Eclesiastes 25:25).
O Talmud registrava
uma série de atos das esposas, pelos quais os maridos eram obrigados a se
divorciar delas: "se ela comeu na rua, se ela bebeu avidamente na rua, se ela
amamentou na rua, em cada caso, o Rabino Meir diz que ela deve deixar seu
marido" (Git. 89a). O Talmud também torna obrigatório o divórcio de uma mulher
estéril (que não gera filhos por um período de 10 anos): "Nossos rabinos
ensinaram: Se um homem tomou uma esposa e viveu com ela por 10 anos e ela não
gerou filhos, ele deve se divorciar dela (Yeb.64a).
As esposas, por outro
lado, não podiam iniciar o divórcio de acordo com a lei judaica. A esposa judia,
contudo, poderia reclamar o direito ao divórcio perante uma corte judia, desde
que apresentasse uma forte razão para tal. São muito poucas coisas que uma
esposa podia apresentar para pedir o divórcio: um marido com defeitos físicos ou
doença de pele, um marido que não cumprisse suas responsabilidades conjugais,
etc. A Corte pode ajudar na reclamação da esposa, mas não pode dissolver o
casamento. Somente o marido pode fazê-lo. A corte podia açoitar, mandar prender
e excomungar o marido para obrigá-lo a conceder o certificado de divórcio.
Contudo, se o marido é teimoso o suficiente, ele pode se recusar a garantir o
direito de divórcio à sua esposa e mantê-la amarrada a ele indefinidamente. Pior
ainda, ele pode deserdá-la sem lhe garantir o divórcio e deixá-la descasada e
sem estar divorciada. Ele pode se casar com outra mulher, ou mesmo morar com
qualquer mulher solteira fora do lar e ter filhos desta última (estas crianças
são consideradas legítimas pela lei judaica). A esposa deserdada, por outro
lado, não pode se casar com ninguém, porque ela será considerada adúltera e os
filhos de uma futura união são considerados ilegítimos por 10 gerações. Uma
mulher em tal situação é chamada de "agunah" (mulher presa) (34).
Nos USA,
hoje, há aproximadamente de 1000 a 1500 mulheres judias que são "agunot",
enquanto que em Israel o seu número pode estar acima dos 1600. Os maridos podem
extorquir milhares de dólares dessas mulheres presas em troca de um divórcio de
acordo com a lei judaica (35).
O Islam ocupa o meio termo entre o
Cristianismo e o Judaísmo, com relação ao divórcio. O casamento no Islam é uma
bênção santificada, que não deve ser quebrada, exceto por razões relevantes. Os
casais são instruídos a procurar todos os remédios possíveis, sempre que seus
casamentos estiverem sob ameaça. O divórcio não é para ser usual, exceto quando
não há qualquer outro caminho ou solução. Resumidamente, o Islam reconhece o
divórcio, contudo ele o desencoraja por todos os meios possíveis.
O Islam
reconhece o direito de ambos os parceiros terminarem suas relações matrimoniais.
O Islam dá ao marido o direito ao divórcio. Além disso, o Islam, diferentemente
do Judaísmo, garante à esposa o direito de dissolver o casamento através do que
é conhecido como "Khula" (36). Se o marido dissolve o casamento, ele não pode
retirar qualquer dos presentes de casamento que ele tenha dado a ela. O Alcorão
explicitamente proíbe aos maridos divorciados de terem de volta os presentes de
casamento, não importando quanto eles tenham custado.
"Mas, se vos decidirdes
tomar outra esposa no lugar da primeira, mesmo que vós tenhais dado à primeira o
maior tesouro como dote, não o diminua em um pedaço. Tomá-lo-íeis de volta, com
uma falsa imputação de erro manifesto?" (4:20).
No caso de ser a esposa a
escolher o fim do casamento, ela pode devolver os presentes a seu marido.
Retornar os presentes de casamento é uma compensação para o marido que gostaria
de manter a esposa, enquanto que ela escolheu deixá-lo. O Alcorão instruiu os
muçulmanos a não tomar de volta os presentes que eles deram às esposas, exceto
no caso de a esposa escolher dissolver o casamento:
"Não é lícito para vós
(homens) tomar de volta quaisquer dos presentes, exceto quando ambas as partes
temerem não ser capazes de manter os limites ordenados por Alá. Não há culpa
para qualquer um de vós se ela der alguma coisa por sua liberdade. Tais são os
limites ordenados por Alá, assim não os transgridam" (2.229).
Certa vez uma
mulher veio ao Profeta procurando a dissolução de seu casamento. Ela disse ao
Profeta que não tinha qualquer queixa contra o marido, com relação ao caráter ou
aos modos. Seu único problema era que ela, honestamente, não gostava dele a
ponto de ser capaz de viver com ele por muito tempo. O Profeta lhe perguntou.
"Você lhe daria seu quintal de volta" (o presente de casamento que ela havia
recebido) e ela disse: "Sim". O Profeta então orientou o homem a tomar de volta
o seu quintal e a aceitar a dissolução de seu casamento (Bukhari). Em alguns
casos, uma esposa muçulmana pode querer manter seu casamento, mas se acha
obrigada a pedir o divórcio por causa de alguns motivos relevantes, tais :
crueldade do marido, deserção sem razão, um marido que não preenche suas
responsabilidade conjugais, etc. Nestes casos, a corte muçulmana dissolve o
casamento (37).
Em resumo, o Islam tem oferecido à mulher muçulmana alguns
direitos inigualáveis: ela pode terminar o casamento através da "Khula" e pedir
o divórcio. Uma esposa muçulmana não pode nunca se tornar prisioneira de um
marido recalcitrante. Foram esses direitos que seduziram as mulheres judias, que
viviam nas primeiras sociedades islâmicas do séc. VII, d.C., a procurarem obter
os certificados de divórcio de seus maridos judeus nas cortes muçulmanas. Os
rabinos declararam aqueles certificados nulos e inválidos. A fim de terminar
esta prática, os rabinos deram novos direitos e privilégios às mulheres judias,
na expectativa de enfraquecer o encanto das cortes muçulmanas. Não se ofereciam
às mulheres judias, que viviam nos países cristãos, qualquer privilégio
semelhante onde a lei romana de divórcio, então praticada, não era mais atraente
do que lei judia (38).
Agora focalizemos nossa atenção sobre como o Islam
desencoraja o divórcio. O Profeta do Islam disse aos crentes que: "entre todos
os atos lícitos, o divórcio é o mais odiado por Deus" (Abu Dawood). Um muçulmano
não deve se divorciar de sua esposa, apenas porque ele não se simpatiza mais com
ela. O Alcorão orienta o muçulmano a ser gentil com suas esposas, mesmo em caso
de emoções fortes ou sentimentos de desagrado: "Vivei com elas (vossas esposas)
em bases de gentileza e equidade. Se vós vos antipatizais delas pode ser que
estejais antipatizando com alguma coisa que Alá colocou como um grande bem"
(4:19). O Profeta Mohammad deu uma orientação semelhante: "Um crente não deve
odiar uma crente. Se ele não gosta de alguma coisa, ele poderá se agradar de
outras" (Muslim). O Profeta também enfatizou que os melhores muçulmanos eram
aqueles que eram os melhores para as suas esposas: "Os crentes que mostram a fé
mais perfeita são aqueles que têm o melhor caráter e o melhor dentre vocês é
aquele que é o melhor com suas esposas" (Tirmidthi).
Contudo, o Islam é uma
religião prática e reconhece que há algumas circunstâncias nas quais o casamento
chega à beira do colapso.Em tais casos, o simples conselho de gentileza ou
autocontrole não é a solução viável. Assim, o que fazer a fim de salvar o
casamento nesses casos? O Alcorão oferece alguns conselhos práticos para os
casais cujo parceiro é o injusto. Para o marido, cuja má-conduta da esposa está
ameaçando o casamento, o Alcorão dá 4 tipos de conselho, como detalhado nos
versos seguintes:
"... Quanto àquelas, de quem suspeitais deslealdade,
admoestai-as (na primeira vez), abandonai os seus elitos (na segunda vez) e
castigai-as (na terceira vez); porém, se vos obedecerem, não procureis meios
contra elas. Sabei que Deus é Excelso, Magnânimo.
E se temerdes desacordo
entre ambos (esposo e esposa), apelai para um árbrito da família dele e outro da
dela. Se ambos desejarem se reconciliar, Deus os reconciliará, porque é
Sapiente, Inteiradíssimo."(4:34/35).
Os três primeiros devem ser tentados
primeiro. Se não funcionar, então a ajuda das famílias envolvidas deve ser
procurada. Deve-se notar que à luz dos versículos acima, bater numa esposa
rebelde é uma medida temporária e que está colocada em terceiro lugar para os
casos de extrema necessidade, na esperança de que isto possa remediar a esposa
injusta. Se isto funcionar, não se permite ao marido, sob qualquer meio, de
continuar a molestar. Se não funcionar, não deve usar esta medida por muito
tempo e o passo final da reconciliação, assistida pela família, deve ser
explorada. O Profeta Mohammad orientou os maridos muçulmanos a não recorrerem a
tais medidas, exceto em casos extremos, tais como atos lascivos cometidos pela
esposa. Mesmo nestes casos, a punição deveria ser branda e, se a esposa
desistisse, o marido não deveria irritá-la. "No caso de elas serem culpadas de
lascívia, vós podeis deixá-las sozinhas em suas camas e infligir a eles punição
branda. Se elas forem obedientes, não procurais motivos de aborrecimento contra
elas." (Tirmidthi). Além disso, o Profeta do Islam condenou qualquer surra
injustificada. Algumas esposas muçulmanas se queixaram a ele de que seus maridos
lhes batiam. Ouvindo isso, o Profeta categoricamente estabeleceu: "Aqueles que
fazem isso (bater nas esposas) não são os melhores dentre vós" (Abu Dawood).
Deve ser lembrado também que o Profeta disse, com relação a essa questão: "Os
melhores dentre vós são aqueles que são os melhores com sua família, e eu sou o
melhor dentre vós para a minha família" (Tirmidthi). O Profeta aconselhou uma
muçulmana, de nome Fatimah bint Qais, a não se casar com um determinado homem
porque ele era conhecido por bater em mulheres: "Eu fui ao Profeta e disse: Abul
Jahm e Mu´awiah me propuseram casamento. O Profeta (a titulo de conselho) disse:
Quanto a Mu´awiah, ele é muito pobre, e quanto a Abul Jahm, ele está acostumado
a bater em mulheres" (Muslim).
Deve-se notar que o Talmud sanciona a surra na
esposa, como castigo com fins disciplinares (39). O marido não fica restrito
àqueles casos de lascívia. Ele pode bater em sua esposa, mesmo que ela se recuse
a fazer seus serviços domésticos. Além disso, ele não se limita apenas àqueles
casos de punição leve. Ele pode quebrar a teimosia da esposa com chibatadas ou
deixando-a com fome (40).
Para a esposa, cuja a má conduta do marido é causa
para o fim do casamento, o Alcorão oferece os seguinte conselho: "Se a esposa
teme a crueldade ou a deserção em sua parte, não há mal que eles façam um acordo
amigável entre si; e tal acordo é o melhor" (4:128). Neste caso, aconselha-se à
mulher a procurar a reconciliação com seu marido (com ou sem a assistência
familiar). É de se notar que o Alcorão não aconselha a esposa a valer-se da
abstenção do sexo. A razão para este disparate pode ser para proteger a esposa
de uma reação física violenta pelo já raivoso marido.
Tal reação física
violenta será muito pior, tanto para o marido quanto para a esposa, além de
prejudicar mais ainda o casamento. Alguns exegetas têm sugerido que a corte pode
aplicar aquelas medidas contra o marido em nome da esposa. Quer dizer, a corte
primeiro repreende o marido rebelde e, então, proíbe-o de deitar-se com ela e,
finalmente, executa uma surra simbólica (4l).
Em resumo, o Islam oferece aos
casais muçulmanos conselhos muito mais viáveis para salvar-lhes o casamento em
caso de problemas e tensão. Se uma das partes prejudica a relação matrimonial, a
outra parte é aconselhada pelo Alcorão a fazer o que for possível e efetivo para
salvar esta sagrada bênção. Se todas as providências falharem, o Islam permite
aos casais se separarem pacífica e cabalmente.
11. MÃES
Em muitas passagens, o Velho Testamento recomenda tratamento
gentil e atencioso aos pais e condena aqueles que os desonram. Por exemplo, "Se
alguém amaldiçoa seu pai ou sua mãe, ele deve morrer" (Levítico 20:9) e "Um
homem sábio traz alegria para seu pai, mas um homem tolo despreza sua mãe"
(Provérbios 15:20). Embora honrar o pai somente seja mencionado em alguns
lugares, por exemplo, "Um homem sábio presta atenção às instruções de seu pai"
(Provérbio (13:1), a mãe nunca é mencionada. Além disso, não há ênfase especial
para o tratamento gentil à mãe, como um sinal de apreço pelo seu grande
sofrimento pelo parto e pela amamentação. Por outro lado, as mães não herdam
nada de seus filhos, como seus pais herdam (42).
É difícil falar sobre o Novo
Testamento como uma escritura que se lembre de honrar a mãe. Pelo contrário,
tem-se a impressão de que o Novo Testamento considera o tratamento gentil às
mães como um impedimento para o caminho de Deus. De acordo com o Novo
Testamento, ninguém pode tornar-se um bom cristão, digno de tornar-se um
discípulo de Cristo, a menos que ele odeie sua mãe. Atribui-se a Jesus ter dito:
"Se alguém vem a mim e não odeia seu pai e sua mãe, sua esposa e filhos, seus
irmãos e irmãs - sim, mesmo sua própria vida - ele não pode ser meu discípulo"
(Lucas 14:26).
Além disso, o Novo Testamento pinta um quadro de Jesus como
indiferente, ou mesmo desrespeitoso, em relação a sua própria mãe. Por exemplo,
quando ela chegou procurando por ele, enquanto ele pregava para multidão, ele
não se preocupou em ir ter com ela: "Então, a mãe e os irmãos de Jesus chegaram.
Em pé, do lado de fora, eles pediram a alguém para chamá-lo. Uma multidão estava
sentada em volta dele e eles lhe disseram: Sua mãe e seus irmãos estão lá fora
procurando-o. Quem são minha mãe e meus irmãos?, ele perguntou. Então ele olhou
para aqueles que estavam sentados à volta dele e disse: Estes são minha mãe e
meus irmãos! Quem quer que faça a vontade de Deus é meu irmão e irmã e mãe"
(Marcos 3:3l/35)
Alguém pode argumentar que Jesus estava tentando ensinar a
seus ouvintes uma importante lição de que os laços religiosos não são menos
importantes do que os laços familiares. Contudo, ele podia ter ensinado aos seus
ouvintes a mesma lição sem mostrar uma tal absoluta indiferença para com sua
mãe. A mesma atitude desrespeitosa aparece quando ele se recusou a endossar uma
declaração feita por um membro de sua audiência, abençoando o papel de sua mãe,
que o havia gerado e alimentado: "Como Jesus dissesse estas coisas, uma mulher
na multidão o chamou ,"abençoada seja a mãe que lhe deu à luz e o alimentou".
Ele respondeu: "Abençoados antes sejam aqueles cujos corações ouvem a palavra de
Deus e obedecem" (Lucas 11:27/28);
Se uma mãe, com a estatura da virgem
Maria, foi tratada com tal descortesia, conforme relatado no Novo Testamento,
por um filho da estatura de Jesus Cristo, o que dizer então do tratamento
dispensado pelos filhos cristãos comuns às suas mães cristãs?
No Islam, a
honra, o respeito e a estima pela maternidade é sem paralelo. O Alcorão coloca a
importância da gentileza para com os pais vindo em segundo lugar, após a
adoração a Deus, o Poderoso:
"O teu Senhor decretou que não adoreis ninguém a
não ser Ele, que sejais indulgentes com os vossos pais, mesmo que a velhice
alcance a um deles ou a ambos, em vossa companhia: não os reproveis, nem os
rejeiteis;outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas. E estende sobre eles a asa
da humildade e dizei: Ó Senhor meu, tenha misericórdia de ambos, como eles
tiveram de mim, criando-me desde pequeno" (17:23/24).
O Alcorão em muitas
outras partes dá ênfase especial para o grande papel da mãe que dá à luz e
alimenta o filho:
"E recomendamos ao homem benevolência para com os seus
pais. Sua mãe o suporta entre dores e sua desmama é aos dois anos. Mostre
gratidão a Mim e a seus pais" (31:14)
Este lugar muito especial para as mães
no Islam, foi descrito eloqüentemente pelo Profeta: "Um homem perguntou ao
Profeta: "A quem deve honrar mais?" O Profeta respondeu: "Sua mãe". "E quem vem
depois?" perguntou o homem. O Profeta respondeu: "Sua mãe". "E quem vem depois?"
perguntou o homem. O Profeta respondeu: "Sua mãe". E que vem depois?", perguntou
o homem. O profeta respondeu: "Seu pai". (Bukhari e Muslim).
Entre os poucos
preceitos do Islam, que os muçulmanos ainda observam fervorosamente até os dias
atuais, é o tratamento atencioso para com as mães. A honra que as mães
muçulmanas recebem de seus filhos e filhas é exemplar. As relações afetuosas
entre as mães muçulmanas e seus filhos, e o profundo respeito com que os homens
se aproximam de suas mães, deixa os ocidentais espantados (43).
12. A HERANÇA FEMININA
Uma das diferenças mais importantes entre o Alcorão e a
Bíblia é a que se refere ao direito de herança à propriedade de parentes mortos.
A postura bíblica foi sucintamente descrita pelo Rabino Epstein: "As rígidas
tradições desde os tempos bíblicos não dão aos membros femininos de uma casa,
esposa e filhas, o direito de sucessão ao patrimônio familiar. Nos esquemas mais
primitivos de sucessão, os membros femininos da família eram considerados parte
do patrimônio e tão remoto seu direito na herança quanto o de um escravo. Ao
passo que na lei Mosaica, as filhas eram admitidas na sucessão, no caso de não
haver homem com esse direito, embora a esposa não tivesse reconhecido esse
direito, mesmo em condições semelhantes." (44) . Por que as mulheres eram
consideradas como parte do patrimônio familiar? O Rabino Epstein respondeu:
"Elas são propriedades dos pais, antes do casamento; e depois, dos maridos."
(45)
As regras bíblicas de herança estão sublinhadas em Números 27:1/11. Uma
esposa não tem participação no patrimônio de seu marido, enquanto que ele é seu
primeiro herdeiro, mesmo antes de seus filhos. Uma filha pode herdar somente no
caso de não existir herdeiros masculinos. A mãe não é herdeira, enquanto que o
pai é. Viúvas e filhas, no caso de existirem meninos, ficavam por conta dos
herdeiros masculinos para o seu sustento. Por isso que as viúvas e órfãs estavam
entre os membros mais destituídos da sociedade judaica.
O cristianismo seguiu
estes padrões por muito tempo. Tanto as leis civis como as eclesiásticas
impediam as filhas de dividirem com seus irmãos o patrimônio do pai. Além disso,
as viúvas eram privadas de qualquer direito à herança. Estas leis iníquas
sobreviveram até o final do século passado (46).
Entre os árabes pagãos antes
do Islam, os direitos de herança eram confinados exclusivamente aos parentes
masculinos. O Alcorão aboliu todos esses costumes injustos e deu a todos os
parentes femininos participação na herança:
"Às mulheres também corresponde
uma parte do que tenham deixado os pais e parentes, quer seja pequena quer seja
grande, uma quantia determinada" (4:7).
As mães muçulmanas, esposas, filhas e
irmãs receberam o direito à herança 1300 anos antes de os europeus reconhecerem
sequer que aqueles direitos existiam. A divisão da herança é um assunto vasto,
com uma grande quantidade de detalhes (4:7,11, 12, 176). A regra geral é que a
parte da mulher é a metade do que o homem recebe, exceto nos casos em que a mãe
recebe parte igual a do pai. Se tomada isoladamente, esta regra geral referente
a homens e mulheres pode parecer desfavorável. A fim de compreendermos a razão
por detrás desta regra, devemos ter em conta o fato de que as obrigações
financeiras do homem muçulmano excedem em muito às obrigações das mulheres (ver
a seção "A Propriedade da Esposa"). Um noivo deve providenciar para sua noiva o
presente de casamento. Este presente se torna posse exclusiva da noiva e
permanece assim, mesmo que mais tarde venha a se divorciar. A noiva não tem
obrigação de presentear seu noivo. Além disso, os maridos muçulmanos são
onerados com a manutenção de sua esposa e filhos. A esposa, por outro lado, não
é obrigada a socorrê-lo no cumprimento daquela obrigação. Sua propriedade e
ganhos são para seu uso exclusivo, a não ser que ela voluntariamente os ofereça
a seu marido. Além disso, todo mundo percebe que o Islam advoga veementemente a
vida familiar. Ele encoraja fortemente os jovens a se casarem, desencoraja o
divórcio e não vê o celibato como uma virtude. Numa verdadeira sociedade
islâmica, a vida familiar é a norma e a vida de solteiro é uma exceção rara.
Quer dizer, todos os homens e mulheres em idade de se casarem são casados na
sociedade islâmica. À luz desses fatos, pode-se perceber que o homem muçulmano,
em geral, tem uma grande responsabilidade financeira e que, por isso, as regras
de herança significam uma compensação para este desequilíbrio, de forma que a
sociedade possa viver livre de todas as lutas de classe ou de sexo. Após uma
simples comparação entre os direitos e deveres financeiros da mulher muçulmana,
uma muçulmana inglesa concluiu que o Islam tratou as mulheres não só
favoravelmente, mas também generosamente (47).
13. A CONDIÇÃO DAS VIÚVAS O
Velho Testamento não reconhecia o direito de herança a elas,
e por isso as viúvas eram as mais vulneráveis entre a população judaica. Os
parentes masculinos, que herdavam todo o patrimônio do marido morto, sustentavam
a mulher com a administração desse patrimônio. Contudo, as viúvas não tinha
meios de se assegurarem que esta provisão estava sendo cumprida e, por isso,
viviam pela misericórdia dos outros. Assim, as viúvas estavam situadas entre as
classes mais baixas da antiga Israel e a viuvez era considerada um símbolo de
grande degradação (Isaías 54:4). Mas, a condição da viúva na tradição bíblica ia
mesmo além de sua exclusão na propriedade do marido.
De acordo com o Gênesis
38,. as viúvas sem filhos deviam se casar com o irmão de seus maridos, mesmo que
ele já fosse casado, pois, dessa maneira, ele podia providenciar uma
descendência para o seu irmão morto e, assim, assegurar que o nome do irmão não
morresse. Judá disse a Onan, "Deite-se com a esposa de seu irmão e cumpra com o
seu dever para com ela como um cunhado, a fim de gerar descendência para o seu
irmão". (Gênesis 38:8).
O consentimento da viúva para este casamento não era
exigido. A viúva era tratada como parte da propriedade do marido morto e sua
principal função era assegurar a posteridade para o seu marido. Esta lei bíblica
ainda hoje é praticada em Israel (48). Uma viúva sem filhos em Israel é legada
ao irmão de seu marido. Se o irmão é muito jovem para casar, ela tem que esperar
até ele atingir a idade. Se o cunhado se recusar a casar com ela, então ela fica
livre para se casar com um homem de sua escolha. Não é incomum em Israel que as
viúvas sejam submetidas à chantagem por parte de seus cunhados a fim de ganharem
a sua liberdade.
Os árabes pagãos antes do Islam, tinham práticas
semelhantes. Uma viúva era considerada uma parte da propriedade do marido a ser
legada aos herdeiros masculinos e comumente ela era dada em casamento ao filho
mais velho do marido falecido com outra esposa. O Alcorão sarcasticamente atacou
e aboliu este costume degradante:
"Não vos caseis com as mulheres que
desposaram vossos pais - exceto fato consumado no passado - porque realmente é
um costume vergonhoso, odiento e abominável (4:22).
As viúvas e as mulheres
divorciadas eram tão mal vistas na tradição bíblica que um sacerdote não podia
se casar com uma viúva, uma divorciada ou uma prostituta: "A mulher com quem ele
(sacerdote) se casar deve ser virgem. Ele não deve se casar com uma viúva, uma
divorciada ou uma mulher corrompida pela prostituição, mas somente com uma
virgem de seu próprio povo e assim ele não conspurcará sua descendência entre o
seu povo" (Levítico 2l:13/15)
Atualmente em Israel, um descendente da casta
Cohen (os sacerdotes dos dias do Templo) não pode se casar com uma divorciada,
uma viúva ou uma prostituta (49). Na legislação judaica, uma mulher que enviuvou
três vezes, com todos os três maridos morrendo de causa natural, é considerada
"fatal" e proibida de casar de novo (50). O Alcorão, por outro lado, não
reconhece castas ou pessoas fatais. Viúvas e divorciadas têm liberdade para se
casarem com quem quer que seja que elas escolham. Não há estigma ligado ao
divórcio ou à viuvez no Alcorão:
"Quando vos divorciardes das mulheres e elas
tenham cumprido o seu período (três menstruações), tomai-as de volta
eqüitativamente ou libertai-as eqüitativamente. Não as tomeis de volta com o
intuito de injuriá-las injustamente, porque quem tal o fizer errará por sua
própria conta. Não trateis dos sinais de Alá como zombaria" (2:23l)
"Se algum
de vós vier a falecer e deixar viúvas, elas deverão aguardar quatro meses e dez
dias. Quando elas tiverem cumprido seu período, não sereis responsáveis pelo que
elas fizerem de suas vidas honestamente" (2.240)
14. POLIGAMIA
Passemos agora para a importante questão que é a poligamia. A
poligamia é uma prática muito antiga, encontrada em muitas sociedades humanas. A
Bíblia não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho Testamento e os
escritos rabínicos freqüentemente atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o
Rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei Davi
teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13). O Velho Testamento tem algumas
injunções em como distribuir a propriedade de um homem entre seus filhos de
diferentes mulheres (Deuteronômio 22:7). A única restrição com relação à
poligamia é a proibição de tomar uma irmã da esposa como uma esposa rival
(Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas (51). Os judeus
europeus continuaram a praticar a poligamia até o século XVI.
Os judeus
orientais praticavam a poligamia regularmente até a chegada a Israel, onde ela
foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em
tais casos, a poligamia é permitida (52).
E com relação ao Novo Testamento?
De acordo com o padre Eugene Hilman, em seu penetrante livro, a poligamia é
reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento há uma orientação expressa de
que o casamento deve ser monogâmico ou qualquer orientação que proíba a
poligamia". (53). Além disso, Jesus não falou contra a poligamia, embora ela
fosse praticada pelos judeus de sua época. O padre Hillman chama a atenção para
o fato de que a Igreja de Roma proibiu a poligamia, a fim de se adequar à
cultura Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto que
tolerava o concubinato e a prostituição). Ele citou Santo Agostinho, "Agora, em
nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar uma
outra esposa" (54). As igrejas africanas e os cristãos africanos muitas vezes
lembram a seus irmãos europeus que a proibição da poligamia é mais uma tradição
cultural do que uma autêntica injunção cristã.
O Alcorão também permitiu a
poligamia, mas não sem algumas restrições: "Se vós temeis não serdes capazes de
conviver justamente com os órfãos, casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou
4 vezes; mas se temerdes que que não sereis capazes de conviver justamente com
elas, então casai somente com uma" (4:13). O Alcorão, ao contrário da Bíblia,
limitou o número de esposas a 4, sob a estrita condição de que as esposas sejam
tratadas igualmente. Isto não deve ser entendido como uma exortação a que os
crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada como um
ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera" ou "permite" a poligamia, e não
mais, mas por que? Por que a poligamia é permitida? A resposta é simples: há
lugares e épocas em que razões morais e sociais compelem para a poligamia. Como
os versos do Alcorão acima indicam, a questão da poligamia no Islam não pode ser
entendida como parte das obrigações da comunidade com relação aos órfãos e
viúvas. O Islam, como uma religião universal, aplicável para todos os lugares e
tempos, não poderia ignorar essas pressões.
Em muitas sociedades humanas, as
mulheres superam os homens em quantidade. Em um país como a Guiné, há 122
mulheres para cada 100 homens. Na Tanzânia, há 95,1 homens para 100 mulheres
(55). O que uma sociedade deve fazer para resolver esse desequilíbrio? Existem
várias soluções, e alguns podem sugerir o celibato, outros preferem o
infanticídio feminino (que ainda acontece no mundo de hoje em alguns lugares).
Outros, ainda, podem achar que a única saída é a sociedade tolerar todas as
formas de permissividade sexual: prostituição, sexo fora do casamento,
homossexualismo, etc. Para outras sociedades, como a maior parte das sociedades
africanas de hoje, a saída mais honrosa é permitir o casamento poligâmico, como
uma instituição culturalmente aceita e socialmente respeitada. A questão, que é
muitas vezes incompreendida no ocidente, é que muitas mulheres de outras
culturas necessariamente não vêm a poligamia como um sinal de degradação da
mulher. Por exemplo, muitas jovens noivas africanas, sejam cristãs ou
muçulmanas, prefeririam se casar com um homem casado, que tenha provado a ele
mesmo, ser um marido responsável.
. Muitas esposas africanas persuadem seus
maridos a tomar uma segunda esposa e assim eles não se sentem sozinhos (56). Uma
pesquisa realizada na segunda maior cidade da Nigéria com 600 mulheres, com
idades entre 15 e 59 anos, mostrou que 60% dessas mulheres não se importariam
que seus maridos tivessem uma outra esposa. Somente 23% expressaram raiva ante a
idéia de dividirem seus maridos com outras mulheres. 76% das mulheres que se
manifestaram numa pesquisa realizada no Quênia, viram a poligamia positivamente.
Em outra pesquisa realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia
melhor do que a monogamia.
Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser
uma experiência feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com as outras
(57). A poligamia, na maior parte das sociedades africanas é uma instituição tão
respeitada, que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la, "Embora a
monogamia possa ser ideal para a expressão do amor entre o marido e a esposa, a
igreja deve considerar que em certas culturas a poligamia é socialmente
aceitável e que a crença de que a poligamia é contrária ao cristianismo não se
sustenta por muito tempo". (58) Depois de um cuidadoso estudo sobre a poligamia
africana, o Reverendo David Gitari, da Igreja Anglicana, concluiu que a
poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã do que o divórcio e o novo
casamento, porque há uma preocupação com as esposas e crianças abandonadas. (59)
Eu pessoalmente conheço algumas esposas africanas, finamente educadas, que
apesar de terem vivido no Ocidente por muitos anos, não fazem qualquer objeção à
poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente estimula seu marido a tomar
uma segunda esposa para ajudá-la na criação das crianças.
O problema do
desequilíbrio entre os sexos começa na verdade nos problemáticos tempos de
guerra. Os índios nativos americanos costumavam sofrer com essa desigualdade de
número entre homens e mulheres, principalmente após as perdas dos tempos de
guerra. As mulheres dessas tribos, que na verdade desfrutavam de uma alta
posição, aceitavam a poligamia como a melhor proteção contra a tolerância por
atividades indecentes. Os colonos europeus, sem oferecerem qualquer outra
alternativa, condenavam a poligamia indiana como "incivilizada" (60).
Após a
segunda guerra mundial, havia na Alemanha 7.300.000 mais mulheres do que homens
(3.3 milhões delas eram viúvas). Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para
cada 167 mulheres naquele mesmo grupo de idade. (6l) Muitas dessas mulheres
necessitavam de um homem, não apenas como uma companhia mas, também, como um
mantenedor para a casa, num tempo de miséria e injustiça sem precedentes. Os
soldados do exército aliado vitorioso exploravam a vulnerabilidade dessas
mulheres. Muitas jovens e viúvas tinham ligações com membros das forças de
ocupação. Muitos soldados americanos e britânicos pagavam por seus prazeres com
cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam felizes com os presentes que os
estrangeiros traziam. Um menino de 10 anos, vendo esses presentes com outras
crianças, desejava ardentemente um "inglês" para a sua mãe e assim, ela não
precisaria passar fome por tanto tempo (62). Devemos perguntar para nossa
consciência sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher? Uma segunda
esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual, como no caso da
abordagem "civilizada" das forças aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o que
dignifica mais uma mulher, a prescrição alcorâmica ou a teologia baseada na
cultura do império romano?
É interessante notar que, em uma conferência da
juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema alemão do
desequilíbrio no número de homens e mulheres foi discutido. Quando ficou claro
que não havia solução consensual, alguns participantes sugeriram a poligamia. A
reação inicial da reunião foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após
um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram que a poligamia
era a única solução possível. Consequentemente, a poligamia estava incluída
entre as recomendações finais da conferência. (63)
Atualmente, o mundo possui
mais armas de destruição em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as
igrejas européias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas a aceitar a
poligamia como o único caminho. O Padre Hillman, após muito pensar, admitiu este
fato, "É quase concebível que aquelas técnicas genocidas (nuclear, biológica,
química...) podem produzir um desequilíbrio tão drástico entre os sexos que o
casamento plural poderia ser um meio necessário de sobrevivência... Em tal
situação, os teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente produzir
razões importantes e textos bíblicos que justifiquem um novo conceito de
casamento". (64)
Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução viável
para alguns males das sociedades modernas. As obrigações comunitárias a que o
Alcorão se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são mais
perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais do que na África. Por exemplo,
nos USA de hoje, há uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20 jovens
rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos. Para aqueles
que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio lidera a causa da morte (65). Além
disso, muitos rapazes negros estão desempregados, na prisão ou são viciados
(66). Como conseqüência, um em 4 mulheres negras, na idade de 40 anos, nunca se
casaram, enquanto que este número é de 1 para 10 mulheres brancas (67). Além do
mais, muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes dos 20 anos e se
encontram na situação de serem mantidas. O resultado final dessas trágicas
circunstâncias é que há um aumento no número de mulheres negras comprometidas
com "homem-partilhado" (68). Isto é, muitas dessas infelizes mulheres negras
solteiras estão envolvidas em casos com homens casados. As esposas muitas vezes
não têm consciência do fato de que outras mulheres estão dividindo seus maridos
com elas. Alguns observadores da crise do "homem-partilhado" na comunidade
africana na América têm recomendado a poligamia consensual, como uma resposta
temporária para a diminuição do número de homens negros, até que reformas mais
abrangentes na sociedade americana sejam tomadas (69). Esses observadores
entendem poligamia consensual como a poligamia sancionada pela comunidade e na
qual todas as partes envolvidas concordem, em oposição ao segredo dos casos com
homens casados, os quais sempre prejudicam tanto a esposa como a comunidade em
geral.
O problema do "homem-partilhado" na comunidade africana da América foi
ponto de discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na
Filadélfia, em 27.01.93 (70). Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia
como um remédio potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia
não podia ser banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a
prostituição e o concubinato.. O comentário de uma das mulheres participantes,
de que os negros americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia
era praticada responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos.
Philip
Kilbride, um antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro
provocativo, "Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o
casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em
muitos casos,a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos
extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride,
transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do
divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos
também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas, que
enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que estão
envolvidos com o "homem-partilhado". (7l)
Em 1987, uma votação conduzida por
um estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley, perguntava aos
estudantes se eles concordavam que os homens poderiam ser autorizados, por lei,
a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível diminuição do número de
candidatos masculinos para o casamento na Califórnia. Quase todos os votantes
aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que o casamento poligâmico
preencheria suas necessidades físicas e emocionais, porque lhe daria maior
liberdade do que uma união monogâmica (72). Na verdade, o mesmo argumento foi
usado por alguns poucos remanescentes das mulheres fundamentalistas Mormom, que
ainda praticam a poligamia nos USA.
Elas acreditam que a poligamia é um
caminho ideal para a mulher ter, tanto profissão como crianças, uma vez que as
esposas se ajudam umas às outras no cuidado com os filhos.
Deve-se
acrescentar que a poligamia no Islam é questão de consenso mútuo. Ninguém pode
forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além disso, a esposa tem o
direito de estipular que seu marido não deve se casar com outra mulher (74). A
Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada. Uma viúva
sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo que ele já seja casado (ver a
seção "A condição das Viúvas") e independente de seu consentimento (Gênesis
38:8/10).
Deve-se notar que, em muitas sociedades muçulmanas de hoje, a
prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença entre os sexos não é
grande. Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos no mundo muçulmano
é muito menor do que o de casos extraconjugais no ocidente. Em outras palavras,
os homens no mundo muçulmano são muito mais monogâmicos do que os homens no
mundo ocidental.
Billy Grahan, o eminente evangélico cristão, reconheceu este
fato: "O cristianismo não pode se comprometer com a questão da poligamia. Se
hoje o cristianismo não pode fazer isso, é em seu próprio detrimento. O Islam
permitiu a poligamia como uma solução para os males sociais e reconheceu um
certo grau de latitude da natureza humana, mas, somente dentro da estrutura
estritamente definida na lei.
Os países cristãos fazem um estardalhaço sobre
a monogamia, mas, na verdade, eles praticam a poligamia. Ninguém ignora a
existência das amantes na sociedade ocidental. A esse respeito, o Islam é
fundamentalmente uma religião honesta, que permite a um muçulmano se casar uma
segunda vez se ele precisa, mas proibe rigorosamente todas as associações
clandestinas, a fim de salvaguardar a probidade moral da comunidade".
(75)
Releva notar que muitos países no mundo de hoje, muçulmanos ou não,
proibiram a poligamia. Tomar uma segunda esposa, ainda que com o livre
consentimento da primeira, é uma violação da lei. Por outro lado, trair a
esposa, com ou sem o seu conhecimento e/ou consentimento, é perfeitamente
legítimada. Qual é a sabedoria legal por detrás de tal contradição? A lei foi
feita para premiar a decepção e punir a honestidade? Este é um dos paradoxos
fantásticos de nosso mundo "civilizado".
15. HIJAB
Finalmente, vamos esclarecer o que é considerado no ocidente
como o maior símbolo de opressão e servidão da mulher, o véu, ou a cabeça
coberta. É verdade que não existe algo como o véu na tradição judaico-cristã?
Façamos o registro correto. De acordo com o Rabino Dr. Menachem M. Brayer
(Professor de Literatura Bíblica na Universidade de Yeshiva) em seu livro, "A
Mulher Judia na Literatura Rabínica", era um costume judeu a mulher ir aos
lugares públicos com a cabeça coberta, e, em alguns casos, com todo o rosto
coberto, deixando apenas um olho de fora (76). Ele cita alguns famosos ditos
rabinícos antigos, "Não é bom para as filhas de Israel andarem na rua com suas
cabeças descobertas" e "Amaldiçoado seja o homem que permite que o cabelo de sua
esposa seja visto... uma mulher que expõe seus cabelos como adorno traz a
pobreza". A lei rabínica proibe a recitação de bênçãos e orações na presença de
mulheres casadas com a cabeça descoberta, uma vez que o cabelo é considerado
"nudez" (77). O Dr. Brayer também menciona que "Durante o período Tannaitic a
mulher judia com sua cabeça descoberta era considerada uma afronta à sua
modéstia. Quando sua cabeça estava descoberta ela podia ser multada em 400 zuzim
por esta ofensa". O Dr. Brayer também explica que o véu da mulher judia nem
sempre era considerado como um sinal de modéstia. Algumas vezes, o véu
simbolizava mais um estado de distinção e de luxúria do que modéstia. O véu
personificava a dignidade e superioridade das mulheres nobres. Também podia
representar a inacessibilidade da mulher, como posse santificada de seu marido
(78),
O véu significava o auto-respeito de uma mulher e um status social. As
mulheres das classes mais baixas vestiam o véu para dar a impressão de uma
posição mais elevada. O fato de o véu significar sinal de nobreza foi a razão de
não se permitir às prostitutas cobrirem seus cabelos, na antiga sociedade
judaica. Contudo, as prostitutas muitas vezes usavam um lenço especial, a fim de
parecerem respeitáveis (79). As mulheres judias na Europa continuaram a usar o
véu até o século XIX, quando suas vidas se tornaram interrelacionadas com o meio
cultural. As pressões externas da vida européia no século XIX, obrigaram as
mulheres a saírem com as cabeças descobertas. Algumas judias achavam mais
conveniente substituir o tradicional véu por peruca, como uma outra forma de
cobrir a cabeça. Atualmente, muitas mulheres judias pieddosas não cobrem mais
suas cabeças, exceto quando se encontram nas sinagogas (80). Algumas delas, tais
como as da citada Hasidic, ainda usam peruca (81).
O que dizer a respeito da
tradição cristã? É sabido que as freitas católicas usaram suas cabeças cobertas
por centenas de anos, mas isto não é tudo. São Paulo, no Novo Testamento, fez
algumas declarações muito interessantes a respeito do véu: "Agora eu quero que
vocês percebam que a cabeça de cada homem é o Cristo e a cabeça da mulher é o
homem e a cabeça do Cristo é Deus. Cada homem que reza ou vaticina com a cabeça
coberta desonra a sua cabeça. Cada mulher que ora ou vaticina com a cabeça
descoberta desonra sua cabeça - é como se sua cabeça estivesse raspada. Se a
mulher não cobrir sua cabeça, ela deve ter os seus cabelos cortados: e para não
cair na desgraça de ter os cabelos cortados ou raspados ela deve cobri-los. Um
homem não deve cobrir sua cabeça uma vez que ele é a imagem e glória de Deus;
mas a mullher é oriunda do homem; o homem não foi criado da mulher, mas a mulher
foi criada do homem. Por esta razão, e por causa dos anjos, a mulher deve ter um
símbolo da autoridade sobre sua cabeça" (I Coríntios 11:3/10.
As razões
apresentadas por São Paulo, para que a mulher se cubra, é que o véu significa um
sinal de autoridade do homem, o qual é a imagem e glória de Deus sobre a mulher,
que foi criada dele e para ele. São Tertuliano, em seu famoso tratado "Sobre o
véu das virgens", escreveu "jovens mulheres, vocês se cobrem quando nas ruas,
assim, vocês devem se cobrir quando na igreja, vocês se cobrem quando estão
entre pessoas estranhas, portanto vocês devem se cobrir quando estiverem entre
seus irmãos..." Entre as leis canônicas da Igreja Católica de hoje, há uma lei
que exige que as mulheres cubram suas cabeças quando estiverem na igreja (82).
Algumas denominações cristãs, tais como os Amish e os Menonitas, por exemplo,
matêm suas mulheres cobertas até hoje. A razão para o véu, conforme explicado
pelos líderes da Igreja, é que "a cabeça coberta é um símbolo da sujeição
feminina ao homem e a Deus", o que, no final, significa a mesma lógica
apresentada por São Paulo no Novo Testamento (83).
De todas as evidências
acima, é óbvio que o Islam não inventou a cabeça coberta. Contudo, o Islam
endossa a tese. O Alcorão obriga homens e mulheres a baixarem seus olhos e
guardarem suas modéstias e, com relação às mulheres, determina que suas cabeças
sejam cobertas, além do pescoço e seios:
"Diga às crentes que elas devem
baixar seus olhos e guardar sua modéstia; que elas não devem exibir sua beleza e
adornos, exceto o que comumente aparece; que elas devem puxar seus véus sobre os
seios... " (24:30/3l)
O Alcorão é bem claro no que se refere ao véu como
essencial para a modéstia. Mas, por que a modéstia é importante? O Alcorão é
ainda mais claro: "Ó Profeta, dize às tuas esposas e filhas, e às crentes, que
elas devem se cobrir com suas mantas (quando na rua) a fim de que elas se
distingam das demais e não sejam molestadas" (33:59). Esta é a questão
principal, a modéstia é prescrita para proteger as mulheres de serem molestadas,
isto é, a modéstia é proteção.
Assim, a única proposta do véu no Islam é a
proteção. O véu islâmico, diferentemente do véu na tradição cristã, não é sinal
da autoridade do homem sobre a mulher, nem é um sinal de sua sujeição ao homem.
O véu islâmico, diferentemente da tradição judaica, não é um sinal de luxúria ou
de distinção de algumas mulheres casadas nobres. O véu islâmico é simplesmente
um sinal de modéstia, com a proposta de proteger as mulheres, todas as mulheres.
A filosofia islâmica é que é sempre melhor prevenir do que remediar. Realmente,
o Alcorão é tão preocupado com a proteção dos corpos das mulheres e sua
reputação, que um homem que se atrever a acusar falsamente uma mulher de não ser
casta, será severamente punido:
"E aqueles que difamarem as mulheres castas,
sem apresentarem 4 testemunhas, infligí-lhes oitenta chibatadas e nunca mais
aceiteis os seus testemunhos por que tais homens são
transgressores".
Compare-se esta posição alcorânica com a punição
extremamente branda da Bíblia para os casos de estupro: Se um homem encontra uma
virgem, que está na condição de casar e a estupra e eles são descobertos, ele
deve pagar ao pais da moça 50 shekels de prata. Ele deve se casar com a moça por
que ele a violou. Ele não poderá nunca se divorciar dela enquanto viver
(Deuteronômio 22:38/30). Podemos simplesmente perguntar: Quem é punido
realmente? O homem que somente pagou uma multa pelo estupro ou a moça que se viu
forçada a se casar com o homem que a violentou e a ficar com ele até que ele
morra? Outra questão que se apresenta é: quem proteje mais as mulheres, o
Alcorão com sua postura rigorosa, ou a Bíblia com sua posição mais
branda?
Algumas pessoas, sobretudo no ocidente, têm uma tendência a
ridicularizar a argumentação da modéstia para proteção. Elas dizem que a melhor
proteção é divulgar a educação, o comportamento civilizado e o auto-controle. E
nós dizemos: ótimo, mas insuficiente. Se o processo de civilização fosse
suficiente, então por que mulheres nos USA não se atrevem a andar sozinhas em
ruas escuras, ou mesmo a cruzar um parque vazio? Se a Educação fosse a solução,
então por que é que uma respeitada universidade como a de Queen tem um serviço
de condução principalmente para as estudantes no campus? Se o auto-controle
fosse a resposta, então por que tantos casos de molestamento sexual acontecem em
locais de trabalho, como relatados nos jornais a cada dia? Em uma amostra sobre
os molestadores, nos últimos anos, encontramos: marinheiros, diretores,
professores universitários, senadores, juízes da Suprema Corte e até o
Presidente dos Estdos Unidos. Eu não posso acreditar em meus olhos, quando leio
sobre as seguintes estatísticas, elaboradas pelo escritório das mulheres decanas
da Universidade de Queens:
* No Canadá, uma mulher é atacada sexualmente a
cada seis minutos;
* Uma, em cada três mulheres no Canada, será sexualmente
assaltada em alguma época de suas vidas;
* 1 em 4 mulheres corre o risco de
ser estuprada alguma vez;
* 1 em 8 mulheres será atacada sexualmente enquanto
estiver no colégio ou universidade; e
* Um estudo concluiu que 60% dos
estudantes universitários canadenses cometeriam algum tipo de violência sexual
se eles estivessem seguros de não serem descobertos.
Alguma coisa está
fundamentalmente errada na sociedade em que vivemos. Uma mudança radical no modo
de vida e na cultura da sociedade se faz absolutamente necessária. Uma cultura
de modéstia é necessária, modéstia no vestir, no falar e nos modos, tanto de
homens como de mulheres. Caso contrário, as terríveis estatísticas continuarão a
crescer e, infelizmente, as mulheres, sozinhas, pagarão o preço. Realmente, nós
todos sofremos, mas K. Gibran disse "... porque a pessoa que recebe os golpes
não é como a que se encontra entre elas" (84). Logo, uma sociedade como a
francesa, que expulsa uma jovem de sua escola por causa de suas roupas, acaba,
no final, por, simplesmente, se ferir a si mesma.
Uma das maiores ironias de
nosso mundo atual é que, o mesmo véu que é reverenciado como sinal de
"santidade", quando usado pelas freiras católicas como forma de exibir a
autoridade do homem, é mostrado como forma de "opressão" quando vestido com o
objetivo de protejer a mulher muçulmana.
EPÍLOGO
A questão que se apresenta àqueles não mulçumanos, que leram
uma versão inicial do presente estudo é: As mulheres muçulmanas no mundo de hoje
recebem este nobre tratamento tal como descrito aqui? A resposta, infelizmente,
é: Não. Uma vez que a questão é inevitável em qualquer discussão referente à
condição das mulheres no Islam, temos que elaborar uma resposta, a fim de
fornecer aos leitores um quadro completo.
Devemos esclarecer, primeiro, que
as enormes diferenças entre as sociedades muçulmanas acabam por fazer
generalizações muito simplistas. Há um vasto espectro de posturas em relação à
mulher no mundo muçulmano atual. Estas posturas diferem de uma sociedade para
outra e dentro de sociedade individual. Contudo, podemos discernir certos traços
gerais. Quase todas as sociedades muçulmanas, em maior ou menor grau,
desviaram-se dos ideais do Islam, com respeito à condição das mulheres. Estes
desvios, na maior parte, se direcionaram para uma ou duas direções. A primeira é
mais conservadora, restritiva e orientada pelas tradições, enquanto que a
segunda é mais liberal, orientada pelos costumes ocidentais.
As sociedades
que se encaminharam para a primeira direção tratam as mulheres de acordo com os
costumes e tradições herdados de seus ascendentes. Estas tradições, comumente,
privam as mulheres de muitos direitos garantidos a elas pelo Islam. Além disso,
as mulheres são tratadas de acordo com padrões diferentes daqueles aplicados aos
homens. Esta discriminação penetra a vida de qualquer mulher: ela é recebida com
menos alegria ao nascer do que um menino; ela é menos incentivada a ir para a
escola; ela pode ser privada de qualquer participação na herança de sua família;
ela está sob contínua vigilância com relação a sua modéstia, enquanto que os
atos de imodéstia de seus irmãos são tolerados; ela pode até ser morta por
cometer o que os membros masculinos de sua família comumente se vangloriam de
praticar; ela tem pouca atuação nos assuntos familiares ou nos interesses
comunitários; ela pode não ter o completo controle sobre suas posses e seus
presentes de casamento; e, finalmente, como mãe, ela preferiria gerar filhos
homens a fim de alcançar uma elevada posição em sua comunidade.
Por outro
lado, há sociedades muçulmanas (ou certas classes dentro de algumas sociedades)
que foram varridas pela cultura e modo de vida do ocidente. Estas sociedades,
muitas vezes, imitam, de forma inimaginável, tudo o que receberam do ocidente e,
finalmente, acabam por adotar os piores frutos da civilização ocidental. Nestas
sociedades, a prioridade máxima na vida de uma típica mulher "moderna" é realçar
sua beleza física. Em razão disso, seu esforço é mais para compreender sua
feminilidade do que preencher sua humanidade.
Por que as sociedades
muçulmanas se desviaram dos ideais do Islam? Não há uma resposta fácil. Uma
explicação penetrante, das razões pelas quais muçulmanos não aderiram aos
preceitos alcorânicos com relação às mulheres, está além do objetivo deste
estudo. Contudo, deve ser esclarecido que as sociedades muçulmanas também se
desviaram, há muito tempo, dos preceitos islâmicos concernentes a muitos
aspectos de suas vidas. Há uma grande diferença entre o que os muçulmanos supõem
acreditar e o que eles realmente praticam. Esta diferença não é um fenômeno
recente. Tem sido assim por séculos e continuará aumentando dia após dia. Esta
diferença sempre crescente tem tido consequências desastrosas sobre o mundo
muçulmano e se manifestam em quase todos os aspectos da vida: tirania e
fragmentação política, economia, injustiça social, falência científica,
estagnação intelectual, etc. O status não islâmico das mulheres no mundo
muçulmano atual é simplesmente um sintoma de doença mais profunda. Qualquer
reforma no atual status das mulheres muçulmanas não terá sucesso se não for
acompanhada de reformas mais amplas em todo o modo de vida das sociedades
islâmicas. O mundo muçulmano está necessitando de um renascimento que o aproxime
dos ideais do Islam e não que o afaste deles. Para resumir, a noção, hoje em
dia, de que há um pobre status das mulheres muçulmanas se deve a uma total
incompreensão. Os problemas dos muçulmanos em geral não são devidos ao fato de
eles estarem muito presos ao Islam. Na verdade, eles se originam exatamente por
um longo e profundo afastamento do Islam.
Deve-se também enfatizar que a
proposta deste estudo comparativo não é, em qualquer hipótese, difamar o
judaismo ou o cristianismo. A posição das mulheres nas tradições judaico-cristãs
pode parecer retrógrada, se comparada com nossos padrões de final de século XX,
contudo, deve ser encaradasdentro de seu próprio contexto histórico. Em outras
palavras, qualquer avaliação da posição das mulheres na tradição judaico-cristã
tem que levar em conta as circunstâncias históricas nas quais essas tradições se
desenvolveram. Não pode haver dúvida de que as opiniões dos rabinos e pastores
da Igreja, em relação às mulheres, foram influenciadas por posturas
prevalecentes em suas respectivas sociedades. A própria Bíblia foi escrita por
diversos autores em diversas épocas. Estes autores não podiam ser imparciais aos
valores e modo de vida das pessoas à volta deles. As leis do adultério no Velho
Testamento, por exemplo, eram tão desfavoráveis às mulheres que elas desafiam
qualquer explicação racional por parte de nossa mentalidade. Contudo, se nós
considerarmos o fato de que as primeiras tribos judias eram obcecadas pela sua
homogeneidade genética e extremamente desejosas de se distinguirem das outras
tribos, e que somente a má conduta sexual das mulheres casadas podia ameaçar
essas caras aspirações, nós podemos entender, mas não necessariamente nos
simpatizarmos com elas, as razões de tal obcessão. Também, as ranzinzices dos
padres da Igreja contra as mulheres devem ser encaradas dentro do contexto da
misoginia da cultura greco-romana, na qual eles viviam. Não seria correto
avaliar o legado judaico-cristão, sem levar em consideração o relevante contexto
histórico.
De fato, a compreensão adequada do contexto histórico também é
crucial para o entendimento do significado das contribuições do Islam para a
história mundial e a civilização humana. A tradição judaico-cristão foi
influenciada e moldada pelo meio ambiente, condições e culturas existentes à
época. No século VII, esta influência distorceu a mensagem divina revelada a
Moisés e Jesus, muito além do reconhecimento. O pobre status das mulheres no
mundo judaico-cristão no séc. VII é apenas um caso em questão. Em razão disso,
havia uma grande necessidade de uma nova mensagem, que levasse a humanidade de
volta para o camino reto. O Alcorão descreveu a missão do novo mensageiro como
uma libertação para judeus e cristãos do peso que havia sobre eles:
"São
aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram mencionado
em suas próprias escrituras - Tora e Evangelho - o qual lhes recomenda todo o
bem e lhes veda o que é mal; ele lhes alivia de seus pesados fardos e dos
grilhões que estão sobre eles" (7:157)
Portanto, o Islam não deve ser visto
como uma tradição rival para o judaismo e cristianismo. Ele deve ser encarado
como uma consumação, complementação e aperfeiçoamento das mensagens divinas que
foram reveladas anteriormente.
Ao final desse estudo, gostaria de oferecer o
seguinte conselho para a comunidade muçulmana global. Nega-se a muitas mulheres
muçulmanas os direitos islâmicos básicos. Os erros do passado devem ser
corrigidos. Fazer isto não é um favor, mas sim uma obrigação para todos os
muçulmanos. A comunidade muçulmana mundial deve elaborar um quadro com as
instruções do Alcorão e os ensinamentos do Profeta do Islam. Este quadro deve
garantir a elas todos os direitos doados pelo Criador. Então, todos os meios
necessários têm de ser desenvolvidos, a fim de assegurar a implementação
adequada deste quadro, o qual se faz necessário há muito tempo. Mas, melhor
tarde do que nunca. Se o mundo muçulmano não garantir os direitos islâmicos
plenos a suas mães, esposas, irmãs, filhas, quem o fará?
Temos que ter a
coragem de confrontar nosso passado e rejeitar completamente as tradições e
costumes de nossos ascendentes, sempre que essas tradições e costumes se
contraponham aos preceitos do Islam. O Alcorão não criticou severamente os
árabes pagãos por seguirem cegamente as tradições de seus ancestrais? Por outro
lado, temos que desenvolver uma atitude crítica em relação a tudo que recebemos
do ocidente ou de qualquer outra cultura. A interação com e o aprendizado de,
são experiências válidas. O Alcorão sucintamente considerou esta interação como
uma das propostas da criação:
``Oh! homens, em verdade Nós vos criamos de um
único casal e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos
outros`` (49.13).
Pode-se dizer, contudo, que a imitação cega dos outros é um
sinal certo de uma completa falta de auto-estima. Estas palavras finais são
dedicadas aos leitores não muçulmanos, judeus, cristãos, ou quaisquer outros. É
desorientador o fato de uma religião, que revolucionou a condição da mulher,
estar sendo tachada e denegrida como sendo uma religião que reprime a mulher.
Esta percepção sobre o Islam é um dos mitos mais difundidos em nosso mundo de
hoje. Este mito está sendo perpetuado por uma enxurrada de livros
sensacionalistas, artigos e imagens na mídia, e filmes de Hollywood. O resultado
inevitável dessas incessantes imagens errôneas tem sido a incompreensão e o medo
a tudo que se refere ao Islam. Este retrato negativo do Islam na mídia mundial
tem que acabar se quisermos viver em um mundo livre de todos os traços de
discriminação, preconceito e equívoco. Os não muçulmanos devem perceber a
existência de uma imensa diferença entre a crença e a prática muçulmanas e o
simples fato de que as ações dos muçulmanos não representam necessariamente o
Islam. Rotular a condição da mulher no mundo muçulmano de hoje como "islâmica"
está tão longe da verdade quanto rotular a posição da mulher de hoje, no
ocidente, como "judaico-cristã". Com isto em mente, muçulmanos e não muçulmanos
devem começar o processo de comunicação e diálogo, a fim de remover todos os
preconceitos, suspeitas e medos. Um futuro pacífico para a família humana
necessita de tal diálogo.
O Islam deve ser visto como uma religião que
mellhorou consideravelmente a condição da mulher e lhe garantiu muitos direitos
que o mundo moderno só veio a reconhecer neste século. O Islam ainda tem muito a
oferecer à mulher de hoje, dignidade, respeito e proteção em todos os aspectos e
estágios de sua vida, desde o nascimento até a morte, além do reconhecimento,
equilíbrio e meios para a satisfação de todas as suas necessidades espirituais,
intelectuais, físicas e emocionais. Não espanta que muitos daqueles que escolhem
ser muçulmanos em países como a Inglaterra sejam mulheres. Nos USA, as mulheres
se convertem ao Islam, numa proporção de 4 para cada homem. O Islam tem muito a
oferecer ao mundo de hoje, que está em grande necessidade de um guia e uma
liderança moral. O embaixador Herman Eilts, testemunhando frente ao comitê de
Negócios Estrangeiros do Congresso americano, em junho de 1985, disse que "a
comunidade muçulmana de hoje está perto de um bilhão. Este é um número
expressivo. Mas, para mim, é igualmente expressivo que o Islam hoje seja a
religião monoteista que mais cresce no mundo. Devemos ter isto em conta. Alguma
coisa está certa acerca do Islam. Ele está atraindo uma boa quantidade de
pessoas". Sim, alguma coisa está certa acerca do Islam, e está na hora de
encontrá-la. Espero que este estudo seja um passo nesta direção.
A VOZ DA MULHER NO
ISLAM
Por Dr. Yusuf al-Qaradawi
Muitos muçulmanos adotaram a
ética judaico-cristã, que vê a mulher como fonte da tragédia humana por causa de
seu papel bíblico de sedutora, que levou Adão a desobedecer ao seu Senhor. Ao
convencer seu marido a comer do fruto proibido, ela não só desafiou Allah como
também causou a expulsão da humanidade do Paraíso, determinando, assim, todo o
sofrimento temporal humano. Aqueles que defendem este mito bíblico, se apoiam em
arquivos da literatura pseudo-islâmica, como, por exemplo, alguns ahadith falsos
ou fracos.
Este mito do Velho Testamento é uma crença largamente difundida na
comunidade islâmica, apesar de Allah salientar no Alcorão que Adão foi o único
responsável por seu erro.
"Havíamos firmado o pacto com Adão, porém, ele
esqueceu-se dele; e não vimos nele firme resolução" (Alcorã0 20:115)
"E ambos
comeram (os frutos) da árvore, ... Adão desobedeceu a seu Senhor e foi seduzido.
Mas logo o seu Senhor o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o." (Alcorão
20:121-122)
Portanto, não há nada na doutrina islâmica ou no Alcorão que
considere a mulher como responsável pela expulsão de Adão do Paraíso ou pela
miséria da humanidade. Contudo, a misoginia prolifera nos pronunciamentos de
muitos "sábios" e "imams" islâmicos.
Como resultado dessa má interpretação
de ahadith, sociedades inteiras têm maltratado seus membros femininos não
obstante o fato de o Islam ter dignificado e fortalecido a mulher em todas as
esferas da vida. A mulher na lei islâmica é igual ao homem. Ela é tão
responsável por seus atos como o homem o é. Seu testemunho é solicitado e valido
na corte. Suas opiniões são buscadas e seguidas. Diferentemente do pseudo hadith
que diz "Consultem as mulheres e façam o oposto", o Profeta (sas) consultou sua
esposa, Um Salama, sobre uma das mais importantes questões para a comunidade
muçulmana. As referências às atitudes positivas do Profeta em relação às
mulheres desacreditam o hadith, erroneamente atribuído a Ali bin Abu Talib: "A
mulher é toda um mal e o seu maior mal é que o homem não faz nada sem ela".
A
divulgação de tal negatividade contra as mulheres levaram muitos "sábios" e
"imams" a fazer regras inconsistentes sobre a fala das mulheres. Afirmam que a
mulher deve baixar sua voz, ou mesmo silenciar, exceto quando falar com seu
marido, seu guardião ou outras mulheres. Para alguns, o simples ato de se
comunicar transformou a mulher em fonte de tentação e fascinação do homem.
No
entanto, o Alcorão menciona, especificamente, que aqueles que buscavam
informação das esposas do Profeta podiam fazê-lo, desde que atendidas
determinadas condições.
"... E se desejardes perguntar algo a elas (suas
esposas), fazei-o detrás de cortinas." (Alcorão 33:53)
Na medida em que
perguntas exigem respostas, as Mães dos crentes ofereciam fatwas àqueles que
perguntavam e narravam ahadith a todo aquele que desejasse transmití-los. Além
do mais, as mulheres estavam acostumadas a questionar o Profeta (sas) mesmo na
presença dos homens. Nem elas ficavam constrangindas por se fazerem ouvir nem o
Profeta as impedia de indagar. Mesmo no caso de Omar, quando ele foi desafiado
por uma mulher durante o seu sermão no minbar, ele não retrucou, pelo contrário,
admitiu que ela estava certa e ele errado e disse: "Todo mundo é mais instruído
do que Omar."
Um outro exemplo alcorânico de uma mulher falando em público é
o mencionado no versículo 28:23. Além desse, o Alcorão relata a conversa entre
Salomão e a Rainha de Sabá, assim como entre ela e seus subordinados. Todos
esses exemplos demonstram que as mulheres podem expressar suas opiniões
publicamente porque o que quer que tenha sido prescrito a elas antes de nós está
prescrito para nós, a não ser que seja unanimente rejeitado pela doutrina
islâmica.
Portanto, a única proibição é a mulher se comportar de modo a se
insinuar ou tentar o homem. Isto está expresso no Alcorão, onde Allah diz:
"Ó
esposas do Profeta, vós não sois como as outras mulheres; se sois tementes, não
sejais insinuantes na conversasção, para evitardes a cobiça daquele que possui
morbidez no coração, e falai o que é justo." (Alcorão 33:32)
Assim, o que é
proibido é o falar insinuante que induz aqueles que têm os corações doentes a se
comportarem de forma inadequada. Mas, isto não quer dizer que toda conversa com
as mulheres seja proibida, porque Allah completa o versículo
"... mas falai o
que é justo." (Alcorão 33:32)
Buscar desculpas para silenciar as mulheres é apenas uma das
injustiças que certos sábios e imams tentam impor às mulheres. Eles assinalam
que tais ahadith foram narrados por Bukhari sobre o Profeta, que diz: "As
mulheres são o perigo maior que deixei para os homens." Eles afirmam que esse
perigo quer dizer que as mulheres são uma maldição a ser tolerada da mesma forma
que a pobreza, a fome, a doença, a morte e o medo. Esses "sábios" ignoram o fato
de que o homem é testado mais por suas bênçãos do que por suas tragédias.
E
Allah diz:
"... e vos provaremos com o mal e com o bem." (Alcorão
21:35)
Em apoio a este argumento Allah diz no Alcorão que as duas maiores
bênçãos da vida, riqueza e filhos, são provas.
"E sabei que tanto vossos bens
como vossos filhos são para vos pôr à prova" (Alcorão 8:28)
Uma mulhere, não
obstante as bênçãos que ela espalha em seu ambiente, também pode ser uma prova,
posto que ela pode desviar um homem de sua obrigação para com Allah. Assim,
Allah cria a consciência de como as bênçãos podem ser extraviadas a ponto de se
tornarem maldições. Os homens podem usar suas esposas como uma desculpa para não
cumprir a jihad ou para fugir do sacrifício de produzir riqueza. No Alcorão
Allah avisa:
"Ó fiéis, em verdade, tendes adversários entre as vossas
mulheres e os vossos filhos" (Alcorão 64:14)
A advertência é a mesma para
aqueles abençoados com riqueza e descendência abundantes (63:9). Além disso, o
hadith diz: "Por Deus não receio a pobreza para vós, mas sim que o mundo vos
seja abundante como o foi para aqueles antes de vós e assim que luteis pela
abundância da mesma forma que aqueles antes de vós lutaram e assim que sejais
destruídos assim como eles foram destruidos." Este hadith não quer dizer que o
Profeta encorajasse a pobreza.
A pobreza é uma maldição contra a qual o
Profeta buscava refúgio em Allah. Ele não pretendia que sua Ummah se privasse da
riqueza e da abundância- "O melhor da boa riqueza é para o justo." As mulheres
também são um presente para o justo, porque o Alcorão diz que o muçulmano e a
muçulmana, o crente e a crente, são ajuda e conforto um para o outro, aqui e no
além. O Profeta não condenou as bênçãos que Allah propiciou para a sua Ummah.
Antes pelo contrário, ele desejava afastar os muçulmanos e a sua Ummah dos
caminhos escorragadios, cujo fosso insondável é uma lama de crueldade e
desejo.
MULHERES QUE FIZERAM
HISTÓRIA NO ISLAM
Khadija bint Khuwaili
Fatimah Bint
Muhammad
Aishah Bint Abu Bakr
Umm Salamah
Zaynab
al-Ghazali
O Islam, hoje, é uma grande força no mundo. Mas, houve um
tempo em que, quando ele ainda engatinhava, precisou de proteção contra os
ventos da idolatria e do politeísmo. Os muçulmanos não podem se esquecer de uma
figura importante na construção dos alicerces do Islam:
Khadija bint Khuwaili.
Khadija foi testemunha ocular do nascimento do Islam. Foi em
sua casa que o Islam foi sendo esculpido e moldado. Foi a partir de sua casa que
o Islam "alçou vôo". Sua casa foi o lar do Alcorão, o Livro de Deus e código
religioso e político do Islam. Durante 10 anos as mensagens foram sendo trazidas
pelo anjo Gabriel e Khadija foi quem mais colecionou essas primeiras revelações
vindas de Deus. Ela foi a primeira esposa do último dos profetas de Deus. Ela
foi a primeira crente. Foi ela o primeiro ser humano a declarar que o Criador
era Um e que Mohammad era Seu profeta. Ela foi a companheira constante de
Mohammad. Até a sua morte, Mohammad dedicou exclusivamente a Khadija todo o seu
amor, afeto e amizade. Ela foi a primeira pessoa a oferecer preces a Deus
juntamente com seu marido.
'Afif Al-Kanadi relatou: "Cheguei a Macca durante
os dias de ignorância e queria vender algumas roupas e perfumes em nome de minha
família. Fui até Al-Abbas b. 'Abdul-Mutalib." Ele conta: "Enquanto estava em sua
casa, olhei para a Caaba. O sol saiu quando um homem chegou, até aproximar da
Caaba. Então ele levantou sua cabeça para o céu e olhou para a Caaba. Então, um
jovem chegou e ficou à sua direita. Não levou muito tempo e uma mulher chegou e
ficou atrás deles. Então o homem se curvou e o jovem e a mulher se curvaram.
Então o homem levantou sua cabeça e o jovem e a mulher fizeram o mesmo. Então o
homem se prostrou e o jovem e a mulher se prostraram também."
Ele continuou:
"Então, eu disse: 'Ó Abbas! Na verdade, vejo um grande homem.' E Abbas disse:
'Sabe quem é aquele homem?' Eu respondi: 'Não, não sei.' Ele disse: 'É Mohammad
b.'Abdullah b.'Abdul-Mutalib, meu sobrinho. Sabe quem é aquela mulher?' Eu
disse: 'Não sei.' Ele disse: 'Aquela é Khadija bint Khuwaylid, a esposa do meu
sobrinho. Este meu sobrinho que você vê nos contou que seu Senhor é o Senhor dos
céus e da terra e que Ele lhe ordenou esta religião que ele está seguindo. Juro
por Allah que não conheço ninguém mais sobre a face da terra que esteja seguindo
esta religião além daqueles três.' E Afif disse: 'Gostaria de ser o quarto.'
"
Quando Mohammad proclamou sua missão como o mensageiro de Deus e disse aos
árabes para não adorarem ídolos e os convocou para se unirem em torno da
bandeira do Tauheed, uma onda de infortúnios se abateu sobre ele. Os politeístas
quiseram beber seu sangue. Inventaram novas e engenhosas formas de atormentá-lo
e fizeram inúmeras tentativas para sufocar sua voz para sempre. Naqueles tempos
de tristeza e tensão, Khadija nunca lhe faltou. Foi somente por causa dela e de
Abu Talib que os politeístas não conseguiram destruir o trabalho de pregação e
divulgação do Islam. Desta forma, é dela a mais importante contribuição para a
sobrevivência do Islam.
Khadija criou os padrões básicos que traduzem a paz,
harmonia, felicidade e satisfação domésticas e os aplicou em sua própria vida.
Ela demonstrou que a chave para a felicidade familiar é a proximidade entre seus
membros. Ela mostrou os direitos e deveres de maridos e esposas. O modelo criado
por ela tornou-se um "esquema" de vida familiar para o Islam.
Mohammad e
Khadija ficaram juntos por 25 anos e durante esses anos formularam as "leis" que
tornam um casamento bem sucedido e a vida mais feliz. Desde então, mesmo que em
termos temporais, o resto do mundo jamais foi capaz de encontrar regras de
convivência melhores. Khadija transformou em realidade as abstrações do
idealismo. Sua vida com Mohammad é uma prova concreta deste fato. O que ela deu
ao mundo não foi apenas um conjunto de princípios ou idéias teóricas, mas toda
uma experiência, rica em momentos de puro encantamento com o Islam e de um amor
penetrante por Deus e Seu Mensageiro.
Os árabes pagãos tinham um sentido de
honra distorcido. Era esse "sentimento de honra" que os levava a matar suas
filhas. O Islam, é claro, pôs um fim a essa prática bárbara, transformando-a em
pecado contra Deus e em crime contra a humanidade. Além de acabar com o
infanticídio feminino, o Islam também concedeu dignidade, honra e direitos a
todas as mulheres, garantindo esses direitos. Deus quis demonstrar que as leis
do Islam eram todas praticáveis. Para demonstrar a praticabilidade dessas leis e
mostrar esse "Projeto de Vida" islâmico, Ele escolheu a casa de seus servos
Mohammad e Khadija. Sem Khadija, as leis do Islam teriam permanecido sem
sentido. Na verdade, é até possível que Mohammad não pudesse promulgar aquelas
leis sem ela. Uma das grandes bênçãos que Mohammad e Khadija receberam de Deus
foi sua filha, Fatima Zahra. Ela nasceu após a morte de seus irmãos, Qasim e
Abdullah. Ela tinha apenas 11 anos quando sua mãe morreu e Mohammad se
transformou em pai e mãe para ela. Foi educando sua filha que o Mensageiro de
Deus demonstrou a aplicabilidade das leis do Islam. Uma vez que ele é o modelo
para todos os muçulmanos, eles devem imitá-lo em todos os seus atos. Ele dedicou
um amor extremado e mostrou o maior respeito por sua filha.
Tanto em Macca
como em Medina, muitas pessoas importantes, líderes de tribos poderosas, vinham
ver o Mennsageiro de Deus. Ele jamais se levantava do chão para cumprimentá-los.
Mas se ele sabia que sua filha Fatima estava chegando para vê-lo, ele corria
para cumprimentá-la, acompanhava-a e lhe dava o lugar de honra para se sentar.
Jamais ele mostrou tanta estima e respeito por qualquer um em toda a sua vida -
homem ou mulher.
É inegável que o Islam significa a prática da casa de
Khadija e sem dúvida o Alcorão foi o "dialeto" de sua família. Sua filha Fatima,
e seus netos Hasan e Husain, cresceram falando o Alcorão. Não existem palavras
adequadas que possam expressar os méritos de Khadija. Mas Deus prometeu Sua
recompensa aos Seus servos amados, como Khadija, nos seguintes versículos de Seu
livro:
"Por outra, os fiéis, que praticam o bem, são as melhores criaturas,
cuja recompensa está em seu Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os
rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se
comprazerão n'Ele. Isto acontecerá com quem teme o seu Senhor." (Alcorão 98:7-8)
O Mensageiro de Deus honrava e estimava Khadija. Jamais discordou dela antes
de receber a revelação. Mesmo após a sua morte, ele sempre se lembrar dela e não
se cansava de exaltá-la. Certa vez, Aisha enciumada, disse ao Profeta: "Na
verdade, Deus não lhe deu nada melhor do que uma velha." O Profeta se irritou e
disse: "Não, por Deus, juro que Allah jamais me concedeu nada melhor do que ela.
Ela foi a esposa que acreditou em mim quando ninguém acreditava. Ela confirmou
minha honestidade quando todos me acusavam de mentiroso. Ela me sustentou quando
todos me despojaram. Através dela, Allah me concedeu os filhos que nenhuma outra
mulher me deu." O Profeta estava tão irritado que sua testa tremia e então eu
disse para mim mesma: "O Deus, se a raiva do Profeta se aplacar nunca mais
repetirei o que disse."
E Aisha também disse: "Nunca tive ciúmes das outras
esposas do Profeta como tive de Khadija. Eu não a conheci mas o Profeta
costumava se lembrar sempre dela. Quando ele sacrificava um carneiro, era comum
ele cortar algumas partes e mandar para os amigos de Khadija. Algumas vezes eu
dizia a ele: 'É como se não houvesse outra mulher no mundo além de Khadija.' E
ele respondia: 'Como posso esquecê-la? Ela me deu os filhos mais amados.'
"
Aisha também disse: "O Mensageiro de Deus quase sempre antes de deixar a
casa citava Khadija e a louvava."
Khadija, a Mãe dos Crentes, morreu ajudando
o Mensageiro de Deus a transmitir o chamado do Islam. Tinha, então, 65 anos e
sua morte se deu três anos antes da migração para Medina. O próprio Profeta a
enterrou com suas mãos. Sua morte representou uma grande perda para ele.
Fatimah Bint
Muhammad
Fátima foi o quinto filho de Mohammad e Khadija. Ela
nasceu na época em que seu pai começou a passar longos períodos em solidão nas
montanhas perto de Macca, meditando e refletindo sobre os grandes mistérios da
criação.
Sua irmã mais velha tinha se casado com seu primo, al-Aas ibn
ar-Rabiah. Em seguida veio o casamento de suas duas outras irmãs, Ruqayah e Umm
Kulthun, com os filhos de Abu Lahab, um tio paterno do Profeta. Tanto Abu Lahab
quanto sua esposa, Umm Jamil, tornaram-se inimigos ferozes do Profeta quando
este iniciou sua missão.
Assim, a pequena Fátima viu suas irmãs deixaram a
casa paterna, uma após a outra, para irem viver com seus maridos. Ela era muito
nova para compreender o significado do casamento e as razões pelas quais suas
irmãs estavam indo embora. Fátima devotava grande amor às irmãs e se sentiu
muito só. Conta-se que uma certa tristeza se abateu sobre ela.
É claro que
naquele tempo, mesmo depois do casamento de suas irmãs, ela não ficou sozinha em
casa de seus pais. Barakah, a serva de Aminah, mãe do Profeta, que tinha cuidado
dele desde o seu nascimento, Zayd ibn Harithah e Ali, o filho de Abu Talib,
faziam parte da casa de Mohammad. E claro que tinha sua amada mãe,
Khadija.
Fátima encontrou em Barakah e em sua mãe grande consolo. Em Ali, que
era dois anos mais velho do que ela, encontrou um "irmão" e amigo que, de alguma
forma, havia ocupado o lugar de seu irmão al-Qasim, que havia morrido cedo.
Abdullah, seu outro irmão, conhecido como o Bom e Puro, que nasceu depois dela,
também havia morrido ainda criança. No entanto, ninguém da casa de seu pai lhe
dera tanta alegria e felicidade como suas irmãs. Ela era uma criança muito
sensível para a sua idade.
Quando estava com 5 anos, soube que seu pai
tinha-se tornado Rasul Allah, o Mensageiro de Deus. Os primeiros a receberem as
boas novas do Islam foram sua família e os amigos mais chegados. Eles deviam
adorar a Deus Todo Poderoso somente. Sua mãe, que era um baluarte de força e
amparo, explicou a Fátima o que seu tinha que fazer. A partir daquele momento
ela ficou mais intimamente ligada a ele, devotando-lhe um profundo e respeitoso
amor. Muitas vezes ela sairia pelas ruas estreitas de Macca, visitando a Caaba
ou assistindo aos encontros secretos dos primeiros muçulmanos que haviam
abraçado o Islam e prometido fidelidade ao Profeta
Um dia, quando ainda não
tinha dez anos, ela acompanhou seu pai à mesquita de al-Haram. Ele ficou no
lugar conhecido como al-Hijr, de frente para a Caaba e começou a rezar. Fátima
ficou de pé a seu lado. Um grupo de coraixitas mal intencionados começou a
confabular sobre ele. Entre aquelas pessoas estavam Abu Jahl ibn Hisham, tio do
Profeta, Uqbah ibn Abi Muayt, Umayyah ibn Khalaf, e Shaybah e Utbah, filhos de
Rabi'ah. Ameaçadoramente, o grupo se dirigiu ao Profeta e Abu Jahl, líder do
grupo, perguntou:
"Quem de vocês pode trazer as tripas de um animal morto e
atirá-las sobre Mohammad?"
Uqbah ibn Abi Muayt, um dos mais infames do grupo, se
apresentou como voluntário e saiu correndo para providenciar. Voltou trazendo a
porcaria e a atirou sobre os ombros do Profeta que jazia prostrado em adoração.
Abdullah ibn Masud, um companheiro do Profeta a tudo assistiu, impotente para
fazer ou dizer qualquer coisa.
Imagine-se os sentimentos de Fátima, vendo seu
pai ser tratado desta maneira! O que podia uma menina de 10 anos fazer?
Aproximou-se do pai, retirou aquela sujeira e, então, firme e furiosamente ficou
diante do grupo de fascínoras e começou a gritar com eles. Não disseram uma
palavra. O Profeta levantou sua cabeça completando a prostração e seguiu com a
oração. Então disse: "Ó Senhor, que os coraixitas sejam punidos!" e repetiu esta
imprecação por três vezes. Depois continuou: "Que Utbah, Abu Jahl e Shaybah seja
punidos." (Esses três morreram mais tarde na Batalha de Badr).
Em outra
ocasião, Fátima estava com o profeta enquanto ele fazia tawaf em volta da Caaba.
Uma turba de coraixitas se juntou em volta dele. Eles o agarraram e tentaram
estrangulá-lo com suas próprias roupas. Fátima gritou por socorro. Abu Bakr
correu até eles tentando libertar o Profeta, enquanto implorava:
"Vocês
querem matar um homem que diz 'Meu Senhor é Deus?' " Longe de desistir, o grupo
se voltou para Abu Bakr e começou a bater nele até que o sangue começou a
escorrer de sua cabeça e rosto.
Tais cenas de oposição feroz e perseguição
contra seu pai e os primeiros muçulmanos foram testemunhadas pela jovem Fátima.
Jamais ficou impassível a tudo isso, pelo contrário, partiu para a luta na
defesa de seu pai e de sua nobre missão. Ela era ainda uma menina e ao invés das
brincadeiras alegres, próprias das crianças de sua idade, Fátima presenciou e
participou de tais provações.
É claro que ela não estava sozinha. Toda a
família do Profeta sofreu com essa insana violência dos coraixitas. Suas irmãs,
Ruqayyah e Umm Kulthum, também sofreram. Nessa época elas estavam morando no
ninho de ódio e intriga contra o Profeta. Afinal, os maridos eram Utbah e
Utaybah, filhos de Abu Lahab e Umm Jamil. Umm Jamil era conhecida por ser uma
mulher mesquinha e inflexível, que tinha uma língua ferina. Tinha sido
exatamente por causa dela que Khadija não tinha ficado satisfeita com o
casamento das filhas. Deve ter sido doloroso para Ruqayyah e Umm Kulthum viver
na casa desses inimigos que, ao invés de se juntarem ao seu pai, empreenderam
uma terrível campanha para destruí-lo.
Como sinal da desgraça sobre Mohammad
e sua família, Utbah e Utaybah foram obrigados por seus pais a se divorciarem
das esposas. Isto fazia parte do processo de lançar Mohammad ao total
ostracismo. O Profeta, na verdade, recebeu suas filhas de volta com alegria,
felicidade e alívio.
Fátima, com certeza, mais feliz ainda, por estar de novo
com suas irmãs. Agora todos na família queriam que a irmã mais velha, Zaynab,
também se divorciasse do marido. De fato os coraixitas fizeram pressão para que
Abul Aas se divorciasse da filha do Profeta, mas ele se recusou. Quando os
líderes dos coraixitas vieram ter com ele e lhe prometeram a mais bela e mais
rica mulher como esposa se ele se divorciasse de Zaynab, ele respondeu:
"Amo
minha esposa profunda e apaixonadamente e tenho grande respeito por seu pai,
muito embora eu não tenha entrado para a religião do Islam."
Tanto Ruqayyah
quanto Umm Kulthum estavam felizes com o retorno para a casa dos pais e por
estarem livres da insuportável tortura mental a qual foram submetidas na casa de
Umm Jamil. Um pouco depois, Ruqayyah se casou de novo com o jovem Uthman ibn
Allan, que estava entre os primeiros a aceitar o Islam. Eles seguiram para
Abissínia juntamente com os primeiros muhajirin que buscaram refúgio naquelas
terras e ficaram por lá muitos anos. A perseguição ao Profeta, sua família e
seguidores continuou, piorando depois da migração dos primeiros muçulmanos para
a Abissínia. No sétimo ano de sua missão, o Profeta e sua família foram forçados
a deixar a casa e buscar refúgio num pequeno e escarpado vale circundado por
montanhas por todos os lados e um desfiladeiro, que só podia ser alcançado
através de uma passagem estreita.
Neste vale árido, Mohammad e os clãs de
Banu Hashim e al-Muttalib foram forçados a viver com alimentação racionada.
Fátima era um dos membros mais jovens dos clãs - cerca de 12 anos - e teve que
suportar meses de sofrimento e privação. O choro das mulheres e crianças
famintas podia ser ouvido em Macca. Os coraixitas não permitiam qualquer contato
com os muçulmanos, cujo sofrimento diminuía um pouco durante o período da
peregrinação. Esse boicote durou três anos. Quando foi suspenso, o Profeta teve
que enfrentar mais provas e dificuldades. Khadija, a amada e fiel esposa, morreu
um pouco depois. Com sua morte, o Profeta e sua família perdeu uma das suas
maiores fontes de conforto e força, que os sustentou durante os dias de grandes
dificuldades. O ano em que Khadija, e logo depois Abu Talib, morreram é
conhecido como o "Ano da Tristeza". Fátima, agora uma adolescente, sofreu com a
morte de sua mãe. Ela chorou muito e durante algum tempo ficou tão abalada que
isso teve repercursões sobre sua saúde. Temia-se até que ela pudesse morrer de
tristeza.
Embora sua irmã mais velha, Umm Kulthum, estivesse em casa, Fátima
percebeu que agora ela tinha uma responsabilidade maior com a morte da mãe. Ela
sentia que tinha que dar um apoio maior a seu pai. Com ternura e carinho ela se
dedicou a cuidar de suas necessidades. Ela era tão preocupada com o seu bem
estar que chegou a ser chamada de "Umm Abi-ha" (a mãe de seu pai). Ela também o
amparou nos difíceis tempos de provas e crises.
Muitas vezes as provações
eram demais para ela. Certa vez, uma turba de insolentes atirou poeira e terra
sobre a cabeça do Profeta. Quando ele entrou em casa, Fátima chorou muito,
enquanto tiram a poeira da cabeça de seu pai.
"Não chore, minha filha, porque
Deus protegerá seu pai."
O Profeta tinha um carinho especial por Fátima. Uma
vez ele disse: "Quem quer que agrade Fátima, na verdade agrada a Deus e quem
quer que lhe cause tristeza na verdade desagra a Deus. Fátima é uma parte de
mim. O que quer que lhe agrade me agrada e o que quer que lhe desagrade me
desagrada."
Também disse: "As melhores mulheres do mundo são quatro: a Virgem
Maria, Aasiyaa, esposa do Faraó, Khadija, Mãe dos Crentes, e Fátima, a filha de
Mohammad." Assim, Fátima conquistou um lugar especial no coração do Profeta,
antes ocupado apenas por sua esposa Khadija.
Por causa de seu rosto
brilhante, que parecia uma luz radiante, Fátima recebeu o título de "az-Zahraa",
que significa "a resplandescente". Conta-se que quando ela ia rezar, o mihrab
refletia a luz de seu semblante. Também era conhecida por "al Batul" por causa
de seu asceticismo. Ao invés de ficar na companhia das mulheres, passava a maior
parte do seu tempo em oração, lendo o Alcorão e assistindo os pobres.
Fátima
tinha uma forte semelhança com seu pai. Aisha, a esposa do Profeta, disse sobre
ela: "Jamais vi nada na criação de Deus que lembrasse mais o Mensageiro de Deus
na palavra, nas conversas e no modo de sentar, do que Fátima. Quando o Profeta a
via chegar, ele a cumprimentava, se levantava e a beijava, tomava-a pela mão e a
fazia sentar-se no lugar onde ele estava sentado." Ela fazia a mesma coisa
quando ele ia visitá-la. Ela se levantava, cumprimentava-o com alegria e o
beijava.
O modo fino e gentil de falar era parte de sua personalidade
afetuosa e amorosa. Ela era especialmente amável com os pobres e indigentes e
algumas vezes distribuia toda a comida que tinha para aqueles necessitados,
ainda que ela mesma ficasse com fome. Não tinha desejos pelas coisas deste mundo
nem almejava uma via luxuosa e confortável. Vivia de maneira simples, embora em
certas ocasiões, que veremos adiante, as circunstâncias pareciam ser muito
difíceis para ela.
Ela herdou de seu pai uma eloquência persuasiva, cheia de
sabedoria. Quando falava, as pessoas muitas vezes chegavam às lágrimas. Tinha a
habilidade e a sinceridade de despertar as emoções, levar as pessoas às lágrimas
e encher seus corações com louvor e gratidão a Deus por Suas graças e
inestimáveis bênçãos.
Fátima migrou para Medina poucas semanas após o
Profeta. Ela foi com Zayd ibn Harithah, que havia sido mandado pelo Profeta para
trazer o resto de sua família. O grupo incluía Fátima e Umm Kulthum, Sawdah, a
esposa do Profeta, Barakah, a esposa de Zayd e seu filho Usamah. Viajando com
eles, também estava Abdullah, o filho de Abu Bakr, que acompanhava sua mãe e
tia, Aisha e Asma.
Em Medina, Fátima viveu com seu pai numa casa simples que
tinha sido construída perto da mesquita. No segundo ano depois da Hégira, ela
recebeu várias propostas de casamento. Ali, o filho de Abu Talib, armou-se
coragem e foi pedir ao Profeta a mão de sua filha em casamento. No entanto,
quando na presença do Profeta, Ali ficou paralisado. Olhava para o chão e não
conseguia dizer nada. O Profeta, então, lhe perguntou: "Por que você veio? Está
precisando de alguma coisa?" Mas Ali não conseguia dizer uma palavra e então o
Profeta sugeriu: "Talvez você tenha vindo para propor casamento a Fátima."
"Sim", ele respondeu. Em seguida, de acordo com relatos, o Profeta disse
simplesmente "Marhaban wa ahlan" (seja benvindo). Um outro relato conta que o
Profeta aprovou e perguntou a Ali se ele tinha alguma coisa para dar como dote.
Ele respondeu que não tinha. O Profeta o fez lembrar-se de que tinha um escudo
que podia ser vendido. Ali vendeu-o a Uthman por 400 dirhams e voltou correndo
ao Profeta dando a ele a quantia apurada como dote. Uthman interrompeu-o e
disse: "Devolvo-lhe seu escudo como meu presente de casamento."
Fátima e Ali
se casaram provavelmente no início do segundo ano após a Hégira. Ela devia ter
perto de 19 anos e Ali 21. O próprio Profeta celebrou a cerimônia de casamento.
Os convidados foram servidos com tâmaras, figos e "hais" (uma mistura de tâmaras
e manteiga). Um membro dos ansar deu de presente um carneiro e os outros
ofertaram grãos. Toda Medina se rejubilou.
Diz-se que o Profeta presenteou o
casal com uma cama de madeira, entrelaçada com folhas de palmeira, uma manta de
veludo, uma almofada de couro, uma pele de carneiro, um vaso e um moedor de
grãos.
Pela primeira vez Fátima deixou a casa de seu amado pai para começar
uma nova vida com o marido. O Profeta estava nitidamente preocupado com ela e
mandou Barakah para ajudá-la em caso de necessidade. Sem dúvida, Barakah foi uma
inestimável fonte de conforto e consolo para Fátima. E o Profeta rezou por
eles:
"Ó Senhor, abençoe a ambos, a sua casa e a sua descendência." Na casa
humilde de Ali, só havia uma pele de carneiro para a cama. Na manhã seguinte ao
casamento, o Profeta foi até lá e bateu na porta. Barakah veio atender e o
Profeta lhe disse: "Ó Umm Ayman, chame meu irmão para mim." "Seu irmão? Aquele
que se casou com sua filha?" perguntou Barakah algo incrédula, como se quisesse
dizer: Por que o Profeta chama Ali de seu irmão? (Ele se referia a Ali como seu
irmão porque depois da Héjira os muçulmanos estavam ligados numa fraternidade,
assim o Profeta e Ali estavam ligados como "irmãos").
O Profeta repetiu o que
tinha dito numa voz mais alta. Ali chegou e o Profeta invocou as bênçãos de Deus
sobre ele. A seguir, ele perguntou por Fátima. Ela apareceu quase que se
encolhendo, entre espantada e tímida, e o Profeta lhe disse:
"Eu casei você
com o mais querido de minha família." Desta forma, ele procurou tranquilizá-la.
Ela não estava começando uma vida nova com alguém estranho, mas sim com um que
havia sido criado na mesma casa, que estava entre os primeiros a abraçarem o
Islam ainda muito novo, que era conhecido por sua coragem, bravura e virtude, e
a quem o Profeta descrevia com seu "irmão neste mundo e no outro."
A vida de
Fátima com Ali foi tão simples e frugal como havia sido em casa de seu pai. Na
verdade, ao invés de conforto material foi uma vida de dificuldades e privações.
Durante toda a vida em comum, Ali permaneceu pobre e não conseguiu fazer uma
fortuna material. Fátima era a única de suas irmãs que não tinha se casado com
um homem rico. Pode-se dizer que a vida de Fátima com Ali foi até mais severa do
que a que levava em casa de seu pai. Pelo menos, antes do casamento, enquanto
vivia na casa do Profeta, não lhe faltavam inúmeras mãos sempre prontas para
ajudar. Mas agora, ela tinha que administrar tudo por conta própria. Para
diminuir a extrema pobreza, Ali trabalhava como carregador de água enquanto ela
moía o milho. Um dia ela disse a Ali: "Tenho trabalhado a terra até fazer bolhas
em minhas mãos."
"Eu tenho tirado água até meu peito doer." respondeu. Ali,
então, sugeriu a Fátima: "Deus deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra,
portanto, vá e peça a ele para lhe ceder um servo."
Relutante, ela foi ter
com o Profeta, que disse: "O que a traz aqui, minha filhinha?" "Vim lhe
apresentar minhas saudações de paz," ela respondeu, porque, com vergonha dele,
não conseguiu dizer o que estava pretendendo.
"O que você fez?", perguntou
Ali quando ela voltou sozinha.
"Eu fiquei envergonhada de pedir a ele", ela
disse. Então, os dois foram juntos, mas o Profeta sentiu que eles tinham menos
necessidade do que os outros.
"Não lhes darei", ele disse, "os Ahlas Suffah
(muçulmanos pobres que ficavam na mesquita) estão atormentados pela fome. Não
tenho o bastante para ..."
Ali e Fátima retornaram para casa, sentindo-se um
pouco rejeitados, mas naquela noite, após terem ido para cama, eles ouviram a
voz do Profeta pedindo permissão para entrar. Puseram-se de pé e ele lhes
disse:
"Fiquem onde estão" e sentou-se ao lado deles. "Posso dizer-lhes
alguma coisa melhor do que aquela que vocês me pediram?" Eles responderam "Sim"
e ele disse: "As palavras que Gabriel me ensinou, que vocês devem dizer "Subhana
Allah" (Glorificado seja Deus) dez vezes depois de cada oração, e dez vezes
"Alhamdul lillah "Louvado seja Deus) e dez vezes "Allahu Akbar" (Deus é o
maior). E que quando vocês forem para a cama devem dizer trinta e três vezes
cada uma."
Alguns anos mais tarde, Ali costumava dizer: "Desde que o
Mensageiro de Deus nos ensinou aquelas palavras, nunca deixei de dizê-las uma
única vez."
Existem muitos relatos sobre os tempos difíceis que Fátima
enfrentou. Muitas vezes não havia comida em sua casa. Certa vez o Profeta estava
com fome. Ele foi a casa de cada uma de suas esposas, mas não havia comida.
Então, foi até a casa de Fátima, e, também lá não havia comida. Quando
finalmente ele conseguiu alguma coisa, ele mandou dois pães e um pedaço de carne
para Fátima. Uma outra vez, ele foi a casa de Abu Ayyub al-Ansari e, da comida
que lhe deram, ele separou um pouco para ela. Fátima tanbém sabia que o Profeta
ficava sem alimento por longos períodos e, em troca, lhe mandava comida quando
conseguia alguma. Uma vez ela lhe levou um pedaço de pão de cevada e ele lhe
disse: "Este é o primeiro alimento que seu come em três dias."
Através desses
gestos de delicadeza, ela mostrava como amava o pai e ele a amava também.
Uma
vez, ele voltava a Medina de uma de suas viagens, e se dirigiu primeiro para a
mesquita, rezou duas "rakat", como era de seu costume. Em seguida, como sempre
fazia, foi à casa de Fátima antes de ir ver suas esposas. Ela o recebeu, beijou
seu rosto e sua face e chorou.
"Por que você está chorando?" perguntou o
Profeta.
"Estou olhando para você, ó Rasul Allah, amarelo, pálido, suas
roupas estão gastas e esfarrapadas." "Ó Fátima" o Profeta respondeu ternamente,
"não chore, porque Deus enviou seu pai com uma missão que influenciará cada casa
sobre a face da terra, seja nas cidades, vilas ou tendas (no deserto), trazendo
glória ou humilhação até que esta missão esteja completa, como a noite, que
sempre chega (inevitavelmente)."
Com tais comentários, Fátima muitas vezes se
esquecia da realidade dura da vida diária e conseguia vislumbrar a grandeza da
missão confiada a seu nobre pai.
Finalmente, Fátima voltou a morar numa casa próxima à do
Profeta. O lugar foi doado por um ansar que sabia que o Profeta ficaria contente
em ter sua filha perto dele. Juntos, eles dividiram as alegrias e triunfos, as
tristezas e dificulddes daqueles anos graves e turbulentos em Medina.
Em
meados do segundo ano após a Hégira, um pouco antes da campanha de Badr, sua
irmã Ruqayyah ficou doente, com febre e sarampo. Uthman, seu marido, ficou com
ela e acabou não indo para os campos de batalha. Ruqayyah acabou morrendo um
pouco antes do retorno de seu pai. Quando ele chegou a Medina, um de seus
primeiros atos foi o de visitar túmulo da filha, na companhia de Fátima. Esta
foi a primeira perda de um parente próximo, desde a morte de Khadija. Fátima
ficou profundamente triste com a morte da irmã. Ao chegarem ao túmulo de
Ruqayyah, as lágrimas corriam de seus olhos e o Profeta a confortou e procurou
enxugar suas lágrimas com a ponta de seu manto.
O Profeta havia se
manifestado anteriormente contra as lamentações pelos mortos, mas isto levou a
uma interpretação errada e, quando eles retornavam do cemitério, a voz de Umar
se fazia ouvir, imprecando contras as mulheres que choravam pelos mártires de
Badr e por Ruqayyah.
"Umar, deixe-as chorar", ele disse e, em seguida,
acrescentou: "O que vem do coração e do olho, é de Deus e de Sua Misericórdia,
mas o que vem da mão e da língua, é de Satanás." Por mão, ele queria se referir
àquelas pessoas que batem no peito e arranham o rosto, e por língua queria se
referir aos lamentos das carpideiras.
Uthman mais tarde se casou com a outra
filha do Profeta, Umm Kulthum, e por causa disso, ficou conhecido como Dhu-n
Nurayn, o possuidor de Duas Luzes.
O luto sofrido pela família com a morte de
Ruqayyah foi seguido de grande felicidade, quando Fátima deu à luz um menino, no
mês de Ramadã do terceiro ano após a Hégira. O Profeta disse as palavras de
Adhan no ouvido do recém-nascido e deu-lhe o nome de Al-Hasan, que significa o
Belo.
Um ano mais tarde, nasceu outro menino que se chamou Al-Husayn, que
significa "o pequeno Hasan". Seguidamente Fátima trazia seus dois filhos para
visitarem o avô, que era extremamente carinhoso com eles. Mais tarde, ele os
levava à Mesquita e eles subiam em suas costas enquanto estava prostrado. Ele
também fazia o mesmo com a neta Umamah, filha de Zaynab.
No oitavo ano após a
Hégira, Fátima deu à luz uma menina, a quem ela deu o nome de sua irmã mais
velha, Zaynab, que havia morrido um pouco antes de seu nascimento. Esta filha de
Fátima ficou famosa como a "Heroína de Karbala". O quarto filho de Fátima foi
uma menina a quem ela deu o nome de Umm Kulthum, em homenagem à irmã que havia
morrido depois de uma doença.
Foi apenas através de Fátima que a descendência
do Profeta se perpetuou. Todos os filhos de Mohammad morreram ainda na infância
e os dois filhos de Zaynab, de nome Ali e Umamah, morreram jovens. O filho de
Ruqayyah também morreu quando ainda não tinha dois anos de idade. Esta é mais
uma razão de reverência que é concedida à Fátima.
Embora Fátima fosse muito
ocupada cuidando das crianças, ela tomou parte, na medida do possível, nos
assuntos afetos ao crescimento da comunidade muçulmana de Medina. Antes de seu
casamento, ela era uma espécie de protetora dos pobres e desvalidos. Assim que a
Batalha de Uhud terminou, ela foi com outras mulheres ao campo de batalha e
chorou pelos mártires mortos e ainda arrumou tempo para cuidar das feridas de
seu pai. Na Batalha de Ditch, ela desempenhou um papel muito importante,
juntamente com outras mulheres, preparando comida durante o longo e difícil
cerco. Ela orientou as mulheres nas orações e naquele lugar existe uma mesquita
com o nome de Masjid Fatimah, uma das setes em que os muçulmanos guardavam e
praticavam suas devoções.
Fátima também acompanhou o Profeta quando ele fez a
Umrah, no sexto ano após a Hégira, depois do Tratado de Hudaybiyyah. No ano
seguinte, ela e sua irmã Umm Kulthun estavam entre os muçulmanos que
participaram, junto com o Profeta, da libertação de Macca. Diz-se que naquela
ocasião, tanto Fátima como Umm Kulthun, visitaram a casa de sua mãe, Khadija, e
rememoram os tempos da infância e da jihad, das longas lutas nos primeiros anos
da missão do Profeta.
No Ramadã do décimo ano, um pouco antes de ela fazer a
Peregrinação do Adeus, o Profeta confidenciou à Fátima, como segredo que ainda
não podia ser revelado aos outros:
"Gabriel recitava o Alcorão para mim e eu
para ele, uma vez a cada ano, mas este ano ele recitou duas vezes. Acho que
minha hora chegou."
Na sua volta da Peregrinação do Adeus, o Profeta ficou
seriamente doente. Seus últimos dias foram passados na casa de sua esposa Aisha.
Quando Fátima vinha visitá-lo, Aisha deixava os dois sozinhos.
Um dia ele
chamou Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou e sussurrou algumas palavras em
seu ouvido. Ela chorou. De novo ele sussurou em seu ouvido e ela sorriu. Aisha
viu e perguntou:
"Você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima. O que o
Mensageiro de Deus lhe disse?" Ela respondeu:
"Primeiro ele me disse que irá
se encontrar com o seu Senhor daqui a pouco, e eu chorei. Depois ele me disse:
'Não chore porque você será a primeira de minha casa a se juntar a mim', e eu
sorri."
´Não demorou muito e o nobre Profeta morreu. Fátima ficou muito
abalada e muitas vezes ela foi vista chorando profusamente. Um dos companheiros
percebeu que nunca mais viu Fátima sorrir depois da morte de seu pai.
Uma
manhã, no início do mês de Ramadã, um pouco menos de 5 meses depois da morte do
pai, Fátima acordou parecendo muito feliz e cheia de alegria. Na tarde desse
dia, conta-se que ela chamou Salma bint Umays, que cuidava dela, e pediu para se
banhar. Depois vestiu roupas novas e se perfumou. Em seguida pediu a Salma que
levasse sua cama para o quintal da Casa. Com o rosto voltado para o céu, ela
pediu que chamasse o marido Ali.
Ele se surpreendeu quando viu a cama no meio
do quintal e perguntou a ela o que havia de errado. Ela sorriu e disse: "Tenho
um encontro hoje com o Mensageiro de Deus."
Ali chorou e ela tentou consolá-lo. Ela lhe disse para cuidar
dos filhos al-Hasan e al-Husayn e pediu para ser enterrada sem cerimônias. Olhou
para cima mais uma vez e então fechou os olhos e entregou sua alma ao Criador
Todo Poderosos.
Fátima, a Resplandescente, tinha apenas 29 anos de
idade.
Aishah Bint Abu
Bakr
A vida de Aisha é a prova de que uma mulher pode ser bem
mais instruída do que os homens e que ela pode ser a mestra de pensadores e
sábios. Sua vida também é a prova de que uma mulher pode exercer influência
sobre homens e mulheres e proporcionar-lhes inspiração e liderança. Além disso,
sua vida também é uma prova de que uma mesma mulher pode ser totalmente feminina
e fonte de prazer, alegria e conforto para seu marido.
Ela não se formou por
qualquer universidade. Na sua época não elas não existiam pelo menos da forma
como conhecemos hoje. Mas suas expressões são estudadas nas faculdades de
literatura, seus pronunciamentos legais são estudados nas faculdades de direito
e sua vida e trabalhos são estudados e pesquisados por professores e alunos de
história muçulmana da forma como aconteceram há mais de 1000 anos.
Esse vasto
tesouro de conhecimentos foi obtido quando ela era ainda muito jovem. Ela foi
criada por seu pai, que era muito querido e respeitado por ser um homem de
grande conhecimento, maneiras gentis e presença agradável. Além do mais, ele foi
o amigo mais próximo do nobre Profeta, que era um frequentador assíduo de sua
casa desde os primeiros dias de sua missão.
Na juventude, já conhecida por
sua beleza impressionante e sua formidável memória, ela chamou a atenção do
Profeta. Como sua esposa e companheira chegada, ela adquiriu dele conhecimento e
compreensão tais como nenhuma outra mulher jamais teve.
Aisha se tornou a
esposa do Profeta em Macca, quando provavelmente tinha 10 anos mas seu casamento
só aconteceu no segundo ano depois da hijrah, quando devia ter uns 14 ou 15
anos. Antes e depois de seu casamento, ela manteve uma jovialidade e inocência
naturais e não parecia nada intimidada com o fato de estar casada com Mohammad,
o Mensageiro de Deus, a quem todos os companheiros, incluindo seus prórpios
pais, tratavam com o máximo de amor e reverência.
A respeito de seu
casamento, ela contou que um pouco antes de ela deixar a casa de seus pais, ela
saiu para o quintal para brincar com uma amiga que passava.
"Eu estava
brincando de balanço e meus longos cabelos ondeados estavam despenteados", ela
disse. "Eles vieram e me tiraram da minha brincadeira e me aprontaram."
Eles a vestiram com um vestido de casamento feito de um
tecido listrado de vermelho do Bahrein e então sua mãe a levou para a casa
recentemente construída, onde algumas mulheres dos Ansar estavam esperando do
lado de fora da porta. Todas a cumprimentaram com as palavras "Que tudo corra
bem para a felicidade!" A seguir, na presença do Profeta sorridente, uma tigela
com leite foi t razida. O Profeta bebeu e ofereceu a Aisha. Ela timidamente
recusou mas quando ele insitiu ela bebeu e ofereceu a sua irmã que estava
sentada a seu lado. As outras pessoas também beberam o leite este foi o momento
solene e simples de seu casamento. Não houve festa de bodas.
O casamento com
o Profeta não mudou seus modos alegres. Suas amigas jovens vinha frequentemente
visitá-la em sua própria casa.
"Eu estava brincando com minhas bonecas" ela
disse, "com as meninas que eram minhas amigas e o Profeta chegou. Elas se
retiraram da casa e ele foi atrás delas e as trouxe de volta, porque ele ficava
contente por minha causa de tê-las ali." Algumas vezes ele dizia "Fiquem onde
estão" antes que elas tivessem tempo de se retirar e também se juntava à
brincadeira. Aisha disse: "Um dia, o Profeta chegou quando eu estava brincando
com as bonecas e ele disse: 'Ó Aisha, que brincadeira é essa?' 'Cavalos de
Salomão' eu disse e ele riu." Algumas vezes ele chegava e se escondia em seu
manto para não perturbar Aisha e suas amigas.
O início de vida de Aisha em
Medina também teve seus momentos críticos e de apreensão. Certa vez seu pai e
dois companheiros que estavam com ele ficaram doentes com uma febre perigosa, o
que era comum em Medina em certas estações do ano. Certa manhã, Aisha foi
visitá-lo e ficou consternada ao encontrar os três homens deitados,
completamente fracos e exausto. Ela perguntou a seu como estava passando e ele
lhe respondeu com um versículo mas ela não entendeu o que ele estava dizendo. Os
outros dois também lhe responderam com algumas estrofes de um poema que lhe
pareceu mais um murmúrio sem sentido do que qualquer outra coisa. Ele ficou tão
profundamente preocupada que foi procurar o Profeta, dizendo:
"Eles estão
delirando, fora de si, por causa da febre alta." O Profeta lhe perguntou o que
eles haviam dito e ficou de alguma forma tranquilo quando ela repetiu quase que
palavra por palavra das estrofes que eles haviam proferido e que faziam sentido,
muito embora ela não os compreendesse muito bem. Esta foi uma demonstração da
grande capacidade de retenção de sua memória, que com o passar dos anos foi de
inestimável valor para preservar os inúmeros ditos do Profeta.
Das esposas do
Profeta em Medina, está claro que Aisha foi a que ele mais amou. De tempos em
tempos, um ou outro de seus companheiros lhe perguntava:
"Ó Mensageiro de
Deus, a quem você mais ama neste mundo?" Nem sempre ele dava a mesma resposta
para esta pergunta porque ele sentia grande amor por muitas de suas filhas e
netos, por Abu Bakr, por Ali, Zayd e seu filho Usamah. Mas, de suas esposas, a
única que ele citava era Aisha. Ela também o amou demais e muitas vezes buscou
nele a certeza de seu amor por ela. Certa vez ela lhe perguntou: "Como é seu
amor por mim?"
"Como o nó da corda", ele respondia, querendo com isso dizer
que era forte e seguro. De tempos em tempos, Aisha perguntava-lhe: "Como vai o
nó?" e ele respondia "do mesmo jeito."
Como ela amasse muito o Profeta, ela
sentia ciúmes e não suportava que as atenções dele se voltassem para as outras
mais do que lhe parecia suficiente. Ela lhe perguntou:
"Ò Mensageiro de Deus,
diga-me, se você estivesse entre duas vertentes de um vale, e uma delas não
tivesse sido roçada e outra sim, para qual delas você levaria seus
rebanhos"?
"Para aquele que não tivesse sido roçado", ele respondeu. "Mesmo
assim", ela disse, "eu não sou como as suas outras esposas. Todas tiveram um
marido antes de você, menos eu. O Profeta sorriu e não disse nada. De seu ciúme,
Aisha diria anos mais tarde:
"Jamais tive ciúmes de qualquer das esposas do
Profeta como eu tive de Khadija, porque constantemente ele falava nela e porque
Deus lhe havia ordenado comunicar a ela a boa nova de uma mansão de pedras
preciosas no Paraíso. E sempre que ele sacrificava um carneiro ele mandava uma
boa parte para aqueles que haviam sido seus amigos íntimos. Muitas vezes eu
disse a ele: "É como se nunca tivesse havido outra mulher no mundo além de
Khadija."
Uma vez, quando Aisha se queixou e perguntou por que ele
falava tanto de "uma velha coraixita", o Profeta se ofendeu e disse: "Ela foi a
esposa que acreditou em mim quando os outros me rejeitaram. Quando as pessoas me
chamaram de mentiroso e confirmou minha sinceridade. Quando fui abandonado ele
gastou de sua fortuna para aliviar o peso de minha tristeza ..."
Apesar de
seus sentimentos de ciúme, que não eram de forma alguma destrutivos, Aisha era
realmente uma alma generosa e paciente. Ela suportou, juntamente com a família
do Profeta, pobreza e fome que, muitas vezes, duravam longos períodos. Vários
dias se passavam sem que o fogo fosse aceso para cozinhar ou assar o pão e eles
viviam apenas de tâmaras e água. A pobreza não lhe provocou tristeza ou
humilhação e não corrompeu seu estilo de vida.
Uma vez o Profeta ficou
afastado de suas esposas por um mês, porque elas o haviam aborrecido, exigindo
dele o que não tinha. Este fato aconteceu após a expedição de Khaybar, quando um
aumento das riquezas despertou a cobiça dos muçulmanos. Retornando de retiro
auto-imposto, ele foi primeiro à casa de Aisha. Ela ficou muito contente em
vê-lo mas ele lhe disse que havia recebido uma revelação, na qual lhe era pedido
que colocasse para ela duas opções. E ele recitou os versículos:
"Ó Profeta!
Diga a suas esposas: Se você desejar a vida deste mundo com todos os seus
adornos, então venha e Eu concederei esses bens sobre você e a libertarei. Mas,
se você preferir Deus e Seu Mensageiro e a morada no Paraíso, então Deus guardou
uma imensa recompensa por isso, porque você escolheu o melhor."
A resposta de
Aisha foi:
"Na verdade, eu escolho Deus e Seu Mensageiro e a morada no céu",
e sua resposta foi seguida por todas as outras esposas.
Ela manteve sua
escolha tanto durante a vida do Profeta como depois. Certa vez os muçulmanos
foram favorecidos com enormes riquezas e lhe deram de presente 100.000 dihams.
Ela estava jejuando quando recebeu o dinheiro e distribuiu toda a quantia entre
os pobres e necessitados, meuito embora em sua casa não houvesse qualquer
provisão. Um pouco depois, uma serva lhe disse: "Você não poderia ter comprado
carne com 1 dirham e assim quebrado o jejum?" E ela respondeu: "Eu poderia ter
feito isso, mas não me lembrei."
A afeição do Profeta por Aisha permaneceu
até o fim. Durante sua doença, foi na casa de Aisha que ele ia por sugestão das
outras esposas. Lá, ele ficava muito tempo, deitado num sofá, com a cabeça
descançando em seu colo. Foi ela quem pegou uma escova de dentes de seu irmão,
mordeu cuidadosamente e a deu para o Profeta. Apesar de sua fraqueza, ele
escovou os dentes com bastante vigor. Um pouco mais tarde, ele perdeu a
consciência e Aisha achou que ele estava morrendo, mas, após uma hora, ele abriu
os olhos.
Foi Aisha quem preservou para nós estes últimos momentos de nosso
amado Mensageiro. Quando ele abriu seus olhos de novo, Aisha lembrou-se de Iris
ter dito a ela: "Nenhum Profeta é levado pela morte até que lhe tenha sido
mostrado seu lugar no Paraíso e então ele escolha entre viver ou
morrer."
"Ele não nos escolherá", ela disse para si mesma. Então, ela o ouviu
murmurar: "Com a comunhão suprema no Paraíso, com aqueles a quem Deus derramou
seus favores, os profetas, os mártires e os justos ..." De novo ela o ouviu
murmurar: "Ó Senhor, em comunhão suprema" e estas foram as últimas palavras que
ela ouviu ele dizer. Aos poucos, sua cabeçar foi ficando mais pesada sobre seu
peito até que os outros na sala começaram a lamentar e Aisha deitou sua cabeça
sobre um travesseiro e se juntou aos lamentos.
No chão do cômodo de Aisha,
próximo ao sofá onde ele estava deitado, foi aberta uma cova na qual o último
dos profetas foi enterrado em meio a muita tristeza e grande dor.
Aisha ainda
viveu quase 50 anos depois da morte do Profeta. Ela foi sua esposa por cerca dez
anos. Muito desse tempo ela passou estudando e adquirindo conhecimento das duas
mais importantes fontes da orientação de Deus, o Alcorão e a Suna de Seu
Profeta. Aisha foi uma das três esposas do Profeta (as outras fuas foram Hafsah
e Umm Salamah) a memorizar a Revelação. Assim como Hafsah, ele tinha seu próprio
exemplar do Alcorão, escrito depois que o Profeta morreu.
Segundo os ahadith
e ou ditos do Profeta, Aisha foi uma das quatro pessoas (as outras foram Abu
Hurayrah, Abdullah ibn Umar e Anas ibn Malik) a transmitir mais de 2000 ditos.
Muitos deles se referem a aspectos íntimos do comportamento pessoal do Profeta,
que somente uma pessoa que ocupasse a posição que ela ocupou poderia ter legado.
O que é mais importante é o fato de que seu conhecimento foi passado sob a forma
escrita por pelo menos três pessoas, inclusive seu sobrinho Urwah, que se tornou
um dos maiores pensadores da geração seguinte à dos companheiros.
Muitos dos
companheiros do Profeta e seus seguidores se beneficiaram do conhecimento de
Aisha. Abu Musa al-Ashari certa vez disse: "Se nós, os companheiros do
Mensageiros de Deus tínhamos alguma dificuldade sobre qualquer assunto, nós
perguntávamos à Aisha."
Seu sobrinho Urwah assegura que ela foi competente
não só em fiqh como também na medicina e na poesia. Muitos dos companheiros mais
velhos do Profeta costumavam procurá-la para pedir orientação a respeito de
questões de herança, matéria que exigia grande habilidade matemática. Os
pensadores islâmicos a respeitam como uma das primeiras fuqaha, juntamente com
pessoas como Umar ibn al-Khatab, Ali e Abdullah ibn Abbas. Connta-se que o
Profeta, referido ao seu grande conhecimento sobre Islam teria dito: "Aprendam
uma parte de sua religião (din) com esta humayra."
Aisha não só possuía um
grande conhecimento como teve participação ativa na educação e na reforma
social. Como professora ela tinha um modo claro e persuasivo de falar e seu
poder de oratória foi descrito em termos superlativos por al-Ahnaf, que disse:
"Já ouvi discursos de Abu Bakr e Umar, Uthman e Ali, mas jamais ouvi algo mais
persuasivo e mais bonito da boca de qualquer pessoa do que da boca de
Aisha."
Homens e mulheres vinham de longe para se beneficiarem de seu
conhecimento. Diz-se que o número de mulheres era maior do que os homens. Tomou
para si o cuidado e a orientação de meninos e meninas, alguns órfãos, a quem
ministrava ensinamentos. Sua casa se transformou numa escola e numa
academia.
Alguns de seus estudantes foram notáveis. Seu sobrinho Urwah se
destacou como um grande narrador de hadith. Entre as mulheres que foram suas
alunas, está o nome de Umrah bint Abdur Rahman. Ela é respeitada pelos
pensadores islâmicos como uma das mais fiéis narradoras de hadith e diz-se que
ajudava Aisha recebendo e respondendo às cartas que endereçadas a ela. O exemplo
de Aisha na promoção da educação, principalmente na educação da mulher
muçulmana, deve ser seguido.
Depois de Khadija (a Grande), e de Fátima (a
Resplendescente), Aisha (aquela que afirma a Verdade) é respeitada como a melhor
mulher do Islam. Por causa da força de sua personalidade, ela foi uma líder em
diversos campos do conhecimento, na sociedade, na política e na guerra. Muitas
vezes se arrependeu de seu envolvimento na guerra, mas viveu o bastante para
reconquistar a posição de a mulher mais respeitada de seu tempo. Ela morreu no
ano de 58, depois da Hégira, no mês de Ramadã, e quis ser enterrada em Medina,
ao lado de outros companheiros do Profeta.
Umm
Salamah
Umm Salamah! Que vida notável ela teve! Seu nome
verdadeiro era Hind. Ela era a filha de um dos notáveis da tribo Makhzun,
apelidada de "Zad ar-Rakib", porque ela era conhecida por sua generosidade,
principalmente com os viajantes. O marido de Umm Salaman era Abdullah ibn
Abdulasad e ambos estavam entre os primeiros a aceitar o Islam. Apenas Abu Bakr
e uns poucos, que podiam ser contados nos dedos da mão, se tornaram muçulmanos
antes deles.
Assim que a notícia da conversão deles ao Islam se espalhou, os
coraixitas reagiram com uma raiva incontida. Começaram a perseguir ferozmente
Umm Salamah e o marido, mas o casal não vacilou nem se desesperou, permanecendo
firme em sua nova fé.
A perseguição ficou mais e mais intensa e a vida em
Macca tornou-se insuportável para muitos dos novos muçulmanos. O Profeta, então,
deu-lhes permissão para emigrarem para a Abissínia. Umm Salamah e seu marido
estavam na dianteira daqueles muhajirun que buscaram refúgio em terra
estrangeira. Para Umm Salamah, isto significava deixar sua casa espaçosa e
abandonar os laços tradicionais de família e honra por uma nova esperança e uma
recompensa de Allah.
Apesar da proteção que Umm Salamah e seus companheiros
receberam do monarca da Abissínia, o desejo de voltar para Macca persistia, para
estar perto do profeta e fonte de revelação e orientação.
Finalmente,
notícias chegadas de Macca davam conta de que o número de muçulmanos estava
aumentando. Entre os novos convertidos estavam Hamzah ibn Abdulmuttalib e Umar
ibn al-Khattab. A fé tinha fortalecido a comunidade e diziam que os coraixitas,
de alguma forma, estavam relaxando a perseguição aos muçulmanos. Assim, um grupo
de muhajirun, animados por ardente desejo em seus corações, decidiram voltar a
Macca.
No entanto, o relaxamento da perseguição foi breve, conforme o grupo
logo logo descobriu. O aumento dramático do número de novos muçulmanos, seguido
da aceitação do Islam por Hamzah e Umar só serviu para enfurecer os coraixitas
ainda mais. Intensificaram a perseguição e a tortura de uma forma nunca vista
antes. Em razão disso, o Profeta deu permissão a seus companheiros para
emigrarem para Medina. Umm Salamah e seu marido estavam entre os primeiros a
deixarem Macca.
No entanto, a hijrah de Umm Salamah e de seu marido não foi
tão fácil como eles haviam imaginado. Na verdade, foi a mais amarga e dolorosa
experiência, e, principalmente, a mais dilacerante para ela. Que Umm Salamah
conte a sua estória:
Quando Abu Salamah (meu marido) decidiu ir para Medina,
ele preparou um camelo para mim, me colocou em cima dele e o nosso filho Salamah
em meu colo. Ele foi na frente, sem parar ou esperar por qualquer coisa. Ainda
não tínhamos deixado Macca quando alguns homens de minha tribo nos pararam e
disseram para meu marido:
"Embora você seja livre para fazer o que quiser com
sua vida, você não tem poder sobre sua esposa. Ela é nossa filha e você não pode
esperar que lhe demos nossa permissão para que ela nos deixe."
Então, lançaram-se sobre ele e me arrebataram dele. A tribo
de meu marido, Banu Abdulasad, presenciou tudo, vermelhos de raiva.
"Não, por
Deus", gritaram, "não vamos abandonar o menino. Ele é nosso e temos direitos
sobre ele."
Pegaram a criança pela mão e a arrancaram de mim. De repente, em
fração de segundos, me encontrei sozinha e abandonada. Meu marido tinha ido para
Medina e sua tribo tinha arrebatado meu filho. Minha própria tribo, Banu
Makhzum, tinha me subjugado e forçado a ficar com eles. Desde aquele dia em que
meu marido e meu filho se separaram de mim, passei a ir todo dia, à tarde, até
aquele vale e me sentava no lugar onde essa tragédia tinha ocorrido. Eu me
lembrava daqueles terríveis momentos e chorava até a noite cair sobre
mim.
Continuei assim por um ano ou mais, até que um dia um homem da tribo
Omíada passou e viu minha condição. Ele foi, então, até minha tribo e
disse:
"Por que vocês não libertam essa pobre mulher? Vocês são os
responsáveis pelo aconteceu ao marido e ao filho dela."
Aquele homem
continuou tentando abrandar seus corações e sensibilizá-los. Por fim eles me
disseram "Vá e junte-se a seu marido se esse é o seu desejo."
Mas, como podia
me juntar a meu marido em Medina e abandonar meu filho em Macca com a tribo de
Abdulasad, uma parte de meu próprio corpo, carne da minha carne, sangue do meu
sangue? Como podia me libertar da angústia e os meus olhos das lágrimas e
alcançar o lugar da hégira sem saber nada sobre meu filho, deixado para trás em
Macca?
Alguns deles perceberam o que eu estava sofrendo e seus corações se
condoeram. Pediram, então, aos membros da tribo Abdulasad que me devolvessem meu
filho.
Agora eu já nem queria permanecer em Macca até encontrar
alguém para viajar comigo, pois eu receiava que alguma coisa pudesse acontecer
que atrasasse ou me impedisse de encontrar meu marido. Assim, imediatamente
arrumei meu camelo, coloquei meu filho no colo e parti em direção a
Medina.
Eu tinha acabado de alcançar Tan'im (cerca de 3 milhas de Macca)
quando encontrei Uthman ibn Tallah. Ele era um dos guardiães da Caaba nos tempos
pré-islâmicos e ainda não tinha abraçado o Islam.
"Para onde você está indo,
Bint Zad ar-Rakib?", ele perguntou.
"Estou indo encontrar-me com meu marido
em Medina."
"E ninguém a acompanha?"
"Não, exceto Deus e meu filho
aqui."
"Por Deus, não a abandonarei até que vocês cheguem a Medina." ele
prometeu.
Então ele pegou as rédeas de meu camelo e nos conduziu. Por Deus
que jamais encontrei um árabe mais nobre e generoso do que ele. Quando fizemos
uma parada para repouso, ele fez meu camelo se ajoelhar, esperou que eu
desmontasse, levou-o até uma árvore e o prendeu ali. Então ele procurou a sombra
de uma outra árvore e quando estávamos descansados ele aprontou o camelo e
seguimos viagem. E assim ele fez todos os dias até chegarmos a Medina. Quando
alcançamos um vilarejo próximo a Quba (cerca de 2 milhas de Medina), que
pertencia à tribo Amr ibn Awf, ele me disse "Seu marido está nesta vila. Vá com
as bênçãos de Deus."
Deu meia volta e retornou a Macca.
Seus caminhos
finalmente haviam se encontrado após a longa separação. Umm Salamah ficou feliz
em ver seu marido e ele maravilhado em abraçar sua esposa e o filho.
Grandes
e importantes eventos se seguiram um após o outro. Houve a batalha de Badr, onde
Abu Salamah lutou. Os muçulmanos retornaram a Medina vitoriosos e fortalecidos.
Então, veio a batalha de Uhud, na qual os muçulmanos foram duramente testados.
Abu Salamah voltou dessa batalha seriamente ferido. De início parecia responder
bem ao tratamento mas suas feridas nunca cicatrizaram completamente e ele ficou
entrevado.
Certa vez, quando Umm Salamah estava cuidando dele, ele lhe
disse:
"Ouvi o Mensageiro de Deus dizer. Sempre que uma calamidade nos
afligir devemos dizer, 'Certamente viemos de Deus e para Ele com certeza
retornaremos.' E ele orou. 'Ó Senhor, dai-nos em troca alguma coisa boa que
somente Vós, o Exaltado, o Poderoso, podeis dar."
Abu Salamah ficou de cama
por muitos dias. Certa manhã, o Profeta veio vê-lo. A visita foi mais longa do
que o habitual. E Abu Salamah morreu enquanto o Profeta estava a seu lado. Com
suas mãos abençoadas, o Profeta fechou os olhos de seu companheiro morto, e em
seguida levantou suas mãos aos céus e orou:
"Ó Senhor, concedei o perdão a
Abu Salamah. Levai-o para junto daqueles que estão próximos a Vós. Cuidai sempre
de sua família. Perdoai-nos e a ele, Ó Senhor dos Mundos. Ampliai seu túmulo e
tornai-o leve para ele."
Umm Salamah se lembrava da oração que seu marido
havia mencionado em seu leito de morte e começou a repeti-la: "Ó Senhor, deixo
convosco esta minha aflição para Vossa consideração ..." Mas, ela não conseguia
continuar... "Ó Senhor, conceda-me algo de bom", porque ela continuava se
perguntando "Quem pode ser melhor do que Abu Salamah?" Mas, não ficou muito
tempo sem completar sua súplica.
Os muçulmanos estavam muito condoídos da
situação de Umm Salamah. Ela ficou conhecida como "Ayyin al-Arab", aquela que
perdeu o marido. Ela não tinha ninguém em Medina exceto seu filho, era como uma
galinha sem penas. Tanto os muhajirun quanto os ansar sentiam que tinham uma
obrigação para com Umm Salamah. Quando ela completou o Iddah (três meses e dez
dias), Abu Bakr pediu-a em casamento, mas ela recusou. Umar, então, pediu para
se casar com ela mas também foi recusado. Então, o Profeta se aproximou e ela
respondeu:
"Ò Mensageiro de Deus, eu tenho três características. Sou uma
mulher extremamente ciumenta e tenho medo de que veja em mim algo que o irrite e
que provoque a punição de Deus sobre mim. Sou uma mulher de idade já avançada e
tenho uma família jovem."
O Profeta respondeu:
"Com relação ao ciúme de
que você fala, pedirei a Deus, o Todo Poderoso, para que o afaste de você. No
tocante à idade, também eu sofro do mesmo problema que você. No que se refere à
uma família dependente, sua família é a minha família."
E eles se casaram e
assim Deus respondeu às preces de Umm Salamah e lhe deu uma pessoa melhor do que
Abu Salamah. Daquele dia em diante, Hind al-Makhumiyah não foi apenas a mãe de
Salamah, mas a mãe de todos os crentes, Umm al-Mu'mineen.
Zaynab al-Ghazali
Zainab al-Ghazali é uma mulher especial. Assim como Aisha
Abd al-Rahman, ela é uma egípcia que defende os direitos das mulheres
muçulmanas, em consonância com o que ela percebe ser a doutrina islâmica
correta. Foi uma ativista islâmica. Nasceu no Egito em 1917 e ainda na sua
juventude, foi um membro ativo da União Feminista Egípcia, fundada por Huda
al-Sha'rawi, em 1923. Renunciou ao cargo por discordar das opiniões e ideais do
movimento de libertação das mulheres e, aos 18 anos, em 1936, ela fundou a
Associação das Mulheres Muçulmanas, a fim de organizar as atividades femininas,
de acordo com as normas e propostas islâmicas. Esta organizaçáo prestou serviços
inestimáveis aos pobres, órfãos e desvalidos. Embora ela conhecesse Hasan
al-Banna, o fundador da Fraternidade Muçulmana, desde os anos 30, e tivesse
participado ativamente de muitos programas islâmicos, somente em 1948 ela vai se
juntar à Fraternidade.
Quando a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos
(Fraternidade) foi dissolvida, em 1948, ela se empenhou pessoalmente no
compromisso de fidelidade a Hasan al-Banna, apoiando-o nos esforços de
estabelecer um estado islâmico. Embora ele tenha sido assassinado logo em
seguida, ela permaneceu fiel aos sucessores de Hasan al-Banna e ajudou seus
membros, principalmente depois que foram jogados na clandestinidade, durante o
regime de Gamal Abdel Nasser (1950/1960).
Em 1965, ela foi presa sob alegação
de conspirar contra Gamal Abdel Nasser e seu governo. Ela foi libertada durante
o governo de Anwar Sadat em 1971. Além de ser muito ativa no trabalho de Da'wah,
Zainab al-Ghazali foi uma escritora fecunda, contribuindo regularmente para a
maioria dos jornais e periódicos islâmicos. Em seu último livro, "Return of the
Pharoah", ela relata como, falsamente acusada de conspiração contra Nasser, foi
detida e levada a prisão. Enquanto aguardava o julgamento na prisão, foi
submetida às mais terríveis e desumanas torturas. Ao invés de diminuir seu
entusiasmo pelo Islam e pelo movimento islâmico, a selvageria e abuso que lhe
dispensaram só serviu para aumentar o seu compromisso e dedicação pela causa do
Islam.
Numa entrevista concedida em sua casa em Heliópolis, Egito, em 1981,
Zainab disse:
"O Islam concedeu tudo tanto a homens como a mulheres. Deu tudo
às mulheres - liberdade, direitos econômicos, políticos, sociais, direitos
públicos e privados. O Islam concedeu às mulheres direitos na família jamais
assegurados por nenhuma outra sociedade. As mulheres podem falar de liberação
nas sociedades cristã, judaica ou pagã, mas na sociedade islâmica é um grave
erro falar da liberação das mulheres. A mulher muçulmana precisa estudar o Islam
e assim ela saberá que foi o Islam quem lhe concedeu todos os direitos."
Este
é o cerne do pensamento de Zaynab al-Ghazali, com relação à condição das
mulheres, conforme expressado em suas palestras públicas e em seus artigos para
a revista al-Da'wa, na qual ela foi editora de uma seção voltada para os ideais
de um lar muçulmano. O objetivo de seu ativismo e o de sua associação é
educacional: incutir nas mentes femininas a doutrina do Islam, ensinar seus
direitos e deveres e conclamá-las para mudanças na sociedade que levem ao
estabelecimento de um estado islâmico, governado pelo Alcorão e pela Sunna do
Profeta.
Zainab al-Ghazali acredita que o Islam permite às mulheres uma
participacão ativa na vida pública, trabalhar, entrar na política e expressar
suas opiniões. Ela crê que o Islam permite que elas tenham seus próprios bens,
façam transações comerciais e que podem ser o que queiram a serviço da sociedade
islâmica. Acredita, ainda, que a primeira obrigação da mulher muçulmana é ser
mãe e esposa e que nenhuma outra atividade deve interferir no desempenho desse
papel, porque esta deve ser a sua prioridade acima qualquer outra. Se ela
dispuser de tempo para participar da vida pública, tendo sempre em vista a
obrigação primeira, ela pode porque o Islam não a proíbe.
Zainab al-Ghazali
acredita firmemente no dever social e religioso do casamento. Em seu primeiro
casamento, seu marido discordava de seu ativismo religioso e por causa disso ela
se divorciou. Seu segundo marido era mais compreensivo, auxiliou-a em sua missão
e jamais a impediu de lutar pela causa islâmica. Em seu livro autobiográfico,
ela conta como, embora preocupado com ela, seu marido continuou a apoiá-la em
suas atividades. No entanto, ela enfatiza que jamais deixou de lado suas
obrigações para com a família, ainda que continuasse a exercer a presidência da
Associação das Mulheres Muçulmanas, a trabalhar longas horas em seu escritório e
a estar pessoalmente envolvida nas atividades clandestinas da Sociedade dos
Irmãos Muçulmanos. Após a morte de seu segundo marido, ela sentiu que havia
cumprido com os seus deveres no casamento e que, por isso, estava livre para se
devotar integralmente à causa do Islam.
Desencantada com os rumos da
revolução egípcia de 1952, que havia contado com o apoio de muitos muçulmanos no
seu início, Zainab al-Ghazali passou a considerar Gamal Abdel Nasser e seu
regime como inimigos do Islam. Depois que alguns membros da Sociedade dos Irmãos
Muçulmanos foram sentenciados à morte e muitos outros condenados à prisão, ela
criou programas para amparar os órfãos e viúvas daqueles ativistas, para
alimentar os necessitados e desempregados entre os libertados,para ajudar suas
famílias e, fortalecer sua posição como presidente da Associação das Mulheres
muçulmanas no sentido de fazer o trabalho social tão necessitado. Ela também
intensificou suas atividades educacionais e participou de grupos secretos de
estudos islâmicos, orientados pelos irmãos muçulmanos que se encontravam na
prisão. Em 1962, ela entrou em contado com Sayyid Qutb na prisão através de duas
irmãs e obteve a sua concordância para a realização de um curso de leitura de
comentários sobre o Alcorão e os Hadith, assim como sobre jurisprudência
islâmica. Ele também lhe deu partes de um livro que ele estava escrevendo na
prisão para ser publicado mais tarde sob o título Ma'alim fil Tariq.
Páginas
deste livro e instruções de Sayyid Qutb, ainda na prisão, além de um conjunto de
versículos do Alcorão, seriam estudados por grupos de 5 a 10 jovens em encontros
durante à noite na casa de Zainab al-Ghazali. As discussões se seguiram e pontos
de vista foram estabelecidos e opiniões formadas. Com a concordância de Sayyd
Qutb e das lideranças da Fraternidade, decidiu-se que este programa de
treinamento islâmico deveria continuar por 30 anos, que foi o tempo de duração
do chamado do Profeta Mohammad em Macca, antes de ele se mudar para Medina e
instituir o estado islâmico. Decidiu-se também que, ao fim deste período, uma
pesquisa deveria ser realizada no Egito para saber se pelo menos 75% dos
egípcios estavam convencidos da necessidade de se estabelecer um estado
islâmico. Em caso positivo, eles deveriam providenciar a realização dessa
pesquisa,e em caso negativo, deveriam continuar com os estudos e aprendizado por
mais 30 anos, que deveria ser repetido até que a nação estivesse pronta para
aceitar um governo islâmico, implementando a lei islâmica, de acordo com o
Alcorão e a Sunna do Profeta.
Quando o governo egípcio começou a suspeitar
desses grupos e a tratá-los como células políticas revoltosas, aconteceu um
racha na Fraternidade em 1965. As Irmãs Muçulmanas não foram poupadas, a
Associação das Mulheres Muçulmanas foi dissolvida e Zaynab al-Ghazali, entre
outros, foi presa. Em 1966, ela foi levada a julgamento com muitos outros e
sentenciada a trabalhos forçados por toda a vida. Mas, em 1971, ela foi
libertada. No ressurgimento islâmico no Egito, que se tornou mais forte após a
morte de Nasser, em 1970, e depois que Sadat assumiu a presidência, ela
continuou a ser uma oradora ativa e professora de Islam, conclamando o
estabelecimento de um estado islâmico com o ideal de que todos os muçulmanos
deviam se empenhar, a fim instituir uma sociedade que fosse guiada pelo Alcorão
e pela Sunna do Profeta.
As idéias de Zaynab al-Ghazali em relação a um
estado islâmico são muito gerais e carecem de especificidade em muitos pontos.
Sua crença nesse ideal, no entanto, não é menos fraca por causa disso. Ela acha
que não existe um estado verdadeiramente islâmico sob a face da terra no
momento, isto é, onde a shari'ah esteja completamente implementada, nem mesmo o
Paquistão ou a Arábia Saudita podem se dizer islâmicos em seu modo de
ver.
Ela apoia a revolução iraniana e espera que seu regime logo esteja
implantado, a fim de que os iranianos possam canalizar seus esforços na solução
de seus problemas externos e internos. O código penal da shari'ah islâmica não
deve ser aplicado agora, mas sim quando o estado estiver completamente
estabelecido e a shari'ah puder ser aplicada. A fidelidade ao governante
islâmico deve ser obtida através de eleições gerais ou por um grupo composto de
pessoas sábias, experientes e justas. Ela acha que o Islam proíbe que a chefia
do estado islâmico seja uma herança que passa de pai para filho. O chefe de
estado pode ser chamado de califa ou presidente e é possível a existência de
dois califas de uma só vez por causa da expansão do mundo islâmico, mas os dois
devem estar unidos e seus exércitos devem lutar pela mesma causa. Um califa deve
ter um conselho cujos membros devem ser peritos em vários campos, a fim de que
ele possa permancer leal e querido pelas pessoas que o elegeram. De acordo com
ela, o Islam não aceita um sistema pluripartidário porque o sistema em si já é
completo, com os muçulmanos tendo o direito de escolher seu governante e o dever
de obedecê-lo enquanto ele permancer fiel ao Islam. Outros sistemas ou regimes
foram feitos pelo homem e são inferiores ao Islam, que foi feito por Deus. Não
muçulmanos de outras religiões ou ateus serão tratados pelo estado islâmico de
acordo com as prescrições do Alcorão e da Sunna. Zaynab al-Ghazali pensa que o
sistema islâmico trará justiça a todos, mas os muçulmanos precisam primeiro
permanecer unidos. Pode haver diferenças de opiniões entre os muçulmanos a
respeito de questões desde que não haja divisões em suas fileiras: eles podem
divergir nos meios mas não nos fins, onde a meta deverá sempre ser a
unidade.
A poligamia e suas
vantagens
A poligamia é uma prática muito antiga, encontrada em muitas
sociedades humanas. A Bíblia não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho
Testamento e os escritos rabínicos freqüentemente atestam a legalidade da
poligamia. Dizem que o Rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis
11:3). Também o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13). O
Velho Testamento tem algumas injunções em como distribuir a propriedade de um
homem entre seus filhos de diferentes mulheres (Deuteronômio 22:7). A única
restrição com relação à poligamia é a proibição de tomar uma irmã da esposa como
uma esposa rival (Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas.
Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia até o século XVI.
Os
judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até a chegada a Israel,
onde ela foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que sobrepuja a lei
civil em tais casos, a poligamia é permitida .
E com relação ao Novo
Testamento? De acordo com o padre Eugene Hilman, em seu penetrante livro, a
poligamia é reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento há uma orientação
expressa de que o casamento deve ser monogâmico ou qualquer orientação que
proíba a poligamia". Além disso, Jesus não falou contra a poligamia, embora ela
fosse praticada pelos judeus de sua época. O padre Hillman chama a atenção para
o fato de que a Igreja de Roma proibiu a poligamia, a fim de se adequar à
cultura Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto que
tolerava o concubinato e a prostituição). Ele citou Santo Agostinho, "Agora, em
nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar uma
outra esposa". As igrejas africanas e os cristãos africanos muitas vezes lembram
a seus irmãos europeus que a proibição da poligamia é mais uma tradição cultural
do que uma autêntica injunção cristã.
O Alcorão também permitiu a poligamia,
mas não sem algumas restrições: "Se vós temeis não serdes capazes de conviver
justamente com os órfãos, casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes;
mas se temerdes que não sereis capazes de conviver justamente com elas, então
casai somente com uma" (4:13). O Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou o
número de esposas a 4, sob a estrita condição de que as esposas sejam tratadas
igualmente. Isto não deve ser entendido como uma exortação a que os crentes
pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada como um ideal. Em
outras palavras, o Alcorão "tolera" ou "permite" a poligamia. Por que a
poligamia é permitida? A resposta é simples: há lugares e épocas em que razões
morais e sociais compelem para a poligamia. Como os versos do Alcorão acima
indicam, a questão da poligamia no Islã não pode ser entendida como parte das
obrigações da comunidade com relação aos órfãos e viúvas. O Islã, como uma
religião universal, aplicável para todos os lugares e tempos, não poderia
ignorar essas pressões.
Em muitas sociedades humanas, as mulheres superam os
homens em quantidade. Em um país como a Guiné, há 122 mulheres para cada 100
homens. Na Tanzânia, há 95,1 homens para 100 mulheres . O que uma sociedade deve
fazer para resolver esse desequilíbrio? Existem várias soluções, e alguns podem
sugerir o celibato, outros preferem o infanticídio feminino (que ainda acontece
no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar que a única
saída é a sociedade tolerar todas as formas de permissividade sexual:
prostituição, sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras
sociedades, como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída mais
honrosa é permitir o casamento poligâmico, como uma instituição culturalmente
aceita e socialmente respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida no
ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas necessariamente não vêm a
poligamia como um sinal de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens
noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas, prefeririam se casar com um homem
casado, que tenha provado a ele mesmo, ser um marido responsável.
Muitas
esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma segunda esposa e assim eles
não se sentem sozinhos. Uma pesquisa realizada na segunda maior cidade da
Nigéria com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que 60% dessas
mulheres não se importariam que seus maridos tivessem uma outra esposa. Somente
23% expressaram raiva ante a idéia de dividirem seus maridos com outras
mulheres. 76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa realizada no
Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa realizada no campo,
25 de 27 mulheres consideraram a poligamia melhor do que a monogamia.
Estas
mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência feliz e benéfica se
as co-esposas cooperarem umas com as outras. A poligamia, na maior parte das
sociedades africanas é uma instituição tão respeitada, que algumas igrejas
protestantes começaram a tolerá-la, "Embora a monogamia possa ser ideal para a
expressão do amor entre o marido e a esposa, a igreja deve considerar que em
certas culturas a poligamia é socialmente aceitável e que a crença de que a
poligamia é contrária ao cristianismo não se sustenta por muito tempo". Depois
de um cuidadoso estudo sobre a poligamia africana, o Reverendo David Gitari, da
Igreja Anglicana, concluiu que a poligamia, como idealmente praticada, é mais
cristã do que o divórcio e o novo casamento, porque há uma preocupação com as
esposas e crianças abandonadas. Eu pessoalmente conheço algumas esposas
africanas, finamente educadas, que apesar de terem vivido no Ocidente por muitos
anos, não fazem qualquer objeção à poligamia. Uma delas, que mora nos USA,
solenemente estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la na
criação das crianças.
O problema do desequilíbrio entre os sexos começa na
verdade nos problemáticos tempos de guerra. Os índios nativos americanos
costumavam sofrer com essa desigualdade de número entre homens e mulheres,
principalmente após as perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos,
que na verdade desfrutavam de uma alta posição, aceitavam a poligamia como a
melhor proteção contra a tolerância por atividades indecentes. Os colonos
europeus, sem oferecerem qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia
indiana como "incivilizada" .
Após a segunda guerra mundial, havia na
Alemanha 7.300.000 mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas).
Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres naquele mesmo
grupo de idade. Muitas dessas mulheres necessitavam de um homem, não apenas como
uma companhia mas, também, como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria
e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército aliado vitorioso exploravam
a vulnerabilidade dessas mulheres. Muitas jovens e viúvas tinham ligações com
membros das forças de ocupação. Muitos soldados americanos e britânicos pagavam
por seus prazeres com cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam felizes
com os presentes que os estrangeiros traziam. Um menino de 10 anos, vendo esses
presentes com outras crianças, desejava ardentemente um "inglês" para a sua mãe
e assim, ela não precisaria passar fome por tanto tempo. Devemos perguntar para
nossa consciência sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher? Uma
segunda esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual, como no caso da
abordagem "civilizada" das forças aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o que
dignifica mais uma mulher, a prescrição Alcorânica ou a teologia baseada na
cultura do império romano?
É interessante notar que, em uma conferência da
juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema alemão do
desequilíbrio no número de homens e mulheres foi discutido. Quando ficou claro
que não havia solução consensual, alguns participantes sugeriram a poligamia. A
reação inicial da reunião foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após
um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram que a poligamia
era a única solução possível. Conseqüentemente, a poligamia estava incluída
entre as recomendações finais da conferência.
Atualmente, o mundo possui
mais armas de destruição em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as
igrejas européias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas a aceitar a
poligamia como o único caminho. O Padre Hillman, após muito pensar, admitiu este
fato, "É quase concebível que aquelas técnicas genocídas (nuclear, biológica,
química...) podem produzir um desequilíbrio tão drástico entre os sexos que o
casamento plural poderia ser um meio necessário de sobrevivência... Em tal
situação, os teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente produzir
razões importantes e textos bíblicos que justifiquem um novo conceito de
casamento".
Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução viável
para alguns males das sociedades modernas. As obrigações comunitárias a que o
Alcorão se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são mais
perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais do que na África. Por exemplo,
nos USA de hoje, há uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20 jovens
rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos. Para aqueles
que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio lidera a causa da morte . Além
disso, muitos rapazes negros estão desempregados, na prisão ou são viciados.
Como conseqüência, uma em 4 mulheres negras, na idade de 40 anos, nunca se
casaram, enquanto que este número é de 1 para 10 mulheres brancas . Além do
mais, muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes dos 20 anos e se
encontram na situação de serem mantidas. O resultado final dessas trágicas
circunstâncias é que há um aumento no número de mulheres negras comprometidas
com "homem-partilhado". Isto é, muitas dessas infelizes mulheres negras
solteiras estão envolvidas em casos com homens casados. As esposas muitas vezes
não têm consciência do fato de que outras mulheres estão dividindo seus maridos
com elas. Alguns observadores da crise do "homem-partilhado" na comunidade
africana na América têm recomendado a poligamia consensual, como uma resposta
temporária para a diminuição do número de homens negros, até que reformas mais
abrangentes na sociedade americana sejam tomadas. Esses observadores entendem
poligamia consensual como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas
as partes envolvidas concordem, em oposição ao segredo dos casos com homens
casados, os quais sempre prejudicam tanto a esposa como a comunidade em
geral.
O problema do "homem-partilhado" na comunidade africana da América foi
ponto de discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na
Filadélfia, em 27.01.93 . Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia como
um remédio potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia não
podia ser banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a
prostituição e o concubinato. O comentário de uma das mulheres participantes, de
que os negros americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia era
praticada responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos.
Philip
Kilbride, um antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro
provocativo, "Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o
casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em
muitos casos, a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos
extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride,
transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do
divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos
também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas, que
enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que estão
envolvidos com o "homem-partilhado".
Em 1987, uma votação conduzida por um
estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley, perguntava aos estudantes
se eles concordavam que os homens poderiam ser autorizados, por lei, a terem
mais de uma esposa, tendo em vista a visível diminuição do número de candidatos
masculinos para o casamento na Califórnia. Quase todos os votantes aprovaram a
idéia. Uma estudante chegou a declarar que o casamento poligâmico preencheria
suas necessidades físicas e emocionais, porque lhe daria maior liberdade do que
uma união monogâmica. Na verdade, o mesmo argumento foi usado por alguns poucos
remanescentes das mulheres praticantes Mormom, que ainda praticam a poligamia
nos USA.
Elas acreditam que a poligamia é um caminho ideal para a mulher ter,
tanto profissão como crianças, uma vez que as esposas se ajudam umas às outras
no cuidado com os filhos.
Deve-se acrescentar que a poligamia no Islã é
questão de consenso mútuo. Ninguém pode forçar a mulher a se casar com um homem
casado. Além disso, a esposa tem o direito de estipular que seu marido não deve
se casar com outra mulher. A Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da
poligamia forçada. Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo
que ele já seja casado (ver a seção "A condição das Viúvas") e independente de
seu consentimento (Gênesis 38:8/10).
Deve-se notar que, em muitas sociedades
muçulmanas de hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença entre
os sexos não é grande. Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos no
mundo muçulmano é muito menor do que o de casos extraconjugais no ocidente. Em
outras palavras, os homens no mundo muçulmano são muito mais monogâmicos do que
os homens no mundo ocidental.
Billy Grahan, o eminente evangélico cristão,
reconheceu este fato: "O cristianismo não pode se comprometer com a questão da
poligamia. Se hoje o cristianismo não pode fazer isso, é em seu próprio
detrimento. O Islã permitiu a poligamia como uma solução para os males sociais e
reconheceu um certo grau de latitude da natureza humana, mas, somente dentro da
estrutura estritamente definida na lei.
Os países cristãos fazem um
estardalhaço sobre a monogamia, mas, na verdade, eles praticam a poligamia.
Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade ocidental. A esse respeito,
o Islã é fundamentalmente uma religião honesta, que permite a um muçulmano se
casar uma segunda vez se ele precisar, mas proíbe rigorosamente todas as
associações clandestinas, a fim de salvaguardar a probidade moral da
comunidade".
Nota-se que a nova lei civil brasileira já admite a poligamia
ao estabelecer a lei de concubinato onde estabelece direitos para tais amantes
depois de provarem a existência de vê, como filhos ou tempo de convivência com
homens já casados, isto na minha visão é uma poligamia não declarada e
hipócrita.
Releva notar que muitos países no mundo de hoje, muçulmanos ou
não, proibiram a poligamia. Tomar uma segunda esposa, ainda que com o livre
consentimento da primeira, é uma violação da lei. Por outro lado, trair a
esposa, com ou sem o seu conhecimento e/ou consentimento, é perfeitamente
legitimada. Qual é a sabedoria legal por detrás de tal contradição? A lei foi
feita para premiar a decepção e punir a honestidade? Este é um dos paradoxos
fantásticos de nosso mundo "civilizado".
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