"Não permitirás que viva uma feiticeira".(Êxodo – Cap. XXII – Versículo XVIII)
No século IV, quando o Cristianismo se propagava, a
Igreja Católica havia tomado santuários e templos sagrados de povos pagãos, para
implantar sua religiosidade e erigir suas igrejas. Nos primórdios do
Catolicismo, acreditavam que os pagãos continuariam a freqüentar estes lugares
sagrados para reverenciarem seus Deuses. Mas com o passar do tempo, assimilariam
o cristia- nismo substituindo o paganismo, através da anulação.
Mesmo
assim, por toda a parte, havia uma constante veneração às divindades pagãs. Ao
longo dos séculos, a estratégia da Igreja Católica não funcionou, e através da
Inquisição, de uma forma ensandecida e sádica, as autoridades eclesiásticas
tentaram apagar de uma vez por todas a figura da Grande Deusa Mãe, como
principal divindade cultuada sobre todos os extremos da Terra. O Catolicismo
medieval transfor- mou o culto à Grande Deusa Mãe, num culto satânico, promo-
vendo uma campanha de que a adoração dos deuses pagãos era equivalente à
servidão a satã.
Inquisição é o ato de inquirir, isto é, indagar, investigar,
interrogar judicialmente. No caso da Santa Inquisição, significa "questionar
judicialmente aqueles que, de uma forma ou de outra, se opõem aos preceitos da
Igreja Católica". Dessa forma, a Santa Inquisição, também conhecida como
Santo Ofício, foi um tribunal eclesiástico criado com a finalidade "oficial" de
investigar e punir os crimes contra a fé católica. Na prática, os pagãos
representavam uma constante ameaça à autoridade clerical e a Inquisição era um
recurso para impor à força a supremacia católica, exterminando todos que não
aceitavam o cristianismo nos padrões impostos pela Igreja. Posteriormente, a
Santa Inquisição passou a ser utilizada também como um meio de coação, de forma
a manipular as autoridades como meio de obter vantagens políticas.
A caça às
bruxas
A Santa Inquisição teve seu início no ano de 1184, em Verona, com
o Papa Lúcio III. Em 1198, o Papa Inocêncio III já havia liderado uma cruzada
contra os albigenses (hereges do sul da França), promovendo execuções em massa.
Em 1229, sob a liderança do Papa Gregório IX, no Concílio de Tolouse, foi
oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício. Em 1252, o Papa
Inocêncio IV publicou o documento intitulado Ad Exstirpanda, que foi fundamental
na execução do plano de exterminar os hereges. O Ad Exstirpanda foi
renovado e reforçado por vários papas nos anos seguintes. Em 1320, a Igreja (a
pedido do Papa João XXII) declarou oficialmente que a Bruxaria, e a Antiga
Religião dos pagãos constituíam um movimento e uma "ameaça hostil" ao
cristianismo.
Os inquisidores, cidadãos encarregados de investigar e denunciar
os hereges, eram doutores em Teologia, Direito Canônico e Civil. Inquisidores e
informantes eram muito bem pagos. Todos os que testemunhassem contra uma pessoa
supostamente herege, recebiam uma parte de suas propriedades e riquezas, caso a
vítima fosse condenada.
Os inquisidores deveriam ter no mínimo 40 anos de idade. Sua
autoridade era outorgada pelo Papa através de uma bula, que também podia
incumbir o poder de nomear os inquisidores a um Cardeal representante, bem como
a padres e frades franciscanos e dominicanos. As autoridades civis, sob a ameaça
de excomunhão em caso de recusa, eram ordenadas a queimar os hereges. Camponeses
eram incentivados (ludibriados com a promessa de ascenderem ao reino divino ou
através de recompensas financeras) a cooperarem com os inquisidores. A caça às
Bruxas tornou-se muito lucrativa.
Geralmente as vítimas não conheciam seus acusadores, que podiam ser
homens, mulheres e até crianças. O processo de acusação, julgamento e execução
era rápido, sem formalidades, sem direito à defesa. Ao réu, a única alternativa
era confessar e retratar-se, renunciar sua fé e aceitar o domínio e a autoridade
da Igreja Católica. Os direitos de liberdade e de livre escolha não eram
respeitados. Os acusados eram feitos prisioneiros e, sob tortura, obrigados a
confessarem sua condição herética. As mulheres, que eram a maioria, comumente
eram vítimas de estupro. A execução era realizada, geralmente, em praça pública
sob os olhos de todos os moradores. Punir publicamente era uma forma de coagir e
intimidar a população. A vítima podia ser enforcada, decapitada, ou, na maioria
das vezes, queimada.
Malleus
Maleficarum
Em 1486 foi publicado um livro chamado Malleus Maleficarum
(Martelo das Bruxas) escrito por dois monges dominicanos, Heinrich
Kramer e James Sprenger. O Malleus Maleficarum é uma espécie de manual que
ensina os inquisidores a reconhecerem as bruxas e seus disfarces, além de
identificar seus supostos malefícios, investigá-las e condená-las legalmente.
Além disso, também continha instruções detalhadas de como torturar os acusados
de bruxaria para que confessassem seus supostos crimes, e uma série de
formalidades para a execução dos condenados. Ainda, o tratado afirmava que as
mulheres deveriam ser as mais visadas, pois são naturalmente propensas à
feitiçaria. O livro foi amplamente usado por supostos "caçadores de bruxas" como
uma forma de legitimar suas práticas.
Alguns itens contidos no Malleus Maleficarum que tornavam as
pessoas vulneráveis à ação da Santa Inquisição:
-
Difamação notória por várias pessoas que afirmassem ser o acusado um Bruxo.
-
Se um Bruxo desse testemunho de que o acusado também era Bruxo.
-
Se o suspeito fosse filho, irmão, servo, amigo, vizinho ou antigo companheiro de um Bruxo.
-
Se fosse encontrada a suposta marca do Diabo no suspeito.
Hecatombe
Gradativamente, contando com o apoio e o interesse das monarquias
européias, a carnificina se espalhou por todo o continente. Para que se tenha
uma idéia, em Lavaur, em 1211, o governador foi enforcado e a esposa lançada num
poço e esmagada com pedras; além de quatrocentas pessoas que foram queimadas
vivas. No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram trancadas em um
celeiro ao qual atearam fogo. Os julgamentos em Toulouse, na França, em 1335,
levaram diversas pessoas à fogueira; setecentos feiticeiros foram queimados em
Treves, quinhentos em Bamberg. Com exceção da Inglaterra e dos EUA, os acusados
eram queimados em estacas. Na Itália e Espanha, as vítimas eram queimadas vivas.
Na França, Escócia e Alemanha, usavam madeiras verdes para prolongar o
sofrimento dos condenados. Ainda, a noite de 24 de agosto de 1572, que ficou
conhecida como "A noite de São Bartolomeu", é considerada "a mais horrível entre
as ações inquisidoras de todos os séculos". Com o consentimento do Papa Gregório
XIII, foram eliminados cerca de setenta mil pessoas em apenas alguns dias.
Além da Europa, a Inquisição também fez vítimas no continente
americano. Em Cuba iniciou-se em 1516 sob o comando de dom Juan de Quevedo,
bispo de Cuba, que eliminou setenta e cinco hereges. Em 1692, no povoado de
Salem, Nova Inglaterra (atual E.U.A.), dezenove pessoas foram enforcadas após
uma histeria coletiva de acusações. No Brasil há notícias de que a Inquisição
atuou no século XVIII. No período entre 1721 e 1777, cento e trinta e nove
pessoas foram queimadas vivas.
No século XVIII chega ao fim as perseguições aos pagãos, sendo
que a lei da Inquisição permaneceu em vigor até meados do século XX, mesmo que
teoricamente. Na Escócia, a lei foi abolida em 1736, na França em 1772, e na
Espanha em 1834. O pesquisador Justine Glass afirma que cerca de nove milhões de
pessoas foram acusadas e mortas, entre os séculos que durou a perseguição.
Por
Spectrum
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