Os Movimentos no Judaísmo
Uma das verdadeiras dificuldades que as pessoas que procuram o judaísmo têm é
decidir qual movimento dentro do judaísmo escolher. No Brasil, fala-se em três
movimentos principais; além destes, há o que podemos chamar de instituições
religiosas tradicionais não filiadas a nenhum dos movimentos mas que carregam as
tradições de onde vieram seus fundadores (Rússia, Romênia, Bessarábia, Hungria,
Portugal, Egito, Líbano, etc.); bem como alguns judeus que não se filiam a
nenhum dos grupos.
Esta seção inclui informação sobre os três movimentos
principais, por ordem alfabética: Conservador (ou Massortí), Ortodoxo e
Reformista. Ao redor do mundo há ainda outros movimentos menores do judaísmo,
como o movimento Reconstrucionista, por exemplo, que praticamente só existe nos
EUA.
Para informação específica sobre conversão para qualquer um dos
movimentos, acesse o link "Mais Informações Sobre Conversão ao Judaísmo." O foco
desta seção é a informação sobre os movimentos.
É muito difícil
generalizar acerca desses grupos, pois existe uma grande diversidade dentro de
cada um dos movimentos. Assim, o primeiro e melhor passo para um candidato à
conversão é pesquisar sobre cada grupo que lhe pareça interessante e,
especialmente, conversar com o rabino ou dirigentes do movimento em questão a
fim de agendar uma entrevista, ou mesmo uma visita à respectiva sinagoga local
para assistir a um serviço religioso. Caso não existam sinagogas em sua cidade,
é aconselhável entrar em contato inicialmente por meio de e-mail ou telefone e
seguir os passos anteriormente citados.
As descrições abaixo não são
declarações oficiais de cada movimento e por isso constituem somente o ponto de
vista do nosso site sobre cada um dos três principais grupos. Sugerimos que você
contate os movimentos diretamente para receber uma declaração oficial e as
regras de conversão de cada um.
JUDAÍSMO CONSERVADOR/MASSORTÍ. Este
movimento é conhecido como Conservative Judaism nos EUA e como
Movimento Massortí em outras partes do mundo. Nos EUA, representa cerca
de 40% a 45% dos judeus filiados a um dos movimentos. O judaísmo
conservador/massortí entende que o cumprimento da lei judaica (Halachá)
por parte dos judeus é obrigatório. Portanto, os judeus conservadores têm a
obrigação de obedecer a todos os ensinamentos (mitsvót, literalmente
“mandamentos”) do judaísmo, como por exemplo, as leis relativas ao Shabat e a
uma dieta casher. O movimento conservador/massortí defende que a lei judaica,
por sua própria natureza, é passível de evolução na medida em que os indivíduos
aprendem mais com a interpretação da Torá (em um sentido estrito, o Pentateuco,
os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica; em um sentido amplo, o conjunto de
todas as leis e tradições judaicas). Desse modo, o movimento
conservador/massortí propõe novas interpretações à lei judaica.
Assim
como no movimento reformista, o serviço é igualitário e inclusivo: homens e
mulheres sentam-se juntos nos serviços religiosos, compõem o minián
(quorum mínimo de dez pessoas judias adultas para a realização de um serviço
religioso público) e sobem ao púlpito para ler na Torá. Pode-se andar de carro
no Shabat para ir à sinagoga e as mulheres podem ser ordenadas como
rabinas.
Na prática, muitos judeus conservadores/massortís são mais
flexíveis no cumprimento de todas as leis religiosas, ou as obedecem somente em
parte. A maior parte do serviço religioso nas sinagogas é feita em hebraico, com
a inclusão de trechos traduzidos da liturgia ou de outras reflexões inspiradoras
feitas na língua natal. O Judaísmo conservador/massortí é geralmente visto,
talvez injustamente, como um meio termo entre os ortodoxos, à sua direita, e os
reformistas, à sua esquerda.
Os rabinos conservadores/massortís não
celebram nem participam de casamentos ecumênicos ou inter-religiosos, que são os
casamentos entre um judeu e um não-judeu. Vale a pena esclarecer que o casamento
entre uma pessoa judia com outra nascida não-judia mas que se converteu ao
judaísmo é um casamento judaico; assim sendo, um rabino conservador realizará
esta união normalmente. No caso de conversão, os rabinos conservadores/massortís
exigem que um candidato do sexo masculino faça o brit milá (circuncisão
ritual); no caso do indivíduo já ser circuncidado, deve-se realizar uma
cerimônia de hatafát dám para se retirar uma gota de sangue do pênis,
“completando” então o brit milá. O mesmo é exigido dentro do movimento
ortodoxo e reformista. Além disso, deve-se realizar a tevilá, ou seja,
o ritual de imersão em um local de água corrente (na maioria das sinagogas há
uma micvá, uma espécie de piscina alimentada por água das chuvas,
especialmente preparada para este fim) e o comparecimento perante um bet
din, uma corte religiosa. As candidatas também devem passar pelo mesmo
ritual de imersão e comparecer perante o bêt din (veja a seção "O
Processo de Conversão" para mais detalhes). Em geral os rabinos
conservadores/massortís reconhecem as conversões feitas por rabinos de outros
movimentos desde que as exigências ritualísticas tenham sido
realizadas.
As conversões nesse movimento são reconhecidas pelo Estado de
Israel para efeitos de Aliá, a Lei do Retorno.
Há diversos
websites que representam o movimento conservador/massortí. Assim como
os demais movimentos, o judaísmo conservador/massortí é composto de várias
organizações. Nos EUA, isso inclui, por exemplo, a Rabbinical Assembly
(Assembléia Rabínica), a Association of Conservative Rabbis (Associação dos
Rabinos Conservadores) e a United Synagogue of
Conservative Judaism, que é a associação das congregações
conservadoras/massortís. O maior seminário rabínico do movimento é o JTS (Jewish Theological
Seminary).
No Brasil não há um website específico para todo
o movimento conservador/massortí; cada sinagoga ou congregação tem o seu próprio
site, entre os quais estão a ARI (Associação Religiosa Israelita) e a CJB
(Congregação Judaica do Brasil) no Rio de Janeiro; a Comunidade Shalom e a CIP (Congregação Israelita
Paulista) em São Paulo, sendo que esta última está filiada tanto ao movimento
conservador/massortí quanto ao movimento reformista.
JUDAÍSMO ORTODOXO. Nos EUA o judaísmo
ortodoxo representa cerca de 10% dos judeus filiados. Judeus ortodoxos aceitam
integralmente a Halachá e, diferentemente dos judeus
conservadores/massortís, entendem que ela não é passível de modificação. A
ortodoxia entende que as 613 mitsvót contidas na Torá são obrigatórias
para todos os judeus. Eles acreditam que a Torá foi revelada diretamente por
D-us; em decorrência disso, as suas leis são divinas e devem ser obedecidas.
Assim, os ortodoxos são os mais tradicionais entre todos os grupos judaicos.
Homens e mulheres sentam-se separados por uma mechitzá (divisória) nos
serviços religiosos; somente os homens compõem o minián (quorum mínimo
de dez homens judeus adultos para a realização de um serviço religioso público)
e sobem ao púlpito para ler na Torá. Não é permitido andar de carro no Shabat
nem para ir à sinagoga e não há rabinas ortodoxas. Na prática, os judeus
ortodoxos tendem a cumprir as leis judaicas em áreas como manter o Shabat e
seguir uma dieta casher.
As exigências para a conversão ortodoxa são as
mesmas que as do judaísmo conservador/massortí. A principal diferença entre eles
é que os rabinos ortodoxos geralmente não aceitam as conversões praticadas por
rabinos não-ortodoxos (conservadores/massortís e reformistas), pois não
reconhecem o bet din (corte religiosa) formado para avaliar os
conhecimentos e a convicção do candidato. Este fato tem causado uma polêmica
considerável dentro da comunidade judaica, e é importante que os candidatos
potenciais à conversão estejam cientes deste problema.
As dificuldades
surgem em casos específicos. Aqui vai um exemplo: uma mãe nascida não-judia foi
convertida por um rabino não-ortodoxo e se casou com um homem judeu. Os filhos
deste matrimônio foram criados como judeus, são considerados judeus pela
comunidade em geral, mas não pelo movimento ortodoxo, pois a conversão da mãe
não é reconhecida pelos ortodoxos (os filhos de uma mãe judia são
automaticamente considerados judeus, mesmo que não tenham sido criados como
judeus). Conseqüentemente, se um desses filhos desejar se casar com uma pessoa
ortodoxa, um rabino ortodoxo se recusará a celebrar o casamento sem uma prévia
conversão ortodoxa. Os rabinos ortodoxos não celebram nem comparecem a um
casamento ecumênico.
Cabe ressaltar que, em Israel, as conversões
realizadas por todos os movimentos (ortodoxo, conservador/massortí e reformista)
dentro e fora do Estado de Israel são legalmente reconhecidas, conferindo aos
convertidos o direito de Aliá, a Lei de Retorno, que defende o direito
de todo judeu morar em Israel. No entanto, o judaísmo ortodoxo é o único
movimento cujos casamentos feitos em Israel são reconhecidos oficialmente; os
casamentos feitos pelos demais movimentos só são reconhecidos em Israel se forem
realizados no exterior.
Há diversas organizações ortodoxas ao redor do
mundo, com práticas diferentes. A Orthodox Union é a maior delas. No
Brasil não há um website específico para todo o movimento; a
organização mais conhecida é o Beit Chabad, que também tem alguns
websites regionais.
JUDAÍSMO REFORMISTA. Nos EUA os
reformistas representam cerca de 45% dos judeus filiados e são o maior grupo
judaico norte-americano. No Brasil não há estatísticas a respeito, mas trata-se
de um grupo minoritário. Embora não haja dados estatísticos precisos,
acredita-se que a maioria dos judeus filiados sejam conservadores/massortí, e
provavelmente a parcela de ortodoxos seja maior aqui do que nos EUA. É muito
grande o número de judeus não-praticantes e/ou não filiados a quaisquer dos
movimentos.
Os judeus reformistas aceitam a lei judaica, porém colocam
ênfase na autonomia moral dos indivíduos que decidem quais leis têm significado
religioso para eles. No judaísmo reformista, o estudo da Torá, do Talmud e da
Halachá são estimulados e considerados a fonte maior da tradição judaica, com o
foco maior nas ações sociais e éticas baseadas nos escritos dos
profetas.
É importante mencionar que todos os movimentos judaicos apóiam
e mantêm inúmeras entidades de cunho social, pois o conceito de
tsedacá, justiça social, é fundamental dentro do povo judeu e
considerado uma mitsvá, um mandamento.
Geralmente, o serviço
religioso reformista nem sempre é feito inteiramente em hebraico, como nos
movimentos ortodoxo e conservador/massortí; muitas orações são feitas na língua
natal e podem ser incluídos textos inspiradores. Assim como no movimento
conservador/massortí, o serviço religioso é igualitário: homens e mulheres
sentam-se juntos nos serviços religiosos, compõem o minián (quorum
mínimo de dez pessoas judias adultas para a realização de um serviço religioso
público) e sobem ao púlpito para ler na Torá. Pode-se andar de carro no Shabat
para ir à sinagoga e as mulheres podem ser ordenadas como rabinas.
O
movimento reformista é muitas vezes considerado, inclusive por alguns dos seus
próprios membros, como o mais flexível em termos de práticas religiosas. Por
exemplo, a dieta casher é estimulada, mas não obrigatória. Atualmente todas as
instituições judaicas reformistas oferecem comida casher dentro de suas sedes,
numa tendência geral, dentro do movimento, de retorno às práticas tradicionais.
O judaísmo reformista aceita a matrilinearidade (filhos de uma mãe judia
são judeus), mas defende também a patrilinearidade sob certas condições. Assim
sendo, considera também que os filhos de um pai judeu com uma mãe não-judia são
judeus desde que tenham sido criados dentro do judaísmo, participem da vida
judaica e se identifiquem publicamente como judeus por meio de diversas ações
religiosas formais. Portanto, para o movimento reformista os filhos de um
casamento desta natureza não precisam se converter para serem reconhecidos como
judeus.
O reconhecimento da patrilinearidade não é compartilhado pelos
movimentos conservador/massortí e ortodoxo, que não reconhecem esses filhos como
judeus. Conservadores e ortodoxos seguem apenas a matrilinearidade, ou seja, só
reconhecem como judeus os filhos de uma mãe judia, seja ela nascida judia ou
convertida de acordo com cada movimento. O potencial de problemas aqui é
óbvio.
O movimento reformista conta com o maior número de convertidos
entre todos os movimentos. Famílias compostas por casamentos inter-religiosos
são aceitas, e nos EUA há um programa efetivo para alcançar e incluir estas
famílias no meio judaico.
As conversões realizadas por rabinos
reformistas, dentro e fora de Israel, são reconhecidas pelo Estado de Israel,
conferindo aos convertidos o direito de Aliá, a Lei de Retorno, que
defende o direito de todo judeu morar em Israel.
Para mais informações,
visite os websites do Movimento Reformista e da World Union for Progressive
Judaism (WUPJ). No Brasil a única organização a representar o
movimento reformista é a WUPJ for Latin America (em
português, inglês e espanhol).
IMPORTANTE! Por fim, é fundamental
ressaltar que o chamado "judaísmo messiânico" não é um movimento judaico. Apesar
de assim se auto-intitular, não faz parte do povo judeu e é completamente
estranho ao mesmo, uma vez que nega a Unicidade de D-us (um dos princípios
fundamentais do judaísmo) e desconsidera inúmeros requisitos necessários para a
identificação do Messias. Esta premissa é compartilhada por todos os movimentos:
“judaísmo messiânico” não é judaísmo.
Créditos: Texto adaptado do site em inglês www.convert.org com a permissão de
Barbara Shair Tradução: Fábio
Lacerda Edição: Adriana Lacerda, Uri Lam e Mariane
Dinis Adaptação para o judaísmo brasileiro: Uri
Lam Agradecimentos especiais: Uri Lam, Mariane Dinis e
Fernanda Goulart
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