Meu coração está cheio de ódio
Em Jeremias 6.10, o profeta disse: "A
quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão
incircuncisos e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa
vergonhosa; não gostam dela". Quando o profeta disse isso, estava cheio de furor
em razão de o povo não gostar da Palavra de Deus. "Pelo que estou cheio do furor
do SENHOR" (v.11), completou Jeremias.
Já fui acusado por pessoas que adotam
uma postura de fã de estar cheio de ódio. Isso porque tenho verberado contra
heresias e modismos de seus super-pregadores e cantores-ídolos. Mas, sabe de uma
coisa? Eles até que estão certos! Afinal, se o profeta Jeremias estava cheio de
furor, isto é, de ira, fúria, da parte do Senhor, em razão do descaso para com a
Palavra de Deus, por que eu não posso estar cheio de ódio pelo mesmo
motivo?
Sim, eu também estou cheio de fúria,
ira, furor, ódio... Quer saber de quê?
Tenho ódio das cantorias
intermináveis, haja vista diminuírem ou suprimirem, nos cultos, o tempo
destinado à exposição da Palavra de Deus. Por graça de Deus, tenho sido
convidado para pregar desde os meus dezoito anos, e em alguns lugares fico com a
impressão de que, se pudessem, excluiriam a pregação do programa... Entretanto,
em seu ministério, Jesus pregou e ensinou muito mais do que
cantou.
Ao denunciar a atitude de líderes que
não respeitam a Palavra de Deus, John F. MacArthur Jr. verberou: "Eles estão
consentindo que a dramatização, a música, a recreação, o entretenimento, os
programas de auto-ajuda e iniciativas semelhantes eclipsem o culto e a comunhão
dominical tradicionais. Aliás, na igreja contemporânea tudo parece estar na
moda, exceto a pregação bíblica. O novo pragmatismo encara a pregação
(particularmente, a pregação expositiva) como antiquada" (Com Vergonha do
Evangelho, Editora Fiel, p.8).
Tenho ódio de shows e toda a sua
parafernália, que ajuntam milhares de pessoas, levam-nas ao delírio, mas também
as afastam da Palavra de Deus, da manifestação genuína dos dons espirituais, da
reverência, da verdadeira adoração em espírito e em verdade, etc. "Ah, mas
muitas pessoas vão à frente", alguém dirá. Oh, sim, é verdade, porém não há base
bíblica para justificar erros valendo-se de supostos acertos. Já pensou se
alguém passasse a noite toda com uma chamada mulher de vida fácil, e depois
dissesse: "O importante é que eu a evangelizei"?
John F. MacArthur Jr. também afirmou:
"A metodologia tradicional — especialmente a pregação — está sendo descartada ou
menosprezada em favor de novos métodos, tais como dramatização, dança, comédia,
variedades, grandiosas atrações, concertos populares e outras formas de
entretenimento. Esses novos métodos são supostamente, mais 'eficazes', ou seja,
atraem grandes multidões. E, visto que, para muitos, a quantidade de pessoas nos
cultos tornou-se o principal critério para se avaliar o sucesso de uma igreja,
aquilo que mais atrair público é aceito como bom, sem uma análise crítica. Isso
é pragmatismo" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel,
p.8).
Tenho ódio do novo estilo de vida
"cristão", seguido pela "geração de adoradores-fãs", que citam letras de canções
e chavões de animadores de auditório de cor e salteado, porém desconhecem o ABC
da Bíblia. Afirmam, quando alguém os questiona: "Eu acho isso; eu acho aquilo".
Nenhum deles se posiciona com base na Palavra de Deus (1 Pe 3.15; 2 Tm
2.15).
Pergunte a esses "fã-náticos" de
plantão se eles sabem de fato o que é salvação, graça, misericórdia, vida
cristã, evangelização, fazer discípulos, santificação, fruto do Espírito, dons
espirituais, renúncia, culto racional, reverência, etc. Pergunte a eles se sabem
o que é o Arrebatamento da Igreja, e o que acontecerá nesse grande Dia. Será que
sabem diferençar o Tribunal de Cristo do Trono Branco? Sabem o que será a Grande
Tribulação? Lêem eles a Bíblia Sagrada e oram diariamente? Freqüentam a Escola
Bíblica Dominical?
Tenho ódio dessa superfluidade que
impera no meio evangélico, a qual tem levado muitos crentes a valorizarem o que
não tem valor, e desprezarem o que verdadeiramente é
precioso.
O conceito de que a igreja precisa se
tornar como o mundo a fim de ganhar o mundo para Cristo alcançou o
evangelicalismo como uma tempestade súbita. Hoje, cada atração mundana
contemporânea tem sua imitação "cristã". Temos grupos de motociclistas cristãos,
equipes cristãs de musculação, clubes cristãos de dança, parques de diversão
cristãos, e já li sobre a existência de uma colônia de nudismo
cristã.
Muitos jovens, que podiam passar a
noite orando e estudando a Palavra de Deus, divertem-se em bares "evangélicos".
Isso graças ao relativismo e às efemeridades que aprendem de seus
cantores-ídolos e super-pregadores, que não amam as
Escrituras.
Tenho ódio de canções e falações
humanistas ou antropocêntricas, que levam o crente a supervalorizar o poder de
suas declarações de fé, esquecendo-se de depender inteiramente do Senhor e
submeter-se a Ele como servo. Essa geração de "sonhadores apaixonados" não faz
outra coisa a não ser profetizar isso e aquilo, na hora em que bem entendem...
"Somos boca de Deus na Terra", dizem. Mas a verdadeira autoridade têm aqueles
que valorizam a Palavra de Deus, e não as suas palavras mágicas (Hb 4.12; Tg
5.17).
Mas não tenho ódio de nenhuma pessoa.
Não odeio nem o Diabo! Por quê? Ora, se eu odiá-lo, estarei me igualando a ele!
Eu aborreço, sim, as suas obras. Por isso, sigo a Cristo e me sujeito a Ele (Tg
4.7), sendo fiel ao que a Palavra do Senhor diz em 1 João 3.8: "Quem comete
pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de
Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo".
Não obstante, sei que é praticamente
impossível convencer os que estão no erro. É mais fácil passar um camelo pelo
fundo de uma agulha... É muito mais simples para eles me considerarem um
extremista, um extraterrestre, alguém que está na contramão ou coisa parecida.
Mesmo assim, insisto em dizer-lhes
que é preciso voltar. "Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas
antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as
vossas almas" (Jr 6.16).
Trecho do livro Mais erros que os pregadores devem
evitar, do pastor Ciro Zibordi
A-BD
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