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quarta-feira, 20 de junho de 2012

1. O que são as Sinagogas:

Ruínas da Sinagoga de Cafarnaum que foi visitada muitas vezes por Jesus e pelos Apóstolos
Segundo o Novo Dicionário da Bíblia de J.D. Douglas, a Sinagoga ( בית כנסת =”casa de assembléia” ou בית תפילה =”casa de oração”) só é citada uma única vez no Antigo Testamento, mais especificamente no Salmo 74:8, sendo que, talvez, nem seja a melhor tradução para a palavra ali escrita (mo’ed). É afirmado neste artigo que tanto o AT, quanto o NT e as fontes extra-Bíblicas (como os livros apócrifos) não determinam a data exata do surgimento da mesma sendo que, segundo o site Archaeology in Israel – The Jewish Mgz ( veja o artigo clicando aqui ), o primeiro relato escrito sobre uma sinagoga data do segundo século antes de Cristo. É certo apenas que antes do cativeiro Babilônico a adoração se concentrava no Templo em Jerusalém sendo proibida a construção de outros Templos, mas que nada havia que impedisse reuniões de estudo das Escrituras e orações, por isto é que é possível a existência das Sinagogas há muito tempo, provavelmente sem prédios próprios, reunindo-se nas residências e em todo lugar onde houvessem judeus. Já segundo a Wikipédia em inglês, até agora, as ruínas mais antigas de uma Sinagoga encontradas por arqueólogos estão no Egito e são datadas do terceiro século antes de Cristo o que confirmariam as informações do surgimento durante ou posterior ao cativeiro Babilônico.
A Sinagoga do Recife-PE é considerada a mais antiga de todo continente Americano
Não se pode afirmar que a Sinagoga começou exatamente durante o cativeiro Babilônico, mas certamente ela se desenvolveu grandemente e tomou a forma encontrada posteriormente durante este período. Segundo a Wikipédia, existem indícios que em 722 a.C. quando o reino do Norte de Israel foi devastado pelos Assírios e posteriormente em 587 a.C. quando o reino do Sul caiu frente aos Babilônios que o povo judeu viu a necessidade de se reunir para estudos das Escrituras e oração. Estas reuniões, que, a princípio, eram nas casas do próprio povo, aos poucos ganharam um prédio específico que foi chamado pelo mesmo nome = Sinagoga.
Estas explicações são interessantes, pois hoje em dia muitas Igrejas Evangélicas só utilizam o termo sinagoga embasando-se em Apocalipse 2:9 e 3:9 onde é citada uma suposta “sinagoga de satanás”. Na verdade estas duas seriam as únicas referências a este termo e não faz da palavra sinagoga algo negativo ou satânico. Ao contrário, os textos de Apocalipse apresentam falsas igrejas que fingem serem Igrejas do Senhor Jesus Cristo, mas que na verdade não louvam aO Senhor, não servem aO Senhor e não são compostas para adorar aO Senhor.

2. Templo X Sinagoga:

Notem que o Templo deveria ser um só e este era o de Jerusalém. Templo era o local criado pelos homens para ser, simbolicamente, a “Casa de Deus”. Neste sentido não haveria a possibilidade de se ter mais de um templo já que isto faria com que entendêssemos que haveria mais de um Deus.
Atos 7:48-51 Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: | O céu é o meu trono, E a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? diz o Senhor, Ou qual é o lugar do meu repouso? |Porventura não fez a minha mão todas estas coisas? |Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais.
Interior de uma Sinagoga moderna que está sendo construída no RJ
Este texto escrito pelo Dr. Lucas no livro de Atos relata o testemunho de Estevão, o primeiro mártir. Estevão estava cheio do Espírito Santo e não podia mais se conter diante de tanta idolatria que o povo judeu tinha com relação ao Templo de Jerusalém.
Ocorre que Deus havia permitido a construção do templo para simbolizar Sua presença no meio do povo, para lembrar-lhes de que Ele desejava um relacionamento próximo a cada um e o povo havia transformado este lugar num objeto de idolatria e rituais. Eles deixaram de compreender o Templo como sendo uma representação e passaram a adorá-lo no lugar de Deus. Este é o risco dos símbolos cristãos. É muito fácil que símbolos virem objetos de adoração e por isto tornem-se objetos que enojam a Deus e que blasfemam contra Ele.
Paulo estava presente no apedrejamento de Estevão nesta passagem de Atos 7. Logo depois, em Atos 17, é o próprio Paulo (já depois de sua conversão) que repete a mesma afirmação de que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas.
Além desta afirmação em Atos, Paulo ainda complementa com:
1º Coríntios 6: 19 Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Não existe a menor dúvida! O verdadeiro Templo de Deus é o corpo de cada um dos que são salvos e remidos por Ele. Não são prédios humanos. Por este motivo o mais correto seria que evitássemos a utilização do termo Templo quando falamos do prédio que a Igreja se reúne.
Serviços Religiosos numa Sinagoga
Até porque o Templo era algo bem diferente do que compreendemos como Igreja hoje em dia. No Templo haviam pátios onde os judeus comuns ficavam, outro pátio reservado aos sacerdotes e uma pequena construção central onde havia o véu e onde o sumo-sacerdote só adentrava uma única vez ao ano para oferecer sacrifícios à Deus. Nos pátios eram realizados, pelos sacerdotes, os sacrifícios do povo. Não havia estudos, sermões, cânticos organizados, momentos coletivos… Tudo era bem diferente do que hoje é realizado nas Igrejas Evangélicas. Na verdade, nossas Igrejas Evangélicas e também as católicas são muito mais parecidas com as Sinagogas do que com o Templo. Por este motivo é que deveríamos evitar usar o termo Templo ao se referir a prédios e preferir o termo Sinagoga.

3. Termos e conceitos:

Snagoga medieval em estilo Gótico - mesmo padrão empregado em Igrejas Cristãs
Antes de fazer uma comparação dentre as Sinagogas e a Igreja Evangélica gostaria de deixar alguns termos e seus conceitos. Estes termos também são muito confundidos hoje em dia e muitas Igrejas utilizam-se de forma equivocada de alguns deles.
Gentio é uma palavra derivada do latim “gens” (“clã” ou “grupo de famílias”) que significa todo ser humano não-judeu, ou seja, povos e nações distintos do povo Israelita. Isto significa que se você não é descendente direto do povo Judeu (Se não tem sangue judeu) você é um gentio.
Vale à pena citar que alguns confundem Gentio com Gentil. Você pode ter gentileza ou não ter gentileza e continua sendo gentio, não devemos confundir estes termos distintos.
Prosélito é o termo usado para as pessoas plenamente convertidas, mas que não eram judeus de sangue. Os judeus além de estudarem a Palavra de Deus dentre si também tentavam levar o judaísmo para outros seres humanos (gentios) e estes, quando se convertiam plenamente através do proselitismo (do grego προσήλυτος = empenho ativista) judaico, passavam a ser chamados de prosélitos. Portanto a maioria absoluta dos cristãos de hoje em dia podem ser chamados de prosélitos, por serem de origem não judia e terem se convertido ao único e verdadeiro Deus.
Temente a Deus é um termo muito mal empregado nos dias de hoje. Ocorre que estes seriam outros gentios que participavam dos cultos judaicos nas sinagogas. É importante diferenciar os Tementes a Deus dos Prosélitos na questão de que estes primeiros eram os gentios dispostos a praticar o judaísmo ao menos em parte. Estes gentios achavam que a teologia judaica era superior ao politeísmo e às superstições gentílicas, porquanto os judeus davam ênfase à crença monoteísta em um único Deus e se opunham à idolatria, mesmo em seu próprio templo, embora não quisessem passar pelo rito da circuncisão nem observar os tabus mais estritos do judaísmo (plena conversão). Neste aspecto é bastante claro que chamar alguém de Temente a Deus é falar que aquela pessoa ainda não é totalmente convertida. Portanto, aplicar este termo de forma indiscriminada numa congregação deveria ser considerado um erro, mas muitos cristãos continuam a utilizar este termo com o significado de prosélito.
uma Sinagoga moderna que também se assemelha muito as Igrejas
Já a Diáspora é uma palavra derivada do grego διασπορά que significa “dispersão” e que no hebraico seria מפוזר (dispersado) ou גלות (exílio). Primeiro a Síria ao invadir a palestina leva o povo judeu cativo e espalha-os por todos os lugares, mais tarde vem a Babilônia e também leva alguns judeus para a Babilônia, quando do domínio romano um outro grupo é levado prisioneiro até Roma e é claro que durante todo este período muitos judeus estão fugindo da palestina para todos os cantos. Isto é o que chamamos diáspora ou dispersão do povo judeu.
A dispersão dos judeus foi fundamental para a propagação do evangelho nos primeiros séculos. Ocorre que estes judeus criaram suas sinagogas em todas as cidades onde habitavam. Algumas tinham prédios próprios, outras se reuniam nas casas de seus membros. Cidades grandes tinham mais de uma sinagoga e em cidades pequenas ao menos uma.
A antiga Sinagoga da Estrada de São Miguel, em Erfurt é a mais antiga Sinagoga ainda de pé na Europa
Esta propagação das sinagogas adiantou em muitos séculos a propagação da mensagem salvadora de Jesus Cristo. Ocorre que os judeus espalhados pelo mundo já conheciam o Antigo Testamento (exatamente como utilizamos hoje), já conheciam as maravilhas de Deus e já esperavam a vinda do Messias. Eles também já pregavam aos gentios sobre o único e verdadeiro Deus e já anunciavam que este Deus iria enviar O Messias que iria remir a Terra. Portanto não só os judeus, mas também toda a população de todas as cidades onde haviam sinagogas já tinham ouvido falar nas profecias sobre Jesus. Isto, unido ao fato da abertura que os judeus davam a qualquer visitante que tivesse uma mensagem a ser dada nas reuniões das sinagogas foi a grande estratégia de evangelização dos primeiros séculos.
O modelo da Igreja Primitiva era exatamente o modelo das Sinagogas. Tanto administrativamente, quanto no modelo de culto e no que tange a forma de adoração.
Já sabemos que é errado afirmar que alguma igreja é igual à Igreja Primitiva, já que cada uma delas era diferente das demais. Não havia um modelo único pelo exato motivo de que também não havia um modelo único dentre as Sinagogas, porém algumas características eram comuns a maioria das Sinagogas e se manteve nas Igrejas Primitivas.
Irei fazer uma pequena comparação dentre a Sinagoga e a Igreja Batista. Quero deixar claro aqui que não estou falando que a Igreja Batista é a perfeita, mas como Batista conheço bem este modelo de Igreja e resolvi fazer a comparação com ela. Você pode e deve analisar a sua denominação com relação a comparação abaixo .

4. Sinagoga = Igreja:

arquitetura de gosto duvidoso na Sinagoga da Universidade de Tel Aviv - Israel
Sou da Igreja Batista e encontro as seguintes Características Básicas da sinagoga em minha igreja: logo de inicio temos que o termo Igreja representa tanto o povo de Deus reunido quanto o local onde se realizam as reuniões, da mesma forma que o termo Sinagoga também representa as duas coisas; Vemos várias Igrejas em todos os lugares onde existe o povo de Deus para que estes possam se reunir, em praticamente todas as cidades de relativa importância e em praticamente todos os bairros das grandes cidades existe uma Igreja Batista; é interessante notar que não há, obrigatoriamente, a necessidade de um prédio ou estrutura específica para as reuniões, podendo ser também na simples casa de qualquer irmão que abra as suas portas para que a reunião ali aconteça deixando que a construção de um prédio específico só ocorra quando a quantidade de pessoas já não seja comportada por aquela casa onde se reuniam; Vemos ainda que existem pessoas pobres e ricas que fazem parte da mesma igreja; é notório que, quando usa um prédio específico, existe um local onde fica a congregação e um local que conta com um apoio especial para que a Palavra de Deus fique enquanto está sendo usada para a pregação (púlpito); bem como a igreja é um centro de orações e durante os dias úteis da semana ela se torna num local de encontro do povo de Deus para reuniões, serviços fúnebres, educação de jovens e estudo.
Sinagoga de Berlim na Alemanha
No tocante ao Ambiente Religioso, vemos que a Igreja Batista: é um local para o povo de Deus se reunir para louvar a Deus; É um local para o povo de Deus se reunir para adorar a Deus; É um local para o povo de Deus se reunir para, em especial, estudar a Palavra de Deus; É um local de comunhão para o povo de Deus; É um local de proclamação da Palavra de Deus para aqueles que ainda não são parte do povo de Deus com intuito de que estes venham a também se converterem a Deus; É um local onde é permitida a participação de outras pessoas que ainda não fazem parte do povo de Deus, mas que se interessam e assim também poderiam ser chamados de tementes a Deus como nas sinagogas; É sempre feita a proclamação de uma mensagem de esperança sobre o messias (Cristo), sendo um pouco diferente no caso já que na Sinagoga anunciavam a esperança que o messias viria e nas igrejas proclamamos que o messias já veio.
Também o ambiente religioso se assemelha à sinagoga porque existe na sinagoga a figura de um (ou mais) doutor(es) da lei que estuda(m) a Palavra de Deus para explicá-la ao povo de Deus, assim também na Igreja Batista existe a figura do (ou dos) pastor (es) e pregadores leigos que estuda(m) a Palavra de Deus para explicá-la ao povo de Deus.
Sinagoga Beth El em SP
Sobre o Modelo de Administração, vemos que: Existem normas para receber os membros, assim como na sinagoga o gentio para fazer parte da mesma tinha que abandonar suas práticas pagãs e passar por um período de instrução nas escrituras e costumes judaicos, para então dar sua pública confissão de fé, ser circuncidado e então batizado, na Igreja Batista o novo convertido deve provar que teve uma transformação de vida, passar por um período de instrução nas escrituras e nas doutrinas batistas para então dar sua pública confissão de fé e ser batizado, excluindo-se apenas a circuncisão; Também vemos que os responsáveis pelo ministério com os pobres, chamados de coletores (recebedores) da sinagoga formaram o modelo pelo qual a Igreja Batista seguiu no que tange ao ministério diaconal; Existe ainda a instituição de outros líderes locais para tratarem de assuntos relativos a administração da mesma; Temos o pastor sendo eleito diretamente assim como o chefe da sinagoga era eleito e este preside às reuniões; Copiamos ainda a questão de que os membros que caem em erro são punidos com exclusão e que os recursos recebidos durante os cultos são usados para obras sociais e manutenção da igreja.
Finalmente, sobre o Modelo de Culto temos a oração inicial, leitura inicial, cânticos, uma segunda leitura, uma exortação (mensagem/sermão) e o encerramento com uma oração ou com a Bênção ordenada por Deus em Números 6:24-26 (sendo que esta só pode ser ministrada por um pastor), sendo que em todos os cultos é dado uma ênfase muito grande as Escrituras e há uma grande liberdade na liturgia. A semelhança com a sinagoga é total, já que na sinagoga teria apenas a recitação da declaração de fé antes da oração inicial como algo a mais e a figura do sacerdote no lugar do pastor na hora da bênção final (apesar de que ambos também têm grande semelhança, já que era necessária uma consagração ao ministério).
Judeus em Porto Alegre defendendo a Sinagoga
Vemos que as leituras e orações podem ser feitas por membros leigos, mas competentes, da congregação escolhidos pelo pastor, exatamente como os chefes das sinagogas faziam; Bem como que assim como nas sinagogas é costume nas Igrejas Batistas que a congregação, após as orações, respondesse com o Amém, que é uma afirmação que significa “Assim seja”; Ainda que havia na sinagoga, como existe na Igreja Batista, momentos de oração silenciosa individual onde toda a congregação participa orando e no final deste momento alguém ora encerrando este momento; e finalmente que o livro de Salmos tinha um grande destaque nos cultos das sinagogas assim como também tem nos cultos das Igrejas Batistas.

5. Conclusão:

Da próxima vez que você ler ou ouvir falar sobre uma Sinagoga, não faça associação dela com as duas citações do livro de Apocalipse. Ao contrário, compreenda imediatamente que se trata do modelo inicial das nossas Igrejas e também a porta aberta que Deus usou para facilitar o trabalho missionário dos primeiros Cristão.

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