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terça-feira, 30 de julho de 2013



PROIBIDO COMER CARNE COM SANGUE?

Costumam alguns senhores acusar os cristãos de comerem carne com sangue, contra as ordens de Deus. Ora, se os motivos dessa proibição deixaram de existir também deixou de valer tal proibição. Vejamos, pois, quais foram os motivos por que Deus proibiu aos antigos hebreus comer sangue.

No Deuteronómio diz o Senhor: “Poderás comer quanta carne quiseres;mas abstém-te apenas de comer o sangue porque o sangue é a alma...” (12, 20-23).

E no Levítico diz: “Todo o homem da Casa de Israel ou estrangeiro… que comer sangue, seja que sangue for, Eu o eliminarei do meio do seu povo. Sim, a vida da carne está no sangue. Esse sangue Eu vo-lo dei para fazerdes no altar o rito da expiação pelas vossas vidas; pois o sangue é que expia por uma vida. Eis porque eu disse aos filhos de Israel: Nenhum dentre vós comerá sangue … ” (17, 10-14).

Neste mesmo livro vinha também a proibição de comer gordura; “toda a gordura pertence ao Senhor. Eis uma lei perpétua para todos os vossos descendentes; Não comereis nem gordura nem sangue ” (3, 16-17).

Estas passagens indicam quais eram os motivos dessa proibição. Vejamos : Na Antiga Lei o sangue era considerado uma coisa sagrada e reservada para os sacrifícios. E era proibido ao homem comer o sangue dos animais por dois motivos:

 1º. Para evitar que os hebreus imitassem os pagãos cananeus com quem se iam misturar. Com efeito, no capitulo 19 do Levítico Deus dá ao Seu povo as prescrições cultuais em oposição ao culto deles: ” Não vos voltareis para os ídolos nem para os espectros…”. E à mistura com essas proibições, lá vem esta: “não comereis nada com sangue”. Ora, este motivo deixou de ser válido para nós os da Nova Lei porque já não existe essa circunstância dos cananeus.

2º. Mas, o principal motivo desta proibição foi indicado pelo próprio Deus na citada passagem do Levítico: “Esse sangue Eu vo-lo dei para fazerdes no altar o rito de expiação pelas vossas vidas… Eis porque eu disse… Nenhum de entre vós comerá sangue”.

Aí está; o sangue dos animais, na Antiga Lei, tinha valor expiatório quando derramado e oferecido em sacrifício a Deus. Por isso, a lei Moisaica proibia comê-lo. Mas, na Nova Lei já ele não tem esse valor. Como diz a Epístola aos Hebreus, “o Sumo Sacerdote entrava no Santuário munido de sangue para o oferecer pelos seus pecados e do povo… Veio Cristo como Sumo Sacerdote dos bens futuros e entrou uma vez para sempre no Santuário não com sangue de bodes ou de vitelos mas com o Seu próprio sangue que nos obteve uma redenção eterna ” (9, 7-12).

Pronto. Deixou de vigorar a proibição de comer o sangue dos animais uma vez que deixou de existir a sua causa que era o valor expiatório e sagrado desse sangue. E na Nova Lei, a lógica é esta: Cessou esse valor expiatório e esse rito de expiação pelo sangue animal; cessou também a razão de ser da proibição de o comer.

Deus disse: “Tudo o que se move e possui vida vos servirá de alimento; Não comereis a carne com a sua alma, isto é, o sangue “ (Gen. 9,3). Se “o altar é que torna sagrada a oferenda”, como disse Jesus (Mt. 23, 19), o sangue dos animais deixou de ser sagrado quando deixou de ser oferecido no altar.

No Novo Testamento foi confirmada a proibição de comer sangue mas também por um motivo que deixou de existir. Nos Actos dos Apóstolos lê-se que “certas pessoas descidas da Judeia ensinavam aos irmãos que, se eles não se fizessem circuncidar, seguindo o uso que vinha de Moisés, não se poderiam salvar” (15, 1).

Paulo e Barnabé entraram em discussão com essas pessoas e foi decidido que estes fossem a Jerusalém ter com os Apóstolos e Anciãos para tratarem deste desacordo. Então os Apóstolos e Anciãos reuniram-se para examinar a questão. Após uma longa discussão, levantou-se Pedro e depois Tiago que disse: “Eu entendo que não se deve inquietar aqueles pagãos que se convertem a Deus; que se lhes mande só absterem-se do que foi manchado pelos ídolos, do impudor, das carnes sufocadas e do sangue… ” (v. 19-21).

A carta que os Apóstolos e os Anciãos lhes enviaram dizia isso mesmo: “ O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor outras obrigações além destas que são indispensáveis: Que vos abstenhais das carnes imoladas dos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e do impudor ” (v. 28-29) .





 

Como se está vendo, estas obrigações só foram impostas para não escandalizarem os convertidos que ainda podiam ouvir os pregadores da Lei de Moisés a recomendar essas abstenções. Não era, portanto, uma regra de conduta cristã mas apenas uma medida temporária de prudência e de atenção para com os novos convertidos que se podiam chocar de ver a nova Igreja a romper bruscamente com normas Moisaicas que eles julgavam invioláveis. Mas, depois, quando deixou de haver esse melindre, os próprios Apóstolos abandonaram essas cautelas. Pois, o próprio Cristo disseraNão compreendeis que nada do que de fora penetra no homem o pode tornar impuro porque não lhe entra no coração mas no ventre e daí vai para os lugares sanitários?(Assim declarava puros todos os alimentos) ” (Mc. 7, 18-19).
E S. Paulo diz “Quanto a comer as carnes imoladas aos ídolos, nós sabemos que um ídolo não é nada. Para nós só há um Deus, o Pai. Mas nem todos têm esta ciência; alguns, por causa do hábito que tiveram até aqui do ídolo, comem as carnes precisamente como imoladas e a sua consciência, sendo fraca, encontra-se manchada com isso. Um alimento não nos aproxima nem afasta de Deus. Mas que esta liberdade de que vós usais não se torne para os fracos ocasião de queda. Se alguém te vê sentado à mesa num templo de ídolos, a sua consciência fraca não irá julgar-se autorizada a comer carnes imoladas aos ídolos e assim cair no pecado por causa de ti? Por isso, se um alimento há-de causar a queda do meu irmão, eu passarei sempre sem carne”(1Cor. 8, 4-13).

“Tudo é permitido mas nem tudo edifica. Comei tudo o que se vende no mercado sem pôr questão por motivo de consciência; porque a terra é do Senhor e tudo o que ela contém. Se um infiel vos convida e se aceitardes, comei tudo o que vos servirem sem objecção de consciência. Mas, se alguém vos disser que aquele alimento foi oferecido em sacrifício, não comais dele por causa de quem vos avisou e por motivo de consciência dele e não da vossa ” (1Cor. 10, 23-29).

Aqui temos a razão desta proibição de comer carnes imoladas aos ídolos: É que os de consciência fraca podiam daí tirar motivo para se julgarem autorizados a comer carnes imoladas, e assim fazerem acto de idolatria. Mas, quando deixou de existir esse motivo, também deixou de valer essa proibição. O mesmo se dirá das carnes sufocadas, isto é, mortas sem ser derramado o sangue. A lei de Moisés mandava “derramá-lo no chão como água e cobri-lo com terra” para não ser comido porque então ele era tido como sagrado por causa do seu valor expiatório que deixou de existir na Nova Lei.

Por isso dizia S. Paulo: “Que ninguém vos julgue a respeito do comer ou do beber ou duma festa ou dos sábados. Tudo isso eram sombras das futuras realidades” (Col. 2, 16-17; Gal. 4, 9).




   
 

O decreto a proibir comer coisas sacrificadas aos ídolos também não foi revogado e todavia aqueles senhores não se lembraram ainda de o impor como vigorando ainda hoje. Depois daquele decreto Apostólico de Jerusalém que já dispensava da Circuncisão, ainda S. Paulo julgou dever circuncidar Timóteo “por causa dos judeus que havia naqueles lugares” (Act. 16, 3). Assim também por causa dos judeus no meio dos quais viviam os novos convertidos é que foram impostas aquelas proibições.

Portanto, eram para durar só enquanto durasse essa causa. S. Paulo mostra bem que o motivo da proibição de comer coisas sacrificadas aos ídolos era temporário: Só por causa das consciências fracas dos que então se escandalizavam à força de ouvirem os pregadores de Moisés. Isso vale também para a proibição de comer sangue. Quando cessou esse motivo cessou também o vigor desse decreto.

Aqueles senhores andam por aí a pregar contra o consumo de carne com sangue e outras observâncias, enfim, empenhados em fazer-nos recuar dois mil anos para voltarmos à Antiga Lei. Por que não pregam igualmente a Circuncisão? Não era também um preceito perpétuo da Antiga Lei?

A Lei da circuncisão era perpétua e era um sinal do pacto ou aliança. Todavia não consta que aqueles senhores se sujeitem a ela. Se entendem que a circuncisão já caducou por ser própria da Antiga Lei, também podiam entender que a proibição de comer carne com sangue caducou igualmente pela mesma razão.

Resumindo, seguindo Jesus que declara que todos os alimentos são puros (Mc. 7, 14-23), S. Paulo afirma muitas vezes que nenhum alimento em si, é impuro (1Cor. 10, 25-27; Rom. 14, 14, 17 e 20; Heb. 13, 9); recomenda simplesmente que não se use desta liberdade fundamental no caso em que se escandalizassem os fracos; trata-se, portanto, de uma abstenção ocasional, motivada pela caridade (1. Cor 10, 23-24 e 30-33; Rom. 14, 14-16 e 20-21).

Não teme afirmar que as proibições alimentares têm uma origem puramente humana (Col. 2, 20-22) e que, em certas circunstancias, se podem até tornar prejudiciais (1 Tim. 4, 1-5).

A Lei Cristã, “Lei de Liberdade”, suprime todas as proibições que incluía a título pedagógico, a Lei Antiga (Rom. 8, 2; Gal. 3, 24; Col. 2, 14).

Almada, 21 de Julho de 2013.

José Luís.

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