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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Leitura da Torá: Balac (Números 22:2-25:9)


Balac

Existem maus resultados com boas intenções. Todos os temos experimentado, de um lado e de outro, ou seja, como quem quis bem e fez mal, e como quem recebeu mal e depois recebeu uma explicação sobre a intenção boa do outro. Quem não disse ou ouviu frases como “não era minha intenção”, “você não me entendeu” ,”eu quis dizer, eu quis fazer, eu quis que você sentisse, visse, tivesse, recebesse”.

Entretanto, existem bons resultados com más intenções?

parashá da semana nos conta uma história na qual uma pessoa que queria amaldiçoar acaba abençoando. O bruxo Bilam tinha sido contratado por Balac, rei de Moav, para amaldiçoar o povo de Israel, mas ao vê-los saiu de sua boca, a bênção com a qual hoje nós nos abençoamos como comunidade, o famoso Ma Tovu.

Cabe perguntar se isso é possível: abençoar com a intenção de amaldiçoar. E qual o valor e o efeito dessa benção? Pode sair um texto involuntário de uma boca? Contrário totalmente à vontade? E qual o valor dele? E qual sua capacidade de realizar algum efeito? Será que só importam os resultados? Quais? A quem? O fato de ele ter dito algo bom poderia ter algum efeito bom, além da má intenção? Em quem? No povo de Moav, de modo a amedrontá-los e evitar o ataque contra Israel? Ou em Israel, que teria ouvido o elogio mesmo não querido e, com ele, se empolgado e fortalecido? E Bilam poderia realmente ter dito uma bênção uma vez que queria amaldiçoar, ou será que, na verdade, mudou de ideia e descobriu sua verdadeira vontade, quando se ouviu falando? Será que os atos e as palavras às vezes revelam nossas verdades mais do que os pensamentos?

É claro que, em algumas situações, as vontades e intenções não bastam. A intenção de trazer uma câmera de oxigênio para um doente não é suficiente para salvar sua vida. Já, achá-la por acaso sem intenção alguma, é mais valioso. Visitar um doente sem intenção ou com má intenção pode ser contraproducente. A pessoa poderia entender que o visitante não queria estar lá, que não se referia de verdade a nenhuma das palavras ditas, e sentir-se pior que se não o tivesse visto. Também o visitante evitaria assim uma mentira. Dizer que amamos quando não amamos, que gostamos do que não gostamos, parece, em primeira instância, fazer um bem, mas pode trazer o mal. Já, querer o bem do filho ao superprotegê-lo e não deixá-lo agir sozinho, bem como ao deixá-lo livre demais com a intenção de que ganhe confiança, pode ser mal interpretado por ele. No primeiro caso, como asfixia e falta de confiança, no segundo como desinteresse e falta de responsabilidade. Entretanto, a mera explicação da verdadeira intenção poderia bastar para deixar tudo em paz em ambas as situações.

A intenção do coração é uma das verdades mais profundas de uma pessoa. Atores verdadeiros testemunham que só quando conseguem acreditar em alguma verdade do personagem que devem interpretar e incorporá-la de verdade, é que conseguem atuar bem. Ou seja, atuar é possível de verdade só dizendo alguma verdade sobre si. Os resultados são imprescindíveis para o corpo, para a matéria, para a economia. As intenções para a alma e para o espírito. Os resultados falam do que temos. As intenções do que somos.

Avanhandava tenta e consegue, há 75 anos, atender as duas partes da pessoa. E por isso merecem todo o nosso reconhecimento. Col hacavod.

Shabat shalom
Rabino Ruben Sternschein


         

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