Balac
18 DE JUNHO DE 2013 BY
Entretanto, existem bons resultados com más intenções?
A parashá da semana nos conta uma história na qual uma pessoa que queria amaldiçoar acaba abençoando. O bruxo Bilam tinha sido contratado por Balac, rei de Moav, para amaldiçoar o povo de Israel, mas ao vê-los saiu de sua boca, a bênção com a qual hoje nós nos abençoamos como comunidade, o famoso Ma Tovu.
Cabe perguntar se isso é possível: abençoar com a intenção de amaldiçoar. E qual o valor e o efeito dessa benção? Pode sair um texto involuntário de uma boca? Contrário totalmente à vontade? E qual o valor dele? E qual sua capacidade de realizar algum efeito? Será que só importam os resultados? Quais? A quem? O fato de ele ter dito algo bom poderia ter algum efeito bom, além da má intenção? Em quem? No povo de Moav, de modo a amedrontá-los e evitar o ataque contra Israel? Ou em Israel, que teria ouvido o elogio mesmo não querido e, com ele, se empolgado e fortalecido? E Bilam poderia realmente ter dito uma bênção uma vez que queria amaldiçoar, ou será que, na verdade, mudou de ideia e descobriu sua verdadeira vontade, quando se ouviu falando? Será que os atos e as palavras às vezes revelam nossas verdades mais do que os pensamentos?
É claro que, em algumas situações, as vontades e intenções não bastam. A intenção de trazer uma câmera de oxigênio para um doente não é suficiente para salvar sua vida. Já, achá-la por acaso sem intenção alguma, é mais valioso. Visitar um doente sem intenção ou com má intenção pode ser contraproducente. A pessoa poderia entender que o visitante não queria estar lá, que não se referia de verdade a nenhuma das palavras ditas, e sentir-se pior que se não o tivesse visto. Também o visitante evitaria assim uma mentira. Dizer que amamos quando não amamos, que gostamos do que não gostamos, parece, em primeira instância, fazer um bem, mas pode trazer o mal. Já, querer o bem do filho ao superprotegê-lo e não deixá-lo agir sozinho, bem como ao deixá-lo livre demais com a intenção de que ganhe confiança, pode ser mal interpretado por ele. No primeiro caso, como asfixia e falta de confiança, no segundo como desinteresse e falta de responsabilidade. Entretanto, a mera explicação da verdadeira intenção poderia bastar para deixar tudo em paz em ambas as situações.
A intenção do coração é uma das verdades mais profundas de uma pessoa. Atores verdadeiros testemunham que só quando conseguem acreditar em alguma verdade do personagem que devem interpretar e incorporá-la de verdade, é que conseguem atuar bem. Ou seja, atuar é possível de verdade só dizendo alguma verdade sobre si. Os resultados são imprescindíveis para o corpo, para a matéria, para a economia. As intenções para a alma e para o espírito. Os resultados falam do que temos. As intenções do que somos.
Avanhandava tenta e consegue, há 75 anos, atender as duas partes da pessoa. E por isso merecem todo o nosso reconhecimento. Col hacavod.
Shabat shalom
Rabino Ruben Sternschein
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