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domingo, 16 de dezembro de 2012

Deuses e homens

Por pesquisador Leandro Silvio
Uma das características da religião grega é a transformação das forças do além e da natureza a forma delineada de um ser humano, uma figura individual plenamente humana. VERNANT (1990) Explica que as grandes divindades do panteão grego são “deuses pessoais”, implicando em elos que as unem dos cultos estabelecidos na forma de relações pessoais. A vida religiosa do grego antigo aparece integrada a vida social e política. VERNANT (1990) explica essa condição da sociedade grega antiga, exemplificando que existe menos diferença entre o sacerdócio e a magistratura do que equivalência, onde o sacerdócio é uma magistratura, e toda magistratura comporta um aspecto religioso. Não existe descontinuidade dos deuses até a cidade, da religiosidade até as virtudes cívicas. Os mitos mostram de forma educativa as condutas que as pessoas devem ter, a crença nos deuses alicerçada nestes mitos representa idéias do homem grego antigo montando um quadro social e cultural .
Os mitos nos mostram que os deuses em suas aventuras estavam em todos os lugares do universo e na vida dos homens. Os deuses eram as forças poderosas e temíveis que deviam ser acalmadas ou satisfeitas com preces e oferendas. Os homens deveriam agradar aos deuses. VERNANT (1990) apresenta o mito hesiódico das raças, onde os deuses criaram os homens, e que cinco raças diferentes se sucederam a segunda destas raças, a raça de prata, (inferior a raça de ouro, a primeira geração de homens, em uma época anterior a Zeus, uma época dominada por Cronos e que simbolizava o ideal da felicidade.) tinham um orgulho gigantesco e eram teimosos demais, recusando-se a venerar os deuses, o que fez Zeus exterminar a todos, que se tornaram os bem- aventurados dos infernos. Neste mesmo mito, segundo Hesíodo, Zeus demonstra ser uma força temível quando envia um dilúvio para exterminar os sobreviventes da terceira raça, a raça de bronze, onde os homens só pensavam em lutar entre si, e acabaram se matando uns aos outros.
Cada deus tinha sua função determinada, e para atrair sua bondade deviam ser realizadas preces a estes, geralmente acompanhadas de uma oferenda. O livro história ilustrada Grécia antiga, organizado por Paul Cartledge (2009) revela que os mortais expressavam respeito aos deuses por meio de rituais realizados geralmente em festivais que honravam um deus. Atos sagrados, mais que convicções piedosas, eram a raiz da religião grega. E o calendário determinava o ritmo da vida. Também é lembrado que comprometer-se perante os deuses através de um juramento era procedimento padrão para aqueles que chegavam a um tribunal ou passavam a ocupar uma função pública. É revelada no livro história ilustrada Grécia antiga, organizado por Paul Cartledge (2009) que Demóstenes relata que, antes de começar seu ano de serviço, um jurado ateniense precisava jurar “Por Zeus, Poseidon e Demeter, e invocar a destruição sobre si e sobre sua casa, se de algum modo transgredisse esse juramento, porém rezaria para que, se mantivesse o juramento, lhe acontecessem boas coisas.”
Sacrifícios aos deuses eram realizados para atrair a boa vontade dos deuses, e o altar comumente era ao ar livre, destinado a receber o fogo que queimava a gordura dos animais sacrificados, e a fumaça subia em direção aos deuses. Em Roma, por exemplo, um cavalo era normalmente sacrificado para Marte. Mas VERNANT (1990) lembra que não devemos incorrer no engano em relação a individualidade do deus e de seu antropomorfismo. Os deuses são invisíveis, não tem corpo, a figuração do deus em forma humana não modifica este dado.
A força divina se traduz como uma força cósmica, social e humana não dissociadas. Para um grego, Zeus representa o raio, associado ao céu, representa a soberania do poder sobre outrem, representa a chuva, a luz… E estes fenômenos estão ordenados como aspectos de uma mesma força. A representação do deus de maneira antropomórfica é um símbolo cultual. O corpo de uma pessoa reflete a expressão de certas forças dos deuses, como a beleza, a graça, a juventude, a saúde e a vida por exemplo. Além de outros aspectos, como a ira e o amor, representados pela função de alguma divindade.
O grego antigo então busca, o tanto quanto possível, identificar-se com o divino. Sobre o mito em si, BIERLEIN (2003) faz afirmações que de maneira geral exemplificam a relação dos deuses e dos homens. Segundo BIERLEN(2003), o mito é uma constante na sociedade humana em todos os tempos. O mito é a herança compartilhada de memórias ancestrais e estruturam-se na mente inconsciente, preenchendo o vazio entre as imagens do inconsciente e a linguagem lógica consciente, sendo a coerência que identifica as comunidades, tribos e nações.
A crença nos deuses para o grego antigo, seus ritos e seu pensamento em relação a divindade é o padrão de crenças que dá significado a vida, capacitando indivíduos e sociedades a se adaptarem aos respectivos ambientes com dignidade e valor. O antropomorfismo, fazer deus a imagem do homem, era a maneira encontrada pelo homem de se fazer a imagem de deus.
Referências Bibliográficas:
BIERLEIN, J.F. Mitos paralelos/ J.F. Bierlein;tradução de Pedro Ribeiro.- Rio de Janeiro : Ediouro,2003.
CARTLEDGE Paul, organizador; História ilustrada Grécia antiga/ Paul Cartledge, organizador, tradução Laura Alves e Auréliop Rebello – 2 Ed –São Paulo: Ediouro, 2009.(Coleção história ilustrada.)
VERNANT, Jean- Pierre, Mito e pensamento entre os gregos,trad. Haiganuch Sarian, 2º edição, paz e terra,Rio de Janeiro,1990.
WILKINSON & PHILIP,1955, guia Zahar:mitologia/ WILKINSON & PHILIP,segunda edição ,Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 2010

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