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domingo, 16 de dezembro de 2012

A Páscoa nos tempos de Jesus


Por Pesquisador Francisco de Oliveira
A origem da festa da páscoa acha-se profundamente ligada à História do povo de Israel. Esta festa está presente em todo o período do Antigo Testamento, estendeu-se à era cristã e veio a constituir as bases do culto na igreja primitiva. A páscoa entre os judeus era comemorada no dia 14 do mês nisã[1], e a sua importância histórica se encontra no livro do Êxodo, pelo qual Deus através do seu ato redentor, fez de Israel o seu povo escolhido. Deus ordenou que os israelitas passassem sangue nos umbrais das portas para que não sofressem a praga da matança dos primogênitos (Ex. 12.7). Fora isso, dera ordenanças de como deveriam consumir o carneiro e o cabrito que deveriam ser consumidos naquela noite. E perto da meia-noite, Deus passou por todo o Egito e matou todos os primogênitos do sexo masculino, de homens e animais, porém, não entrou nas casas cujas portas estavam marcadas com sangue, e nelas ninguém morreu. Após este episódio, os israelitas passaram a observar esta festa, o principal marco de sua libertação e da proteção divina.
Com o passar dos anos, o modo de comemoração da páscoa sofreu diversas modificações. As instruções para a celebração da primeira páscoa, encontrada em Êxodo 12, constituem o plano original dado por Deus a eles. O animal a ser morto deveria ser um cordeiro de um ano, macho e deveria ser imolado ao entardecer. Deveriam assá-lo sobre o fogo por inteiro, ou seja, com a cabeça, as pernas e a fressura intactas, sem quebrar-lhe os ossos. Teriam de comê-lo à noite, acompanhado de pão sem fermento e ervas amargas, e o que sobrasse deveria ser queimado ao amanhecer. No entanto, com as mudanças sociais ocorridas com a passagem do tempo a festa da páscoa passou por modificações e no tempo de Cristo estas alterações já estavam totalmente solidificadas.
Nos tempos de Cristo durante à época da páscoa, o povo tinha que se deslocar para Jerusalém que se transformava em um centro comercial bastante agitado e que durante o período da festa recebia um grande número de peregrinos.E esse fluxo enorme de pessoas ocasionava sérios transtornos para a cidade, bem como para os forasteiros. E o resultado disso era que a cidade se transformava em um centro comercial ainda mais agitado.
Os mercados ficavam abarrotados de grandes suprimentos de verduras e condimentos, como alface e pimenta por exemplo. Também eram necessários grandes carregamentos de frutas e vinho. Esperava-se um altíssimo consumo de vinho, já que na celebração da Páscoa cada adulto bebia o equivalente a quatro copos. Além disso, na época da festa, era consumida grande parte das azeitonas, uvas e cereais produzidos nas plantações próximas [2].
A cidade tinha também que fornecer um elevado número de animais para o abate, que serviriam não só para alimentar a multidão como também para os holocaustos. Não se sabe ao certo o número de animais abatidos, porém sabe-se que era um número bastante elevado.
A ida do povo à Jerusalém foi uma das mudanças incorporadas à Páscoa. Desde aproximadamente 600 anos antes de Cristo, já era costume imolar o cordeiro pascalem Jerusalém. Porcausa disso, a festa transformou-se de um evento familiar em uma grande romaria ocasionando problemas de acomodação, pois as hospedarias eram muito poucas e por causa disso muitos dos habitantes de Jerusalém abriam suas casas para receber parentes e amigos, e até desconhecidos. Além disso, os campos nos arredores ficavam cheios de barracas. Esperava-se que todos os israelitas aptos fossem comemorar a Páscoa em Jerusalém exceto as crianças, os idosos e os deficientes físicos que não eram obrigados a ir de acordo com a Lei de Moisés [3].
A liturgia da Páscoa nos tempos de Cristo incluía uma doxologia[4], vários cálices de vinho que eram distribuídos entre os comensais, a recitação da História do Êxodo pelo hospedeiro, a ingestão do cordeiro assado, junto com o pão sem fermento e ervas amargosas, tudo concluído com o cântico de salmos. Durante o resto da semana, os fiéis podiam se entregar a alegres comemorações e compravam o que houvesse em comida e bebida e o consumiam com grande satisfação. Havia também um comércio satisfatório de perfumes, tecidos belíssimos e linho branco, que as mulheres podiam adquirir à vontade. É provável que este espírito de comércio tenha sido influenciado em parte pelos gregos e romanos. [5]
Em vista aos fatos mencionados acima, podemos concluir que, a Páscoa é uma festa sagrada que se manteve viva no decorrer dos séculos. Mesmo com as constantes transformações sociais e culturais ocorridas na nação israelita ao longo dos séculos e o fato da festa ter se transformado em um grande comércio na época de Cristo, não serviram de empecilho para que a primeira e principal festa dos judeus continuasse sendo lembrada e praticada de forma sincera como um memorial da libertação de Deus para o seu povo de Israel da escravidão dos egípcios.
Notas:
[1] Primeiro mês do calendário judaico, correspondendo no nosso calendário a um período entre os meses de março e abril.
[2] Coleman, William L. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Tradução: Myrian Talitha Lins. Venda Nova, MG: Editora Betânia. 1ª Edição, 1991 p. 265.
[3] Lei descrita nos livros bíblicos de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
[4] Fórmula de louvor e glorificação presente no Antigo Testamento aplicada a heróis e heroínas e principalmente a Deus.
[5] Coleman, William L. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Tradução: Myrian Talitha Lins. Venda Nova, MG: Editora Betânia. 1ª Edição, 1991 p. 266.
Referências Bibliográficas:
Coleman, William L. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Tradução: Myrian Talitha Lins. Venda Nova, MG: Editora Betânia. 1ª Edição, 1991.
Gundry, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Tradução: João Marques Bentes. São Paulo: Editora Vida Nova. Reimpressão 2007.
[1] Francisco de Assis Rodrigues da Silva de Oliveira é pesquisador e teólogo.

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