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quarta-feira, 26 de março de 2014



                      Escribas, fariseus e saduceus


     Conforme a bíblia é lida, percebe-se que não são poucas as vezes que Jesus entra em conflito com os escribas, com os fariseus e com os saduceus. São criticados e censurados em vários momentos pelo Mestre. Atualmente, são vistos com maus olhos e estão associados à hipocrisia. Mas, existem reais motivos para esses preconceitos?
     O termo “escriba” é muito abrangente. Na época de Esdras (vide livro bíblico de mesmo nome, no capítulo 7) os escribas eram sacerdotes copistas, extremamente cuidadosos, da Torá (Lei de Moisés). Porém, nos dias de Jesus, os escribas eram indivíduos com muito estudo e conhecimento, que dedicavam boa parte de suas vidas ao estudo e instrução da Lei (não necessariamente eram sacerdotes). Interpretavam e ensinavam as Leis de Moisés (chamada de Torá escrita), associadas a alguns princípios jurídicos e culturais (Torá oral ou “Tradição dos antigos” – capítulo 15 de Mateus e capítulo 7 de Marcos).
     Os judeus sofreram com a invasão grega, no século IV a.C. Pode-se dizer que, a partir daí, foram divididos em, pelo menos, dois grupos religiosos: saduceus e fariseus. O primeiro defendia uma conciliação entre a Lei mosaica e os costumes gregos e era representado principalmente pelos sacerdotes. O segundo segmento não aceitava essa “miscigenação”. Teve a adesão da maioria dos escribas e obteve o apoio quase unânime do povo judeu.
     Os saduceus geralmente eram ricos e ocupavam cargos de prestígio em Israel, como o de sumo sacerdote. Eram também a maioria no Sinédrio (conselho que julgava assuntos da lei judaica e da justiça criminal, na Judéia e em outras províncias). Tinham uma grande preocupação em acatar as decisões de Roma (que dominava Israel no período em questão), dando, muitas vezes, mais importância à política do que à religião. Vale destacar que os saduceus não eram bem vistos pelo povo, já que faziam parte da elite e apoiavam os romanos. Esse grupo deixou de existir após a destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C., já que tinha
uma forte tendência política.
     Os fariseus geralmente eram indivíduos de uma classe social intermediária. Embora fossem minoria no Sinédrio, eram indispensáveis, pois tinham o apoio do povo judeu. Essa popularidade rendia-lhes muitas conquistas no conselho.
     Várias outras diferenças, entre fariseus e saduceus, podem ser destacadas:
1 - Os saduceus eram mais conservadores. Consideravam apenas a Palavra escrita (hoje, o Velho Testamento) como divina, enquanto os fariseus colocavam a tradição oral em igualdade com a mesma.

2 - Os saduceus negavam a ressurreição dos mortos, além da existência de anjos e demônios, enquanto os fariseus aceitavam (Atos 23:8).

3 - Apenas os fariseus acreditavam em vida e recompensa/punição após a morte.

4 - Os saduceus defendiam a idéia do livre-arbítrio humano, enquanto os fariseus atribuíam os acontecimentos à vontade de Deus.

5 - Apenas os fariseus defendiam a “Tradição dos Antigos”, considerando-a como o desenvolvimento da Torá escrita.

     Percebemos, então, que os fariseus estavam mais próximos dos ensinamentos de Jesus do que os saduceus. Mas, apesar de tantas diferenças, tiveram algo em comum: ambos foram censurados e duramente criticados por Jesus. Os saduceus por desprezarem vários preceitos divinos; os fariseus por considerarem suas tradições tão importantes como a Palavra de Deus.
     Porém, muitos membros desses grupos, principalmente fariseus, converteram-se ao Evangelho (Atos 15:5). Embora tenham unido forças para condenar a Jesus, vários deles tornaram-se importantes na disseminação da Palavra de Deus, tendo como exemplo mais conhecido o apóstolo Paulo, que era fariseu. Não se pode esquecer, ainda, de dois acontecimentos:

- Alguns fariseus alertaram Jesus para o fato de Herodes querer matá-lo (Lucas 13:31).

- Jesus foi convidado por um fariseu para jantar em sua casa, e assim o fez (Lucas 7:36).

     Portanto, devemos nos despir de preconceitos generalizados, principalmente em relação ao grupo farisaico. Temos de aprender com os seus erros, não sendo hipócritas como muitos deles foram (esses é quem foram criticados por Jesus), mas também reconhecer a sua importância para a manutenção da fé judaica até os dias de Cristo. Certamente existiam fariseus sinceros, que preferiam seguir a essência da Lei ao invés de ficarem se exibindo como seguidores fiéis de algumas particularidades do Pentateuco ou de suas tradições.


Autor: Wésley de Sousa Câmara


Referências:

- Bíblia Almeida Corrigida Fiel
- Bíblia de Jerusalém.
- Fedeli, Orlando - "Escribas, Doutores da Lei e Fariseus"
MONTFORT Associação Cultural - http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=escribas1〈=bra - Online, 25/05/2010 às 11:49h.
- http://www.gotquestions.org/Portugues/Saduceus-Fariseus.html

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