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domingo, 2 de março de 2014

EDIÇÃO 80 > MULHER
O que a Bíblia diz sobre seu uso
Jóias
Noemi Vieira
Questões que envolvem a indumentária feminina são bastante recorrentes no meio evangélico. Em geral, a discussão se dá no campo dos “usos e costumes” adotados por uma determinada denominação. Em relação ao uso de jóias (brincos, colares e afins) não seria diferente. Embora haja uma tendência à liberalização desse tipo de regra em uma parte das igrejas consideradas conservadoras, ainda há correntes que preferem manter a proibição do uso de adornos entre as mulheres evangélicas.
Um dos argumentos que sustentam esse discurso está ligado à manutenção da tradição, como é o caso da Assembléia de Deus (AD). Apesar de haver igrejas mais liberais com o mesmo nome, ainda há aquelas que mantêm a regra inflexível por uma questão de princípios. “A Bíblia diz que a obediência é a base de tudo. Logo, se isso é a regra de conduta na igreja, estabelecida pela convenção desde o início, deve ser obedecida. A desobediência é pecado. Quem não quer permanecer tem o direito de procurar outra igreja”, argumenta o pastor Elias Freitas da Silva, ligado à AD do ministério de Bento Ribeiro, no Rio de Janeiro.
Do ponto de vista bíblico, os conservadores argumentam que o uso dos adornos pode significar prática abusiva de vaidade. A jornalista Raquel Lucena, 25 anos, membro da Assembléia de Deus em Guadalupe, no Rio de Janeiro, é adepta desse preceito e diz que abdicou do uso de adereços para seguir as regras da sua congregação. “O uso das jóias é uma das formas de vaidade descritas na Bíblia. Salomão já dizia que tudo era vaidade. Temos de fugir da aparência do mal. E, além disso, a minha igreja não permite e procuro obedecer”, justifica-se.
Uma das passagens mais citadas na Bíblia para legitimar a proibição do uso de jóias encontra-se em 1 Timóteo 2.9,10: “Da mesma sorte que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)”. Ou seja, o valor da mulher cristã não está na sua beleza estética, mas na prática da caridade e da decência.

“Uso jóias e bijuterias”, diz Damaris Carvalho, 28 anos, da Igreja Batista Nacional. Ela acha que os argumentos utilizados para a proibição de jóias são citados fora de contexto e dão margem a uma interpretação arbitrária
É PERMITIDO
Mas, se por um lado há quem condene, existem aquelas que usam jóias com o consentimento da igreja. “Uso jóias, bijuterias, maquiagem. É complemento para o traje, tem o mesmo valor da roupa, do sapato, da bolsa. É uma questão de se arrumar, uma questão de se amar também. Que mulher não quer ficar bonita?”, questiona a jornalista Damaris Carvalho, 28 anos, membro da Igreja Batista Nacional de Cuiabá (MT). Para a jovem, os argumentos utilizados para a proibição de jóias são citados fora de contexto e dão margem a uma interpretação arbitrária.
O discurso de Damaris vai ao encontro do que acredita o pastor Ricardo Gondim, presidente da AD Betesda (SP) e autor do livro É Proibido: O que a Bíblia Permite e a Igreja Proíbe (Editora Mundo Cristão). Ele afirma que essas proibições são autoritárias e que, na Bíblia, Deus não assume uma postura condenatória quando relata o uso de jóias e adornos. “Há vários trechos nas Escrituras em que tanto os patriarcas quanto outras personagens da fé (inclusive o próprio Deus Pai no Antigo Testamento, Jesus e os apóstolos no Novo Testamento) não apenas usaram jóias, mas também aprovaram o seu uso”, argumenta, citando como exemplo a passagem de Ezequiel 16.8-14.

Raquel Lucena, 25 anos, da Assembléia de Deus, diz que abdicou do uso de adereços para seguir as regras da sua congregação e vê uso de jóias como forma de vaidade
Gondim ainda ressalta que ações proibitivas dessa ordem são reflexo do caráter legalista adotado por algumas igrejas. “Temos de admitir que alguns líderes firmam-se em seus cargos incutindo medo nas pessoas. Como legisladores de pesadas exigências religiosas, tais líderes se estabelecem como autênticos messias. Essa situação é duradoura porque, ao elaborarem um sistema tão implacável, ninguém nunca se sente isento de culpa para poder questioná-los”, esclarece.
Ainda segundo pastor Gondim, ninguém pode afirmar que os valores estéticos da Bíblia estão sempre ligados à moralidade. “Uma mulher bem vestida e adornada nos tempos bíblicos não representava vulgaridade ou falta de temor a Deus. Tenho certeza que se algumas delas comparecessem aos nossos cultos chamariam a atenção pelo número de anéis em seus dedos, pelas tinturas do cabelo ou pela forma de se trajar”, conclui.

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