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domingo, 2 de setembro de 2012

Viagem JudaicaRabino Berel Wein
O que nos motiva a ir a um lugar distante e desconhecido? Estamos à procura de nós mesmos.

O Povo Judeu é viajante inveterado. Em grupo, ou seja, reunidos viajamos para quase todos os lugares do globo. Individualmente, os judeus também são viajantes compulsivos. Fora a população de Israel, que é atualmente de 5 milhões, o Aeroporto Ben Gurion divulgou recentemente que existiam 7 milhões de embarques de israelitas durante o último ano. Se simplesmente for por curiosidade, impaciência ou a velha e boa ânsia judaica, não faz diferença. O fato é que nós judeus somos todos viajantes.

Parte disto pode ser atribuída a nossa longa história de exílio e perambulação. Porém, os judeus eram viajantes desde o Primeiro Templo, no auge do poder nacional dos judeus na terra de Israel. Havia colônias judaicas na Grécia e na Etiópia durante o reinado do Rei Salomão. A razão original para tais jornadas judaicas era, sem dúvida, econômica e comercial. Mas os judeus vinham morar permanentemente em muitas partes da bacia mediterrânea e logo começaram a viajar para o leste em direção a Pérsia e a Índia. Novamente, as razões para estas migrações eram principalmente comerciais, mas logo os judeus começaram a viajar para visitar parentes e a mania de viajar tomou conta de Israel.

É difícil para nós, do século 21, imaginar como eram as condições de viagem para nossos antepassados. Basta dizer que a viagem que para nós, ocorre em horas e com relativo conforto, embora haja viagens na classe econômica que pareçam uma volta ao passado, as viagens de nossos antepassados demoravam meses e representavam perigo não só para as propriedades, mas também, principalmente, para a vida.

No século 12, o grande viajante judeu, Binyamin de Tudela, deixou a Espanha para uma excursão ao mundo judaico que durou anos. Ele nos deixou um diário registrado de suas viagens e visitas, suas impressões das comunidades judaicas e seus líderes, e uma descrição fascinante da vida na Idade Média; na bacia Mediterrânea e muito mais além. O que é interessante observar é que em todas as suas jornadas sempre encontrava outros judeus que também estavam viajando. Isto aconteceu num tempo em que a maioria da população de mundo nunca viajou mais de 25 quilômetros a partir de sua cidade natal durante sua vida inteira.

Se você for verdadeiramente aventureiro, vai querer copiar o mapa de sua rota e seguí-lo você mesmo. Eu fiz isso há uma década atrás quando visitei Provença, e achei a experiência totalmente educacional e inspiradora.

O SÁBIO QUE VIAJOU PARA LEVANTAR FUNDOS
Ao longo da história, os judeus foram freqüentemente forçados a emigrar devido a expulsões, perseguição e pogroms. Foram expulsos da Inglaterra e da França na Idade Média, e da Espanha no fim do século 15. Pogroms e violentas inimizades Cristãs forçaram os judeus da Europa Central a se mudarem para o leste, para a Polônia e a Lituânia no século 14. Os judeus eram, por necessidade, pessoas nômades, sempre procurando por um abrigo seguro e um lugar decente para se estabelecerem e viverem como judeus.


Outro grande viajante judeu de renome era o famoso sábio de Jerusalém, o Rabino Chaim Yosef David Azulai, conhecido pelo acrônimo das iniciais de seu nome como "Chida." No século 18 foi mandado a Europa pelos anciãos da comunidade de Jerusalém para levantar fundo para a manutenção das instituições e dos habitantes da Jerusalém judaica.

Porém, eles enviaram um grande estudioso e um indiferente “fundador de recursos”. "Chida" passou a maior parte de seu tempo fora de Israel em bibliotecas e livrarias, pesquisando manuscritos e textos antigos, escrevendo seus próprio trabalho baseado em suas descobertas. Visitou o Vaticano e também as grandes bibliotecas da Inglaterra, Holanda e Itália.Fez numerosas jornadas, uma mais duradoura que as outras, que duravam anos. Suas contribuições rabínicas para os sábios foram de valor inestimável, pois descobriu muitos manuscritos de valor judaico que não eram vistos por estudiosos judeus havia séculos. Por isso, seus livros são muito valorizados até hoje, estudados em yeshivot e utilizados como precedentes em tribunais rabínicos em todos lugares.



SÓ DE PASSAGEM
Talvez a melhor conjetura com relação a viagem judaica pelo mundo está numa bela fábula chassidica sobre um homem muito rico que foi cumprir uma missão para o Rabino Yisrael Baal Shem Tov, o fundador do movimento chassidico no início do século 18. O homem rico deveria entregar um envelope de dinheiro de caridade para a casa de um certo judeu, Reb Leib, que vivia numa pequena aldeia polonesa.


O homem rico viajou até lá e descobriu que Reb Leib vivia numa cabana, prestes a cair aos pedaços na aldeia atacada pela pobreza. O Reb Leib convidou o homem para o jantar, que era um pão adormecido e sopa vegetal. Reb Leib insistiu que o homem passasse a noite em sua de casa e fez uma cama com pedaços de madeira e uma coleção de trapos rasgados.

Quando o homem rico finalmente se preparava para partir de manhã, depois de uma noite mal dormida, comentou ao Reb Leib que em sua casa tinha uma cama confortável com uma colcha de seda e travesseiros macios para dormir. Entretanto, visto que estava viajando, deveria se acostumar com acomodações menos adequadas que as dele. Reb Leib disse que também possuía confortáveis acomodações em outro lugar, no céu, no Mundo Vindouro, mas visto que nesta vida ele estava somente viajando, se ajustou as acomodações que tinha. "Todos estamos somente viajando," ele disse.

Bem, estamos somente viajando. Os judeus sempre foram caracterizados como pessoas que não param quietas, curiosas, inovadoras. Talvez esteja em nossos genes desde nossos antepassados Abraão e Sará eram viajantes constantes.

O mundo é lugar muito interessante com uma variedade tremenda de lugares e pessoas para ver e visitar. Esta surpreendente variedade e cenário fascinante é o testemunho da mão do Criador para fazer nosso mundo e a raça humana. Viajar então não se trata somente da vontade de conhecer o mundo ou pelo fato de ser educacional, mas também pode servir como uma base para a fé e inspiração internas. É talvez esta faceta da viagem que intriga os judeus e faz com que estejamos sempre interessados em viajar a lugares distantes. Estamos realmente à procura de nós mesmos quando viajamos para ver os outros.

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