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domingo, 2 de setembro de 2012

A Sinagoga do Porto


Aqui fica uma visita guiada à Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, do Porto. Com um agradecimento muito especial à comunidade judaica da cidade invicta, pela iniciativa de abrir ao mundo as portas virtuais da sua bela sinagoga. Shalom!

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BARROS BASTO REINTEGRADO NO EXÉRCITO

Lisboa, 14 de Março de 2012.
O parlamento português declarou hoje, por unanimidade entre todos os partidos, que o capitão Barros Basto deve ser reintegrado no exército. A Comissão de Defesa Nacional considerou que o militar judeu foi punido por factos que se «relacionam diretamente com a prática regular da sua religião» e que o processo de que foi alvo «se traduz num processo de perseguição e discriminação religiosa».
O PSD e o CDS (que juntos, formam maioria, mas que gozam do apoio dos demais partidos) comprometeram-se a elaborar um projecto de Resolução com vista a reintegrar simbolicamente no exército o militar vítima de antissemitismo.
Há duas semanas, a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias (CACDLG) já havia procedido à reabilitação moral de Barros Basto, sublinhando que ele «foi separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes”.
Esta decisão da CACDLG foi saudada pela Anti-Defamation League.
::A LER:: PARLAMENTO REINTEGRA BARROS BASTO NO EXÉRCITO / O resgate do capitão (um excelente texto de Miriam Assor) / Texto integral da decisão da Comissão de Defesa Nacional (clique em baixo):
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BARROS BASTO REABILITADO!

Capitão Barros Basto
Porto, 29 fev (Lusa) – A Liga Anti-Difamação (LAD) transmitiu a sua profunda satisfação pela reabilitação no Parlamento do capitão judeu Barros Basto, afastado do exército em 1937, apelando agora à sua reintegração póstuma em missiva à AR.
“Ficámos satisfeitos ao saber da votação favorável na Assembleia da República da petição No.63/XII/1, ‘Pedido de reintegração no Exército do capitão de Infantaria Arthur Carlos Barros Basto, que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937’”, refere a carta da Liga endereçada à Presidente da Assembleia, Assunção Esteves.
A petição, apresentada por Isabel Lopes, neta do capitão, a 31 de Outubro de 2011, tinha como fundamento “a violação grave de direitos humanos e a afectação intolerável do núcleo duro dos direitos fundamentais materialmente protegidos pela Constituição da República Portuguesa”, requerendo então a “intervenção da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias”.
“Hoje, a comissão mais importante do parlamento declarou que a sentença de 1937 foi antissemita. Ou seja, Barros Basto não foi imoral; a decisão que o condenou é que foi imoral”, afirmou Isabel Lopes.
A história remonta a 1937 quando o Conselho Superior de Disciplina do Exército decidiu pela “separação do serviço” do capitão Arthur Carlos Barros Basto por considerar que não possuía “capacidade moral para prestígio da sua função e decoro da sua farda”.
Em causa estava a realização de operações de circuncisão a alunos do Instituto Teológico Israelitas do Porto, que havia fundado, e a saudação com um beijo dos mesmos alunos, à maneira dos judeus sefarditas de Marrocos.
Ao longo dos anos, Barros Basto tem sido comparado por historiadores ao general francês de origem judaica Alfred Dreyfus, que em 1894 foi injustamente condenado por alegada traição.
Depois da reabilitação pela primeira comissão, começa agora a luta pelo segundo objectivo de Isabel Lopes, a reintegração póstuma do capitão Barros Basto no exército, que será tratada pela comissão de Defesa Nacional.
Para Rui Silva Leal, o advogado que acompanhou o processo, “o Parlamento saberá agora retirar a consequência prática desta reabilitação do nome do senhor capitão” e se “a notícia de hoje é: ‘Barros Basto reabilitado’, em breve será ‘Barros Basto reintegrado’”.
Nesse sentido, a própria LAD manifesta a sua “profunda satisfação” para com a “decisão importante” hoje tomada e diz esperar agora pela “muito atrasada” reintegração do capitão.
::A LER:: Carta da ADL à Presidente da Assembleia da República (texto em inglês, formato pdf) / CM: O resgate do capitão (texto de Miriam Assor)/ PARLAMENTO REABILITA MILITAR JUDEU (JN) / ADL Welcomes Reinstatement of Captain Ousted from Portuguese Army Due to Anti-Semitism / Barros Basto reabilitado [artigo do diário israelita Haaretz, contendo uma pequena entrevista a Inácio Steinhardt, traduzido do hebraico para o português por Israel Levi] / Clique em baixo para ler o texto integral da decisão parlamentar:
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Reabilitação do capitão Barros Basto IV

Capitão Barros Basto
A campanha de reabilitação do capitão Barros Basto alcançou já uma dimensão internacional, com referências ao processo feitas na norte-americana e europeia. Agora, Michael Freund, presidente da organização Shavei Israel, juntou a sua voz a este movimento crescente, apelando para que seja feita justiça à memória do capitão Barros Basto num artigo publicado esta semana no Jerusalem Post: Time to rehabilitate Portugal’s Dreyfus.
Simultaneamente, Freund apela aos seus leitores de todo o mundo que assinem uma petição online destinada a ser entregue à presidente da Assembleia da Republica. Os leitores da Rua da Judiaria podem ler e assinar a petição aqui: Rehabilitate the late Jewish war hero Capt. Arthur Barros Basto.
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Caso Barros Basto Chega ao Parlamento

Capitão Barros Basto
O pedido formal de reabilitação do capitão Barros Basto, popularizado como o “Dreyfus Português”, deu entrada na Assembleia da República a 31 de Outubro passado. redigido pelo advogado Rui da Silva Leal, o pedido tem como signatária Isabel Maria de Barros Teixeira da Silva Ferreira Lopes, neta do capitão Arthur Carlos Barros Basto. Eis o documento na integra:
Exm.ª Senhora
Presidente da Assembleia da República
Assunto: Pedido de reintegração no Exército do capitão de infantaria Arthur Carlos Barros Basto, que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937.
A presente petição tem como fundamento a violação grave de direitos humanos e a afectação intolerável do núcleo duro dos direitos fundamentais materialmente protegidos pela Constituição da República Portuguesa, pelo que se requer a intervenção da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Tudo nos termos e pelas razões seguintes:
1. Numa época em que campeava o antissemitismo pela Europa e em que se preparava o encaminhamento de milhões de seres humanos como reses a caminho do matadouro, em Portugal, um oficial do Exército, Arthur Carlos Barros Basto, foi sancionado por ser judeu e praticante da religião judaica.
2. Com efeito, em 12 de Junho de 1937, no processo de natureza disciplinar n.º 6/1937, o Conselho Superior de Disciplina do Exército (um órgão próprio de um regime de poder pessoal) deu como provado que Arthur Carlos Barros Basto «realizava a operação da circuncisão a vários alunos [do Instituto Teológico Israelita do Porto] segundo um preceito da religião israelita que professa», e que «tomava para com os alunos atitudes de interesse e intimidade exageradas, beijando-os e acarinhando-os frequentemente» (à imagem dos judeus sefarditas de Tânger, onde o visado se converteu ao judaísmo) - cfr. Documento n.º 1
3. À luz destes factos provados, o Conselho Superior de Disciplina do Exército considerou que Arthur Carlos Barros Basto não possuía «capacidade moral» para prestígio da sua função e decoro da sua farda, pelo que o puniu com a «separação de serviço» prevista no artigo 178.º do Regulamento de Disciplina Militar, publicado pelo Decreto 16:963, de 15 de Junho de 1929.
4. A «separação de serviço» constituiu para Arthur Carlos Barros Basto (o oficial e o judeu) uma verdadeira pena de morte civil. O visado foi afastado definitivamente das suas funções; foi impedido definitivamente de progredir na carreira; foi proibido definitivamente de usar uniformes, distintivos e insígnias militares; e foi obrigado a manter-se para sempre subordinado à acção disciplinar do Exército (ou seja, foi forçado a manter a sua vida civil e a sua prática religiosa para sempre modeladas por regras militares absolutamente hostis aos preceitos judaicos mais elementares), sob pena de voltar a ser julgado, sob pena de voltar a ser condenado!
5. Os factos que o Conselho Superior de Disciplina do Exército considerou «provados» (e que determinaram a «incapacidade moral» e a consequente «separação do serviço» do militar judeu Arthur Carlos Barros Basto) enquadram-se a todas as luzes no exercício de direitos universalmente reconhecidos a todos os homens e que já existiam antes de haverem sido “proclamados”.
6. Acresce que a decisão do Conselho Superior de Disciplina do Exército – em tudo contrastante com a normação Dinim que promana da tradição primordial – impede quem quer que seja de entender como alcançaram os julgadores o grau de certeza que é suposto terem conseguido em relação aos factos que consideraram provados.
Trata-se de uma decisão que não tem uma linha de fundamentação, que não procede ao exame crítico dos meios de prova que foram considerados e desconsiderados, e que chega ao cúmulo de censurar Arthur Carlos Barros Basto por não ter espancado quem o denunciou.
7. O 25 de Abril pode ter reparado muitas injustiças do passado, mas pelo menos um homem ficou esquecido. Ficou esquecido Arthur Carlos Barros Basto. Ficou esquecido o judeu.
Lea Montero Azancot Barros Basto (viúva de Arthur Carlos Barros Basto) apresentou, no ano de 1975, um pedido de reintegração do falecido marido no Exército, mas obteve uma resposta negativa por parte do Estado-Maior General das Forças Armadas, que, a respeito da decisão de 1937, e de modo inacreditável, CONFUNDIU os factos «não provados por unanimidade» com os factos «provados», e anexou à ilegalidade anteriormente cometida outra mais escandalosa. - cfr. Documentos n.ºs 2 e 3
Nesta confluência,
Vem a signatária requerer à Assembleia da República que proceda à reintegração nas fileiras do Exército do senhor seu avô, Arthur Carlos Barros Basto, tendo por espeque norteador (muito para além do Decreto-Lei n.º 173/74, de 26 de Abril, aplicável ao caso por força do argumento a maiori, ad minus) o dever moral e imprescritível do Estado de reparar uma violação tão grave da Lei consuetudinária internacional. Adonai li velo irá.
Juntam: Procuração e três documentos
Isabel Maria de Barros Teixeira da Silva Ferreira Lopes
(neta de Arthur Carlos Barros Basto)
Rui da Silva Leal
(advogado)
Sobre o caso, é ainda imperdível este artigo de Marinho e Pinto - que tem lutado incansavelmente para a reabilitação do capitão Barros Basto, em conjunto com a Comunidade Israelita do Porto. A artigo foi publicado na edição de hoje (2 de Novembro de 2011) do Jornal de Notícias.
O Dreyfus português
Marinho e Pinto
Um dos actos mais chocantes de perseguição política e religiosa praticado pela ditadura do Estado Novo continua, 74 anos depois, a produzir os seus efeitos, uma vez que o Estado democrático ainda não corrigiu a injustiça. A vítima foi Artur Carlos de Barros Basto, um capitão do Exército português convertido ao judaísmo, que foi banido do Exército por praticar actos próprios desta religião. O caso é paradigmático por acção (do Estado Novo) e por omissão (do Estado democrático), uma vez que um pedido de reintegração formulado pela viúva do militar já depois do 25 de Abril foi rejeitado com base nas mesmas acusações que haviam fundamentado a injustiça.
Denunciado anonimamente por homossexualidade, Barros Basto foi totalmente ilibado em tribunal, mas o Exército, embora declarando também não provados os actos de homossexualidade, condenou-o, em Junho de 1937, por ter feito a circuncisão a vários alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto (onde era professor) e por os cumprimentar com beijos nas faces como era normal entre os judeus sefarditas de Marrocos, onde Barros Basto se convertera ao judaísmo. Os militares acusaram-no, então, de não ter “a capacidade moral para prestígio da sua função oficial e decoro da sua farda” e aplicaram-lhe uma sanção que tem tanto de absurda como de degradante. Foi condenado na pena de “separação de serviço” que o afastou definitivamente do Exército, o privou das remunerações e respectivos benefícios sociais, o impediu de usar a farda, distintivos e insígnias militares, mas - pasme-se - manteve-o sujeito à disciplina militar, podendo a todo o momento voltar a ser julgado e condenado por qualquer facto que os militares julgassem incompatível com o “prestígio da função” (que já não exercia) ou ofensivo do “decoro da farda” (que já não vestia).
Contudo, o verdadeiro “crime” do capitão Barros Basto foi, de facto, o trabalho de “resgate” dos marranos, ou seja, dos descendentes dos judeus convertidos à força para escapar à expulsão decretada pelo rei português D. Manuel, em 1496, e às perseguições que se lhe seguiram, principalmente pela Inquisição. A maioria desses “convertidos”, também chamados “cristãos-novos”, manteve-se fiel às suas crenças e continuou a praticar secretamente os actos de culto do judaísmo. Barros Basto, o “apóstolo dos marranos” como foi designado, percorreu o país, identificando os descendentes clandestinos desses cripto-judeus, trazendo-os à luz do dia e fazendo com que eles não se sentissem civicamente diminuídos por professar a religião em que acreditavam. Foi um ousado trabalho de recuperação da dignidade de uma religião cruelmente perseguida durante séculos, mas sobretudo um audacioso combate ao medo e até à vergonha de a praticar em público. Na verdade, uma das facetas mais hedionda da perseguição aos judeus em Portugal foi a conversão forçada daqueles que, por falta de recursos, não puderam acatar a ordem de expulsão e abandonar o país. Muitos deles acabariam queimados nas fogueiras da Inquisição ou então linchados por turbas fanatizadas como aconteceu em Lisboa, em 1506, em frente da Igreja de São Domingos, onde milhares de judeus foram assassinados.
Ora, numa época em que (mais) uma onda de anti-semitismo varria a Europa e que iria conduzir ao holocausto nazi, a acção de Barros Basto não podia ser tolerada por um regime de características fascistas e germanófilas, cujas instituições mais representativas estavam, também elas, imbuídas de um milenar anti-semitismo e marcadas por séculos de intolerância religiosa e de perseguição aos judeus. Comparado a Alfred Dreyfus, por uns, ou a Aristides Sousa Mendes, por outros, Artur Barros Basto continua, porém, ao contrário desses, com a memória manchada por uma condenação infamante - talvez porque nunca houve em Portugal um Émile Zola que acusasse publicamente os seus acusadores.
E, assim, estranhamente, 37 anos depois do 25 de Abril, ainda ninguém teve a coragem de reparar a injustiça feita a um oficial do exército português, convertido à religião judaica, condecorado por actos de bravura durante a I Grande Guerra e que, em 1910, hasteara a bandeira da República na Câmara Municipal do Porto. Estranhamente!…
::A LER:: RTP: Caso Dreyfus português chega à AR pela mão da neta do capitão afastado em 1937 / Rabino de Israel acredita que Barros Basto vai ser reabilitado / LUSA: Caso Dreyfus português chega hoje à AR pela mão da neta do capitão afastado em 1937
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Reabilitação do capitão Barros Basto II

Capitão Barros Basto
Barros Basto: Vice da bancada do PSD garante lutar pela reabilitação do militar expulso em 1937
Porto, 14 out (Lusa) – O vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Carlos Abreu Amorim, garantiu à Lusa que irá lutar até que o parlamento se pronuncie pela reabilitação do capitão Barros Basto, vítima de antissemitismo em 1937.
“Vou levar o caso até ao fim e só vou parar quando houver a reabilitação total a título póstumo”, disse à Lusa o social-democrata, admitindo já ter colocado o assunto na direção do grupo parlamentar do partido que lhe deu plenos poderes para agir.
Foi em 1937 que o Conselho Superior de Disciplina do Exército decidiu pela “separação do serviço” do capitão Arthur Carlos Barros Basto por considerar que não possuía “capacidade moral para prestígio da sua função e decoro da sua farda”.
Em causa estava a realização de operações de circuncisão a alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto, que havia fundado, e a saudação com um beijo dos mesmos alunos, à maneira dos judeus sefarditas de Marrocos.
Carlos Abreu Amorim considera que o capitão foi vítima de “antissemitismo puro” e que contra ele “fizeram acusações forjadas”.
Perante a “ignomínia cometida” contra o capitão, falecido há 50 anos, o deputado quer agora que o parlamento português “se pronuncie pela reabilitação e correção plena dessa enorme injustiça e vergonha cometida contra Barros Bastos, por motivos antissemitas”.
Ainda sem saber qual será o caminho a seguir, garante apenas que irá procurar “integrar todos os grupos parlamentar” no assunto uma vez que “não pode haver políticas partidárias” pois “é uma vergonha que afeta a todos”.
O processo de 1937 está a neste momento também a ser traduzido para inglês a fim de ser endossado à Liga Anti-Difamação e à Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância após o que, e no final do mês de outubro, a neta de Barros Basto irá dirigir à Assembleia da República um pedido de reintegração do avô, a título póstumo.
Para o efeito conta com o apoio de instâncias internacionais e do bastonário dos advogados, Marinho Pinto, que já exigiu a reabilitação do capitão cuja sentença considerou uma “ignomínia”.
::A LER:: Caso Dreyfus português pode ser resolvido 70 anos depois com o apoio de Marinho Pinto / Caso chega à Assembleia da República: Família indemnizada por anti-semitismo / Judeus pedem reabilitação de militar “imoral” / La presse portugaise passe à coté des déclarations du Bâtonnier des avocats sur “l’affaire Dreyfus portugais”. Marinho Pinto exige la réhabilitation de militaire juif (Fr.) / 50 Anos do Falecimento do “Dreyfus Português” / VISÃO: O Apóstolo dos Marranos
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Petição pela restituição da nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas portugueses

Os judeus sefarditas foram expulsos de Portugal ou forçados ao exílio a partir das perseguições de finais do século XV, continuando a considerar-se e a referir-se a si mesmos como “judeus portugueses” ou “judeus da Nação portuguesa”.
Presentemente, constituem um grupo pequeno, tendo alguns membros cidadania israelita, sendo que a maioria vive no Brasil na maior parte do tempo e correspondendo quase todos a indivíduos com educação de nível superior, em geral profissionais liberais e que, na maioria, falam mais do que o português.
Há muitos judeus sefarditas que aspiram a recuperar a nacionalidade portuguesa, de que se encontram privados mercê da expulsão e/ou exílio forçado dos seus antepassados.
A Espanha – que fez expulsões similares às ocorridas em Portugal – já adoptou legislação, desde 1982, que permite a naturalização dos judeus sefarditas de origem espanhola ao fim de dois anos de residência em Espanha, à semelhança da norma aplicável a um conjunto limitidado de origens específicas. E, em 2008, adoptou a possibilidade por “carta de natureza” e atribuiu a nacionalidade espanhola, independentemente de residência, a judeus sefarditas, mercê unicamente de um conjunto de indicadores objectivos (apelidos, idioma familiar) e competente certificação pelo rabino da comunidade.
Os judeus sefarditas interessados em recuperar a nacionalidade portuguesa sublinham que outros países, como a Grécia, já adoptaram legislação de reaquisição de nacionalidade por judeus expulsos e seus descendentes e que a própria Alemanha o fez, face à tragédia mais recente.
Portugal é dos poucos países, senão o único, que não dispõe de normas para reaquisição de nacionalidade pelos descendentes de judeus expulsos.
Assim sendo, nós, cidadãos portugueses, através dos signatários desta petição, vimos solicitar perante os Poderes constituídos da República Portuguesa , a restituição da nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas portugueses.
Clique aqui para assinar a petição

O pintor Baruch Lopes de Leão Laguna, judeu de ascendência portuguesa, considerado um dos mais representativos retratistas dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX, foi assassinado pelos nazis em Auschwitz, a 19 de Novembro de 1943. A nacionalidade portuguesa podia ter-lhe salvo a vida.
::A LER:: Um pintor “português” morto em Auschwitz / Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
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Outras Judiarias…

Há algum tempo que ando para partilhar aqui um post fantástico que reconta uma viagem que José Alves, autor do The Sefaradi, empreendeu por algumas Judiarias. Texto e fotos para ler e ver com vagar, aqui: Uma (pequena) viagem pelo judaísmo.
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Os Judeus Sefarditas de Inglaterra

Foto: The Guardian
Entrada para a Sinagoga Bevis Marks, Londres
Por Mordecai Zvi
De acordo com Alfred A. Zara, da Foundation for the Advanced Sephardic Studies & Culture, não existem registos de judeus na Grã-Bretanha durante o período Românico, ao contrário da Península Ibérica, França e Alemanha. Os primeiros judeus chegaram depois da Conquista Normanda em 1066. Após a conquista, Guilherme da Normandia convidou judeus financeiros de Rouen a se estabelecerem em Inglaterra.
Prosperaram em Inglaterra, principalmente no negócio dos empréstimos, facto que mais tarde ditou a sua condição de “indesejados” por se tornarem alvo de preconceito por parte de alguns Nobres, seus principais devedores. Essa condição resultou na sua expulsão em 1290.
Depois da expulsão dos Judeus de Espanha em 1492 e de Portugal em 1497, e do estabelecimento da Inquisição, um grupo de judeus mercadores portugueses, ostensivamente católicos, mas consistentemente marranos (muitos dos quais prontos para retornar ao Judaísmo), estabeleceu-se em Inglaterra.
Em 1656, o Rabino Menasseh ben Israel de Amsterdão fez uma visita a Inglaterra para tentar persuadir o Governo Inglês a autorizar os judeus a se estabelecerem uma vez mais em solo britânico. Foi então que conheceu Oliver Cromwell, que se dispunha favorável à ideia. Após a deliberação da comissão reguladora, relativamente à questão, foi anunciado que o Decreto de Expulsão de 1290 já não tinha relevância.
Seguidamente, os mercadores portugueses “criaram” uma sinagoga numa habitação, e retornaram abertamente ao Judaísmo. O Rabino Menasseh oficiou numa ocasião um serviço religioso. A comunidade judaica é assim estabelecida na Inglaterra pelos judeus sefarditas, facto que, ao longo dos anos atraiu muitos marranos de Espanha e Portugal, fugidos das Inquisição.
Muitos destes mercadores portugueses eram bem sucedidos e atingiram posições proeminentes na sociedade britânica. A comunidade sefardita prosperou e construiu a sua primeira sinagoga em Bevis Marks (Londres), no ano de 1701.
Refugiados judeus ashkenazitas da Polónia e Alemanha foram ajudados pelos sefarditas a emigrarem para a Grã-Bretanha. Ainda assim, em número pouco expressivo, pelo que os sefarditas permaneceram como a maior comunidade por mais de 100 anos. Nas suas actas ficaram registados variados nomes de famílias de origem Ibérica, tais como: Montefiore, Lindo, Disraeli, Mocatta, Da Costa, etc.
Somente no século XIX, após uma gigantesca vaga de refugiados polacos e da Europa de leste, a composição demográfica da comunidade judaica britânica foi alterada e famílias ashkenazitas, tais como os Rothschilds, se tornaram proeminentes. Os judeus sefarditas continuaram a exercer cargos de grande importância na sociedade britânica, mas foram largamente ultrapassados em número, pelo elevado fluxo de emigrantes ashkenazitas que então aí se fixaram.
Por volta de 1912, um novo fluxo demográfico de judeus sefarditas chegou à ilha, desta vez desde a Turquia e Grécia, principalmente Salónica. Devido ao declínio do Império Otomano e o controlo de Salónica pelos gregos, ocorre um enorme êxodo sefardita, com muitos partindo para os Estados Unidos da América, França e Inglaterra. Aqueles que chegaram a Inglaterra criaram uma nova comunidade separada da Bevis Marks, aceitando no entanto, autoridade da mais antiga.
Com a ajuda da Sinagoga Bevis Marks e da Fundação David Sassoon, a comunidade Oriental conseguiu construir a sua própria sinagoga em Holland Park (Londres) no ano de 1928. Embora ambas as comunidades tivessem nas suas origens os Judeus de Espanha e Portugal, foi a Sinagoga Holland Park que manteve a sua herança histórica com idioma Judeo-Espanhol e o Ladino. A Sinagoga Bevis Marks tinha as suas origens quase exclusivamente na língua portuguesa, em vez do Ladino.
Hoje, existirão cerca de 10 sinagogas sefarditas na Grã-Bretanha com uma forte vida comunitária, grande parte delas situadas em Londres, mas a Bevis Marks continua a ser a sinagoga sefardita “per se”.

Em baixo, poderá ver a imagem de um Siddur (livro de rezas) utilizado em 8 de Março de 1841 na Sinagoga Bevis Marks, que serviu para comemorar o êxito que assistiu Sir Moses Montefiore na sua missão ao Leste:
Publicado originalmente no blog Menino Rabino
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Colecção “Sefarad” é lançada em Lisboa


A editora Nova Vega vai lançar esta semana a sua muito aguardada colecção Sefarad, coordenada por Jorge Martins. O lançamento vai ter lugar na próxima quinta-feira, dia 24 de Setembro, às 18:30H, na livraria Círculo das Letras, na Rua Augusto Gil 15B, em Lisboa. A inaugurar a colecção serão apresentados os seus dois primeiros livros: Breve História dos Judeus em Portugal, de Jorge Martins; e A Tormenta dos Mogadouro na Inquisição de Lisboa, de António Júlio de Andrade e Maria Fernanda Guimarães. As obras serão apresentadas por António Eloy e António Marques de Almeida, respectivamente.
Segundo o Professor Jorge Martins, esta colecção tem por missão principal “divulgar os estudos judaicos e inquisitoriais portugueses, preenchendo assim um vazio editorial.”
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Os judeus portugueses de Newport (I)

A Sinagoga Touro
“A Sinagoga Touro não só é a mais antiga sinagoga da América, mas também um dos seus mais antigos símbolos de liberdade. Não há melhor tradição do que a história das contribuições da Sinagoga Touro para os objectivos de liberdade e justiça para todos.”
John F. Kennedy, Presidente dos Estados Unidos,
15 de Setembro de 1963

Ostentando o nome de uma família judaica luso-americana com raízes em Tomar, a Sinagoga Touro, de Newport, Rhode Island, foi dedicada a 7 de Dezembro de 1763, no primeiro dia de Hanuká, e permanece hoje como a mais antiga sinagoga dos Estados Unidos — a única do período colonial que ainda sobrevive e se mantém em actividade. A congregação foi fundada em 1658 (apenas 4 anos após a chegada dos primeiros judeus portugueses a Nova Iorque) por judeus sefarditas, na sua maioria marranos e descendentes de marranos que inicialmente tinham fugido da Inquisição portuguesa e que escapavam agora de perseguições sofridas nas Caraíbas às mãos dos espanhóis. Entre os fundadores da comunidade contavam-se Mordecai Campanal, Moisés Israel Pacheco, Simão Mendes e Abraão Burgos. O líder religioso chamava-se Isaac Touro — e um dos seus filhos, Judah Touro ficaria para a história como um dos maiores beneméritos norte-americanos do século XIX. Mas sobre ele prometo escrever outro dia.
Inicialmente impossibilitados de construir uma sinagoga própria, a comunidade de judeus portugueses de Newport reunia-se em casas particulares nas noites de sexta-feira e nas manhãs de sábado.
Durante o seu primeiro século de permanência em Rhode Island (a primeira colónia das 13 colónias originais americanas a declarar independência da Grã-Bretanha), os judeus portugueses prosperaram, tornando-se artesão e mercadores respeitados na colónia esmagadoramente protestante. O seu sucesso atraiu um influxo migratória de judeus sefarditas e asquenazim (judeus da Europa Oriental, com raiz na palavra hebraica Asquenaz, que significa Alemanha), que se juntaram à comunidade inicial, adoptando em conjunto os rituais religiosos tradicionais dos judeus de Portugal e Espanha. Com o crescimento da comunidade veio a necessidade de encontrar um local permanente para a realização dos serviços religiosos, e para isso voltaram-se para outras comunidades de judeus portugueses. A primeira resposta veio da congregação Shearith Israel, de Nova Iorque, a mais antiga do país, que enviou uma generosa contribuição de £149.060. Outras congregações de judeus portugueses — nomeadamente da Jamaica, Curaçao, Suriname e Londres — contribuíram também com ajuda financeira para a construção da sinagoga.
Peter Harrison, o mais famoso arquitecto americano do século XVIII, ofereceu-se para fazer o projecto do edifício, que demorou quatro anos a construir, sendo dedicado a 2 de Dezembro de 1763 pelo rabino da congregação, o luso-americano Isaac Touro.
A cerimónia de dedicação do edifício contou com a presença de muitos notáveis entre a elite protestante de Newport. A sinagoga Touro é considerada uma das mais emblemáticas obras de Peter Harrison, entre as quais se incluem a Kings Chapel, de Boston, e a Igreja de Cristo, em Cambridge, ambas no estado de Massachussetts.

Com a sinagoga, e um cemitério adquirido anos antes, a congregação portuguesa podia agora cumprir três das funções essenciais da vida comunitária judaica — os rituais religiosos propriamente ditos, a educação das crianças e os funerais. A congregação de judeus portugueses de Newport escolheu para si o nome de Yeshuat Israel (Salvação de Israel).
Durante a Guerra de Independência dos Estados Unidos, e por causa do bloqueio britânico ao porto da cidade, grande parte da comunidade escapou para Nova Iorque. Findo o conflito, a vitalidade da congregação reacendeu-se. Pelo facto de durante a guerra muitos dos edifícios públicos da cidade terem ficado danificados, a Sinagoga Touro foi utilizada também para reuniões da Assembleia Geral de Rhode Island e do Supremo Tribunal estadual.
Em 1790, a convite do rabino Moisés Seixas, o Presidente George Washington visita esta sinagoga de judeus portugueses e dias depois lhes envia uma carta que ficaria para a história, reafirmando os princípios de igualdade e tolerância religiosa que norteavam a Constituição americana: “(…) Porque felizmente, o governo dos Estados Unidos, que não confere sanção à intolerância, nem à perseguição assistência (…)”. Estas palavras eram escritas um ano antes da Declaração de Direitos, que mesmo assim apenas se aplicava ao governo federal.

A par da Sinagoga Touro, o cemitério da congregação de judeus sefarditas de Newport é outro testemunho da dimensão e peso da comunidade de Newport. No Verão de 1852, o poeta Henry Wadsworth Longfellow ficou tão impressionado com o cemitério sefardita que o imortalizou num dos seus mais reconhecidos poemas, publicado na Putnam’s Monthly Magazine, em Julho de 1854:
The Jewish Cemetery at Newport
How strange it seems! These Hebrews in their graves,
Close by the street of this fair seaport town,
Silent beside the never-silent waves,
At rest in all this moving up and down!
The trees are white with dust, that o’er their sleep
Wave their broad curtains in the south-wind’s breath,
While underneath these leafy tents they keep
The long, mysterious Exodus of Death.
And these sepulchral stones, so old and brown,
That pave with level flags their burial-place,
Seem like the tablets of the Law, thrown down
And broken by Moses at the mountain’s base.
The very names recorded here are strange,
Of foreign accent, and of different climes;
Alvares and Rivera interchange
With Abraham and Jacob of old times.
“Blessed be God! for he created Death!”
The mourners said, “and Death is rest and peace;”
Then added, in the certainty of faith,
“And giveth Life that nevermore shall cease.”
Closed are the portals of their Synagogue,
No Psalms of David now the silence break,
No Rabbi reads the ancient Decalogue
In the grand dialect the Prophets spake.
Gone are the living, but the dead remain,
And not neglected; for a hand unseen,
Scattering its bounty, like a summer rain,
Still keeps their graves and their remembrance green.
How came they here? What burst of Christian hate,
What persecution, merciless and blind,
Drove o’er the sea — that desert desolate–
These Ishmaels and Hagars of mankind?
They lived in narrow streets and lanes obscure,
Ghetto and Judenstrass, in mirk and mire;
Taught in the school of patience to endure
The life of anguish and the death of fire.
All their lives long, with the unleavened bread
And bitter herbs of exile and its fears,
The wasting famine of the heart they fed,
And slaked its thirst with marah of their tears.
Anathema maranatha! was the cry
That rang from town to town, from street to street;
At every gate the accursed Mordecai
Was mocked and jeered, and spurned by Christian feet.
Pride and humiliation hand in hand
Walked with them through the world where’er they went;
Trampled and beaten were they as the sand,
And yet unshaken as the continent.
For in the background figures vague and vast
Of patriarchs and of prophets rose sublime,
And all the great traditions of the Past
They saw reflected in the coming time.
And thus forever with reverted look
The mystic volume of the world they read,
Spelling it backward, like a Hebrew book,
Till life became a Legend of the Dead.
But ah! what once has been shall be no more!
The groaning earth in travail and in pain
Brings forth its races, but does not restore,
And the dead nations never rise again.

No seu bloco de notas, enquanto caminhava entre as campas, Longfellow foi escrevendo os nomes dos judeus portugueses ali sepultados. Professor de Românicas e Línguas Modernas em Harvard, o poeta ficou fascinado com a conjugação dos sobrenomes portugueses aos nomes próprios hebraicos que ele se habituara a encontrar na Bíblia.

Escrevendo como um observador externo, Longfellow seria ainda indirectamente responsável por outra ligação dos judeus portugueses de Newport à poesia novecentista americana. Inspirada no poema de Henry Wadsworth Longfellow, Emma Lazarus — ela própria descendente de judeus portugueses — visita Newport em 1867 e, com apenas 18 anos de idade, escreve um poema sobre a Sinagoga Touro fazendo-o, desta vez, do lado de dentro da comunidade judaica sefardita dos Estados Unidos:
In the Jewish Synagogue at Newport
Here, where the noises of the busy town,
The ocean’s plunge and roar can enter not,
We stand and gaze around with fearful awe,
And muse upon the consecrated spot.
No signs of life are here: the very prayers,
Inscribed around are in a language dead,
The light of the “perpetual lamp” is spent
That an undying radiance was to shed.
What prayers were in this temple offered up,
Wrung from sad hearts that knew no joy on earth,
By these lone exiles of a thousand years,
From the fair sunrise land that gave them birth!
Now as we gaze, in this new world of light,
Upon this relic of the days of old,
The present vanishes, and tropic bloom
And Eastern towns and temples we behold.
Again we see the patriarch with his flocks,
The purple seas, the hot sky o’erhead,
The slaves of Egypt–omens, mysteries–
Dark fleeing hosts by flaming angels led.
A wondrous light upon a sky-kissed mount,
A man who reads Jehovah’s written law,
‘Midst blinding glory and effulgence rare,
Unto a people prone with reverent awe.
The pride of luxury’s barbaric pomp,
In the rich court of royal Solomon–
Alas! we wake: one scene alone remains
The exiles by the streams of Babylon.
Our softened voices send us back again
But mournful echoes through the empty hall;
Our footsteps have a strange, unnatural sound,
And with unwonted gentleness they fall.
The weary ones, the sad, the suffering,,
All found their comfort in the holy place,
And children’s gladness, and men’s gratitude
Took voice and mingled in the chant of praise.
The funeral and the marriage, now, alas!
We know not which is sadder to recall;
For youth and happiness have followed age,
And green grass lieth gently over all.
And still the shrine is holy yet,
With its lone floors where reverent feet once trod.
Take off your shoes as by the burning bush,
Before the mystery of death and God.

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Uma homenagem no último dia de Páscoa


Este quadro, da autoria de Francisco Duarte Azevedo, apresentado aqui em estreia absoluta, intitula-se The Day After the Auto-da-Fé, uma homenagem do pintor aos mortos do massacre de Lisboa, de Abril de 1506. Com uma beleza de calma aparente e toda uma carga de violência subentendida, o quadro pode também ler-se como uma metáfora à vida daqueles que tiveram de viver sob um terror constante.
Obrigados a converter-se ao catolicismo sob pena de morte e sem outra opção possível, os judeus portugueses continuaram a ser judeus, não só no segredo das suas casas, mas também aos olhos dos vizinhos cristãos-velhos que, com intolerância, nunca lhes haveriam de fazer esquecer a sua diferença. Com o correr dos séculos, as tradições judaicas familiares de muitos diluíram-se nas poeiras da história. Outros preservaram esboços de liturgias ancestrais sem se aperceberem dos significados. Outros ainda, numa tradição oral passada de pais para filhos, de avós para netos, cinco séculos depois, sabem que são judeus — um facto teimoso que continua a deitar por terra as teorias daqueles que acreditavam que o judaísmo tinha sido expulso de Portugal. A estes, convencionou-se chamar-lhes marranos — uma palavra que para uns é insulto, mas para outros motivo de intenso orgulho.
Zog Maran (Diz-me Marrano)
(uma canção para a Páscoa Judaica)
Diz-me Marrano, meu irmão,
onde pões a mesa para o Seder?
— Numa caverna escura e funda,
a minha Páscoa irei fazer.
Diz-me Marrano, onde vais
buscar os brancos matzos?
— Na caverna, com a ajuda de Deus,
a minha mulher os lá amassa.
Diz-me Marrano, como consegues
encontrar uma Hagadá?
Na caverna, entre as fendas,
há muito que escondi os livros lá.
Diz-me Marrano, como te
defenderás quando te ouvirem cantar?
— Se me vierem prender, com uma
canção nos lábios irei morrer.
Avrom Reisen
.::PARA OUVIR::.

Zog Maran, Vocolot, poema de Avrom Reisen música de Shmuel Bugatch.
Marrano” é a designação tradicional dada aos judeus forçados a converterem-se ao catolicismo na península Ibérica, sob pena de morte e confiscação de bens, nos séculos XV e XVI. Durante séculos a expressão foi considerada depreciativa por se julgar que derivava de “porco” em castelhano, na verdade, ela é obtida pela contracção das palavras hebraicas márre (מר — amargo/amargurado) e anúze (אונס — forçado / violado) – refere-se também aos seus descendentes, muitos dos quais optam agora pelo processo de conversão para “regressar” à sua tradição ancestral. Em hebraico, os marranos são conhecidos simplesmente como “anussim” (אנוסים). Para diferenciar a palavra da sua homófona depreciativa, e evitar assim qualquer tipo de comparações, o capitão Barros Basto insistia que ela deveria ser escrita com apenas um “r”.
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Memória & Justiça


O filósofo e poeta espano-americano George Santayana escreveu que “aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo”. Depois de séculos de esquecimento — voluntário e involuntário —, a Câmara Municipal de Lisboa contribuiu para que as gerações futuras não esqueçam um dos mais tristes e terríveis páginas da história da cidade quando, há 502 anos, milhares de cidadãos da capital foram chacinados pelos seus vizinhos pelo simples facto de serem judeus.
Segundo a Câmara Municipal de Lisboa, inaugurado agora no Largo de São Domingos, onde o massacre teve início, o memorial é composto por duas esculturas “contributos da Comunidade Judaica (da autoria da arquitecta Graça Bachmann) e da Igreja Católica (da autoria do arquitecto Segismundo Pinto e do escultor Carlos Ramos) que coexistirão como símbolo da reconciliação e do respeito; por uma lápide inscrita no pavimento, tributo da cidade de Lisboa às vítimas do Massacre Judaico de Abril de 1506 e por um mural onde se lê a frase ‘Lisboa, Cidade da Tolerância’ (da autoria dos designers Susana Jesus e Paulo Cardoso) em 34 línguas diferentes”.
.::A LER ::. 500 Anos do Massacre de Lisboa: Salomão Ibn Verga / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Garcia de Resende / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Samuel Usque / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Damião de Góis / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Alexandre Herculano / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Camilo Castelo Branco / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Oliveira Martins / 500 Anos do Massacre de Lisboa: Ferreira Fernandes / 500 Anos do Massacre de Lisboa IX: Memória e Esquecimento
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A origem do conceito de “licença de parto”

Num período de dois anos, entre 1913 e 1915, a América seguiu atentamente uma dura batalha judicial que haveria de mudar radicalmente a forma como as mulheres eram encaradas nos locais de trabalho.
Uma professora de Nova Iorque fora despedida a 22 de Abril de 1913 por estar grávida, com as autoridades escolares a defenderem o despedimento com base em “negligência do dever com o propósito de dar à luz”.
Numa atitude rara para a época, a professora não aceitou a decisão dos seus superiores e levou o caso para tribunal. Dois anos depois, o processo acabaria por instituir as bases de um direito que alastraria por todo o globo: a licença de parto. Esta professora, pioneira na luta pelos direitos laborais das mulheres chamava-se Bridget Peixotto e era membro da comunidade de judeus nova-iorquinos de ascendência portuguesa.
Bridget casara a 12 de Fevereiro de 1912 com Francis Raphael Maduro Peixotto, um corretor de seguros — que, nascido em 1860, era 20 anos mais velho que ela. Quando casou, Bridget Peixotto trabalhava já há 18 anos no sistema de ensino primário nova-iorquino, tendo passado com distinção os exames de promoção aos escalões mais elevados do magistério primário.
No ano lectivo de 1912/1913, Bridget e Francis Maduro Peixoto moravam no número 41 de St. Nichols Terrace, em Manhattan, ela era professora principal da Escola Pública 14, em Thongs Neck, Bronx, auferindo um salário anual de 2400 dólares (o que daria hoje qualquer coisa como 4500 dólares mensais ajustados pela inflação).
Em Fevereiro de 1913, Bridget Peixotto adoece gravemente enquanto estava grávida e notifica de imediato as autoridades escolares, tal como obrigava a lei. Na altura, no entanto, as professoras não podiam continuar na profissão depois de darem à luz, uma vez que a sociedade não via com bons olhos que uma mulher casada, e mãe de filhos, trabalhasse fora de casa.
Bridget Peixotto acabou por ser suspensa e seguidamente despedida — enquanto estava ainda no hospital depois de ter sido mãe de Helen Esther Peixotto — por “negligência do dever com o propósito de dar à luz”.
Não se dando por vencida, Bridget Peixotto desafia a acusação e a própria ideia de que uma mulher não poderia continuar a ensinar depois de ser mãe. Citada na página 7 da edição de 29 de Maio de 1913 do New York Times, ela afirma:
Contestarei o caso até ao fim. O Conselho Educativo, ao permitir que mulheres casadas ensinem ao mesmo tempo que as proíbe de cumprirem uma função fundamental do casamento, está a agir de forma ilegal. É absolutamente imoral e não será apoiado por nenhum tribunal. Em nenhum lado se pode proclamar a maternidade como uma negligência do dever. É permitido às mulheres casadas ensinarem nas escolas públicas, mas negasse-lhes tempo para que tenham filhos.
Em primeira instância, a verdade é que o Conselho Educativo manteve a decisão, votando 27 contra 5 em favor do despedimento de Bridget Peixotto. É então que ela avança para os tribunais. Depois de ver o processo arrastar-se infinitamente, com várias decisões judiciais em seu favor, por ordem do Supremo Tribunal, em 1914 Bridget Peixotto faz uma exposição ao Comissário Estadual para a Educação, John Huston Finley, que anos mais tarde seria director do New York Times. Em resposta, Finley dá-lhe razão e escreve: “A Senhora Peixotto foi acusada de negligência do dever, mas não foi declarada culpada de negligência — foi sim declarada culpada de ter dado à luz.”
Finalmente, em Janeiro de 1915, numa decisão histórica, John Finley dá ordens para que Bridget Peixotto seja reabilitada nas suas funções prévias com salário pago por completo. Três anos depois, em 1918, ela tornar-se directora da escola, mantendo-se no magistério primário em Nova Iorque até se reformar, em 1948, quando atingiu a idade limite de 70 anos.
Bridget Peixotto faleceu a 10 de Abril de 1972, em Nova Iorque, aos 92 anos de idade, deixando um legado invejável. No obituário que lhe dedicou dois dias após o seu falecimento, o New York Times afirmava que ela era “responsável pela institucionalização da licença de parto por todo o país” e pelo mundo: “O seu caso permitiu que largos milhares de mulheres pudessem tirar uma licença para dar à luz. A decisão motivou também alterações no sistema do sector privado, fazendo com que hoje seja perfeitamente normal que uma mulher possa manter o emprego quando fica grávida.”

Referências a Bridget Peixotto e ao seu caso: The Public Papers of Margaret Sanger / Her Works Praise Her: A History of Jewish Women in America from Colonial Times to the Present / JSTOR: The Elementary School Journal: Vol. 25, No. 9 (May, 1925), pp. 692-695 / Everybody’s Paid But the Teacher … / DISMISSAL OF TEACHER BECAUSE OF PREGNANCY
Bibliografia: New York Times, 29 de Maio de 1913, pág.7; NYT 11de Junho de 1913; NYT 23 Junho de 1913; NYT 26 Julho de 1913; NYT 11 de Janeiro de 1914; NYT 2 de Novembro de 1914; NYT 15 de Dezembro de 1914; NYT 12 de Janeiro de 1915; NYT 12 de Abril de 1972.
The Grandees of New Jersey (2006), Dr. Neil Rosenstein

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Memória


A Câmara Municipal de Trancoso colocou recentemente online as Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior — uma organização conjunta dos municípios de Trancoso e Belmonte que contou com a participação de dezenas de estudiosos e especialistas portugueses e espanhóis.
Nas actas, com um total de 198 páginas, encontram-se verdadeiros tesouros do património judaico bem como algumas deliciosas curiosidades — como o trabalho do engenheiro Manuel da Silva Castelo Branco, que abre a resenha, sobre a comunidade judaica de Castelo Branco e os laços ancestrais de Fernando Pessoa. Pode ainda ser lido um brilhante e aprofundado ensaio assinado pelo arquitecto José da Conceição Afonso, director da delegação do IPPAR de Castelo Branco, intitulado Judaísmo e Arquitectura Vernácula Civil na Beira Interior Quinhentista.
As actas encerram com uma resenha minuciosa do bem documentado estudo Inquisição e Independência, Um motim no Fundão -1580, da autoria da professora Maria Antonieta Garcia.
Aqui vai a lista completa dos trabalhos publicados:
A COMUNA JUDAICA DA VILA DE CASTELO BRANCO [1381-1496] / EL PROYECTO MUSEOGRÁFICO DEL MUSEO SEFARDÍ DE TOLEDO / JUDAÍSMO E ARQUITECTURA VERNÁCULA CIVIL NA BEIRA INTERIOR QUINHENTISTA / JUDIARIA DE BELMONTE – AVALIAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE PROCESSOS DE REABILITAÇÃO / MARCAS CRUCIFORMES DE AGUIAR DA BEIRA MEDELIM - A RUA DA JUDIARIA / MEMÓRIAS GRAVADAS NA PEDRA – UM PATRIMÓNIO A CONHECER NO CONCELHO DE TRANCOSO / OS JUDEUS DE TRANCOSO: ENTRE A LEI DE MOISÉS E O BAPTISMO / UMA LÓGICA PERIFÉRICA PARA OS CENTROS: OS MENDES/BENVENISTE ENTRE A BEIRA INTERIOR E ISTAMBUL / UM MOTIM NO FUNDÃO EM 1580
O download do documento integral pode ser feito aqui: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior (formato

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