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sexta-feira, 4 de abril de 2014


SHABAT SHALOM

"Não tenha medo"

"O medo exagerado retira a radiância da vida das pessoas e de qualquer criatura que possa ter sensações. Não há nada no mundo, não importa quão mau e cruel, que seja como ele. Amplifica todos os males além daquilo que realmente são, e ofusca o brilho de todas as coisas boas, pois fica por baixo das fundações e alega excessivamente que o mal está oculto por baixo do bem óbvio. A fonte de toda a fraqueza e temor, seja físico, ético ou intelectual, apenas um medo que vai além de seus devidos limites. Um medo assim aterroriza tanto uma pessoa que ela não fará nada para salvar-se. Não irá sequer erguer um dedo para ajudar a si mesma, porque teme que possa ser ferida, por medo de que aquela ação possa trazer um mal do qual não pode fugir. E, finalmente, esse medo a enfraquece e atemoriza tanto que por inércia e falta de ação, cai presa de todo mal.

O medo mais daninho é o medo mental. Essa falsidade lança um delírio sobre os membros mais sensíveis e belos da raça humana, pessoas que são uma bandeira, que atuam como luminárias que iluminarão os caminhos da vida para todos. A sombra sempre segue a luz, e quanto mais a pessoa puder entender e ficar sábia, mais seu medo se torna ilusório, resultando de seus pensamentos, o progresso.

[Várias] nações têm a capacidade de se tornar sábias, juntar e conectar tudo de natureza elevada e sagrada que estava espalhado e separado num bloco único, com conselho e conhecimento em questões que se destacam como o ponto alto do mundo. Porém, superior a todas elas está o povo de Israel. A única nação do mundo que carrega a bandeira do pensamento mais elevado no mundo, o pensamento que contém tudo que a sabedoria armazena dentro de si mesma: o pensamento da unidade. “D'us está nos céus acima e sobre a terra abaixo; não há outro.”

Na verdade, devemos sempre ampliar o limite da consciência até um grau infinito com um coração valente, sem medo, sem qualquer recuo e temor. O medo “devido ao opressor que se prepara para destruir” (cf. Isaiah 51:13) tem abaixado o espírito universal de nossa nação, que é cingida em poder, até se recolher e temer todo pensamento e ideia – e assim [se afastar dos temores] de toda ação e qualquer ato notável e inclusivo. E como a essência da fundação de [nossa nação] é a força de D'us, quando está espiritualmente fraca, fica muito debilitada. Nessa hora, a ajuda mais honrosa para nossa nação é remover de seu coração esse medo que vem da ilusão espiritual, e demonstrar, tão claro quanto o sol, que não há nada a temer.

Que as nações que se gabam de seus ídolos temam que o poder geral da ilusão que afeta sua sociedade comunal irá se abalar. Que todo mau governo tema que a luz da verdade e honestidade mostre que a meta de todos os seus anseios é um punho criminoso cruel e justiça pervertida. Que eles temam que quando a luz do pensamento puro ganhar força, mostrará o quanto seu governo não é merecedor de crédito. E assim as correntes universais irão quebrar, e sua força nacional irá fraquejar.

Mas por que Israel deveria temer?

Somos a nação cuja força e refúgio é a luz mais elevada do pensamento mais puro e elevado, cuja glória e beleza, esperança e desejo, é a justiça mais pura e mais isenta. Precisamos apenas subir, ficar cada vez mais sábios, com aquilo que já está plantado em nós e reunido em nossa essência interior. Somente então estaremos repletos de salvação e luz. Então veremos nosso maior valor, e como são degradados aqueles que pisam sobre nós com o pé do orgulho. E quanto mais a filosofia da nossa nação crescer e se ampliar, mais reconheceremos a alma da nossa nação e a beleza de sua glória, até que ela suba e ascenda para mostrar a todos o tesouro da vida oculta dentro dela, até que todos os habitantes do mundo reconheçam e vejam que o espírito da nossa nação é o espírito de D'us, e a alma do Todo Poderoso é sua alma.

A inspiração e a luz Divina podem ficar sobre Israel somente quando o mal e o medo que se apegam a ela como uma ferida abrangente, que estende dias de exílio e as perseguições de nossos inimigos degradados, cruéis, sejam removidos de dentro da sua alma.

A Presença de D'us somente repousa sobre uma pessoa que e sábia, poderosa e rica (Shabat 82 a), e apenas num local de júbilo (ibid. 30 b). Como isso é verdadeiro sobre um indivíduo, muito mais se aplica à nação inteira. “Riqueza” pode ser lida em seu significado simples: um presente de D'us dado das alturas, geralmente apenas este esforço mundano. “Que Hashem teu D'us te abençoe em tudo que fizeres” (Devarim 15:18). Mas há [também] uma riqueza de consciência, quando a pessoa sabe como se alegrar com sua porção. Isso também pode ser vivido por uma pessoa ou pela nação inteira. Mas quanto a força e júbilo, que são sua consequência – que somente podem vir por meio de uma retificação do espírito, uma retificação da consciência e do pensamento. E a respeito disso, fomos assegurados de que “se uma pessoa diz ‘Trabalhei e não encontrei’ ou ‘Não trabalhei e encontrei’, não acredite nela” (Megilah 6 b).

Ao final dos dias, na [era de] “calcanhares do Messiah,” quando a luz Divina está por trás de nossos muros, o primeiro de todos os preparativos é a remoção do medo, a excrescência do pensamento, do espírito geral – especialmente do espírito de indivíduos de destaque, aquelas pessoas que são agraciadas com uma boa mente, com talento para santidade e justiça, pois são eles os mais afetados pelo medo e fraqueza.

O ímpeto de conseguir isto é fornecido pela sua força oposta: a força da arrogância, que deve ficar mais forte numa hora dessas – pois onde há arrogância não há temor. [É verdade que a arrogância] vem de um local degradado, de um local de intoxicaçnao e confusão. Quanto maior a distância dos céus para a terra, assim é a distiancia entre a arrogância e a força que resulta da bênção celestial da riqueza da alma e a força de sua integridade. Apesar disso, agimos utilizando o forte poder da arrogância a fim de tirar o bem dela, as centelhas de santidade, o âmago mais interior: o fim do medo mental. E isso se deve à força que é prometida, que está oculta, no tesouro das nossas vidas. Então, a força se tornará uma parte da onda de santidade, e o pensamento irá florescer.

“Não tema, pois não será envergonhado. E não fique atemorizado, pois não será envergonhado, pois deve esquecer a vergonha da sua joventude, e a vergonha da sua viuvez você não mais lembrará” (Isaiah 54:4). Hador, págs. 119-121"

Por Rabino Avraham Yitschac HaCohen Kook z”l, “HaRav Kook” (1865-1935), primeiro rabino chefe ashkenazi de Israel durante o Mandato Britânico da Palestina, um dos rabinos mais famosos e influentes do século XX

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