Calvino é um dos homens mais conhecidos e estudados de todos os tempos. Ele tem
sido matéria de muitos estudos, livros, monografias, teses. A revista Times em
sua edição eletrônica, listou as dez influências mais importantes no mundo na
atualidade. O chamado novo calvinismo é listado em terceiro lugar.[1] Calvino foi um homem notável em seu tempo, mas a despeito
dos quinhentos anos passados de seu nascimento, tem influenciado muitos
pesquisadores, estudiosos, eruditos e homens em geral nos dias atuais. Calvino é
ainda hoje o mais influente ministro da Palavra de Deus que o mundo já viu.
Nenhum homem antes ou depois dele foi tão prolífico e tão profundo no lidar com
as Escrituras.[2]
Em comemoração aos quinhentos anos do homem que marcou
a história de sua época e deixou um sólido legado teológico para as gerações
futuras, este breve e singelo artigo tem como objetivo descrever um pouco da
vida do grande Reformador e de sua influência ainda nos dias
atuais.1. Sua Vida
João Calvino – seu nome
francês é Jean Cauvin – nasceu em 10 de Julho de 1509, na zona rural de Noyon,
França, a aproximadamente 96 km de Paris. Filho de Gerard e Jeanne Cauvin. Seu
Pai era administrador financeiro do bispo católico da diocese de Noyon, criou o
filho para ingressar no sacerdócio da Igreja Católica Romana.[3]
2. Sua Educação
Em 1523,
Calvino, por influência de seu pai, foi estudar teologia e humanidades na
Universidade de Paris, com o fim de tornar-se sacerdote Católico-Romano. Três
anos mais tarde, graduou-se, tendo recebido grande conhecimento em latim, lógica
e filosofia. Mais tarde, em 1528, novamente, por vontade de seu pai, Calvino foi
estudar Direito na Universidade de Órleans. Sobre isto, ele mesmo narra: “Quando
era ainda bem pequeno, meu pai me destinou aos estudos de teologia. Mais tarde,
porém, (...) à profissão jurídica (...). E assim aconteceu de eu ser afastado do
estudo de filosofia e encaminhado aos estudos da jurisprudência”.[4] Em 1531, Calvino volta a Paris em busca do estudo da
literatura clássica, até que em 1532 ele retorna a Bourges e completa seus
estudos em direito e recebe o título de doutor. Assim, Deus estava trabalhando
em sua vida, “pela secreta orientação e providência”, como ele mesmo disse, e
preparando seu servo para uma vocação de serviço ao Senhor e a Sua Igreja com
todas as suas qualidades e adjetivos.3. Sua
Conversão
Calvino não descreve com todos os detalhes a sua
conversão, mas o que sabemos é aquilo que ele mesmo descreve: “Deus, por um
súbito de conversão, subjugou e preparou minha mente para ser ensinada a
respeito das coisas espirituais, o que aconteceu de forma mais intensa do que se
esperaria de uma pessoa da minha idade. Tendo, deste modo, recebido uma amostra
e algum entendimento da verdadeira piedade, fui imediatamente estimulado com um
desejo tão intenso de fazer progresso neste conhecimento que, embora não tenha
abandonado por completo os outros estudos, buscava-os com menos fervor”.[5] Pode-se comparar a conversão de Calvino a conversão de
Paulo, resguardada as devidas diferenças, já que as duas foram repentinas, sem
dia e hora marcados, e produziram profundas mudanças em seus respectivos
tempos.4. Sua Grande Obra
Após breve viagem a
Paris e Órleans, Calvino foi para Basiléia, Suiça (1534-1536), e como homem
brilhante, autodidata nos estudos, e tendo já abraçado avidamente a causa da Fé
Reformada, começou a escrever a sua maior obra, As Institutas da Religião
Cristã, dentre tantas outras. Ao longo de vinte e três anos, as Institutas
passaram por várias revisões e ampliações até chegar, em 1559, ao seu formato
completo e atual. E sem sombra de dúvida, esta obra tornou-se a obra-prima mais
importante escrita durante o período da Reforma, mais até do que o livro de
Lutero (Nascido Escravo). Calvino mesmo disse que o propósito do seu trabalho
não era outro “senão para que os homens soubessem qual era a fé defendida...”,
ou seja, sua intenção era que o livro atenuasse a perseguição que acontecia na
França, por parte da Igreja Romana, contra os protestantes.
As Institutas
são, na opinião, da grande maioria dos críticos, não somente a obra mais
importante de Calvino, mas uma das grandes obras universais, notadamente no
campo da teologia. Além do mais, Stefan Zweig, impiedoso crítico de Calvino,
disse, no entanto, que as Institutas são um dos dez ou vinte livros no mundo dos
quais se pode dizer sem exagero, determinaram o curso da história e mudaram a
fase da Europa.[6]
5. Sua Trajetória
Calvino
retornou a França, onde por algum tempo ficou com seus familiares. Depois foi
para Estrasburgo e, de lá, para o sul da Alemanha, com a intenção de estudar e
escrever com tranqüilidade. Era uma viagem sem volta à sua terra. Sendo obrigado
a sair de sua rota inicial, por causa de uma guerra, Calvino abrigou-se em
Genebra, onde pretendia passar apenas uma noite. Mas ao ser encontrado por
William Farel, foi quase que obrigado a permanecer em Genebra, a fim de lutarem
juntos pela causa da Reforma.
Calvino mesmo descreve este momento: “Willian
Farel me deteve em Genebra (...) movido por uma terrível imprecação, a qual me
fez sentir como se Deus pessoalmente, lá do céu, houvera estendido sua poderosa
mão sobre mim e me aprisionado. Nisso, Farel, pôs em ação toda a sua energia a
fim de deter-me. Então lançou sobre mim sua imprecação, dizendo que Deus haveria
de amaldiçoar meu isolamento e a tranqüilidade dos estudos, caso me esquivasse e
recusasse dar minha assistência...”. [7] Em resumo, diante de tais palavras, Calvino se viu
convencido e resolveu permanecer em Genebra. Logo, foi nomeado professor de
Teologia e Pastor da Catedral de Saint Pierre (São Pedro).
Algum tempo
depois, Calvino e Farel começaram a sofrer forte oposição, por parte dos
libertinos da cidade, até que em 1538 foram expulsos dela. Refugiaram-se em
Estrasburgo, o lugar para onde Calvino queria ir inicialmente. Em Estrasbugo,
por três anos apenas (1538-1541) ele desfrutou de algumas ricas experiências.
Ele conheceu outro grande reformador chamado Martin Butzer. Pastoreou uma
congregação protestante de quinhentos refugiados franceses. Conheceu uma viúva
chamada Idelette Stordeur, de sua congregação, com quem se casou (1540) e teve
dois filhos, uma filha que foi abortada durante o nascimento e um filho que
morreu com duas semanas de vida. Durante sua estadia em Estrasburgo Calvino
ainda ensinou Novo Testamento no Instituto local, escreveu seu primeiro
comentário (Romanos) e publicou a segunda edição das Institutas.
O Senhor,
porém, tinha outros planos para Calvino. A cidade de Genebra enfrentava grandes
problemas e pediu para que ele retornasse como Pastor da cidade. Após dez meses
de hesitação, em 1541, Calvino retornou a Genebra, e ali permaneceria até a sua
morte. Um detalhe interessante é que Calvino retomou a exposição da Bíblia,
precisamente, a partir do ponto em que tinha parado três anos antes.[8] Ali, durante vinte e três anos, Calvino pregou
expositivamente as Sagradas Escrituras, verso após verso, capítulo após
capítulo, livro após livro, comentou quase toda Bíblia. Com sua pena e papel,
escreveu mais do que todos os homens de sua época. Ele foi o Pastor e Teólogo de
Genebra.
6. Sua Morte
João Calvino sofria de
muitas enfermidades físicas, por isso, sua vida não foi muito longa, contudo,
muito produtiva. Ele escreveu até algumas horas antes de sua morte. Dias antes
da partida ele deixou o seguinte registro: “Em nome de Deus, eu, João Calvino,
servo da Palavra de Deus na Igreja de Genebra.... Agradeço a Deus não só por Ele
ter sido misericordioso comigo, pobre criatura sua, e... por ter me tolerado em
todos os pecados e fraquezas, mas principalmente de sua graça a fim de servi-lo
por meio de meu trabalho... Confesso ter vivido e confesso que morrerei nesta fé
que Ele me deu, porquanto não possuo outra esperança ou refúgio além de sua
predestinação sobre a qual Ele me ofereceu em nosso Senhor Jesus Cristo e aceito
os méritos de seu sofrimento e morte, por meio dos quais todos os meus pecados
estão enterrados. Humildemente suplico que Ele me lave e limpe com o sangue de
nosso grande Redentor.... a fim de que ao aparecer diante dele seja semelhante a
Ele. Além do mais, declaro que me esforcei para ensinar sua Palavra de maneira
imaculada, e para expor fielmente as Sagradas Escrituras, de acordo com a medida
da graça que Ele me deu”.[9]
7. Considerações Finais
Diante
de tudo o que vimos, fica evidente que João Calvino não era um homem qualquer.
Era um homem de uma capacidade singular, brilhantismo nato e piedade autêntica.
Para Calvino, todo o pensar teológico está conectado com a piedade.[10] Assim, se dizer “calvinista” ou seguir o “calvinismo” é
muito mais do que meras palavras de efeito sobre a Igreja. Ser calvinista é amar
a Palavra de Deus como a jóia mais preciosa que possuímos e ensiná-la com
pureza, humildade e santo temor. Ser calvinista é lutar pela pureza da Igreja do
Senhor Jesus e buscar seu amadurecimento espiritual através do ensino sadio e
autêntico das Escrituras. Além disso, ser calvinista é ter uma profunda, intensa
e íntima comunhão com o Deus revelado nas Escrituras e com seu Filho Jesus
Cristo. Calvino é tão influente hoje, quanto o foi em seus dias, pois já se
passaram quinhentos anos do seu nascimento e ainda aprendemos e aprenderemos
muito com este humilde servo de Deus. Soli Deo
Glória!
NOTAS:
* Imagem publicada neste blog com
autorização da Editora FIEL - Capa do Livro: Steve J.
Lawson, A Arte
Expositiva de João Calvino, FIEL, São Paulo, 2008,
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