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domingo, 26 de dezembro de 2010

Shavuot (Pentecostes) A Entrega dos Dez Mandamentos

Shavuot (Pentecostes) A Entrega dos Dez Mandamentos

 
Shavuot, dia em que recebemos os Dez Mandamentos, é celebrado por ser o dia em que D'us entregou Sua Torá ao Povo Judeu. Este dia continua a ser o mais importante na história de nosso povo, quiçá o mais importante na história da Humanidade.
 
 
 
                        O mundo era um, antes da outorga da Torá, e outro, bem diferente, após ser recebida e, posteriormente, adotada, ainda que de diferentes formas, por outros povos e outras religiões. Mas, se por um lado, a outorga Divina da Torá foi um evento único, o ato de recebê-la é um processo contínuo que se repete sempre que um judeu a estuda - e que deveria ocorrer todos os dias na vida de todos os judeus.
 
                        Antes de discutir as questões pertinentes ao estudo em si da Torá, é necessário primeiro esclarecer quais os significados englobados nesta palavra. Traduzi-la simplesmente como "a Lei", seria restringi-la a um só de seus propósitos, ainda que dos mais importantes. Não cabem dúvidas de que há um lado da Torá que consiste de uma longa enumeração de leis e mais leis, com ramificações quase infinitas, que impelem o homem e a sociedade a determinados comportamentos. Em grande medida, o propósito da Torá é fazer chegar ao homem a maneira pela qual D'us espera que ele pense e sonhe, fale e aja - o que deve e o que não deve fazer. A palavra Torá tem a mesma raiz que outra palavra hebraica, hora'á - que significa instrução, ensinamento. Isto porque é um manual de instruções para a vida e, em sendo Divina, não está sujeita a erros nem mudanças.
 
                        No entanto, entender-se a Torá simplesmente como um Manual de Leis Divinas seria por demais limitante. Defini-la meramente como "lei", seria relegá-la à mesma categoria que inúmeras outras, também criadas por D'us, como a Lei da Gravidade e da Matemática. A Torá não pode ser interpretada como "Lei" nem tampouco como outra instância qualquer. Quem porventura a limite, ainda que dentro da estrutura da religião - quer por obra daqueles que a rejeitem quer por quem viva de acordo com o espírito e letra de cada uma de suas leis passíveis de aplicação - está reduzindo-a; pois que a Torá, assim como o seu Outorgante, em muito ultrapassam uma definição ou descrição limitante.
 
                        A Torá per se tem valor supremo, por ser Obra de Quem é. Seu conteúdo encapsula uma Revelação Divina - um evento histórico único, que jamais voltará a ocorrer - e, para os judeus, serve de portão de entrada para o caminho que nos conduz ao Próprio Criador.
 
                        Um aspecto central do acontecimento no Monte Sinai - e que celebramos em Shavuot - pode ser resumido no seguinte versículo da Torá: "...E dissestes: Eis que nos mostrou o Eterno, nosso Deus, Sua glória e Sua grandeza; e a Sua Voz ouvimos, em meio ao fogo. Neste dia vimos que D'us fala com o homem e este continua a viver" (Deuteronômio, 5:21). A importância do encontro entre D'us e o Povo Judeu no Sinai, transcende tudo o que foi transmitido; o aspecto central, de importância capital, é o fato de D'us ter estabelecido contato com o ser humano, sendo a Torá este ponto de contato, a interface entre o Criador Infinito e Sua criatura.
 
                        Ao aceitar a Torá, os judeus se tornaram parceiros de D'us, pois que tiveram uma visão daquele mundo que o Criador deseja ver construído. Os Filhos de Israel receberam a missão de construir um mundo perfeito - a utopia com que sonham os homens, em todas as épocas - e, mais ainda, receberam um plano-diretor de como o fazer, que é apenas uma das facetas da Torá. Muitas de suas leis, sobretudo os Dez Mandamentos, podem parecer meras diretrizes básicas para a manutenção de uma sociedade decente, mas o que lhes imprime poder é, justamente, a sua Origem. Transgredi-las, a propósito e com rebeldia, equivale a desafiar a D'us e a lutar contra Seu projeto para este mundo. Em contrapartida, cumprir deliberadamente um mandamento da Torá equivale a estabelecer contato com D'us, por demonstrar empenho em construir um mundo que atenda os desejos de seu Grande Arquiteto.
 
                        Mas, dissemos acima ser um erro tentar impor limites à Torá, ou seja, até mesmo quando a qualificamos de "plano-diretor da Criação". A Revelação Divina no Sinai foi mais do que uma dádiva que incorpora uma diretriz de uma vida decente para o indivíduo e um projeto existencial para o mundo. No Sinai, por intermédio da Torá, D'us Se deu ao homem. Segundo a Cabalá, a Torá reflete a Vontade e a Sabedoria Divinas. E, como D'us é totalmente indivisível, Ele é, como ensina Maimônides, Um, com a Sua Vontade e a Sua Sabedoria. Portanto, como o enfatiza o Zohar, "a Torá e o Santo, Bendito é Ele, são, de fato, Um - uma Única Entidade".
 
                        Assim como D'us é Infinito, assim o é a sua Torá. Assim como D'us é imensurável, assim o é a Sua Sabedoria. E, contudo, D'us, Aquele que é capaz de fazer o que bem Lhe aprouver, optou por comprimir uma parcela de Seu Saber para que pudesse ser entendida pelo ser humano, revestindo-a na forma das passagens, estatutos e mandamentos contidos na Torá. Assim como a Presença Divina está em todas as partes e em todas as coisas, assim está o Seu Saber, sendo esta a razão para não haver tema que não seja mencionado na Torá, por mais trivial que seja. D'us, que se relaciona com todos e está aberto às orações de quem quer que seja, também tornou o Seu Saber acessível a todos, mesmo às crianças. E o fez através de leis mundanas e histórias cativantes, em sua simplicidade, com as quais qualquer um pode-se relacionar.
 
                        Isto explica a razão para que, vez por outra, vejamos a Torá ser chamada de "a Parábola do Ancião". Pois, o que é uma parábola? Uma história simples, com um conteúdo de profunda sabedoria, transmitido em formato de fácil compreensão. A obra-prima de George Orwell, Animal Farm ("Revolução dos Bichos"), exemplifica-o à perfeição: é um livro pequeno, em linguagem simples, de fácil compreensão até para uma criança. Mas a obra traz em seu âmago grandes lições sobre a natureza humana e os perigos da política - de fato, lições que, para o bem da humanidade, deveriam ser estudadas e absorvidas pelos grandes estadistas. Foi vontade do autor revestir tão grandes lições de sabedoria - de fato, uma aula magna sobre política, ganância e corrupção - com o manto de uma história pueril, sobre um bando de porcos que derrubam seu patrão e assumem o controle da fazenda. Fazendo-se um paralelo, as histórias da Torá e as leis do Talmud são as Parábolas Divinas. A diferença essencial está, obviamente, no fato de serem Obra de D'us e, portanto, embebidas em ilimitada sabedoria.
 
                        Quando uma pessoa compreende uma determinada porção da Torá, sua mente capta algo da Vontade e Sabedoria Divinas. Ao estudá-la, o intelecto do homem funde-se ao intelecto de D'us, a despeito de sua infinita disparidade. Maior união não há entre criatura e Criador. O Talmud transmite este conceito ao apontar para a primeira palavra dos Dez Mandamentos, que é "Anochi", ou seja, "Eu" (sou o Eterno, teu D'us). As letras hebraicas desta palavra são um acrônimo da frase "Ana Nafshi Ketavit Yehavit", isto é, "Eu me apresento por escrito". Com isto, o Talmud ensina que D'us, por assim dizer, "Se Auto-condensa" nas palavras da Torá. E, portanto, ao estudá-la, o judeu se coloca em sintonia direta com o Infinito Criador. Dizem nossos Sábios que ao estudar a Sua Vontade - ainda que sozinhos - D'us estuda a nosso lado. Ao pronunciarmos as palavras contidas na Torá, o Todo Poderoso repete nossas palavras, como um eco. Daí o valor supremo que o judaísmo atribui a seu estudo e o enorme mérito de quem o faz: pois que é o vínculo mais estreito e profundo que se pode ter com D'us. E nosso motivo supremo ao estudá-la não deve ser outro senão a vinculação ao Divino Criador.
                        À luz do que já analisamos, deve-se entender que o propósito do estudo da Torá é a comunhão com D'us - e não a conquista intelectual - e isto é corroborado no Talmud, onde está escrito que D'us recompensa o homem por seu empenho e não pelo nível que alcança no estudo da Torá. Uma das condições sine qua non para quem pretende ser rabino, legislador ou juiz de um Beit-Din é o domínio da Lei Judaica. Mas, em se tratando da união de nossa alma com a Vontade e a Sabedoria Divinas, não importa quão profundo o assunto estudado, seja a imersão em textos esotéricos, seja a memorização do Talmud completo ou ainda a simples leitura das porções semanais da Torá. O que realmente pesa é a pureza do relacionamento do indivíduo com o texto - sua plena consciência de estar envolvido com o Divino.
                        Independentemente do quanto a pessoa julga conhecer a Torá, sempre há muito ainda a aprender - pois a Sabedoria Divina, diferentemente da humana, é Infinita. Inclusive dizem os nossos estudiosos que se alguém alega compreender perfeitamente determinada passagem talmúdica - se tudo se encaixa, se faz perfeito sentido - isto é prova de que a pessoa não a entendeu; pois como poderia a Sabedoria do Infinito Criador encaixar-se perfeitamente na mente de um ser finito? Assim sendo, o correto é empenhar-se no estudo da Torá com a reverência que o texto merece e com a enorme dedicação que requer. Se assim proceder, quem estuda a Torá, se destituindo de seu próprio ego e de qualquer intenção de proveito próprio, tem pleno êxito na união à Vontade Divina e consegue envolver D'us neste sublime diálogo, de plena comunhão e troca. Como declarou um grande mestre do Talmud, o Rabi Yossef Rosen de Rogatchov: "Quando oro, estou falando com D'us; quando estudo a Torá, D'us fala comigo!"
Elixir da Vida
                        Um dos 613 mandamentos básicos do judaísmo é estudar a Torá. Apesar de sermos alertados por nossos Sábios para não fazer distinção entre os sagrados mandamentos, já que provêm todos de uma Única Fonte, o estudo da Torá indiscutivelmente ocupa lugar central. Vimos acima que permite que o ser humano vincule seu intelecto a D'us; no entanto, não basta estudá-la se não cumprimos seus mandamentos e suas diretrizes. Pois, já que uma das facetas da Torá é ser o plano-diretor da Criação, este projeto deve inevitavelmente conduzir à ação - que se traduz no empenho em buscar a auto-perfeição e, conseqüentemente, a perfeição da humanidade.
                       
 
                        Em conhecida passagem talmúdica, em uma época de acirrada perseguição aos judeus, alguns de nossos maiores Sábios, argumentam sobre o que seria mais importante - o estudo da Torá ou o cumprimento de seus mandamentos. Rabi Tarfon afirmava que a prática tinha importância maior; seu colega, Rabi Akiva, defendia que o peso maior recaía sobre o estudo. Os demais Sábios, por fim, concluíram que a verdade não estava em nenhuma das duas alegações; e uniram ambos os pareceres para firmar que "o estudo tem peso e importância maiores, pelo fato de conduzir à ação" (Tratado Kidushin, 40b). Com isto nos indicaram que o estudo da Torá, em si, tem valor incomensurável, mas o mundo só pode ser aprimorado se a Vontade e a Sabedoria de D'us forem postas em prática. Por outro lado, não se pode saber o que D'us pretende de cada um de nós, suas criaturas, a menos que se estude a Torá. O judeu que opta por ignorar os textos da Lei de Moisés, e apenas seguir seu próprio instinto e consciência, pode estar racionalizando seus próprios desejos e motivações de forma a "criar" uma religião pessoal sua. Por esta razão, Maimônides sentencia que não há mandamento algum que se iguale ao estudo da Torá, por ser o único que conduz a atos adequados e cabíveis (Hilchot Talmud Torá, 3:3). Ele, o grande Rambam, ainda vai além, afirmando que todo judeu tem como obrigação máxima este estudo, seja ele rico ou pobre, saudável ou doente, jovem ou idoso. Por mais ocupados que sejamos, temos a obrigação de reservar de nosso tempo, diurno e noturno, breves minutos que sejam, para o cumprimento deste mandamento.
                        Ao estudar a Torá, o judeu fortalece sua alma e, também, a alma dos demais judeus, inclusive daqueles que já deixaram este nosso mundo terreno. Está escrito que há três pilares que sustentam a existência de nosso mundo físico: a oração, o estudo da Torá e a prática de caridade e atos de bondade. Portanto, o judeu que estuda a Torá está ajudando a sustentar o mundo, a canalizar a plenitude Divina no domínio físico em que vivemos, a trazer bênçãos sobre toda a humanidade. Como está escrito no Zohar, texto fundamental da Cabalá, "D'us buscou na Torá e criou o mundo. O homem busca na Torá e sustenta o mundo". E ainda que devamos estudar a Torá pelo fato em si de estudá-la - para comungar com D'us e conhecer Seus desejos e, só então, poder cumpri-los - a Torá ainda promete grandes recompensas àqueles que lhe dedicam de seu tempo. Tais recompensas - espirituais e materiais - são as conseqüências inevitáveis decorrentes da fusão entre homem e D'us. Diz-se que aquele que estuda intensamente a Torá tem a capacidade de, até mesmo, deter o Anjo da Morte; pois como aquele que estuda está em contato direto com a Fonte da Vida, consegue afastar de si o poder da morte.
                        A Torá é, realmente, o Elixir da Vida, como a chama o Talmud. Contudo, alerta que se abordada de maneira errônea, pode tornar-se exatamente o oposto. Como vimos acima, a Torá compõe um elemento único com D'us. Portanto, nada neste mundo tem mais poder do que tal unidade. Mas, quanto mais poderoso é algo, mais perigoso pode ser. A energia nuclear, por exemplo, tem poder e benefícios extremos. Mas pode, também, destruir o mundo. O argumento é muito mais válido em se tratando da Torá - que pode trazer salvação para o mundo inteiro, mas, se corrompida pelo homem, traz danos inimagináveis.
                        Como poderia ser corrompida? - perguntarão. Quando sua característica divina é ignorada ou extirpada. A definição da palavra profanação é tornar mundano o sagrado. Isto é justamente o que ocorre quando alguém considera o Tanach, a Bíblia judaica, como uma grande obra literária; o Talmud, um formidável enigma intelectual e, a Cabalá, uma interessante compilação de mágica e mito. Conta-nos o Talmud que o Primeiro Templo Sagrado de Jerusalém foi destruído porque incontáveis eram os que não diziam a bênção necessária antes de estudar a Torá. Ignorar propositalmente a berachá diária sobre o estudo da Torá, que é recitada antes da reza matutina, significa não apreciar a Torá pelo que é e representa. Acreditar que seja pura e simplesmente um manual para uma vida saudável, um bom exemplar literário, uma compilação de leis escritas pelo homem ou um documento da história e tradição judaica é uma grande demonstração de ignorância ou, pior, constitui um desafio Àquele que com a mesma nos brindou. Considerar que qualquer de suas facetas seja menos do que pura Divindade, é faltar com o devido respeito a seu Autor.
 
                        O Talmud, que, via de regra, não é apologético em suas afirmações, diz que a Torá é remédio para o justo, porém veneno para o malvado. O estudo da Torá é veneno quando empregado para encobrir a maldade e justificar o ódio - quando é usurpado por aqueles que o utilizam como um manto de respeitabilidade para encobrir atos impróprios ou imorais. O conhecimento intelectual da Torá em si não santifica quem quer que seja - prova disto é o próprio Yetzer ha-Rá, o Anjo do Mal, ser profundo conhecedor da Torá. Para ser um verdadeiro estudioso de seu conteúdo, não basta estudá-la em profundidade; é preciso ser humilde e generoso e amante da paz. De fato, o Talmud recorre a palavras duras ao falar daqueles que estudam a Torá sem, no entanto, agir de forma adequada. Diz que o mundo seria bem melhor sem tais pessoas, referindo-se a elas como meros "receptáculos" de textos sagrados. E, se por um lado, é melhor abrigar textos sagrados do que simples rabiscos, a moral disto é que - independentemente de seu conteúdo - um receptáculo nada mais é do que um receptáculo. Falar em nome da Torá e não proceder de forma justa e correta, quer aos olhos do homem quer aos olhos de D'us, equivale a enodoar o seu teor e desonrar Seu Autor e o povo a quem Ele a confiou.
 
                        O estudo da Torá também pode ser pernicioso quando é considerado um passatempo, um hobby ou uma superstição. Diz-se que o pouco conhecimento é um perigo - argumento muito válido para a Torá. Quando, por vezes, alguém decide aprofundar-se nas questões esotéricas e estudar a Cabalá sem estar preparado para tanto - intelectual, emocional ou espiritualmente - a decisão é extremamente perigosa. E o perigo não se encontra no misticismo judaico, mas no fato de tal pessoa estar brincando com fogo. A palavra de D'us, como conta o Livro de Jeremias (23: 29), é como o fogo que consome; deve ser levada muito a sério. Se alguém trata com banalidade alguma das facetas da Torá - seja o Talmud, a Halachá (Lei Judaica) ou a Cabalá - tal pessoa pode machucar sua alma. Pode-se fazer um paralelo com a criança que brinca em um laboratório de Ciências. Suas intenções podem ser as melhores, sua curiosidade pode ter um fundo de aumento do saber; mas esta criança não deve imiscuir-se em coisas que mal conhece. Pois pode ter a sorte de apenas fazer experiências sem maiores conseqüências, como pode, também, manusear o cianureto de potássio ou outros produtos químicos capazes de explodir em suas mãos. Assim a Torá, que não deve ser tratada é estudada sem a necessária seriedade - pois é a expressão da Vontade e da Sabedoria de D'us. E aqueles que a estudam ou ensinam visando ganho financeiro ou de prestígio, ou tentam modificar, reformar ou vilipendiar seu conteúdo, leis e mandamentos, causam dano a si próprios e àqueles a quem ensinam.
 
                        Em contrapartida, estudar e ensinar a Torá na medida certa de sua grandeza é aumentar a santidade no mundo e contribuir para assegurar a posteridade do povo judeu. Todo judeu está obrigado a estudar a Torá e, ademais, a passar adiante o que estudou, por menos que seja. Não é sem motivo que os inimigos históricos de nosso povo, em suas tentativas de nos erradicar da face da Terra, proibiram o estudo da Torá, baniram ou queimaram o Talmud e insistiram para que abríssemos mão da certeza de que a Torá é Divina.
                        Nossos inimigos perceberam que a conseqüência inevitável da falta de estudo adequado da Torá seria a assimilação judaica - a dizer, a morte, paulatina mas inevitável, de nosso povo. Contudo, o contrário também se aplica: o estudo, ensino e disseminação da Palavra de D'us permitem reverter a assimilação que vemos, hoje, dizimar nosso povo. Acima de tudo, é o estudo do Elixir da Vida o que preserva a existência espiritual e física do povo judeu. Em vários de seus tratados, o Talmud enumera as muitas recompensas desse estudo. Ensina - no que foi corroborado por Maimônides - que a recompensa Divina para o judeu se baseia, sobretudo, em seu esforço em estudar a Torá. O Talmud assevera que o estudo da Torá protege os soldados judeus; garante aos que a estudam um lugar no Mundo Vindouro; eleva o homem à categoria de Mérito quando do Juízo Divino; serve de paliativo e proteção para o sofrimento e o perigo; conduz ao perdão pelo pecado, à vida longa, à fartura e à honra; protege o lar de quem a estuda; previne pesadelos e torna o sono revigorante; e, sobretudo, assevera que D'us lhe atribui mais valor do que se aquela pessoa tivesse pisado nos locais mais sagrados e recônditos do Templo Sagrado - como fazia o Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, em Yom Kipur.
                        Há incontáveis outras razões que justificam a necessidade de todos os judeus de estudar a Torá - e suas recompensas são incomensuráveis e eternas. Mas a mais importante de todas se encontra em um versículo do Livro de Isaías e no Midrash que o segue. Diz o versículo bíblico: "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou D'us" (43:12). Ao comentá-lo, o Midrash faz uma afirmação surpreendente: "Enquanto lá estiverdes como Minhas testemunhas, Eu sou o Senhor; se lá não mais estiverdes como Minhas testemunhas, não mais serei o Senhor, D'us" (Sifri -Deuteronômio 346).
                        Quando todo o acima descrito tiver sido dito e feito, estaremos diante da razão para permanecer judeus e estudar a Torá: pois, assim agindo, estaremos mantendo D'us em nosso mundo terreno. É este o propósito maior da existência de nosso povo e a essência do judaísmo. Todo o resto é comentário.
Tradução: Lilia Wachsmann
Bibliografia
· Rabbi Adin Steinsaltz,Torah Eternal
· Rabbi Adin Steinsaltz, The Thirteenth Petalled Rose
· Kurzweil, Arthur, On the Road with Rabbi Steisaltz
· Dubov, Nissan Dovid, artigo Torah Study, www.chabad.org
· Rabbi Benjamin Blech, Understanding Judaism
· Rabbi Tzvi Freeman, artigo G-d in the Talmud www.chabad.org
· Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Alter Rebe, Likutei Amarim (Tanya)
Revisa Morashá - Edição 56 - abril de 2007 
 

Aron Hákodesh

ARON HÁKODESH
 
O Aron Hakodesh - a Arca Sagrada ou Arca da Aliança - era o ponto focal do Tabernáculo, o local de maior santidade pelo fato de abrigar as Tábuas da Lei e a Torá, Testemunhos da Aliança Eterna selada no Monte Sinai entre D'us e Seu povo. Era também um "caminho" para a mais elevada dimensão espiritual; pois, como está dito na Torá, o Eterno se comunicaria com Moisés "por sobre a Arca". (Êxodo 25:22)
 
                Terminara uma experiência extraordinária. Do topo do Monte Sinai, envolto em espessa nuvem, D'us Se revelara diante de todo Israel por meio da Shechiná, a Presença Divina. E, destarte, selara Sua aliança com o Seu povo.
                Durante a Revelação, Israel atingiu alturas espirituais inconcebíveis, tendo um contato com a Presença Divina e ouvindo de Sua tonitruante Voz as Leis que norteariam para sempre sua existência. Em que implicaria, para eles, o término dessa Revelação e a saída do Monte Sinai rumo ao deserto? A Shechiná os abandonaria ou continuaria constantemente entre eles?
                Foi nesse momento que D´us, por amor a Seu povo, ordena-lhes a construção do Mishkán, o Tabernáculo, para ser o local onde, seguindo Sua determinação, pairaria a Shechiná. Segundo o sábio espanhol Don Yitzhak Abravanel, ao transmitir Sua Vontade, o Eterno visava assegurar a Israel que não abandonaria o mundo terreno. Indicava, pelo contrário, Sua permanência entre eles. Sua Providência estaria sempre por perto, apesar de envolta em um véu, oculta aos comuns mortais. O Mishkán seria para Israel um sinal de que sempre haveria uma via de comunicação com D´us, independente de quão distantes estivessem do local da Revelação, já que lá não havia santidade intrínseca.
                O que conferia santidade era a Presença Divina e a Sua Torá, Sua Palavra, que a partir da Revelação estaria para sempre com Israel. A importância do Tabernáculo pode ser constatada pelo fato de quase a totalidade da segunda parte do livro Êxodo ser dedicada à sua descrição e construção, assim como ao detalhamento de seus implementos. O Talmud, o Midrash, a Cabalá assim como comentários de nossos Sábios revelam simbolismos, fatos e minúcias sobre cada aspecto da construção. Cada detalhe, cada objeto e cada simbologia, são profundamente discutidos, analisados e esmiuçados a tal ponto que seria impossível, neste simples artigo, pretender cobrir as interpretações e conotações do assunto.
                Segundo Nachmânides, grande sábio e místico espanhol do séc. XIII conhecido como Ramban, a edificação do Mishkán foi vital para nosso povo, pois, por seu intermédio, o propósito do Êxodo foi totalmente alcançado. Como explica Ramban, D´us instruíra os Filhos de Israel para construir o Tabernáculo para que a Shechiná sobre este pudesse pairar. Portanto, foi através do Tabernáculo que a elevação espiritual - que Israel atingira temporariamente durante a Revelação, no Sinai - tornou-se permanente.
                O ponto focal do Mishkán era o Aron Hakodesh - a Arca Sagrada. Guardada no lugar de maior santidade do Tabernáculo, no Kodesh ha-Kodashim, a Arca iria abrigar os bens mais preciosos de Israel, símbolo da Aliança firmada no Sinai: as duas Tábuas da Lei, onde D'us inscrevera os Dez Mandamentos, os fragmentos das primeiras Tábuas estilhaçadas e o Sefer Torá original, que, ditado por D´us, fora transcrito por Moisés.
                Por conter o testemunho da Palavra Divina, a Arca é o ponto de maior santidade de todo o Mishkán, o local onde se revelaria a Shechiná. Pois, seria de lá, afirma a Torá, "por sobre a Arca" que o Todo Poderoso se comunicaria com Moisés. Assim como no Monte Sinai o "Grandioso Encontro" fora único e poderoso, o "ininterrupto" encontro no Mishkán - mais precisamente, sobre a Arca - daria um prosseguimento àquele extraordinário acontecimento e ao relacionamento entre D´us e Seu povo.
 
O Mishkán
                Como vimos acima, o Mishkán e todos os seus implementos eram o símbolo e a indicação, para o povo, de que a Presença Divina estava constantemente entre eles. Eram o símbolo de sua consagração como "um reino de sacerdotes e um povo santo".                 Em outras palavras, o Mishkán tinha como principal objetivo o aperfeiçoamento espiritual do ser humano. O Midrash nos alerta, porém, que tanto o Santuário do Deserto como o Templo, mais tarde, eram apenas representações materiais do "verdadeiro Santuário", o lugar que D´us escolhera para "habitar " - e este é o coração de todo judeu.
                Segundo a Cabalá, o Tabernáculo é o microcosmo do universo e, como tal, reflete as verdades mais profundas sobre a vida e a Criação. Uma de suas finalidades era ensinar ao homem que ele tem a responsabilidade de elevar e santificar a si mesmo e a toda a Criação. Numa escala infinitamente mínima, dizem os textos místicos, o Mishkán reflete a Fonte Universal da qual emanam as bênçãos sobre toda a Criação.
                O Tabernáculo era também o ponto de convergência de toda a Nação, um centro espiritual que os congregava, fazendo deles um grupo homogêneo e coeso. Localizado no centro dos acampamentos das doze tribos, seria um local onde todo judeu poderia purificar-se, elevar seu espírito e conseguir o perdão Divino. Estas funções couberam, posteriormente, ao Templo Sagrado, em Jerusalém.
                Em termos estruturais, o Mishkán era uma construção notável. Muito provavelmente foi a primeira estrutura pré-fabricada, no mundo. Apesar de bastante grande - media 6,10m de altura por 7,30m de largura por 25m de comprimento - toda a sua estrutura podia ser desmontada e transportada de um local para outro. Assim sendo, pôde acompanhar os israelitas enquanto vagavam pelo deserto. Mesmo após terem entrado na Terra de Israel, vez por outra foi necessário transportá-lo para novas paragens. De acordo com a tradição bíblica, ficou em Guilgal durante 14 anos, em Shiló durante 369 anos e, por último, em Nov e Guivon, durante um total de 57 anos. Foi o rei David quem, após conquistar Jerusalém e expandir seu reinado, finalmente trouxe a Arca para Jerusalém.
                Sabia ser a cidade escolhida pelo Eterno para que lá fosse edificado um Templo permanente, em substituição ao Tabernáculo móvel e provisório que nos acompanhara em nossa epopéia pelo deserto.
                Apesar de sua aparência externa modesta, quase austera, o interior do Mishkán era esplêndido, repleto de ornamentos em ouro, prata, pedra preciosas, materiais suntuosos e os mais adocicados perfumes. Treze diferentes matérias primas foram usadas para a sua construção e de seus implementos, bem como das vestes dos sacerdotes. E todo o povo de Israel participou, com suas oferendas, desta obra magistral.
                Apesar dos esforços e do entusiasmo, inúmeras foram as complicações surgidas em relação à sua planta e execução. O profundo simbolismo imbuído em cada um de seus objetos implicava em um cuidado todo especial na execução do menor detalhe que fosse. Segundo o Midrash, enquanto estava no Monte Sinai, D'us mostrou a Moisés, feito em fogo, o modelo exato do Santuário e de seus implementos. Mas, tamanha era a complexidade que, em certas ocasiões, D´us teve que mostrar certos objetos, mesmo ao maior de nossos profetas, quatro vezes.
                Para executar a complexa tarefa, D'us escolhera Betsalel, da tribo de Judá; e, para ajudá-lo, indicara Aholiav, da tribo de Dan. Estes, assim como todos os que ajudaram, foram imbuídos por D´us de profunda sabedoria para o desempenho de suas tarefas. A Moisés caberia a responsabilidade de integrar as partes em um todo, já que somente a ele D´us mostrara a planta, em sua totalidade.
O Aron Hakodesh - a Arca sagrada
                A primeira instrução que D´us deu a Moisés em relação ao Tabernáculo foi confeccionar um repositório para abrigar "o Testemunho que Eu Te darei". Se analisarmos de uma forma lógica, a Arca não deveria ser construída até ter uma estrutura que a abrigasse. E, de fato, foi isto o que finalmente aconteceu. Somente após a estrutura estar pronta Betsalel confeccionou a Arca, o único implemento que, sob supervisão pessoal de Moisés, ele fez com suas próprias mãos, pois aí pousaria a Shechiná.
                Mas, foi a primeira ordem Divina, pois a Torá, testemunho eterno do relacionamento especial entre D´us e Seu povo, é infinitamente mais importante que a estrutura que iria abrigá-la. É por conter o testemunho da Palavra Divina que o Aron é o ponto de maior santidade de todo o Mishkán.
                No capítulo 25 do Êxodo, a Torá provê os detalhes referentes à confecção da Arca. Relata o texto bíblico que D´us ordenara que todo Israel participasse da construção, nem que fosse com alguma contribuição simbólica ou apenas em pensamento - uma exceção no que diz respeito aos mandamentos acerca da construção dos outros objetos sagrados. Os Sábios explicam que com isto cada um dos membros de nosso povo teria a sua parte, o seu quinhão de participação na Torá.
Sua estrutura
                A Arca era uma caixa retangular medindo 2,5 cúbitos de comprimento e 1,5 cúbito de largura e altura. Feita de madeira de acácia, uma espécie de cedro - em hebraico, shitim, era aberta por cima e devia ser revestida, por dentro e por fora, de uma camada do mais puro ouro. Rashi, o maior comentarista da Torá, explica que para a confeccionar conforme as especificações Divinas, Betsalel fez três caixas. A primeira, de madeira de acácia. Uma segunda, maior, de ouro puríssimo, dentro da qual era colocada a caixa de madeira.      
                Por último, uma terceira, menor, que foi colocada dentro da caixa de acácia. Desta forma, o receptáculo principal era coberto de ouro em seu interior e exterior. Para confeccioná-la, foram utilizados o mais puro ouro e madeira porque, explicam nossos sábios, a Torá é como o ouro em seu valor e pureza, mas é também chamada de Árvore da Vida.
                O ouro é primeiro na lista dos materiais a serem utilizados na construção do Tabernáculo. O Midrash observa que este metal é particularmente adequado para o Santuário, pois o objetivo deste era o "refinamento" espiritual do ser humano. Assim, como se refina o ouro bruto de suas impurezas, de modo semelhante deveria o judeu tentar apurar-se cada vez mais, espiritual e moralmente. Além do que, o ouro puríssimo do Aron serviria como símbolo de que o homem deve tentar alcançar a pureza não somente em suas ações e pensamentos, como também nos instrumentos que utiliza para a sua realização.
                Na parte superior da Arca devia haver uma borda de ouro, como que a coroá-la (Yomá, 72b). Segundo o Midrash, o Aron simboliza a Torá e, a borda, a "Coroa da Torá". D´us conferiu ao povo de Israel três coroas: a da Torá, a da Kehuná (o sacerdócio) e a da monarquia. Acima das três, está a da Torá.
A Tampa e os Querubins
                Uma tampa, kaporet em hebraico, do mesmo comprimento e largura do Aron Hakodesh e de ouro puríssimo devia cobrir a Arca para a fechar. O Midrash explica o nome kaporet. O termo deriva da palavra kapará, que significa expiação. É uma indicação de que o ouro usado em sua confecção serviria para expiar a grave transgressão que Israel cometera ao fazer o "Bezerro de ouro".
                Sobre esta tampa, em suas extremidades, havia "dois querubins de ouro batido". Como D´us ordenara a Moisés que tanto os querubins como a tampa deviam ser feitos da mesma peça de ouro, Betsalel os havia moldado cinzelando as extremidades da tampa. No Talmud há uma descrição da aparência da Arca e dos dois querubins e inúmeras são as discussões sobre cada detalhe. Apesar das diferentes interpretações, diz a tradição que os querubins são representados como anjos com asas, como pássaros, e com rosto de criança, um de sexo masculino e outro, feminino. As asas dessas criaturas celestiais, estendendo-se para cima da tampa, formavam um arco protetor e sua face estava voltada uma à outra, inclinando-se para baixo, em direção à tampa.
                É preciso que se faça uma ressalva importante. Apesar de D'us ter proibido a construção de imagens, esses querubins eram uma exceção, pois Ele Mesmo ordenara, de forma explícita, que fossem colocados sobre a Arca. E, no judaísmo, o que pode ou não ser feito depende exclusivamente da Vontade Divina. Mas, para evitar qualquer dúvida sobre a proibição absoluta de se adorar imagens e mostrar a Israel que os querubins não eram destinados à adoração, mas indicavam um lugar onde se concentrava a força espiritual, eles não ficavam de frente para o povo, mas um olhando para o outro.
                Além do mais, o fato de estarem colocados sobre a Arca - que abrigava as duas Tábuas da Lei e o rolo original da Torá -- era uma clara indicação da Fonte Única e Verdadeira de todo o Poder Espiritual.
                Era "entre os querubins" que o Eterno comunicava-se com Seu profeta. A Torá relata as palavras do Todo Poderoso a Moisés: "E no tempo marcado, Eu estarei lá, falarei contigo desde a tampa da Arca, entre os dois querubins que estão sobre a Arca do Testemunho" (Êxodo, 25:22). Por isso, o espaço entre estas duas formas era visto por sábios e profetas como o foco principal da força espiritual e de toda inspiração profética, uma abertura para a dimensão espiritual, o próprio caminho à ascensão espiritual.
                A simbologia que envolve os querubins é vasta e profunda. Em diversas ocasiões a Torá menciona essas criaturas celestiais: D'us os coloca para proteger o caminho da Árvore da Vida após a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden; na visão do profeta Ezequiel, são os portadores do Trono de Glória Divina, e aparecem em várias outras visões proféticas. Representam entre outros o dualismo inerente a toda a Criação - as duas Tábuas da Lei, mantidas no Aron Hakodesh, eram um lembrete desta mesma verdade. Além disso, representam os princípios masculino e feminino que permeiam todo o Universo. Segundo Rashi, as faces infantis simbolizavam a pureza da inocência e do amor de D'us por Israel. Não podemos esquecer que foram as crianças de Israel que haviam sido eleitas no Monte Sinai como "os fiéis guardadores da Torá".
                O fato dos querubins terem a forma de um ser humano alado era uma alusão à capacidade do homem de transcender os laços terrenos. E, as asas abertas em direção aos céus representavam a vontade que motiva todas as criaturas a voar para cima "em direção a esferas espirituais mais elevadas". Pois, mesmo estando o homem ligado à materialidade pelo seu corpo mortal, pode voar com as asas de sua alma e se elevar espiritualmente.
                Os querubins, de acordo com os textos místicos, refletiam a relação entre D's e Israel. Explica o Zohar que assim como o homem - pó da terra - criara vida pelo Sopro Divino, também os querubins podiam criar vida, especialmente por estarem em permanente contato com a Presença Divina. Pode-se dizer que eram um barômetro extremamente sensível que "media" a unidade e a harmonia existente entre D´us e o homem.
                Quando Israel realizava a Vontade Divina, e aumentava o amor entre Ele e Seu Povo, os querubins ficavam frente a frente e suas asas se tocavam. Mas, quando Israel transgredia A Grande Vontade, os querubins viravam as costas e se afastavam um do outro (Bava Barsa, 99 a). Relata o Midrash que nos dias festivos - os Yamim Tovim - quando os judeus iam até o Santuário e mais tarde até o Grande Templo, as cortinas da Arca eram suspensas e todo Israel podia ver os querubins entrelaçados e perceber o grande Amor que D´us tinha por Seu povo (Yomá, 54a). Relata o Talmud que quando os romanos estavam prestes a destruir o Segundo Templo, os querubins entalhados em madeira que adornavam suas paredes, ao pressentir a desgraça que se abateria sobre Israel, abraçaram-se e choraram, copiosamente.
                Isto indicava que naquela hora amarga em que os Filhos de Israel iniciavam seu longo e penoso exílio, na hora de seu mais profundo desespero, o Eterno ainda estava ao lado de Seu povo, Seu amor por nós era forte e inamovível - e, portanto, abraçaram-se os querubins (Chazon L'Moed).
A mobilidade da Torá
                Assim como o Mishkán, a Arca era portátil e, por essa razão, tinha quatro anéis de ouro maciço, dois de cada lado, fixados nas paredes laterais de suas quatro superfícies. Duas varas de madeira de acácia, folheada a ouro, traspassavam esses anéis para permitir que se carregasse a Arca. E, uma vez colocadas, não podiam ser mais removidas. Aliás, todos os objetos do Tabernáculo tinham varas com essa mesma função de transporte dos objetos sagrados, mas esta proibição não existe para outros objetos. Por quê? Porque, respondem nossos Sábios, a Arca devia estar sempre pronta para ser transportada de um local para outro.
                Para o Rabi Shimshon R. Hirsh, a característica de mobilidade da Arca Sagrada é símbolo da intrínseca mobilidade da Torá. Nossa Lei não está amarrada a um determinado local, nem vinculada a um determinado momento no tempo, mas acompanha nosso povo por toda sua história e em todos seus exílios. Onde forem os judeus, com eles vai a sua Torá. Isto não se aplica aos demais implementos do Tabernáculo e, conseqüentemente, do Grande Templo de Jerusalém. A Arca ficou com Israel até o final do período do Primeiro Templo, desaparecendo em seguida. Mas, segundo a tradição, ainda se encontra em Jerusalém.
                O rei Salomão, ao construir o Templo, mandou cavar um túnel secreto e profundo por baixo do Monte do Templo para, em caso de perigo, lá esconder os implementos sagrados. Pouco antes da destruição do Primeiro Templo pelos babilônios, o rei Josias teve uma visão da catástrofe que estava para se abater sobre Israel; e, para garantir a segurança da Arca, tê-la-ia escondido justamente nesse local secreto, sob o Monte do Templo, longe dos olhos inimigos.
 
 
                Se assim foi - e assim nós judeus o cremos - até hoje, O Aron Hakodesh do Mishkán está ainda oculto em algum ponto, sob o Monte do Templo, em Jerusalém, Capital Eterna do Povo Judeu.
 
                               Artigo do Site: http://www.morasha.com.br/
Revista Morashá - Edição 49 - junho de 2005

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