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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

     
A respeito de milagres
Ao descrever a "abertura do Mar de Juncos", a Torá descreve um único milagre: a divisão das águas. Em contraposição, é no âmbito do Talmud, Midrash, Cabalá e de todos os comentários de nossos sábios que podemos analisar e procurar entender, em pormenores, o milagroso acontecimento. O Midrash nos conta que na "abertura do mar", D'us realizou não um, mas dez milagres para os Filhos de Israel. Um deles foi o mar se abrir em 12 caminhos, um para cada tribo. Outro milagre foi o leito do mar ter-se secado para que os israelitas pudessem caminhar, mas ter voltado a ser lama quando surgiram os egípcios. O Midrash também relata que uma fonte de água doce e potável surgiu no meio do mar salgado e que árvores de frutos lá cresceram para que os israelitas tivessem com o que se alimentar.
É interessante notar que os israelitas entraram e saíram pela mesma margem ocidental do Mar de Juncos. Ou seja, como afirma o Talmud, a abertura das águas aconteceu em semicírculo. O Povo de Israel não atravessou o mar de um lado para outro, como se costuma pensar. O milagre, portanto, não ocorreu para que eles pudessem chegar até o Monte Sinai; havia outros caminhos. O milagre da "abertura do mar" - da salvação dos israelitas e da morte dos egípcios - ocorreu para que fosse executada a Justiça Divina e para que Israel visse o Amor de D'us por Seu povo. É claro que, além disso, o episódio serve de lição para a humanidade de que D'us controla as forças da natureza, que não passam de joguete diante d'Aquele que as criou.
A palavra hebraica para milagre, ness, pode significar também estandarte ou bandeira. Um estandarte é posto em um lugar alto para que todos o possam ver. O milagre tem um propósito similar, sem ser físico, porém espiritual. Eleva a percepção humana a uma nova dimensão. Faz-nos lembrar que D'us está acima de nós, que é Onisciente, Onipresente e Onipotente e que é Ele quem rege todo o universo.
O milagre da "abertura do mar" se realizou através de um acontecimento natural: um poderoso vento leste soprou sobre as águas, durante toda a noite. E, como vimos anteriormente, o exército egípcio estava convencido de que a repartição do mar tinha sido obra do vento - e não do D'us de Israel. De fato, todos os milagres que ocorreram no Egito foram originários da própria natureza; talvez tenha sido por essa razão que os egípcios perseguiram os judeus, mesmo tendo sofrido as Dez Pragas. As legiões do Faraó só se conscientizaram que era D'us quem agia quando tudo já estava perdido.
Ao longo da história e ainda nos dias de hoje, há muitos que pensam como os egípcios. Muitos têm tentado descobrir a "verdade" científica por trás da "abertura do mar". Alguns concordam que as águas realmente se abriram, mas o atribuem a uma coincidência de fenômenos naturais, não a um milagre Divino. São muitas as especulações sobre que fenômenos naturais, próprios da região, poderiam ter provocado o extraordinário acontecimento.
Mas, para todos aqueles que acreditam que a Torá é de autoria Divina, são claras a história e as lições contidas nesse grandioso evento. D'us é Infinito e Onipotente e certamente tem o poder de controlar a natureza. Nada é impossível diante d'Ele. Segundo Maimônides, quando D'us criou o Universo com suas leis e propriedades físicas, criou também a possibilidade de acontecerem eventos extremamente improváveis. É o que chamamos de "milagre". Segundo os textos místicos, na hora da Criação, D'us impôs à natureza certas pré-condições. Uma destas foi a abertura do Mar de Juncos aos judeus no dia em que estes estivessem fugindo do exército egípcio.
Certa vez, o Baal Shem Tov foi questionado sobre a "abertura do mar". Quem o abordou dizia acreditar que a repartição das águas era, de fato, um acontecimento raro e improvável, mas não milagroso. O mestre chassídico rebateu com uma resposta que vale para todos aqueles que questionam a origem Divina na abertura do Mar de Juncos. Disse o Baal Shem Tov que o maior dos milagres não foi simplesmente o fato de as águas se abrirem, e sim, o de ter esse fenômeno ocorrido justamente quando os judeus precisavam atravessar aquele mar para se salvar (Torat Shlomoh, vol. 14, pág. 342 ).
Este ensinamento do Baal Shem Tov é um dos princípios básicos da Cabalá - de que todos os eventos no mundo, rotineiros ou extremamente improváveis, do sol que nasce a cada dia à "abertura do Mar de Juncos", são originários da mesma Fonte Suprema e Infinita.
Bibliografia
· The Chumash - The Stone Edition - Rabbi Nosson Scherman - Artscroll Series
· Torá Viva - Anotado por Rabbi Aryeh Kaplan. Tradução: Adolfo Wasserman. Editora Maayanot
· Torá: A Lei de Moisés. Tradução: Rabino Meir Matzliah Melamed. Editora Sêfer.
· The Call of the Torah - Shemos. Rabbi Elie Munk. Artscroll Mesorah Series.

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