A postagem abaixo corresponde ao inteiro teor de um email recebido há poucos dias pelo pastor Geremias do Couto de um de seus diletos amigos, que se considera apenas "membro de banco". Com a devida autorização, e sob o pseudônimo "SoliDeoGloria", a pedido do remetente, para evitar possíveis constrangimentos, este blog achou por bem publicá-lo sem qualquer alteração por refletir o sentimento de milhares de outros irmãos assembleianos, que nem sempre têm voz para se manifestar. Leia e veja ao final as nossas considerações em azul.
Grande
tem sido a minha angústia ao ver os rumos que nossa amada denominação vem
tomando nas últimas décadas. Olho para a AD e vejo uma igreja desfigurada, cheia
de enxertos, sem padrão litúrgico, seriamente contaminada pelas novas
"teologias" e modismos. Claro que também conheço muitas virtudes dela e sei que
o prezado Pastor também conhece (muito mais do que eu). Mas peço vossa
compreensão pois preciso me ater nos problemas que têm me incomodado.
Tenho
acompanhado a vossa verdadeira "cruzada" em prol de uma nova configuração
estrutural na CGADB. Sei de vossa boa vontade e notável boa-fé.
Gostaria
de dizer preliminarmente que me situo no mesmo espectro político/eclesiástico
que o senhor e que compactuo contigo sobre vários pensamentos e posições no
tocante à nossa presente
situação eclesiástica. Tudo o que vou dizer aqui pastor deve ser considerado sob
a lente de um "CRENTE DE BANCO", ok?
O
que me chama atenção pastor é que a CGADB tem ocupado um espaço e uma
prioridade na vida dos pastores assembleianos que simplesmente me assusta! Eu
não sei se os nossos líderes se dão conta
disso mas eu gostaria de que uma pergunta pudesse ser feita a TODOS aqueles
milhares de pastores e demais ministros reunidos nas convenções nacionais. Quem
sabe alguém pudesse fazer essa pergunta no microfone central e que todos
ouvissem atentamente...
Essa
pergunta (nesse meu "sonho") seria esta: Amado Pastor/Ministro, qual a
porcentagem do seu tempo livre que você consome tratando de problemas,
compromissos, reuniões, bate papo, atas, telefonemas, viagens,
articulações etc. ligados ao assunto "CONVENÇÕES" ??? E, comparativamente, qual
o tempo dispensado por você para pregar o evangelho (não simplesmente exercer
apologética), apascentar as ovelhas de Cristo a ti confiadas, ouvir seus
problemas, orar com eles, auxiliar as viúvas e órfãos, acompanhar de perto os
obreiros que estão sob sua responsabilidade, visitar os desviados, ungir os
enfermos, interagir com os jovens acompanhando-os de perto, zelar pela doutrina
da igreja, etc.?
Tenho
pastores em minha família e sei que um "Pastorado" demanda tempo integral. E eu
me assusto com tantos pastores que têm uma "agenda convencional" tão intensa que
deixariam um governador de estado abismado! E tudo isso pra quê???
Sei
que alguns pastores têm uma justificativa para tal espécie de militância. Sei
que há responsabilidades maiores que fogem à normalidade de um "Pastoreado"
simples.
O
que quero dizer meu prezado Pr. Geremias, é que o foco principal da AD e o
fundamento basilar sobre o qual ela foi fundada está em desuso! Nós nos
afastamos demais do "básico". Sou ainda do tempo em que transferências de
pastores, consagrações e implantações de novas igrejas eram decisões
espirituais! Lembro-me ainda de ver pastores pregando mensagens simples mas que
- a exemplo do que disse aquele pai da igreja - suas maiores pregações eram
silenciosas por meio de seus exemplos de vida e de fé...
Mas
o que vemos hoje - seja de qual "chapa" forem - são grupos de pastores
TOTALMENTE focados em um assunto PARAECLESIÁSTICO... Convenções, Mesas Diretoras
disso e daquilo, Comissões e mais Comissões Regionais, Estaduais, Continentais,
Mundiais... Não sou alienado a ponto de não enxergar a importância de uma
convenção nacional
que nos represente. Mas sinceramente não estou vendo sentido na existência dela
nos padrões em que se encontra.
Uma
entidade como a CGADB tem autonomia para expurgar doutrinas alheias e
heréticas?
Uma
entidade como esta tem poder de impedir o uso indiscriminado do nome de
nossa igreja "Assembléia de Deus" por esses mercadores que vêm aparecendo (e
tolerados!) em nosso meio?
Uma
entidade como esta tem autonomia para padronizar um procedimento
litúrgico mínimo em nossas igrejas e remover práticas esotéricas que já
vêm surgindo nos portais Assembleianos?
Uma
entidade como essa tem efetiva ingerência na condução dos assuntos cruciais de
nossa denominação tais como regularização de documentações imobiliárias,
contábeis, financeiras das igrejas ?
Uma
entidade como essa tem como unificar nacionalmente o posicionamento
Assembleiano relativo a questões como ecumenismo, teísmo aberto, onisciência de
Deus x Desestímulo a orar e outros tantos temas e heresias que estão batendo em
nossa porta ?
Acho
que a resposta para essas perguntas é "não", estou correto?
Se
isto não fosse o suficiente, temos ainda o problema de "conduta política" de
ambos os quadros atuais a ponto de tal problema movê-lo a liderar a criação da
chamada "Terceira Via"... Confesso que sou simpatizante dessa idéia e entendo
que o senhor tem exercido um belo papel conciliatório (até onde
permitirem...rsrs) e está prestando um lindo serviço.
Mas
minha pergunta permanece... Para que estamos correndo com tudo isso? Será que o
verdadeiro pano de fundo não seria uma REFORMA ( o que, em última instância,
também resvalaria na questão CGADB) ???
Pastor,
quero deixar bem claro que não tenho idéias revolucionárias nem extremistas.
Acho inclusive que uma nova reforma deveria começar com um movimento nacional de
ORAÇÃO pelo assunto. Mas acho também que discussões como esta sejam necessárias.
Os membros precisam ser ouvidos! A liderança precisa perceber que estamos
perdendo muitos irmãos que estão se entristecendo e parando na fé ou ainda
trocando de igreja devido a esses fatos...
A
diferença de liturgia no seio da AD está escabrosa! Temos igrejas AD pelo
Brasil onde coisas horripilantes tem acontecido... Nem a Harpa Cristã é mais
adotada... Nossas orquestras estão acabando! Nossos corais também. Nossos jovens
estão sem nenhuma compostura que os venham a distinguir do mundo. E sem falar
que já se perdeu o temor de se dividir ardilosamente campos e igrejas...
Desculpe-me
pastor pelo desabafo. Mas eu precisava me abrir com alguém que eu tivesse como
capaz e confiável. Espero não tê-lo aborrecido.
E
me perdoe pela grafia incorreta. Nem tive tempo de refazê-la...
Um
forte abraço e fique com Deus.
"SoliDeoGloria"
O seu desabafo reflete não só o
sentimento de milhares de assembleianos, mas também de centenas de pastores que
fazem parte da CGADB. O que temos ouvido, aqui e ali, com pequenas variações, é
a mesma pergunta: 'Para que associar-me a uma instituição que não nos ajuda em
nada?" Por outro lado, você expõe algo que, com raras exceções, tornou-se comum
entre os nossos líderes, independente das lides convencionais. É que ficam tão
envolvidos com as questões administrativas a ponto de se esquecerem que a igreja
é composta de pessoas frágeis, necessitadas, doentes, ambíguas, sofridas, às
quais foram chamados para pastorear e assisti-las.
Você também tocou num ponto
nevrálgico: "Será
que o verdadeiro pano de fundo não seria uma REFORMA?". Esta é a palavra-chave.
Mas como você mesmo reconhece, ela acaba por "resvalar" também na CGADB. Não
cremos que as vias já postas dispõem de condições, hoje, para promovê-la tal é o
comprometimento que ambas têm com os vícios de eleições amplamente
secularizadas. Ressalte-se aqui - para valer, e não como discurso - o velho
refrão de um hino que o pastor Anselmo Silvestre sempre canta: "Tem de começar
pelo altar". É preciso que os verdadeiros ministros chorem diante de Deus, com
panos de sacos e cinzas, para que possamos ver as necessárias mudanças em nossa
instituição, que redundem no resgate de tudo quanto você mencionou em seu justo
desabafo.
A Terceira Via busca ser a síntese
de todos esses sentimentos expressados em seu email. E mais: por entender a
oração como elemento primordial para qualquer empreendimento no âmbito cristão,
lançará em dezembro, no blog, um formulário para que tantos quantos queiram se
inscrevam e façam parte do Movimento de Oração em favor das Assembleias de Deus
no Brasil, inclusive a CGADB. Por último, a próxima postagem responderá ponto
por ponto as questões levantadas por você.
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