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sábado, 25 de janeiro de 2014

OS ANÔNIMOS DE DEUS

     O dramaturgo alemão Bertolt Brecht escreveu certa vez:

     “Quem construiu a Tebas das sete portas?
     Nos livros constam os nomes dos reis.
     Os reis arrastaram os blocos de pedra?
     A decantada Bizâncio só tinha palácios para seus habitantes?
     César bateu os gauleses.
     Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

     Uma vitória em cada página.
     Quem cozinhava os banquetes da vitória?
     Um grande homem a cada dez anos?
     Quem pagava suas contas?

      Tantos relatos.
      Tantas perguntas.”

      Podemos fazer várias reflexões sobre estas poucas, mas profundas palavras. Uma delas é evidente, mas muitas vezes ignorada: a história humana não é construída por alguns eméritos homens, cujos nomes estão gravados nos livros e enciclopédias. Pessoas comuns, anônimas, fazem a roda do mundo girar.

      Idêntico fato ocorre na igreja cristã. Certamente na história do povo de Deus há santos notórios, homens e mulheres que foram exemplos de abnegação e fé, arautos da verdade evangélica. Pessoas cujas vidas trouxeram a doce fragrância celeste a este mundo conturbado e, que devem ser destacadas e lembradas.

      Contudo, não podemos esquecer que o Senhor constituiu para si uma nação santa, raça eleita. Grandes e pequenos, intelectuais e incultos, todos são, pela fé, membros do corpo de Cristo, embaixadores, igualmente, do Altíssimo. O livro de Atos dá uma evidente notoriedade a Pedro, e principalmente a Paulo de Tarso. Todavia, é um erro grave imaginar que os demais discípulos não foram importantes cooperadores da causa do evangelho. Podemos ler: “com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça (Atos 4:33 – grifo meu). Podemos perceber que todos os apóstolos foram veículos da graça do Senhor e importantes para a sedimentação da igreja primitiva. Ora, nesta época Paulo não havia ainda sido solto das amarras do farisaísmo, mas outros apóstolos de Cristo como Bartolomeu e Simão estavam entre aqueles que operavam sinais. Tais nomes estão quase apagados da nossa memória.

      Mas, não somente os apóstolos foram os responsáveis pela expansão do reino de Deus na terra. Em Atos 8:1 e 4 a Bíblia nos diz o que ocorreu após a morte de Estevão: “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria [...] Entrementes os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.” Aqui fica evidente que todos os membros da igreja foram semeadores do evangelho. Quantos anciões, jovens e senhoras, cujos nomes e testemunhos não conhecemos chegaram a nós e fizeram parte do exército do Senhor!

      Nos avivamentos costumamos destacar alguns poucos nomes, geralmente dos líderes dos movimentos. Entretanto, não pensemos que exclusivamente por causa deles houve um mover do Espírito. John Wesley e Whitefield são conhecidos propagadores do avivamento metodista na Inglaterra do século XVIII. Mas, inúmeros pregadores leigos morreram com pouca idade e espalharam o fogo de Deus a inúmeros recantos da Grã-Bretanha e Estados Unidos. Já li que D. L. Moody e Charles Finney ganharam, cada um, quinhentas mil pessoas para Cristo! Parafraseando Brecht poderíamos perguntar: não havia crentes orando por eles durante seu ministério? Crentes anônimos não evangelizaram suas cidades e assim espalharam a mensagem evangélica? A igreja atual parece acometida de um vício: exaltar em demasia determinadas pessoas (pastores, evangelistas, cantores), esperando que eles façam o que Deus ordenou a todo crente.

      Na Sua obra o Senhor permite que alguns sejam notórios, outros prefere ocultar. São os anônimos de Deus. Mas não importa, pois todos são sacerdotes do Todo-Poderoso, com uma função específica no reino divino: “os membros do corpo que parecem ser mais fracos, são necessários.” (I-Coríntios 12:22).
George Gonsalves

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