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quarta-feira, 20 de novembro de 2013






                                                                             









                                                          Tiago 2:1-13
Todos São Iguais Perante Deus

Se há algo em que o cristianismo deve se envergonhar em sua história, com certeza se refere à discriminação racial e social. Podemos ler na história da igreja pecados realizados contra os negros, judeus, mulçumanos e os pobres e mais necessitados. Apesar de sabermos que o cristianismo tem como base o amor a Deus e ao próximo, as cruzadas, a escravidão, o apartied, o apoio a governos despóticos, a Klu Klux Khan, o nazismo e tantas outras coisas mancham a caminhada da igreja na história. Todas as vezes que a igreja se aliou ao Estado ela se afastou dos princípios do Novo Testamento. Quanto mais a igreja se ilude com o poder temporal mais ela se afasta do poder divino.
Tiago a partir do capítulo 2 passa a mostrar que a acepção de pessoas é terminantemente uma agressão aos princípios de Cristo. No verso 1 ele afirma: “Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade.”. Queremos destacar a palavra prosôpolêmpsia (), que significa “aceitar uma pessoa pela sua aparência, acepção de pessoas, parcialidade” . Uma tradução mais literal seria “recepção de face”, indicando que alguém estaria observando muito mais o exterior do que o interior, fazendo julgamentos e estabelecendo diferenças baseadas nestas condições exteriores, tais como aparência física, status social ou raça.
O clamor do apóstolo é que como cristãos jamais façamos estas coisas. Por que? Porque Deus não trata ninguém assim. Em Romanos 2:11 Paulo afirma: “Pois em Deus não há parcialidade.”. Em Efésios 6:9, advertindo aos senhores como deviam agir com seus empregados, Paulo assegura: “Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.”. O povo de Deus deve agir da mesma forma que o Senhor nesta questão. No Antigo Testamento podemos ler diversas passagens que reforçam a idéia de Deus como justo em seu tratamento com os seres humanos. Em Levítico 19:15,18 Deus ordena: “Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça...Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o SENHOR.”. Em Deuteronômio 10:17,18 Moisés lembra o caráter de Deus: “Pois o SENHOR, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno. Ele defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa.”.
Se há algo que não pode existir na igreja é a lisonja insincera, o favoritismo político e a acepção dos irmãos. Esta divisão de “castas espirituais” que hoje existe na igreja, formada pelos “espirituais” do momento e o restante do povo, revela uma destas tragédias em que vive a igreja no Brasil hoje. Apóstolos, profetas, bispos e tantas outras nomenclaturas agridem a Deus e afastam as pessoas. Tenho que concordar com Robison Cavalcanti que escreveu o seguinte: “De repente o episcopalismo, antes raro em nossa tradição reformada (anglicanos, metodistas) vai recebendo novas adesões. O que não nos falta são bispos – não com sucessão apostólica, mas ‘auto-ungidos’. Se é possível que em breve tenhamos arcebispos, cardeais e patriarcas (algo ainda modesto), já somos honrados pela presença de alguns “apóstolos” (antes apanágio do mormonismo). É o velho caudilhismo/messianismo ibérico redivivo.” . Infelizmente muitos cristãos no Brasil estão esquecendo de ler a Bíblia que diz: “Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.” (Cl. 3:11).
Por isso Tiago conta uma pequena história para ilustrar esta ação. A preocupação do apóstolo é que este comportamento não seja praticado nas reuniões da igreja . Na igreja deve sempre haver um clima de aceitação e amor. Diante de Deus não somos vistos pelos nossos títulos humanos mas pela nossa condição espiritual. Na Sua presença somos todos pecadores que estão debaixo da graça salvadora de Jesus Cristo. E como seguidores de Jesus devemos tratar todos com igual respeito e consideração . Como cristãos não podemos agir pela aparência e muito menos usarmos títulos entre nós, tais como doutor fulano, etc. Esta atitude só mostra que o critério é errado. Na igreja somos todos servos e irmãos.
Dos versos 5 a 7 o apóstolo lembra que observar o exterior é uma visão errada daquilo que Deus realmente vê. Tiago não está condenando a riqueza mas mostrando que a nossa salvação não depende do que materialmente temos. O reino é prometido aqueles que amam a Deus, sejam eles ricos ou pobres (v.5). O que Tiago deseja despertar nos cristãos é a percepção de que eles são ricos na fé, pois a nossa verdadeira riqueza está guardada nos céus (1 Pe. 1:3,4). Mas por que Tiago parece dar ênfase ao mais pobre? Porque a maioria da igreja era feita de pobres e escravos. Poucos eram intelectuais, ricos e livres. Com isso dá para entendermos o contexto da mensagem do apóstolo.
Diferente do nosso tempo, em que a igreja está embevecida com a Teologia da Prosperidade, amarrada com o consumismo, em que cada cristão é mais um consumidor em potencial de artistas do cenário evangélico, a pobreza, antes uma virtude, passou a ser maldição. Milhares de pessoas estão à busca de Deus, em templos majestosos e superlotados, para ouvirem os profetas de ocasião, com mensagens de poder e do sobrenatural. Palavras de ordem, reivindicações em nome de Deus para a busca de bens materiais. Os cristãos evangélicos do Brasil perderam a esperança escatológica, não vislumbram mais o Reino dos Céus, não enxergam mais as riquezas celestiais, deixaram de ser peregrinos para se fixarem como latifundiários desta terra corrompida. Não querem os novos céus e a nova terra, mas agora toma posse de algo que está destinado a destruição. A igreja no Brasil está na onda capitalista e consumista de mercado onde há igreja para todos os gostos, de punks a homossexuais, a liberais a ortodoxos, de pentecostais a tradicionais. Parece que a igreja tem deixado de lado os princípios de Cristo de unidade, amor, compaixão, misericórdia, bondade e esperança.
Por isso Tiago no verso 8 diz: “Se vocês de fato obedecerem a lei do Reino encontrada na Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente.”. Esta é a Lei do Reino: Amar o próximo como a si mesmo. É querer o melhor do outro como queremos a nós mesmos. Este é o princípio poderoso contra a acepção de pessoas. A Bíblia não diz para tratar bem somente os ricos ou os pobres, nem doutores ou iletrados apenas. A Bíblia diz que devemos agir com justiça para com todos. A parcialidade é pecado, como diz o verso 9: “Mas se tratarem os outros com parcialidade, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores.”. O mandamento do amor mostra a vontade de Deus para cada um de nós. Jesus disse: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros.” (Jo. 13:34,35). O padrão deste amor deve ser o de Cristo. Se andarmos de forma contrária a este padrão, então não adiantará nenhuma expressão de espiritualidade, pois como afirmou o próprio João: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê, Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.” (1 Jo. 4:19-21).
Tiago termina sua explicação sobre o assunto afirmando: “Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não for misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” (v.12,13). O cristianismo deve ter sempre uma postura coerente. Como a acepção de pessoas é pecado, e como cristãos devemos agir pela lei do amor, então o nosso procedimento deve ser o mesmo da nossa mensagem. No amor devemos ter uma conduta imparcial para com todos, já que seremos julgados pela lei da liberdade (já tratada em Tg. 1:25). Nunca devemos nos esquecer deste dia onde todos seremos julgados pelas nossas palavras (Mt. 12:36,37) e nossas ações (2 Co. 5:10). O mais interessante desta lei da liberdade é que o Espírito de Deus nos ajuda a fazermos a vontade de Deus sem que esta fosse um peso ou uma ameaça.
Por isso a advertência do verso 13 reforça o versículo anterior. A lei da liberdade deve ser sempre exercida com misericórdia. Em Zacarias 7:9,10 podemos ler o seguinte: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado. Não tramem maldades uns contra os outros.”. A continuidade da acepção de pessoas por parte dos cristãos pode trazer o perigo de enfrentar um julgamento severo. Da mesma forma que Deus nos trata com misericórdia, devemos tratar as pessoas do mesmo jeito.

               

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