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quinta-feira, 19 de junho de 2014

ENTREVISTAS




Ideal de harmonia - Entrevista com a Rabina Sandra Kochmann
Por Maria Lucia Gomes de Matos

”Para chegar à paz, cada ser humano –independentemente  da sua religião - deve dar o melhor de si mesmo, respeitando as diferenças e as  peculiaridades dos outros .“
(Rabina Sandra Kochmann)

Sandra Kochmann ocupa o cargo de Rabina na Associação Religiosa Israelita (ARI), no Rio de Janeiro, como assistente do Rabino-Chefe Sérgio Margulies. Nasceu no Paraguai e se formou em Jerusalém, ela é a primeira mulher a exercer esse cargo na comunidade judaica brasileira.

Trata-se de uma novidade no Brasil, contudo outros paises já admitem mulheres como rabinas. Sandra Kochmann foi recebida com entusiasmo e esperança de servir como exemplo para outras jovens que possam seguir o mesmo caminho. Uma evolução que trouxe aberturas no judaísmo.

Nesta entrevista, exclusiva para o Amai-vos, Sandra Kochmann fala da importância da vocação no cargo de rabina e como as mulheres ganharam mais participação nos segmentos religiosos liberais do Judaísmo, da paz global e da harmonia entre as religiões.
                  
Amai-vos – A vocação é importante, assim como um ideal, para exercer o ministério de Rabina?
Rabina Sandra Kochmann - Sem dúvida, o Rabinado mais do que uma “profissão” é uma vocação. Qualquer tarefa que implique no trabalho direto com pessoas, seus sentimentos, suas crenças e seu acompanhamento, nos mais diversos momentos das suas vidas, precisa de uma dedicação especial e completa.

Amai-vos – Atividades profissionais podem estar paralelas ao seu cargo de
Rabina?
Rabina Sandra Kochmann - Os Movimentos Religiosos  Liberais  Judaicos exigem dos seus  Rabinos uma preparação universitária complementar aos estudos voltados para a ordenação religiosa. Eu, por exemplo, paralelamente aos meus estudos rabínicos em Buenos Aires, cursei a Universidade Hebraica Argentina Bar Ilan, onde me graduei no curso de Administração e Direção de Instituições Sem  Fins Lucrativos, carreira que se complementa perfeitamente com minha tarefa rabínica, dentro de uma comunidade religiosa judia. E, ainda que a tarefa rabínica exija muita dedicação , muitos rabinos conseguem conciliar  as duas carreiras , se elas forem compatíveis e se as suas congregações o permitirem. 

Amai-vos – Considera que há alguma semelhança nas relações da comunidade judaica tradicional estranhar mulheres como Rabina e na Igreja Católica que não ordena mulheres?
Rabina Sandra Kochmann - Todas as mudanças – e ainda mais nas religiões, que mantêm tradições originadas muito tempo atrás – provocam reações diferentes . Algumas pessoas estão mais propensas a aceitar as mudanças, outras se posicionam frontalmente contra qualquer tipo de modificação e há aquelas que necessitam de um tempo para aceitá-las. O importante é que os  líderes e educadores preparem as pessoas – através da educação e do diálogo – para enfrentar as mudanças que os novos  tempos exigem. Isto em todos os aspectos da vida comunitária, em todas as camadas da sociedade em geral, e, principalmente dentro das religiões.

Amai-vos – Ainda persistem alguns ritos antigos que levam, principalmente mulheres, a se afastarem do judaísmo?
Rabina Sandra Kockmann - Os rituais religiosos surgem segundo as influências sociais do momento e do lugar onde foram originalmente estabelecidos. Por isso, não podemos falar de “afastamento” ou “preconceito” contra as mulheres no Judaísmo, porque na época  em que a maioria das leis judias foram determinadas, a mulher não tinha participação na vida pública e seu âmbito se restringia à  casa  e  à  família. Sua participação nas casas de oração e de estudos era limitada e, por força de suas tarefas e funções exclusivamente femininas, como amamentar e prover a educação e alimentação das crianças, as  mulheres foram liberadas de várias obrigações religiosas, com horários pré-determinados , que os homens , sim, deviam cumprir.
Com o correr do tempo, as mulheres ganharam mais participação na vida pública em geral e foram adquirindo os mesmos direitos e obrigações que os homens. Isso foi levado em conta pelos segmentos religiosos Liberais do Judaísmo que, embasados nos estudos  das fontes judaicas , deram às mulheres a possibilidade de assumir maiores compromissos religiosos, e a  oportunidade de aceder a uma participação mais  efetiva na vida religiosa e nas casas de estudo, até chegar hoje a ordenar mulheres Rabinas, com direitos e obrigações plenamente iguais.

Amai-vos -  Outras rabinas serão formadas ou lhe parece que haverá resistência à admissão de outras mulheres aqui no Brasil?
Rabina Sandra Kochmann - Já existem mais de 660 mulheres Rabinas no mundo inteiro. Entre elas, eu sei de uma brasileira já formada, e de mais três que estão estudando nos Estados Unidos, uma delas com perspectivas de vir a trabalhar no Brasil, nos próximos anos.
A título de esclarecimento  pessoal : até o presente momento, só recebi carinho, apoio e votos de sucesso por parte de minha Congregação – a ARI (Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro), da comunidade judaica do Brasil, e da sociedade em geral.

Amai-vos – O ideal de uma paz Global seria a harmonia entre as religiões?
Rabina Sandra Kochmann - Para chegar à paz, cada ser humano – independentemente da sua religião – deve dar o melhor de si mesmo, respeitando as diferenças e as peculiaridades  dos outros.
E – mais uma vez – isso só se torna possível através do diálogo e da educação, sob orientação de líderes religiosos, políticos  e educadores  que conscientizem a todos e cada um de sua responsabilidade individual  na construção de um mundo melhor.

Amai-vos – Judeus e cristãos seriam os mais responsáveis no compromisso da defesa dos direitos humanos?
Rabina Sandra Kochmann - Todos os seres humanos – de qualquer religião, crença, cor, raça, etnia ou povo – são responsáveis pelo cumprimento dos Direitos Humanos e pelo respeito ao seu semelhante. Afinal de contas, somos, todos nós, os principais beneficiários  dos  mesmos!

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