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sexta-feira, 20 de junho de 2014


A política do pão e circo
Por Flavia Arcanjo em 10/07/2012 na edição 702


Na Roma Antiga, a escravidão elevou o índice de desemprego. Por conta disso, os camponeses desempregados migraram para as cidades romanas em busca de melhores condições de vida, consequentemente, esse crescimento urbano acarretou diversos problemas sociais. Para atenuar a insatisfação contra os governantes e conter uma possível revolta plebeia, o primeiro imperador romano, Otávio Augusto, que governou de 27 a.C. a 14 d.C., criou a política do pão e circo. A medida consistia em oferecer alimento e diversão à população carente.

Quase todos os dias, o governo promovia lutas de gladiadores nas arenas, tais como o Coliseu, e na entrada desses estádios eram distribuídos pães gratuitamente. Com isso, as chances de revoltas diminuíam, já que a classe baixa acabava se esquecendo dos problemas da vida. Era o que argumentava Augusto: divertidos e bem alimentados, não teriam por que reclamar.

Impérios foram erguidos, conquistados e destruídos. Anos se passaram, porém o conceito da política do pão e circo continua vivo, contudo com outros elementos: Bolsa Família e futebol. Na última quarta-feira (4/7), o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro) pegou fogo. Diversos pacientes tiveram que evacuar o local sem o menor auxílio, inclusive pessoas que, por conta de membros fraturados, estavam com gesso. Uma mulher, que tinha fibrose pulmonar, faleceu por conta da inalação de muita fumaça.

Os leões e os pães

No entanto, o Jornal Nacional abriu o programa falando da final da Libertadores que seria disputada pelos times Boca Juniors e Corinthians. Durante a programação, diversos links ao vivo relatavam a situação do estádio do Pacaembu. No dia seguinte, o Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com o voto secreto para cassação de mandato. Contudo, a pauta do dia dizia respeito à vitória do Corinthians. A história do time alvinegro foi contada de diversas maneiras pelos mais diversificados veículos.

E em meio a tanta emoção corintiana, eu me pergunto: greves de universidades públicas, situação precária do Sistema Único de Saúde, CPI do Cachoeira, caso Demóstenes, desindustrialização do país e tantos outros assuntos relevantes, onde estão?

Será que os leões dos circos antigos e os pães de Augusto os devoraram?

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[Flavia Arcanjo é jornalista, São Paulo, SP]

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