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domingo, 19 de maio de 2013



“O templo é um lugar sagrado onde se crê que a divindade se torna presente aos humanos para receber o seu culto e fazê-los participar nos seus favores”. Aqui falamos de santuário como lugar sagrado, enquanto reservamos para templo uma construção num lugar sagrado.


1. IMPORTÂNCIA DO TEMPLO NA BÍBLIA
O templo é o coração do povo da Bíblia, tal como a Torah, a Escritura. Estes eram os dois tesouros do povo de Deus, intimamente associados um ao outro.

2. VOCABULÁRIO DO TEMPLO E DO SANTUÁRIO
Não havia um vocabulário próprio. Adaptou-se o vocabulário civil: Bet (casa); Mishkan; ‘Ohel mo‘ed; em grego: naós e hierontemplum (em latim).

3. SANTUÁRIOS LOCAIS
Estes, tanto cananeus como israelitas, estavam ligados a montanhas, árvores, fontes, bosques, lugares altos, e eram espaços bem delimitados e não podiam ser violados pelos “impuros”. Muito importante era a sacralidade do espaço.

3.1. Os “lugares altos” (bamôt) têm especial importância (negativa) na Bíblia. Eram lugares dedicados sobretudo aos cultos de fertilidade. Os profetas combatem-nos (Os 4,13; Ez 6,2-3).

4. SANTUÁRIOS PATRIARCAIS
Os Patriarcas, como beduínos, iam prestando culto ao seu Deus, nos santuários locais existentes. Nestes acontecem revelações, segundo o seguinte esquema: teofania, oráculo divino e construção de um altar. A Bíblia refere santuários no Norte (Siquém, Betel, Penuel) e santuários no Sul (Hebron-Mambré, Bercheba; Lahai-Roí, Guion, Arad).

5. SANTUÁRIOS ISRAELITAS
Os israelitas frequentaram os santuários cananeus, depois da sua chegada à Palestina: Guilgal, Silo, Laís-Dan, Carmelo, Mispá de Benjamim, Guibeon, Ofra, Nob.

6. A TENDA, SANTUÁRIO DE MOISÉS
É a habitação normal dos nómadas e semi-nómadas e era tecida com pêlos de cabra; por isso, era de cor escura. Ocupa uma parte do Êxodo (26-40) e está ligada à contemplação e ao encontro (ohel moe‘ed) com Deus.

7. A ARCA DA ALIANÇA ou “Arca do testemunho” (’aron hâ-‘edut: Ex 26,33; 40,21), continha a “Lei solene”, que estava nas duas tábuas da Lei, dadas por Deus a Moisés (Ex 31,18). Objecto importante da Arca era o propiciatório (kappóret, de kapar, cobrir). Era uma “cobertura” em ouro com dois querubins. Significava o lugar do repouso da presença divina. A Arca-receptáculo das tábuas da Lei e a Arca-trono de Deus. Relação com a Tenda do deserto e com o Templo.

8. O TEMPLO DE SALOMÃO
Da Tenda-templo ao templo de Salomão (1 Rs 6,1-35; 2 Cr 3,1-14).

8.1. Lugar do Templo e seu planeamento por David. Na eira de Arauna, David levantou um altar para oferecer um sacrifício de reparação. Aí foi levantado o Templo, em Jerusalém (2 Sm 24,16-25). David delineou e programou a construção; Salomão construiu.

8.2. Sentido do Templo: continuidade das tradições da arca e das tribos; imitação de um culto faustoso, próprio das monarquias do seu meio ambiente; elemento da reunificação das tribos e das suas tradições. A construção de um templo nacional fazia parte do estatuto dos impérios e reinos de então. Quando David organizou definitivamente um reino, no aspecto militar e político, ficava-lhe a organização religiosa que tinha no templo o seu ponto central.

8.3. Preparativos para a construção do templo: Tratado com Hiram, rei de Tiro. Arquitectos de Tiro e outras influências externas no templo de Salomão (Síria, Palestina, Egipto).

8.4. Estrutura arquitectónica do templo de Salomão: Influência dos palácios: Santo dos Santos (cella do deus/espaço íntimo do senhor: debir); Santo (sala de recepções, lugar do culto: heykal); vestíbulo (ulam); átrio do Templo: espaço exterior para as acções de culto, onde se encontrava o altar dos holocaustos. Mobiliário de cada uma destas partes do templo.

8.5. História do Templo de Salomão e suas modificações até à sua destruição em 587 a.C.

8.6. Centralização do culto: A construção do Templo foi o apogeu da teologia deuteronomista, tal como a tenda do deserto o tinha sido para o Êxodo. Outro apogeu é a época de Josias (2 Rs 22-23), em que se faz a purificação do templo de Salomão.

9. O SEGUNDO TEMPLO OU “TEMPLO DE ZOROBABEL” (Esd 1,1-4; 6,2-5)
Este foi iniciado depois da volta do Exílio (entre 597-538), e terminado em 515 ou 520, apesar das dificuldades de toda a ordem; esta data é o início da Época do Segundo Templo, que corresponde, portanto, ao pós-Exílio, e é um tempo profundamente religioso e devoto, em que o sacerdócio assumiu maior importância e autoridade em Judá.

9.1. Início da construção: Em 538, Ciro mandou reconstruir o Templo destruído pelos babilónios e deu ordens para que o tesouro roubado fosse restituído.

9.2. Dimensões. Como era uma época de profunda crise económica, este segundo Templo tinha dimensões mais modestas e menos luxo, em comparação com o de Salomão (Esd 6,3-4; Ag 2,3); conservava, no entanto, o mesmo plano arquitectónico.

9.3. História do Segundo Templo desde o início até à sua reconstrução por Herodes, passando por várias destruições e reconstruções parciais. O Cronista, assim como alguns Salmos, referem este lugar e a música que aí se cantava, atribuindo as músicas a David. Dão-nos conta dos orientadores da música, tais como Heman, Asaf e Etan ou Jedutun. A função dos levitas era sobretudo conduzir a oração e o louvor a Deus.

10. O TEMPLO NA CONCEPÇÃO DOS PROFETAS
Os profetas são os homens da Palavra e não do culto, do tempo e não do espaço do templo, do Espírito e não da instituição, mesmo religiosa. Isto oferece-nos uma perspectiva diferente dos profetas em relação ao templo. Eles não são contra a instituição do templo mas, por vezes, polemizam contra os exageros de um culto vazio de sentido.

10.1. Os profetas da reconstrução querem dizer que a renovação do templo corresponde a uma renovação da aliança de Deus com o seu povo (Zc 8,3). Deste modo, o novo Templo continua a ser o centro da nova comunidade renovada pelo Exílio.

10.2. Conflito entre sacerdotes e profetas? A ligação do homem com Deus não acontece mediante estruturas materiais ou outras estruturas humanas, mas sobretudo mediante os corações.

10.3. Ezequiel, profeta do templo celeste (Ez 40,1-44,9): A construção arquitectónica repousa sobre um quadrado sagrado, isolado do profano, protegido por duas muralhas com portas, a fim de controlar as entradas. Nenhum estrangeiro ou “impuro” aí deveria entrar. O altar e outros objectos.

10.4. Sentido cósmico do Segundo Templo: O templo era centro do mundo, lugar do contacto mais directo em com as realidades sagradas, a porta do céu, cume da montanha cósmica, pilar entre o céu e a terra. Os templos eram vistos ainda como uma cópia do templo celeste pré-existente.

11. O TEMPLO DE HERODES
Herodes, o Grande, decidiu, em 19-20 a.C., a construção de um novo templo que remediasse a pobreza do segundo templo, várias vezes devastado e reconstruído, mas que satisfizesse a sua vaidade, perante judeus e romanos, a quem queria agradar.

11.1. História e dimensões: Duas grandes descrições deste Templo: Flávio Josefo e a Mishnah (Middôt). Não concordam entre si. A arquitectura seguiu os planos do antigo Templo, mas com maiores dimensões e riqueza. No que se refere ao átrio ou esplanada do Templo, Herodes fez grandes obras de aterros, de modo a duplicar o espaço em que se situava o Templo. Toda a sua área atingia os 150.000m2, a quinta parte de toda a cidade. As diferentes partes e o mobiliário do Templo de Herodes. Restam os muros de suporte do átrio exterior onde está o Muro das Lamentações. Destruição em 70 d.C. Jesus contemplou esta obra grandiosa (Jo 2,29).

12. O TEMPLO NA LITERATURA INTERTESTAMENTÁRIA
O Templo não tem excepcional valor nesta literatura. Mas precisamente na diáspora do Egipto foi fundado um templo em Leontópolis, outro em Elefantina, além do Monte Garizim (Jo 4,20).

13. AS PEREGRINAÇÕES AO TEMPLO DE JERUSALÉM
Segundo o Deuteronómio, todo o bom israelita deveria ir ao Templo, três vezes por ano, nas principais festas: Páscoa, Pentecostes e Tendas (Dt 16,16-17). Por isso, estas festas eram chamadas “festas de peregrinação” (hag) e tinham ritual próprio (Sl 120-134).

14. SIMBOLISMO DO TEMPLO
Os templos terrestres eram considerados como réplica da morada celeste dos deuses/Deus. É no céu que Deus tem a sua verdadeira morada. Por isso, o templo terrestre tem que reproduzir essa morada, pois o ser humano não pode mudar o plano de Deus nem tem autoridade para lhe fazer uma morada diferente. Daí que é sempre o próprio Deus a indicar os planos arquitectónicos dos (seus) templos terrestres. Por isso, Jerusalém será considerada centro do mundo (Jz 9,37; Ez 5,5-7; 38,12) e fonte de todos os bens.

15. CONTESTAÇÃO DO TEMPLO
Esta tem fundamento na dúvida que o próprio fundador do primeiro grande Templo de Israel – Salomão – se colocou: Será que Deus poderia mesmo habitar sobre a terra? Pois, se nem os céus nem os céus dos céus te conseguem conter! Quanto menos este templo que eu edifiquei? (1 Rs 8,27). Trata-se de uma “dúvida metódica” a respeito do templo. Este questionamento reflecte a consciência de Israel de que a majestade do Deus único não cabe na estrutura material de um santuário humano. Os profetas, os recabitas e os essénios.

16. CONCLUSÃO
A história do Templo no Antigo Testamento manifesta a funcionalidade e caducidade do templo terrestre em relação com a perenidade do templo celeste, que é tratada em Heb 8,3-5; 9,11-12.

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