Compartilhando, relembrando e refletindo sobre o Movimento Pentecostal no Brasil
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco
Mas outros casos existem no Brasil a fora. Um dos mais conhecidos é o caso da Assembleia de Deus em Pernambuco. Lá convivem, concorrem e se digladiam os ministérios da AD em Recife e de Abreu e Lima. Mas como a AD no estado pernambuco chegou a esse ponto de possuir dois ministérios antagônicos?
A mensagem pentecostal teria chegado a Pernambuco por intermédio de Adriano Nobre em 1916, porém é com o casal sueco Joel e Signe Carlson que a AD iniciou suas atividades oficiais na capital pernambucana. Da capital se expandiu para o interior e diversas congregações foram abertas, mas sempre sob a supervisão da igreja mãe em Recife. Em 1927, num povoado chamado de Maricota (posteriormente denominado Abreu e Lima) na região de Paulista, a mensagem pentecostal brota e se desenvolve. Sempre sob muitas lutas e perseguições a congregação assembleiana se estabelece e prospera, e após muitas dificuldades inaugura seu templo próprio em 1942.
Na história oficial da AD em Abreu e Lima, há alguns indícios do desejo de independência por parte dessa congregação. No ano de 1953, o pastor João de Paiva, descrito como um senhor sisudo, fechado e limitado em suas funções pastorais devido a sua constante enfermidade (asma), e rigoroso quanto aos usos e costumes das ADs, resolveu dar autonomia jurídica a igreja, sendo conhecida - após esse registro - como Campo de Abreu e Lima. Isso foi feito no dia 15 de outubro de 1953. No dia 13 de novembro, pastor Paiva é destituído do cargo, ou seja, a autonomia não foi reconhecida pelo ministério da AD em Recife.
Teria a atitude do pastor João de Paiva ligações com a crise sucessória da AD em Recife? Pois em setembro do mesmo ano, o pastor José Bezerra da Silva é destituído por questões morais do seu cargo de líder da igreja. O comando interino da igreja ficou sob a responsabilidade do pastor José da Rosa Santos, até a posse de Manuel Messias em 02 de novembro de 1953. No livro histórico da AD em Abreu e Lima, os autores deixam uma pista. Segundo os escritores, pastor Paiva citava sempre o versículo de Provérbios 24. 21: "Teme ao Senhor, filho meu, e não te entremetas com os que buscam mudanças".
Seria insatisfação com os rumos da denominação? Pelo perfil apresentado é possível que sim. O velho sentimento de "bairrismo", muito comum nas ADs já estava em plena evidência em Abreu e Lima. O certo é que Paiva foi sucedido justamente por José Rosa dos Santos. E foi na sua interinidade como pastor em Recife, que pastor Paiva tentou num gesto unilateral dar autonomia a igreja.
Outro indicio de independência, foi a atitude do novo líder José Rosa dos Santos de adotar o cálice individual na ceia. Censurado pelo ministério do Recife, foi acusando de romper com a "tradição sueca, trazida pelo missionário Joel Carlson" e de sair da "doutrina". Ainda segundo a história oficial, a igreja de Abreu e Lima foi imitada nesse gesto por outras igrejas em Pernambuco. Como conclusão desse rompimento ritualístico e cerimonial assim é dito: "Este fato comprova, de forma vívida e incontestável, a autonomia eclesiástica da Assembleia de Deus em Abreu e Lima em relação a Recife".
Observa-se porém, que a autoproclamada autonomia é eclesiástica e não jurídica, pois ao fazer isso o pastor Paiva perdeu seu cargo. A autonomia jurídica somente seria realizada quase três décadas depois com o pastor Issac Martins Rodrigues. Essa cisão é descrita pelo estudioso Moisés G. de Andrade como uma "divisão branca".
Percebe-se também em tudo isso, a operação historiográfica para legitimar a cisão de Abreu e Lima com o ministério do Recife. Tal operação - intencional e ideológica - como tantas outras, procura na história dar sentido a um conflito agudo entre ministérios concorrentes no presente. Conflito que será em outra postagem melhor abordado.
Fontes:
ANDRADE, Moisés Germano de. "Uma história social" da Assembleia de Deus: a conversão religiosa como forma de ressocializar pessoas oriundas da criminalidade. Dissertação (Mestrado) - Universidade católica de Pernambuco. Pró-reitoria Acadêmica. Curso de Mestrado em Ciências da religião, 2010.
A mensagem pentecostal teria chegado a Pernambuco por intermédio de Adriano Nobre em 1916, porém é com o casal sueco Joel e Signe Carlson que a AD iniciou suas atividades oficiais na capital pernambucana. Da capital se expandiu para o interior e diversas congregações foram abertas, mas sempre sob a supervisão da igreja mãe em Recife. Em 1927, num povoado chamado de Maricota (posteriormente denominado Abreu e Lima) na região de Paulista, a mensagem pentecostal brota e se desenvolve. Sempre sob muitas lutas e perseguições a congregação assembleiana se estabelece e prospera, e após muitas dificuldades inaugura seu templo próprio em 1942.
AD em Abreu e Lima: ministério autônomo em Pernambuco |
Teria a atitude do pastor João de Paiva ligações com a crise sucessória da AD em Recife? Pois em setembro do mesmo ano, o pastor José Bezerra da Silva é destituído por questões morais do seu cargo de líder da igreja. O comando interino da igreja ficou sob a responsabilidade do pastor José da Rosa Santos, até a posse de Manuel Messias em 02 de novembro de 1953. No livro histórico da AD em Abreu e Lima, os autores deixam uma pista. Segundo os escritores, pastor Paiva citava sempre o versículo de Provérbios 24. 21: "Teme ao Senhor, filho meu, e não te entremetas com os que buscam mudanças".
Seria insatisfação com os rumos da denominação? Pelo perfil apresentado é possível que sim. O velho sentimento de "bairrismo", muito comum nas ADs já estava em plena evidência em Abreu e Lima. O certo é que Paiva foi sucedido justamente por José Rosa dos Santos. E foi na sua interinidade como pastor em Recife, que pastor Paiva tentou num gesto unilateral dar autonomia a igreja.
Outro indicio de independência, foi a atitude do novo líder José Rosa dos Santos de adotar o cálice individual na ceia. Censurado pelo ministério do Recife, foi acusando de romper com a "tradição sueca, trazida pelo missionário Joel Carlson" e de sair da "doutrina". Ainda segundo a história oficial, a igreja de Abreu e Lima foi imitada nesse gesto por outras igrejas em Pernambuco. Como conclusão desse rompimento ritualístico e cerimonial assim é dito: "Este fato comprova, de forma vívida e incontestável, a autonomia eclesiástica da Assembleia de Deus em Abreu e Lima em relação a Recife".
Observa-se porém, que a autoproclamada autonomia é eclesiástica e não jurídica, pois ao fazer isso o pastor Paiva perdeu seu cargo. A autonomia jurídica somente seria realizada quase três décadas depois com o pastor Issac Martins Rodrigues. Essa cisão é descrita pelo estudioso Moisés G. de Andrade como uma "divisão branca".
Percebe-se também em tudo isso, a operação historiográfica para legitimar a cisão de Abreu e Lima com o ministério do Recife. Tal operação - intencional e ideológica - como tantas outras, procura na história dar sentido a um conflito agudo entre ministérios concorrentes no presente. Conflito que será em outra postagem melhor abordado.
Fontes:
ANDRADE, Moisés Germano de. "Uma história social" da Assembleia de Deus: a conversão religiosa como forma de ressocializar pessoas oriundas da criminalidade. Dissertação (Mestrado) - Universidade católica de Pernambuco. Pró-reitoria Acadêmica. Curso de Mestrado em Ciências da religião, 2010.
FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.
SANTOS, Roberto José. (Org.). Assembleia de Deus em Abreu e Lima - 80 Anos: síntese histórica. Abreu e Lima : FLAMAR, 2008.
Marcadores: Assembleia de Deus, História, Ministério
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