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quinta-feira, 30 de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)

A Assembleia de Deus no Brasil é uma denominação dividida em vários ministérios, convenções e igrejas independentes. Essas divisões geralmente são fruto de disputas de poder eclesiástico, e causam rivalidades acentuadas. Um dessas rivalidades ministeriais mais conhecidas é a de Pernambuco, onde os ministérios da AD em Recife e Abreu e Lima encontram-se em agudo desentendimento há alguns anos. Mas como esses ministérios chegaram a esse antagonismo? 

Como vimos em outra postagem, a igreja em Abreu e Lima, até teve em seu passado momentos de autonomia, mas essa autonomia foi rechaçada pelo ministério do Recife. Nos anos 50, após crises sucessórias, assume a liderança da AD no Recife e no estado de Pernambuco o pastor José Amaro da Silva. Homem humilde, mas dotado de sabedoria e autoridade, manteve a união das igrejas e consolidou o ministério pernambucano em sua gestão.

Porém, pastor Amaro da Silva sofre de um mal súbito e falece em 1977. Sua morte causa extrema comoção na igreja, e conturbação na sucessão ministerial. Ao contrário da aclamação em torno do nome do pastor Amaro para presidir a igreja no Recife, desta vez houve uma polarização entre dois pastores e seus seguidores. Um grupo apoiava o pastor José Leôncio da Silva, e outro grupo o pastor Issac Martins Rodrigues. Ao término da disputa, José Leôncio vence a votação e assume a igreja no Recife. Issac Martins Rodrigues resolve fazer uma "divisão branca" e reivindica autonomia para a CGADB. 

Criou-se assim o "Ministério" de Abreu e Lima, nomenclatura utilizada pela CGADB para nomear as divisões entre as igrejas em determinada região. Era uma maneira de atenuar o racha na denominação, sem contudo afrontar a igreja principal de alguma região. O reconhecimento do novo ministério foi aprovado em 1981 por decisão da mesa diretora da CGADB.

Logo da convenção de Abreu e Lima: expansão por todo o estado
No começo, as relações entre as ADs em Recife e Abreu e Lima era cordiais, até porque o ministério liderado pelo pastor Issac se expandiu principalmente para região da zona da mata norte, antes da região de Goiana. Havia respeito e uma espécie da acordo tácito na questão da jurisdição eclesiástica, e ninguém invadia o campo de trabalho alheio.

A cordialidade foi desfeita justamente com a renovação das lideranças. José Leôncio é sucedido em outubro de 1998 por seu genro pastor Ailton José Alves. Menos de dois anos depois, em fevereiro de 2000, o então Ministério de Abreu e Lima, funda a Convenção de Ministros da Assembleia de Deus em Abreu e Lima (COMADALPE). Em 2004, é a vez de Abreu e Lima renovar sua liderança. Pastor Issac é sucedido pelo jovem pastor Roberto Santos. É a partir dessas mudanças, que se instalou definitivamente o clima de rivalidade entre os dois ministérios.

Atualmente, as igrejas abrem trabalhos na jurisdição eclesiástica da outra. Recentemente a AD em Recife inaugurou em belo e moderno templo em Abreu e Lima. Algo impensável há alguns anos atrás. Utilizam também cores diferentes nas fachadas de seus templos para se identificarem (verde para Abreu e Lima e azul para Recife), mas ironicamente estão unidas a CGADB. Isso se deve aos malabarismos do atual presidente da CGADB para se manter no poder, pois os dois líderes de Pernambuco lhe apoiam nas eleições da convenção nacional.

O caso de Pernambuco é típico das ADs nesses últimos anos, onde as disputas se acirraram em nível nacional e regional. Essas controvérsias afetam até o relacionamento dos membros, pois nessas regiões os membros de ministérios rivais não se cumprimentam ou saúdam nas ruas. Parece que o Salmo 133 é letra morta. Tanto para os líderes como para os membros.

Fontes:

ANDRADE, Moisés Germano de. "Uma história social" da Assembleia de Deus: a conversão religiosa como forma de ressocializar pessoas oriundas da criminalidade. Dissertação (Mestrado) - Universidade católica de Pernambuco. Pró-reitoria Acadêmica. Curso de Mestrado em Ciências da religião, 2010.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

SANTOS, Roberto José. (Org.). Assembleia de Deus em Abreu e Lima - 80 Anos: síntese histórica. Abreu e Lima: FLAMAR, 2008.

3 comentários:

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  2. Daniel Berg, o operário
    Daniel Berg e Gunnar Vingren são dois imigrantes suecos afetados pela
    “febre das Américas” (Berg 1995:45; Vingren, 1973:17) , em que milhares de
    europeus pobres vão à busca de riqueza na “terra prometida”, e, se não
    conseguem ficar ricos, tornam-se amigos e têm suas vidas interligadas e, as
    mesmas, ao Brasil.
    Daniel Berg nasceu em 19 de abril de 1884 em Vargön, Suécia. De família
    batista muito pobre, segundo relata sua biografia, sofre na infância a
    marginalização de ser “pagão” (só se batizou aos 15 anos) numa sociedade que
    batizava as crianças e, em que, a Igreja Luterana, estatal, controlava escolas,
    igrejas19
    .
    Aos 18 anos vai para a Inglaterra e de lá para os EUA. Chega no Brasil em
    1910 com 26 anos, onde vive por 52 anos, vindo a falecer em 1963, na Suécia.
    Operário de fundição, apenas alfabetizado, no Brasil nunca assumiu qualquer igreja, cargo ou exerceu qualquer outra influência20, chega a admitir que pretendia “servir ao Senhor no futuro com sua força física” (Berg, 1995:16). No Brasil, trabalhou na Companhia Port of Pará, para sustentar seu amigo enquanto aquele estudava português. Nas entrevistas com os pastores, quando perguntados por que Daniel Berg nunca assumiu a presidência da Convenção ou de uma igreja, as respostas variaram entre: “ele era muito humilde; era apenas um evangelista, vivia
    nas ruas e nos trens distribuindo literatura; era um analfabeto, nunca aprendeu a falar português!”. Enfim, este homem que é fundador da AD, viveu no ostracismo. Não há nenhum registro de ter recebido alguma consagração como pastor. Seu nome desaparece dos jornais da denominação, e há apenas dois artigos
    assinados por ele (alguns entrevistados têm certeza de que não foi ele quem escreveu). Já no final da vida, foi homenageado no Cinqüentenário da Igreja. A
    partir de década de 60 - a terceira fase -, quando a AD lança sua 1a . história e é uma denominação nacional querendo afirmação institucional, há todo um discurso elogioso sobre “dois heróis suecos” - talvez uma compensação pelos anos de esquecimento. Berg trabalha algum tempo em Portuga e nos Estados do Espírito Santo e São Paulo, mas, oficialmente, não assume nenhuma igreja. Os novos missionários suecos que vão chegando passam a pastorear as igrejas já iniciadas, e ele é preterido. Dois dos pastores entrevistados falaram que em seus últimos anos no Brasil viveu em grande pobreza22, algo que não seria novidade em se tratando de um pastor assembleiano no sertão nordestino. Mas Berg, pioneiro fundador da igreja, vivendo em São Paulo, quando a AD já era grande e rica, é de se perguntar por quê? A divisão de hoje é colher o que plantou sede pelo poder o "BEZERRO DE OURO". Assembléia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946)
    por
    Gedeon Freire de Alencar

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  3. b) Gunnar Vingren, o líder.
    “Vingren era o dirigente principal23” (Vingren, 1973:8)Este é o inverso de Berg. Líder, com formação teológica no Seminário
    Teológico Batista Sueco de Chicago (1909), Vingren nasceu em 8 agosto de 1879,
    em Ostra Husby, na Suécia. Era cinco anos mais velho que Berg. Em 1903, já
    com 24 anos, vai para os EUA, e, depois de formado, inicia seu ministério pastoral
    junto à Primeira Igreja Batista de Chicago. Viveu vinte e dois anos no Brasil (1910-
    32), e além do pastorado na Igreja-mãe em Belém, também pastoreou a Igreja do
    Rio (capital federal, na época) por nove anos, vindo a falecer em 29 de junho de
    1933, na Suécia.
    Um homem doente24, sendo sua doença provavelmente o resultado da
    mudança de clima da Suécia para Belém. Não teve oportunidade de ver o
    resultado de seu trabalho e, provavelmente, em seus últimos dias tenha estado
    bem desiludido pelos rumos que a denominação que ele fundara estavam
    tomando. Escreveu 25 diários durante os vinte anos e que viveu no Brasil, mas foi
    publicado apenas um livro baseado neles (Vingren, 1973:8)
    Retornou três vezes (1917, 1920 e 1930) à Suécia, passando pelos EUA.
    Parece que seu desejo era manter a igreja brasileira ligada à Igreja Filadélfia de
    Estocolmo. Foi ele quem trouxe o Pr. Lewis Pethrus para “resolver a questão”, na
    Convenção de 30. Mas, possivelmente, todos os problemas existentes foram
    somatizados. Interessante, porém, seu silêncio sobre educação teológica apesar
    de formado num seminário, pois, em seus textos para os jornais nunca se
    pronunciou contra ou a favor - quando outros suecos escreviam contra. Se o Pr.
    Gunnar Vingren tivesse vivido mais tempo, e mantido sua liderança, esta igreja
    seria outra? Melhor ou pior não dá para saber, mas talvez tivesse tomado outro
    rumo.
    Os “dois apóstolos” desapareceram cedo, os demais suecos que
    continuaram a missão não tiveram carisma suficiente para impor um modelo, e os
    “caciques” nordestinos “tomaram o poder” e imprimiram seu estilo. Um bom exemplo disto é o livro “Despertamento Apostólico no Brasil”, publicado em 1934
    na Suécia, que chega ao Brasil 53 anos depois.
    Atualmente, após décadas da morte dos missionários, os suecos são
    elevados à categoria de “líderes ideais”, ou usando a expressão weberiana com
    “capacidade extracotidiana”; no entanto, durante suas atividades no Brasil eles
    são contestados diversas vezes. Evidentemente não há um só registro disso nos
    três livros de história oficial, mas nas Atas das Convenções, sim. Mesmo sendo
    um primor de dissimulação, há um momento em que a pergunta feita na
    Convenção de São Paulo, em 1947, é: qual a superioridade dos missionários em
    relação aos pastores? O assunto foi discutido em diversas sessões. A que
    conclusão chegaram? Mudaram a pergunta: o que se deveria discutir não era a
    superioridade do missionário em relação ao pastor, mas a diferença entre um
    ministério e outro. Diferença, aliás, que se na teoria não havia, isso era
    desmentido na prática. Talvez esse, aliás, tenha sido o maior problema da AD no
    Brasil em seus primeiros anos.Dentro dessa construção ideal dos missionários, a capacidade altruísta
    deles é a mais falada. Constrói-se a Suécia como o melhor dos mundos e o Brasil,
    o pior. Saíram de um país rico, desenvolvido e vêm para uma Belém atrasada,
    cheia de doenças; lá têm boa alimentação, bom clima; aqui, muitas enfermidades,
    pobreza, calor, e ainda por cima, perseguição religiosa. Evidentemente, esta
    percepção historiográfica assembleiana se dá visando realçar o caráter dos
    missionários, mas Belém do Pará não é o inferno tanto quanto a Suécia não é o
    paraíso.

    O abandono dos missionários e o ostracismo deles e falta de reconhecimento e a luta pelo poder de governar demonstração a insubordinação e a sede pelo poder Deus não se deixa escarnece, colhemos o que plantamos parabéns nós assembleianos não podia terminar diferente, ninguém quer largar o osso,

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