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quarta-feira, 24 de abril de 2013


Frida Vingren: um ministério contestado e polêmico

Frida Maria Strandberg Vingren (1891-1940) é uma das biografias mais polêmicas (e porque não perturbadora) da história das Assembleias de Deus no Brasil. Missionária sueca, enfermeira, poetisa, compositora, musicista, redatora, pesquisadora, pregadora e ensinadora pentecostal, era também esposa do pioneiro assembleiano Gunnar Vingren.

Frida: nas palavras do filho Ivar ela foi incompreendida

A todos esses predicados, poderia também estar incluído o de pastora. Frida, poderia ter sido reconhecida há muitos anos, como a primeira pastora das Assembleias de Deus no Brasil. Na biografia do esposo encontram-se a aceitação por parte do pioneiro do ministério feminino, inclusive com a separação de uma diaconisa na igreja de São Cristóvão no Rio de Janeiro. A própria história assembleiana é clara quanto ao desempenho da senhora Vingren. Na ausência (ou na presença) de Gunnar Vingren, Frida dirigia, pregava e ensinava na igreja.

Porém os líderes assembleianos dos primeiros anos não aceitaram o ministério feminino. Na primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) o assunto foi discutido. Frida foi a única mulher a participar ativamente das reuniões convencionais. As divergências entre os próprios missionários suecos sobre o assunto era antiga. Silas Daniel (2004) escreve que Samuel Nyström era contrário ao ministério feminino, tendo inclusive, atritos com Vingren nessa questão. Provavelmente a atuação de Frida já era alvo de contestações e polêmicas, sendo na CGADB de 30 um dos pontos de discórdia dos obreiros.

Prevaleceu a decisão de não reconhecer e nem admitir mulheres no ministério pentecostal assembleiano. Com as constantes revisões históricas e pesquisas acadêmicas feitas nos últimos anos, o ministério de Frida Vingren tem sido de certa forma "resgatado". Quais seriam os objetivos desse "resgate" histórico? Talvez o desejo de legitimar as transformações que a denominação esta vivenciando, onde cada vez mais as mulheres estão sendo reconhecidas no ministério. Ou quem sabe é uma justificativa histórica, uma forma de explicar o porque da  AD ser uma denominação grandiosa, com tantas mulheres em seu meio, mas com as decisões nas mãos dos homens. Ou as duas coisas e outras ao mesmo tempo. O certo é que essa revalorização do ministério da senhora Vingren servirá para muitos propósitos.

E como se diz nas igrejas "para não ficar só nas minhas palavras", deixo alguns fragmentos dessa polêmica. São pequenos trechos disponíveis que ajudam a entender o contexto dessa controvérsia.


"A minha esposa, com os obreiros da igreja, têm levado a responsabilidade pela obra" 
(Palavras de Gunnar Vingren registrado no seu diário publicado pela CPAD)


"... pois não é o homem, nem tampouco a mulher que faz o ministério, mas é o dom. Isto é um fato simples e claro. E qualquer que tenha recebido um dom um dom torna-se responsável diante do Senhor. A mulher recebendo-o entra assim no ministério da palavra, e pode então pregar e ensinar, conforme adireção do Espírito Santo".

(Trecho de um artigo publicado no jornal O Som Alegre em janeiro de 1930 por Frida, numa clara alusão as polêmicas e contestações sobre o ministério feminino na Assembleia de Deus no Brasil)

"As irmãs têm todo o direito de participar da obra evangélica, testificando de Jesus e a sua salvação, e também ensinando quando for necessário. Mas não se considera que uma irmã tenha função de pastor de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos excepcionais mencionados em Mateus 12. 3-8 (uma referência ao princípio de necessidade). Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar"

(Decisão da Convenção Geral reunida na cidade de Natal (RN) em setembro de 1930, ou seja, oito meses após o artigo de Frida publicado no O Som Alegre)

"tinha o dom de ensinar e pregar como ninguém, e por essa razão sofreu muita perseguição"."Foi incompreendida e demasiadamente criticada".

(Palavras de Ivar Vingren, filho de Gunnar e Frida Vingren, nas quais se percebe ressentimentos por parte da família pioneira)

Fontes

ALENCAR, Gedon. Assembleia de Deus-origem, implantação e militância (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial, 2010.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

MESQUITA, Antônio Pereira de. Mensageiro da Paz - Os artigos que marcaram a história e a teologia do Movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. volume 1 p.43

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