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quinta-feira, 25 de abril de 2013



A principal praga do fundamentalismo teológico

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Como cristão eu creio nos fundamentos do cristianismo histórico. Não posso negar a divindade de Cristo, a supremacia das Escrituras, a justificação pela fé, a doutrina do pecado, a vinda do Nosso Senhor etc. Mas, ainda assim, não me defino como fundamentalista. Sim, eu creio nos fundamentos, mas sem o espírito fundamentalista.

Neste blog há inúmeras críticas ao modernismo teológico contemporâneo disfarçado sob uma nova linguagem relativista e pós-moderna. Agora, como quero distância da teologia modernista não quer dizer que eu abrace o fundamentalismo. O motivo? Ora, a principal praga do fundamentalismo teológico é tornar primária questões secundárias.

Exemplo disso é a paixão com que os fundamentalistas defendem determinada tradução como superior e chegam ao ponto de chamar outras de heréticas. A tradução bíblica preferida é a Almeida Revista Fiel (ARF), que é de fato muito boa. Alguns sites fundamentalistas vivem a demonizar todas as demais traduções, especialmente a Almeida Revista Atualizada (ARA) e a Nova Versão Internacional (NVI). Ora, é possível defender uma tradução como melhor ou predileta sem demonizar outras. As traduções são complementares e nenhuma é perfeita. Eu, por exemplo, gosto bastante da NVI e da Tradução Brasileira (TB), mas nada tenho contra as demais traduções (ARC, ARA, BJ, ARF, A21, AC, etc.) ou paráfrases (NTLH, BV, A Mensagem). 
Quer outro exemplo? O criacionismo. Ora, se o cristão não professar o Criacionismo da Terra Jovem é tido como um liberal pelo fundamentalista clássico. Mesmo se creia no Design Inteligente, no Criacionismo da Terra Antiga ou, ainda pior, se defenda o Evolucionismo Teísta. Ora, o teólogo B. B. Warfield, que foi pastor da conservadoríssima Igreja Presbiteriana Ortodoxa, teria sido um “liberal” dos mais perigosos para esses sites fundamentalistas.
Os fundamentalistas interpretam tudo literalmente, pensam alguns. Na verdade, não. Alguns textos são interpretados simbolicamente. Mas será que tais textos devem ser assim interpretados? Ora, o fundamentalismo muitas vezes é igual ao exegeta modernista, pois sem explicar muito bem o critério sobre algum ponto diz que tal texto é literal e outro simbólico. Exemplo disso são alguns cessacionistas fundamentalistas que dizem ser os dons espirituais figuras dos dons naturais para o trabalho no Evangelho. Não parece a mesma forçação de barra de um modernista? A questão não é tanto branco versus preto. O cenário é mais cinza. Ora, isso em parte acontece porque muitas passagens bíblicas são interpretadas segunda a conveniências teológicas ou ideológicas, mas não textuais. 

Quando um modernista interpreta o dar a outra face como literal para defender o utópico pacifismo, logo esse sujeito lembra o fundamentalista que enxerga simbologia no mesmo texto para defender o militarismo. Qual dos dois grupos é mais fiel segundo uma exegese e hermenêutica séria? Ou será que tal dilema se resolveria com o clichê que a “verdade está no meio”? O modernista pacifista que interpreta a expressão de Jesus literalmente é o mesmo que interpreta simbolicamente os milagres do mesmo Jesus. Ora, o nosso desafio hermenêutico e exegético é ler como o autor quis dizer, ou seja, ler simbologia onde o autógrafo escreveu como simbologia e ler literalmente onde o autor escreveu relato factual. 
A fidelidade à Palavra de Deus não depende do fundamentalismo. O fundamentalismo é apenas uma lente que pode distorcer as Escrituras assim como um teólogo modernista. É evidente que numa escala o modernismo teológico é bem pior que o fundamentalismo. Mas, isso não isenta o fundamentalismo dos erros crassos.

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