OS CEDROS
Israel Belo de Azevedo – Transcrito por Moisés
Diante da perplexidade que a pobreza dos justos e a riqueza
dos ímpios impõem, urge resumir o que a Bíblia ensina. Não devemos sacralizar a
pobreza, como fazem alguns a partir da frase de Jesus, de que sempre teríamos
os pobres conosco (João 12.8). Ela não faz parte da Economia divina. É fruto do
pecado social ( e não necessariamente do individual). A pobreza não é castigo
divino para uns (a maioria), nem a riqueza é a sua bênção para outros ( a minoria) . Há muitas pessoas pobres que são
explêndidos cristãos. Não é este o caso da viúva pobre, que continuou pobre,
embora elogiada por Jesus (Lucas 21)? A teologia dos fariseus de então era que
a desgraça de uma pessoa seria fruto do seu pecado pessoal ou da maldição,
hereditária (João 9.3).
Os pobres não são pobres por uma vontade divina, mas porque
a sociedade é injusta e porque alguns nada fazem para sair da miséria. Deus,
por sua soberania, pode abençoar especialmente algumas pessoas, mas a riqueza pode
ser fruto também do trabalho inteligente ou ainda resultado da esperta
exploração do ouro, da participação em esquemas desonestos. Não há relação de
causa e efeito entre santidade e prosperidade
Precisamos nos indignar com a prosperidade dos ímpios quando
obtida fraudulenta ou quando construída a partir de um sistema injusto (por
meio de favores, isenções, informações privilegiadas etc.), sistema que mantém
a miséria da desigualdade. Devemos também contribuir para mudar esse estado
injusto de coisas por meio de uma visão crítica das estruturas sociais e por meio da generosidade ( Marcos 10.21;
Gálatas 2.10).
De tal modo são as coisas, que podemos acabar embarcando na
visão ímpia de mundo porque muito sedutora. Os ímpios, profetiza a Bíblia,
serão exterminados (Salmos 37.17), embora nem sempre vejamos (Salmos
37.16,19,22,28). Sustentamo-nos firmados na justiça e na certeza de que Deus
não nos desampara. Não nos preocupemos
sequer em ver justiça; deixemos isto para Deus.
A verdadeira prosperidade é imitar o agir de Deus (Salmos
1). Próspero é quem tem prazer em compartilhar o que possui. Neste sentido, e
não na conveniência da impossível troca com Deus, todo dizimista é próspero. Há
quem ensine que Deus promete riqueza material a quem for fiel ao Senhor. Afinal,
somos filhos do Rei. Se somos fiéis, ele tem que nos trazer emprego, saúde,
conforto, fama e dinheiro. Tem muita igreja cheia por prometer essas coisas.
Deus nos faz prósperos, mas seu conceito de prosperidade é
decepcionamente outro. Segundo o Salmo 37, ser próspero é viver segundo os
padrões do Pai (versículo 1), alimentando-se da verdade que procede do seu
coração (versículo 3).Próspero é quem entrega a ele as suas ansiedades
(versículos 3 e 5) e tem prazer em fazer o que é correto ( versículo 23).
Ser próspero é viver de modo a contribuir para que nenhum
justo mendigue o pão, num estilo de vida que nos possibilite dizer, hoje e ao
fim de nossas vidas, que também não vimos (porque nos permitimos) miseráveis
entre nós